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Capítulo 4

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Jake levantou o pé do acelerador.

– Diz-me.

– Sabes usar uma pistola?

Ele olhou para ela, surpreendido. Não era a pergunta de que estava à espera, mas… O que esperara que lhe perguntasse?

– Sim, Penny. Sei usar uma pistola.

– E podes ensinar-me?

– Porquê?

– Para me proteger.

– Queres ser a nova Calamity Jane?

– Não, que ideia! Harriet disse-me que ela tinha uma pistola porque o xerife não chegaria a tempo se lhe acontecesse alguma coisa e… Não sei, pensei que poderia ter razão.

– Porque é que o teu pai não te ensinou?

Penny suspirou.

– O meu pai não queria que aprendesse nada sobre o rancho… Nada que fosse perigoso. Dizia que eu não devia preocupar-me com essas coisas e, não sei, suponho que não vi necessidade. Mas agora tenho de cuidar de mim.

Jake pensou durante um momento. Para a ensinar a disparar, teria de estar muitas horas a sós com ela. Esse pensamento fazia-o sentir-se um pouco incómodo, mas a ideia de que Penny não estivesse protegida também não lhe agradava.

– Sim, imagino que podia ensinar-te, mas terias de fazer tudo o que eu te dissesse. Não podes disparar quatro tiros contra umas latas e pensar que já sabes disparar.

– Sei que não é assim tão simples. E nem sequer sei se seria capaz de disparar contra alguém. Mas acho que devia aprender.

– Muito bem. Começamos amanhã.

– Amanhã? Eu tinha pensado…

– No ano que vem?

Penny revirou os olhos. Que homem tão áspero!

– Não, amanhã parece-me bem.

– Suponho que terás uma pistola.

– O meu pai tinha várias, mas não sei qual devo usar.

– Amanhã, dou-lhes uma olhadela. Sabes onde guardava as balas?

– Não faço ideia, mas lembro-me de que levava um revólver quando ia aos pastos onde fomos ontem.

– Sim, os homens costumam levar armas porque viram ursos e pumas. De facto, disse-lhes que as levassem todos os dias.

– Porquê?

– Nunca se sabe até onde podem descer os animais quando estão famintos. Choveu pouco este ano e com aquele lago tão perto… Certamente, aqui têm mais fauna do que em qualquer outro rancho da zona.

– Não tinha pensado nisso.

– Essas são as coisas que, supostamente, eu devo ensinar-te.

– Ah, claro!

Jake assinalou duas figuras ao longe.

– Ali estão os trabalhadores.

– O que estão a fazer?

– A arranjar a cerca.

– E estão onde deveriam estar?

– Sim.

Jake carregou no travão para não assustar os cavalos.

– Tudo bem, rapazes?

– Sim, chefe.

Ele despediu-se com a mão, antes de continuar em frente.

– Isso serviu para alguma coisa? – perguntou Penny.

– Claro! É importante que os homens saibam que estão a ser controlados. Caso contrário, alguns não fariam o que têm para fazer.

– E, assim, o teu trabalho é mais fácil?

– Achas que é fácil ser capataz? – perguntou Jake, arqueando um sobrolho.

A sua atitude incomodou Penny. Não gostava que a tratasse como se fosse uma menina.

– O capataz do rancho de Dexter Williams controlava-te?

– Sim, claro, ao princípio. Depois de algum tempo, decidiu que sabia fazer o meu trabalho e tornámo-nos amigos.

– Então, talvez dentro de alguns meses não tenhas de controlar ninguém.

– Não sei. Há alguns trabalhadores em que não se pode confiar.

– Os que agiram de forma estranha ao saberem que tinhas os diários do meu pai? – perguntou-lhe Penny.

– Exactamente. Na verdade, agem de forma estranha desde que cheguei aqui e acho que o teu pai podia ter reparado em alguma coisa.

– E não podemos despedi-los?

– Não, o resto dos trabalhadores não reagiria bem.

Penny cruzou os braços, frustrada.

– Pois, eu acho que terei de os despedir.

Naquele momento, a roda do jipe bateu numa pedra e teve de se apoiar no ombro de Jake.

