Читать книгу Um amor inesperado - Um bebé, um milagre - Liz Fielding - Страница 10
Capítulo 5
ОглавлениеPenny estava a sorrir, mas o sorriso desapareceu quando viu a expressão séria do seu capataz.
– O que estás a fazer aqui? – perguntou-lhe Jake.
– Eu disse-te que queria ajudar. Não tens homens suficientes para movimentar três manadas.
– Quero que voltes para tua casa.
– Não vou fazê-lo. Agasalhei-me bem.
– Não.
– Sim.
– Chefe, eu acho que seria mais fácil fazer o trabalho se fôssemos três – assinalou Dusty. – Ela podia conduzir a carrinha, enquanto nós damos de comer à manada.
Todos ficaram à espera da resposta de Jake, que, finalmente, se virou para Penny.
– Sabes conduzir uma carrinha?
– Claro!
– Muito bem, vamos – Jake suspirou, abotoando o casaco. – Levamos a minha carrinha – disse depois, dando-lhe as chaves. – É a azul, está estacionada lá fora.
– Queres que eu conduza? – perguntou ela, surpreendida.
– Sim, leva-a para o celeiro. Vamos carregar alguns fardos de palha.
Uma vez feita a tarefa, Dusty e ele entraram na cabina.
– Vamos! – ordenou, desligando o aquecimento.
– Não tens frio?
– Claro que sim, mas vamos ter de sair daqui a alguns minutos e lá fora fará ainda mais frio. É mais fácil habituarmo-nos se não estivermos a suar.
– Ah, desculpa! Não tinha pensado nisso.
– Não te preocupes.
Permaneceram em silêncio durante o resto do caminho e, quando chegaram aos pastos, encontraram uma manada a dirigir-se para sul, de costas para a tempestade. Os homens saltaram para a parte traseira da carrinha e começaram a cortar as cordas que seguravam os fardos de palha, enquanto Penny conduzia muito devagar para que pudessem distribuir a palha. Quando só restavam alguns fardos, Dusty saltou da carrinha e correu para o reservatório com um machado na mão para partir o gelo que se formara.
Quando acabou de distribuir a palha, Jake voltou para a cabina.
– Vamos buscar Dusty.
Penny carregou no acelerador e, em alguns minutos, chegaram ao depósito.
– Já acabámos? – perguntou o peão.
– Sim, entra. Liguei o aquecimento.
Ela olhou para ele, surpreendida.
– Agora, podemos ligá-lo – Jake sorriu.
E Penny teve de sorrir também.
Quando voltaram para o rancho, Penny sentia-se orgulhosa de si mesma. Tinha tido as suas dúvidas, mas, afinal, a sua presença fora necessária. No entanto, quando saiu da carrinha, Jake agarrou-a pelo braço para a levar para casa.
– O que estás a fazer? Posso ir sozinha.
– Não, eu acompanho-te. E, quando chegarmos lá, vamos ter uma conversa.
O que se passava com aquele homem? Tinha-o ajudado. Porque não lhe agradecia?
Uma vez em casa, Jake largou o seu braço, enquanto ela abria a porta.
– Contrataste-me para que seja o chefe dos trabalhadores, portanto, espero que não me contradigas diante deles – disse-lhe, enquanto entravam na cozinha.
– Mas…
– Nunca me respeitarão se continuares a fazer isto.
– Em que século vives? Eu sou a proprietária deste rancho e sê-lo-ei sempre. Discuti contigo porque estavas errado.
– Então, lamento, mas não posso ser o teu capataz – replicou Jake, virando-se.
Mas, antes de sair, Harriet pôs-lhe uma chávena de café na mão.
– Não saia sem beber qualquer coisa quente.
– Não posso…
– Claro que pode! – interrompeu-o a governanta. – Penny, aqui tens o teu café. E eu acho que deviam ter uma discussão racional antes que ele perca um trabalho de que gosta e tu, um bom capataz.
Penny e Jake abriram a boca para protestar, mas depois fizeram o que ela dizia e os dois sentaram-se à mesa. Harriet, entretanto, tirou do forno um tabuleiro de biscoitos acabados de fazer.
