Читать книгу Um amor inesperado - Um bebé, um milagre - Liz Fielding - Страница 8
Capítulo 3
ОглавлениеMerecia aquela resposta seca, pensou Jake, guardando a maçã num dos bolsos da sela.
– Vamos?
– Sim – respondeu ela, sem olhar para ele.
Jake tomou a direcção contrária ao dia anterior e, quando se tinham afastado o suficiente dos estábulos, disse-lhe:
– O seu pai tinha sérias dúvidas sobre alguns dos trabalhadores.
– Ah, sim?
– Sim, mas, cada vez que mencionava essas dúvidas a Gerald, dizia-lhe que não se passava nada.
– E o meu pai acreditava?
– Não totalmente. Mas suponho que não queria enfrentar o seu capataz sem ter provas. Estava a vigiá-los, a tentar apanhá-los a fazer alguma coisa indevida. Não se tinha dado conta de que o problema era Gerald, mas imagino que, mais cedo ou mais tarde, o teria descoberto – Jake ficou calado um momento. – Se lhe conto é porque… pensei que isso a faria sentir-se um pouco melhor.
Penny assentiu.
– Obrigada. Vai fazer alguma coisa a esses trabalhadores em quem o meu pai não confiava?
– Não, a menos que os apanhe em flagrante. É possível que comecem a comportar-se como pessoas honradas… Embora, alguns se tenham alarmado ao verem os diários.
– Ah, sim? Então, duvido que possa devolver-mos.
– Não se preocupe, guardei-os à chave.
– Mas poderiam roubar-lhos.
– Ninguém vai roubar nada, menina Bradford.
Penny esporeou o seu cavalo para se adiantar e Jake deixou-a galopar durante uma hora, até que teve de lhe perguntar pelo uso de um pasto pelo qual acabavam de passar.
– Não é hora de almoço? – perguntou-lhe Jake, um pouco depois.
– Suponho que sim. Quer comer já?
– É claro! Estou desejoso de dar uma dentada na minha maçã, mas não queria admiti-lo. Hoje, não parece ter pressa para comer…
– Não sabia que horas eram. O tempo passou a voar.
– Então, comemos?
– Sim, claro – Penny tirou o seu almoço da sela. – Trago uma sandes muito grande. Quer um bocado?
– Não, obrigado.
– Ouça, senhor Larson, não estou a tentar suborná-lo – suspirou ela. – Só lhe ofereço um bocado da minha sandes.
– Bom, se não se importa de a dividir comigo…
– Claro que não – Penny conseguiu parti-la mais ou menos ao meio e deu-lhe a sua parte, que Jake comeu praticamente de seguida. – Direi a Harriet que nos faça duas sandes para amanhã, se lhe parecer bem.
– Não quero dar trabalho…
– De certeza que não se importa. Além disso, acho que não tem muito trabalho. Quando saí, estava a fazer bolos para os trabalhadores.
– Bolos? Que tipo de bolos?
– De maçã.
– A sério? Que bom!
Penny observou-o, em silêncio.
– Portanto, gosta de doces.
– Sim, muito. Não gosta toda a gente?
– Sim, imagino que sim – Penny sorriu. – Como cozinha Sam?
Jake fez uma careta.
– Bom, não podemos queixar-nos.
– Se calhar, os bolos de Harriet irão alegrar-vos um pouco a vida.
– Penny… Posso tratar-te por tu?
– Sim, claro – respondeu ela, desviando o olhar.
– Estás contente com Harriet?
– Sim, muito. É muito boa cozinheira. Embora me sinta um pouco culpada por ela fazer tudo.
– Cada um tem as suas tarefas. Deixa que ela faça o seu trabalho.
Penny franziu o sobrolho. Porque lhe falava sempre como se fosse uma menina?
Quando chegaram ao cimo de uma colina, Jake descobriu um lago natural.
– É água de manancial?
– Sim.
– O nível varia muito?
– Não, acho que não.