– Estás bem?

Ela afastou-se imediatamente.

– Claro que estou bem! Achas que sou de porcelana?

– Não, eu não disse isso.

– Vais fazer o que te disse?

– O quê, despedir os trabalhadores?

– Sim. Não os quero no rancho.

– Não posso despedi-los até que me dêem uma razão para o fazer.

– Mas eu sou a proprietária!

– Sim, é verdade, mas contrataste-me não só para gerir o rancho, como também para te ensinar como funciona. E não vou ensinar-te a disparar se não me deres uma boa razão para o fazer.

– E se te disser que é uma ordem?

– Então, terás de procurar outro capataz – respondeu Jake. – E, agora, é melhor que te agarres.

Penny agarrou-se à porta do veículo, zangada. Mas sabia que estava a ser pouco razoável. O seu pai dissera-lhe uma vez que não se despedia ninguém sem se ter uma boa razão para o fazer e Jake estava a dizer o mesmo. Mas ela não queria trabalhadores que não fizessem o seu trabalho ou que roubassem dinheiro. E estava cansada de que a tratassem como uma menina pequena. O seu pai tinha-a tratado assim durante a vida inteira.

Estava zangada com Jake, mas sabia que, se o despedisse, poderia não encontrar outro capataz… pela mesma razão que lhe dava para não despedir os trabalhadores: a gente da vila começaria a dizer que Penny Bradford despedia os seus empregados sem razão alguma.

Quando chegaram ao cimo de uma colina encontraram quatro homens a levar um grupo de vacas para outros pastos, longe das montanhas.

– Como estão as coisas?

– Bem, chefe. Vamos acabar antes do que tínhamos pensado. Estas vacas estão treinadas. Quer que façamos mais alguma coisa?

– Não, não é preciso. Voltem para casa assim que acabarem.

Os homens agradeceram-lhe calorosamente, enquanto Penny olhava para ele pelo canto do olho, perguntando-se se teria planeado aquela cena para demonstrar alguma coisa.

– Suponho que o fizeste para me demonstrares que sabes lidar com os trabalhadores.

Jake franziu o sobrolho.

– Não, que ideia! Contrataste-me para que te ensine a gerir um rancho e é o que estou a fazer. Eu não gosto de jogar, Penny. Se achas que podes fazê-lo melhor, fá-lo, mas, enquanto eu estiver aqui, as coisas serão feitas à minha maneira.

Ela desviou o olhar.

– Desculpa, é que…

– Decidiste despedir-me? Porque, se for assim, eu gostaria de o saber agora.

– Claro que não! Mas tenho o direito de fazer perguntas.

– Bom, vamos comer – respondeu Jake, sem olhar para ela.

Penny pensou em dizer que não tinha vontade de comer só para o incomodar, mas isso seria infantil. De modo que tirou a sua sandes e começou a comer. Jake fez o mesmo, conduzindo com uma mão, até que, finalmente, parou o jipe e virou-se para ela.

– Sim, tens o direito de fazer perguntas, mas perguntas que se refiram ao trabalho. As que se referem à minha personalidade ou ao meu carácter não são apropriadas. Se não achas que consigo fazer o meu trabalho, despede-me e ponto.

– Não duvido que consigas fazer o teu trabalho. Mas deste-lhes tempo livre sem nenhuma razão…

– Estamos a falar de algumas horas. Seria muito difícil que, depois de deixarem as vacas naqueles pastos, conseguissem ir para outra zona e fazer alguma coisa.

– Ah, pois...

– Da próxima vez, dou-lhes mais um pouco de trabalho do que aos outros, é só isso. É assim que se lida com os trabalhadores.

– Está bem, já entendi. Mas não mo tinhas explicado assim.

– Não sabia que tinha de o fazer! – exclamou ele, dando uma dentada violenta na maçã.

Ela fez o mesmo, exasperada. Pedira-lhe que lhe explicasse como se geria um rancho, não fora? Então, porque se zangava por causa de tudo?

O que se passava com aquele homem?