– Ah, você sabe como fazer com que uma pessoa se sinta bem! – murmurou Jake.
– Obrigada, Harriet – murmurou Penny.
Sabia que tinha razão. Perder um bom capataz por causa de uma discussão tola seria totalmente absurdo.
– Está bem. Peço desculpa por te ter contrariado diante dos homens, mas não devias ter-me deixado de fora. É o meu rancho e preciso de aprender a geri-lo.
– Não devias ter discutido comigo diante dos homens, mas vamos esquecê-lo – Jake suspirou. – Quanto a ires connosco hoje, eu só estava a tentar proteger-te. Acho que era o que o teu pai teria querido.
– O meu pai passou a vida a proteger-me, mas já não está aqui. E tenho de aprender a sobreviver.
Tinha lágrimas nos olhos e Jake teve de fazer um esforço para não a abraçar.
– Tens razão. Não devia dizer-te o que tens de fazer. O rancho é teu. Além disso, portaste-te muito bem. Tentarei ensinar-te… sem pensar que és uma rapariga – disse, finalmente, apertando a sua mão. – Desculpa, a sério!
– Obrigada – sussurrou Penny.
Sentia uma pontada no estômago e, quando olhou para ele nos olhos, um desejo desconhecido fê-la largar-lhe a mão e levantar-se de um salto para sair da cozinha.
Harriet deu uma palmadinha no ombro de Jake.
– Está tudo bem, é que se lembra dos seus pais.
– Parece tão jovem… Não é fácil aceitar que consiga gerir um rancho.
– É mais forte do que parece.
– Sim, enfim, obrigado por ajudar – Jake sorriu.
– Fico contente por ter podido fazer alguma coisa.
– Estes biscoitos ajudaram muito.
Quando voltou para a casa dos trabalhadores, todos os homens estavam sentados à volta da lareira a beber café e Jake pigarreou.
– Foi um erro da minha parte tentar que Penny não fosse connosco hoje. Esqueci-me de que está a tentar aprender a gerir um rancho como o fazia o seu pai.
Os seus homens tentaram consolá-lo, comentando como era difícil gerir um rancho, tanto para um homem como para uma mulher.
– Mas têm de recordar que ela é a proprietária.
– Sim, mas dá pena ver uma rapariga tão jovem sob a neve – disse um deles.
– Dê pena ou não, Penny é a proprietária e todos devemos recordá-lo – Jake suspirou, recordando como lhe tinha parecido bonita enquanto apertava a sua mão na cozinha.
No domingo de manhã, Penny arranjou-se para ir à igreja com Harriet e só quando saíam de casa lhe ocorreu que os trabalhadores estariam a fazer o mesmo trabalho do dia anterior.
– Nem penses! – exclamou Harriet. – Que se desenvencilhem sozinhos por um dia.
– Mas, Harriet, o meu pai…
– Eu sei, mas eu acho que te faria bem ir um pouco à igreja. Trabalhaste muito esta semana.
– Enfim, talvez tenha razão. Além disso, Sally está à minha espera lá.
– Se calhar, quererá vir almoçar connosco.
Mas Sally tinha muito trabalho pendente na loja, porque estavam na época natalícia.
– Não te esqueceste da árvore, pois não?
– Não, claro que não! Jake vai ajudar-me a escolhê-la – Penny despediu-se da sua prima e voltou a correr para o carro.
Acabavam de chegar a casa quando ouviram uma pancada na porta. Era Jake. Era tão alto e tão forte que Penny sentiu novamente aquela pontada.
– Olá, Jake! Entra.
– Pensei que podíamos ir escolher aquele pinheiro de que precisas.
– Mas ainda não almocei. Podes esperar meia hora?
– Sim, claro! Volto mais tarde.
– Porque não almoça connosco? – interveio Harriet.
– Não, eu…
De repente, desesperada por estar ao seu lado mais alguns minutos, Penny agarrou-lhe no braço.
– Vá, fica! Há comida para os três.