– Pois, é uma sorte. Um lago natural é um abastecimento óptimo em tempos de seca – Jake saltou do cavalo e enfiou uma mão na água. – Está gelada.
– Estamos no Inverno, está tudo gelado – murmurou ela, sem olhar para ele.
Jake teve de disfarçar um sorriso.
– Queres desmontar um pouco? Podemos comer as maçãs.
– Prefiro fazê-lo sem desmontar. Quero voltar para casa antes que se faça de noite. Esta zona montanhosa não é de confiança.
– Como queiras.
A volta, como ela tinha previsto, não foi fácil, porque o terreno era pedregoso e escarpado. Felizmente, Jake não teve de se preocupar em manter uma conversa, já que iam em fila indiana.
Quando chegaram aos estábulos, disse-lhe que no dia seguinte iriam ver o que faziam os trabalhadores, mas sem que eles soubessem.
– Muito bem – assentiu Penny. – Amanhã, às sete horas?
Depois de escovar e de dar de comer aos cavalos, Penny saiu dos estábulos sem sequer lhe desejar boa noite.
Jake ficou a olhar para ela, surpreendido. Bom, não gostava dele, o que podia fazer? Mas era ela quem queria aprender no que consistia o trabalho no rancho. E ele não pensava facilitar as coisas só porque era uma mulher.
Mas, assim que entrou no seu quarto, soube que alguém tinha estado ali. E não fora Harriet, porque a sua roupa suja continuava na cesta. Não tinham conseguido abrir a caixa, nem levar os diários, mas viu marcas na fechadura. Suspirando, Jake escondeu os diários sob o casaco e, sem dizer nada, saiu do quarto.
– Ouvi dizer que Harriet nos fez bolo de maçã.
– Oh, chefe… – protestou o cozinheiro. – Eu queria que fosse surpresa.
– Desculpa, não sabia – Jake não deixava de olhar para três dos homens. Estava claro que a ideia de comer bolo de maçã não os entusiasmava. E, de repente, a ele também não.
Penny arrastou-se até à casa, mais cansada do que no dia anterior. Felizmente, Harriet tinha café acabado de fazer.
– Tomas banho ou queres jantar antes?
– Vou lavar-me um pouco aqui em baixo. Não sei se conseguiria subir as escadas.
– A tua prima Sally está quase a chegar. Telefonou há algumas horas e parecia um pouco deprimida, portanto, convidei-a para jantar. Espero que não te importes.
– Não, que ideia! Apetece-me imenso vê-la. Enfim, vou tomar um duche. Precisa de ajuda?
– Não, vai tomar um duche quente. Eu vou pôr a mesa antes que Sally chegue.
Penny demorou muito mais do que esperava. A água quente relaxava-lhe os músculos cansados. Mas, finalmente, saiu do banho e, depois de mudar de roupa, desceu para a cozinha.
Sally já tinha chegado e levantou-se alegremente ao ver a sua prima.
– Fico muito contente por teres vindo. Já conheces Harriet?
– Sim, claro! Ela convenceu-me a vir provar o seu bolo de maçã.
– Não me digas que teve de te convencer? – brincou Penny.
– Não, bom, era uma boa desculpa para vir ver-te.
– Está bem, então, perdoo-te. Harriet, quer que a ajudemos a fazer alguma coisa?
– Não, sentem-se, já está tudo pronto.
Alguns minutos depois, as três estavam a apreciar o jantar.
– Como está a correr com o novo capataz? – perguntou Sally.
– Ainda não sei.
– Como não?
– Passámos os últimos dois dias a correr o perímetro do rancho e fez-me muitas perguntas, mas eu sei tão pouco sobre este sítio…
– Ele não tinha de te ensinar?
– Sim, mas antes tem de conhecer o rancho. Emprestei-lhe os diários do meu pai, mas receio que venham a desaparecer.
– Porquê? – perguntaram Harriet e Sally ao mesmo tempo.
– Porque me contou que o meu pai suspeitava de alguns dos trabalhadores. E quando lhe levei os diários, pelos vistos, alguns eles mostraram-se receosos. Preocupa-me que tenham desaparecido.