Os três homens de que Jake suspeitava não estavam onde deveriam estar e, quando voltaram para o rancho, Jake pediu a Penny que o esperasse em casa, porque queria falar com o cozinheiro para ver se sabia alguma coisa.

Penny encontrou a governanta na cozinha, a preparar o jantar.

– Apareceu alguém, Harriet?

– Há algumas horas, apareceram três trabalhadores à porta.

– Não me diga?

– Segundo eles, vinham buscar uns livros que tu querias que lessem. Disse-lhes que não me tinhas deixado nada para ninguém e eles perguntaram-me se podiam entrar para irem buscá-los. E eu, naturalmente, disse-lhes que não.

– E partiram?

– Sim, mas só depois de uma… digamos, discussão imaginativa. Disse-lhes que eu era nova aqui e não queria arriscar-me a que me despedisses.

Penny deixou escapar um suspiro.

– Obrigada, Harriet.

Então, ouviram uma pancadinha na porta e as duas mulheres olharam-se. Felizmente, era Jake.

– Boa noite!

– Boa noite, Jake! Quer um café?

– Agradecia-lhe. Ainda não descongelei.

Harriet serviu café aos dois e tirou o avental.

– Se quiserem falar em privado, posso ir para o meu quarto.

– Não é preciso. Tem de contar a Jake o que acabou de me contar – disse Penny.

– O que se passou?

Harriet contou-lhe a visita dos trabalhadores e Jake franziu o sobrolho.

– Que interessante! Ou o cozinheiro me mentiu ou não passaram por casa antes de virem aqui. Mas onde estão agora?

– Não sei, mas vimos os seus cavalos nos estábulos.

– A que horas vieram, Harriet?

– À uma e vinte e cinco, exactamente. Eu sei porque estava a ver o meu programa de televisão favorito. Perdi a última parte para falar com eles. Acha que se foram embora do rancho?

– É possível. Mas, se não partiram, tenho umas quantas perguntas para lhes fazer – Jake bebeu um gole de café.

– Porque não fica para jantar? O jantar já está pronto e há suficiente para os três.

– Não quero incomodar…

Penny sabia que Harriet estava a olhar para ela, esperando que fosse ela a responder.

– Claro que podes ficar. Assim, não parecerá que estás a vigiar alguém. E, quando voltares, talvez esses trabalhadores estejam lá… ou tenham levado as suas coisas.

– Tens a certeza? – perguntou Jake.

Penny encolheu os ombros.

– Claro que tenho a certeza! Sabe-nos bem ter companhia.

Harriet começou imediatamente a pôr pratos e talheres na mesa.

– Isto cheira muito melhor do que o que Sam estava a fazer – Jake sorriu.

– Fiz um bolo de morango para os trabalhadores e outro para nós.

– É muito amável, Harriet. O bolo de maçã estava óptimo.

– Sim, sinto-me muito orgulhosa dos meus dotes de confeiteira.

– Jake, se esses homens se foram embora, conseguiremos contratar outros? – perguntou Penny.

– Não é nada fácil encontrar bons trabalhadores – afirmou ele.

– O que fazemos, pomos um cartaz à entrada do rancho?

– Não, está um anúncio na mercearia. Na da tua prima.

– Ah, claro! Tinha-me esquecido.

– Mas não é uma boa altura para arranjar trabalhadores. A maioria deles já tem trabalho para o Inverno todo. E, no Natal, as pessoas não se mexem muito.

– Não, claro… Oh, não!

– O que foi?

– Estamos em Dezembro. Temos de arranjar uma árvore de Natal para a festa da vila. Fazemo-la todos os anos. Como pude esquecer-me?

– Não sabia que a árvore era deste rancho, mas vi-a no ano passado. Era muito bonita – disse Jake, sorrindo.

– Temos de arranjar uma árvore e mandá-la para a Junta de Freguesia o quanto antes, para que possam decorá-la. Só temos uma semana para encontrar o pinheiro perfeito.

– Que trabalhadores costumam encarregar-se disso?

Penny pestanejou rapidamente para controlar as lágrimas.

– Não o fazem os trabalhadores. O meu pai e eu costumávamos ir procurá-lo juntos. Depois, ele levava alguns trabalhadores para o cortarem.