Jake hesitou, ainda a perguntar-se o que tinha acontecido entre eles na noite anterior. Mas a comida de Harriet era demasiado tentadora.
– Está bem.
– É melhor tirar o casaco – disse a governanta.
– Na verdade, acabei de comer uma sopa…
– Então, pode beber um café – apesar disso, Harriet pôs três pratos na mesa e Jake decidiu que já que estava ali…
– Vamos no jipe?
– Sim, acho que é o melhor com este tempo – respondeu Jake.
– Era assim que o meu pai e eu o fazíamos – Penny teve de fazer um esforço para controlar as lágrimas.
– És uma rapariga muito forte – disse Harriet.
Penny sorriu. A governanta estava a ocupar o lugar do seu pai e da sua mãe. Fora uma grande sorte encontrá-la.
– Em que zona encontraram a árvore no ano passado?
– Íamos sempre para os pastos do norte. Para oeste, há um bosque com uns pinheiros lindos.
– Muito bem – Jake deixou o guardanapo na mesa. – Vamos?
– Sim. Espera, tenho de me agasalhar… Talvez não o encontremos imediatamente.
– Este tem bom aspecto – disse Jake. Andavam quase há uma hora à procura de árvores, depois de uma viagem gelada no jipe, e desejava voltar para o seu quarto.
– Não, tem o tronco torcido – Penny continuou a olhar à sua volta.
– Vá lá, tenho os pés gelados!
– A árvore tem de ser… Aquela ali! Já a encontrei.
– Onde?
– Aquela, a mais alta – Penny tirou um lenço vermelho do bolso. – Vamos atá-lo ao tronco – disse, entrando de um salto no jipe.
– Onde vamos? – perguntou ele, confuso.
– Escolher a minha árvore.
Quando chegaram, Penny deu algumas voltas à volta da árvore.
– Sim, é perfeita!
Jake alegrava-se por ter encontrado a árvore que Penny queria e não só por os seus pés estarem congelados. Ela parecia tão feliz que finalmente entendeu porque era tão importante para ela e isso fê-lo experimentar uma sensação estranha no peito. Mas deixou de pensar nisso porque não queria saber o que significava.
– Onde ato o lenço para que o encontrem facilmente quando vierem cortá-la?
– Queres que eu o faça?
– Não. O meu pai sempre… Este era o meu trabalho – Penny colocou-se em bicos de pés para atar o lenço a um ramo alto. – Já está! Assim, conseguirão vê-lo sem problemas.
– Tu não vens connosco?
– Não, sim… Sim, bom, devia vir convosco, claro!
– Então, de certeza que o encontramos.
Os dois ficaram um momento a olhar para o pinheiro magnífico. Nenhum disse nada e, finalmente, Penny deixou escapar um suspiro alegre.
– Tens razão, Jake. Conseguiria encontrar esta árvore até de olhos fechados.
Na segunda-feira de manhã, a temperatura tinha aumentado consideravelmente e a neve começava a derreter. Jake já estava nos estábulos às sete horas, mas ainda não tinha selado os cavalos.
– Hoje, vou ensinar-te a disparar.
– Ah, sim?
– Sim, hoje teremos a primeira aula. Mas tens de me mostrar as pistolas do teu pai.
Penny suspirou.
– Talvez fosse melhor esperar um pouco. Antes, tenho de aprender a gerir um rancho.
– Os homens sabem o que têm de fazer e eu confio neles. Portanto, está na altura de começar as aulas de tiro, não te parece?
– Sim, bom…
Penny não estava tão entusiasmada como antes. Além disso, os trabalhadores que tinham enganado o seu pai tinham-se ido embora do rancho e talvez não precisasse de aprender. Mas não podia dizer a Jake que tinha mudado de ideias, porque certamente pensaria que era uma parva.
As armas do seu pai estavam guardadas no aparador da sala. Jake deu uma olhadela e escolheu um revólver.
– Queres começar com um revólver? Não seria melhor uma pistola?
– Não, um revólver é mais fácil de usar. Vamos.