– Não os escondeu em algum sítio?
– Diz que sim, mas… Quem sabe? Eu não gostaria nada que esses diários se perdessem.
Naquele momento, ouviu-se uma pancadinha na porta e Penny levantou-se para a abrir. Era Jake.
– Lamento incomodar, mas pensei que seria melhor que tu ficasses com isto – disse-lhe, tirando os diários do casaco.
– O que se passou?
– Acho que alguém entrou no meu quarto. Felizmente, não encontraram os diários, mas se os deixasse lá…
– Eu estava a falar sobre isso agora mesmo. Mas como vais lê-los se eu os guardar?
– Pensei que podia passar por aqui no domingo, se te parecer bem.
– Ah, sim, claro! – depois, ficou em silêncio e Jake começou a virar-se. Mas, de repente, Penny queria que ficasse. – Jake, já jantaste?
– Não.
Harriet espreitou para o corredor.
– Porque não o convidas para ficar?
Penny olhou para a sua governanta e depois virou-se para Jake.
– Podes jantar connosco, se quiseres.
– De certeza que não te importas?
– Não, claro que não! Além disso, deves ter fome.
Ao entrar na cozinha, Jake viu que havia outra convidada.
– Ah, desculpa! Não sabia que tinhas companhia.
– É a minha prima, Sally Rogers. Sally, apresento-te Jake Larson, o meu novo capataz.
– Prazer em conhecer-te. És a dona da mercearia, não és?
– Sim, exactamente.
Harriet pôs outro prato na mesa.
– Sente-se ali, Jake. E sirva-se.
– Isto tem um ar óptimo. Agora, entendo que Penny esteja tão contente consigo.
– Obrigada – a mulher sorriu.
Penny teve a impressão de que toda a gente sorria a Jake... Toda a gente, menos ela.
– Como te deste conta de que alguém tinha entrado no teu quarto?
– Porque tinham mudado algumas coisas de sítio. E encontrei marcas na fechadura da caixa onde guardava os diários. Portanto, alguém teve de entrar para dar uma olhadela.
– Quando? Supõe-se que estiveram o dia todo a trabalhar.
– O cozinheiro não me disse nada, mas acho que alguns eles voltaram antes dos outros. Perguntar-lhe-ei quando estivermos sozinhos.
– Coma uns pãezinhos, estão quentes – interveio Harriet.
Penny queria continuar a fazer-lhe perguntas, mas o coitado parecia apreciar tanto o jantar… e, quando a governanta trouxe o bolo de maçã, os olhos de Jake iluminaram-se.
– Que bom aspecto!
– Espero que goste.
Quando acabou, ninguém tinha a mínima dúvida de que tinha gostado muito.
– Da próxima vez, farei bolo de morango. Não quero que os rapazes se cansem dos meus bolos.
– Tudo o que nos mandar será bem-vindo – Jake dobrou cuidadosamente o guardanapo e deixou-o ao lado do seu prato, antes de se levantar para lhes agradecer por o terem convidado para jantar. – Foi um prazer conhecer-te, Sally.
– Igualmente – respondeu ela, sorrindo.
Penny perguntou-se se haveria alguma atracção entre eles. E o facto de pensar na possibilidade de que Jake e Sally saíssem juntos fê-la sentir-se… mal. Não sabia porquê. Devia estar mais cansada do que achava, decidiu.
Enquanto se despedia dele, tentava evitar que Jake notasse alguma coisa, mas o brilho dos seus olhos castanhos disse-lhe que não estava a sair-se muito bem.
– Amanhã, às sete horas?
– Sim, às sete horas. Boa noite!
Quando a porta se fechou, Sally disse:
– Parece-me encantador. E tenho a certeza de que será um bom capataz.
– Não sei o que pensar. Mas fico contente por ter os diários outra vez – murmurou Penny, passando os dedos pelas capas de couro. – Harriet, se alguém lhe perguntar, nunca viu estes diários.
– O que pensas fazer com eles?