Alguns minutos depois, estavam atrás da casa, em terreno aberto. Jake tinha posto um cartão sobre o ramo de uma árvore e, depois de a ensinar a carregar o revólver, estava a explicar-lhe como apontar.
Penny segurou a arma como lhe tinha ensinado… mas apontando directamente para ele. Jake afastou a arma com uma palmada.
– Cuidado! O que queres, matar-me? – perguntou ele.
– Claro que não! Porque dizes isso?
– Porque acabaste de me apontar o revólver!
– Mas eu só queria perguntar-te…
– Regra número um: nunca se aponta uma arma a ninguém a menos que se queira disparar.
– Acabou-se! – Penny, furiosa, largou o revólver e dirigiu-se para casa. A aula tinha acabado.
– Pode saber-se o que estás a fazer? Volta aqui.
– Para quê? Eu não queria magoar-te e tu sabe-lo perfeitamente.
Jake deu um passo em frente.
– Peço desculpa por ter gritado contigo, mas isto não é uma brincadeira e há regras que não podemos esquecer. Não se aponta um revólver a ninguém.
– Olha, esquece! Já não estou interessada em aprender.
– Mas tens de o fazer.
– Está bem – resmungou.
– Levanta a arma e aponta para o alvo. Põe o dedo no gatilho. Quando disparares, o revólver irá para trás, portanto, segura-o bem. Vá, aperta o gatilho!
Penny fê-lo, mas não acertou no alvo.
– Porque não acertei? Fiz tudo o que tu me disseste.
– Não seguraste o revólver com força.
– Como não?
– Olha – Jake passou-lhe um braço sobre os ombros para pôr a mão direita sobre a sua. – Tenta outra vez.
Penny sentia a sua respiração no pescoço e sentiu um calafrio, mas apertou novamente o gatilho… e, dessa vez, acertou no alvo.
– Vês? – perguntou Jake, afastando-se. – Acertaste.
Ela não conseguia responder. Estava demasiado surpreendida com a excitação do contacto.
– Queres ir ver?
– Não… Acho que devíamos tentar novamente.
– Devias tentá-lo, sem mim. Vá, fá-lo!
Penny levantou o revólver e tentou segurá-lo com força.
– Acertaste! – exclamou Jake, orgulhoso.
– Tens a certeza?
– Claro que tenho a certeza. Muito bem!
– Obrigada.
– Tenta outra vez. Mas agora aponta para a parte de cima do cartão, onde é mais fino.
Penny levou o revólver à cara, agarrou-o com força e apertou o gatilho. Mas, dessa vez, não acertou.
– Tenta outra vez. Não foi muito longe.
Decidida, tentou novamente.
– Incrível! Acertaste! Tens jeito para disparar.
Jake passou-lhe um braço pelos ombros e, novamente, Penny desejou que não se mexesse, que a abraçasse durante mais tempo. Mas, um segundo depois, Jake afastou-se.
– Agora, vamos…
– Estou farta de disparar. Não podemos deixá-lo por hoje?
– Mas ainda tens muito para aprender…
– É mais fácil quando tu me ajudas.
Jake ficou calado um momento.
– Posso ajudar-te outra vez… se for o que queres.
– Sim, acho que é melhor – Penny engoliu em seco e, quando lhe passou um braço pelos ombros, susteve o fôlego enquanto se inclinava um pouco para trás.
– Estás a prestar atenção, não estás? – perguntou Jake, com voz mais rouca do que o habitual.
– Sim, estou a prestar atenção.
– Muito bem, aponta para o lado direito do cartão.
Fê-lo e inclusive ela ficou contente ao ver que não falhava.
– Acertei!
– Sim, é verdade – Jake sorriu. – Mas, a partir de agora, tens de o fazer sozinha.
O entusiasmo desapareceu.
– Mas…
– Mas tens de o fazer sozinha.
Penny corou. Não queria admitir que o que lhe agradava naquelas aulas era que Jake lhe tocasse. Isso não fazia parte do acordo. Tinha-lhe pedido que a ensinasse a disparar como achava que o seu pai o teria feito, mas Jake não era o seu pai. E ao lado dele sentia-se mais segura do que alguma vez se sentira.