– O meu pai tinha um cofre, portanto, vou guardá-los lá – respondeu ela, levantando-se. – Sally, vens comigo?
– Sim, claro.
O cofre ficava no quarto dos seus pais e Penny teve de afastar alguns documentos para guardar os diários.
– Importas-te de tirar os outros da gaveta da mesa-de-cabeceira? A da direita.
– Vejo que não mudaste nada no quarto – comentou a sua prima, enquanto abria a gaveta.
– Tu fizeste-o?
– Não, que ideia! Não me atrevo.
– Harriet vai tirar a roupa que estiver boa para a levar à paróquia.
– Ah, parece-me muito bem! Suponho que eu podia fazer o mesmo. Mas custa-me tanto entrar no quarto dos meus pais…
Depois, quando Sally partiu, Penny ficou a olhar para os faróis do carro que desapareciam pela estrada escura, sentindo-se mais só do que nunca.
– Harriet, se vier algum dos trabalhadores, não o deixe entrar. Diga-lhe que tem de esperar até que eu esteja em casa, diga o que disser.
– É claro – respondeu a governanta. – Achas realmente que seriam capazes de vir procurar os diários?
– Não sei, mas é possível. Especialmente, depois do que Jake nos contou. Se acharem que o meu pai sabia alguma coisa pela qual possamos denunciá-los, de certeza que adorariam pôr-lhes as mãos em cima.
– Que horror! Talvez devesse trazer a minha pistola, para o caso de…
– Tem uma pistola? – perguntou Penny, surpreendida.
– Sim, claro! Temos de nos proteger quando vivemos nos subúrbios da vila. O xerife nem sempre consegue chegar a tempo para nos defender. E seria melhor que também tivesses uma à mão.
– O meu pai tinha armas, mas nunca me preocupei em aprender a disparar... Na verdade, nunca tinha tido de me preocupar com nada até agora. Ah, antes que me esqueça, Harriet, importas-te de fazer duas sandes, em vez de uma, para amanhã? Uma para mim e outra para Jake.
– É claro! É um rapaz bonito, hum?
Penny não se incomodou em responder. Sim, Jake era muito bonito, mas também era um mulherengo e ela não estava à procura de romances. Além disso, tinha de aprender a gerir o rancho e pensar nos olhos de Jake Larson só complicaria as coisas.
Jake deu-se conta de que desejava passar outro dia com Penny, o que era alarmante. Sabia que o prazer e o trabalho nunca deviam misturar-se, e, um pouco nervoso, dirigiu-se para os estábulos para selar Apache, antes que Penny chegasse.
Naquele dia, mostrar-se-ia sério, decidiu.
Ela chegou aos estábulos depois de ter selado os dois cavalos.
– Selaste Stormy por mim? Não era preciso.
– Hoje, cheguei cedo.
– Obrigada de qualquer forma. Toma, trouxe-te o almoço.
– Muito amável – murmurou Jake.
– Onde vamos hoje?
– Procurar os trabalhadores para nos certificarmos de que fazem bem o seu trabalho.
– Estão muito longe daqui?
– Não queres ir?
– Estava a pensar se não seria melhor irmos de jipe.
– Não sabia que tinhas um jipe.
– Sim, está na garagem e com o depósito cheio.
– Muito bem, iremos de jipe para darmos um descanso a Stormy.
Deixaram os cavalos nos estábulos e foram até à garagem, onde o seu pai guardava um jipe em perfeitas condições.
– Na verdade, dá-nos muito jeito.
– Sim, certamente. Queres que conduza?
– Não, eu conduzo – respondeu Jake. – Eu sei onde estão os trabalhadores.
– Ah, está bem… – Penny não discutiu, mas teve a impressão de que não a achava capaz de conduzir. Bom, iria mostrar-lhe, pensou. Iria mostrar-lhe que, apesar de ser uma mulher, era capaz de muitas coisas.
Alguns minutos depois, já na estrada, virou-se para ele.
– Jake, posso fazer-te uma pergunta?