– E como sabiam que árvore tinham escolhido? São todas mais ou menos iguais.

– Atávamos uma fita vermelha enorme ao tronco para que pudessem encontrá-la depois. Jake, temos de ir procurá-la amanhã mesmo – disse Penny, com ansiedade.

– Não, amanhã não acho que possam ir – Harriet sentou-se à mesa com eles.

– Porquê?

– Porque amanhã vai haver uma tempestade de neve. Disseram-no na rádio. Vá, vamos comer antes que o jantar arrefeça.

Penny abençoou a mesa como os seus pais a tinham ensinado a fazer e depois ajudou Harriet a servir os pratos.

– Disseram se a tempestade vai durar muito? – perguntou Jake.

– O meteorologista disse que, certamente, acabaria de madrugada.

– Os trabalhadores trabalham ao sábado? – perguntou Penny.

– Claro! O sábado é um dia de trabalho como outro qualquer – respondeu ele.

Ah... Pois, ela não considerava o sábado um dia de trabalho. Evidentemente, ainda tinha muito para aprender.

– Quando o teu pai era vivo, metade dos trabalhadores trabalhava ao sábado e a outra metade, ao domingo. Mas, se o tempo estiver mau, terão de trabalhar seja em que dia for. Além disso, será necessário partir o gelo que se formar no reservatório e ter sempre o gado controlado. Não acho que haja nenhuma vaca prenhe nesta época do ano, mas pedirei que verifiquem todas as manadas.

– A que horas começamos?

– Os trabalhadores e eu sairemos assim que seja possível, mas não acho que tu devas ir connosco.

Penny levantou o queixo, orgulhosa.

– O meu pai ia sempre com os trabalhadores, nevasse ou não, e eu penso fazer o mesmo. Nunca ficava em casa por causa de uma tempestade. Além disso, se faltarem esses três trabalhadores, precisarás de gente.

– Nós desenvencilhamo-nos.

– Sem mim, não.

– Já estiveste no campo no meio de uma tempestade de neve?

– Posso agasalhar-me, como toda a gente.

– Gelarás e queixar-te-ás constantemente.

Penny fulminou o seu capataz com o olhar.

– Não digas tolices! Queixei-me até agora?

– Não, mas isso não significa que não vás queixar-te amanhã. Fará um frio terrível.

– Bom, é melhor que comam bem antes que faça esse frio tão horrível! – interrompeu-os Harriet.

– Sim, é verdade – Jake sorriu.

Penny não pensava deixar que levasse a dele avante. Ia fazer o seu trabalho como proprietária do rancho e ele ia ensiná-la. Além disso, não tinha o direito de a tratar como se tivesse três anos. Era uma adulta! Ele também estava a tentar protegê-la, mas tinha de lhe demonstrar que conseguia fazer o que tinha de fazer.

Depois de jantar, Jake levantou-se para levar o seu prato para o lava-loiça.

– Não tem de fazer isso! – protestou Harriet.

– A minha mãe insistia para que todos levássemos os pratos para o lava-loiça.

– Pois, educou-o muito bem – a governanta sorriu.

Penny também levou o seu prato para o lava-loiça e depois voltou para a mesa, para recolher os copos e os talheres. Jake tentou ajudá-la, mas ela abanou a cabeça.

– Posso fazê-lo sozinha.

– Não posso ajudar-te?

– Aceito a tua ajuda se tu aceitares a minha amanhã.

– Penny, amanhã fará muito frio e não é preciso que…

– Sou a proprietária deste rancho e o meu pai ia sempre com os homens – interrompeu-o ela, com brusquidão.

Jake respirou fundo, tentando ter paciência.

– Ser teimosa nem sempre é bom. Se calhar, isso é a primeira coisa que deves aprender.

Depois, desejou-lhes boa noite e desapareceu.

– Será possível? – perguntou Penny, furiosa.

– Eu acho que tem razão – pensou Harriet.

– Harriet!

– Devias ficar em casa amanhã. Que o teu pai fizesse todas essas coisas não significa que tu tenhas de as fazer também. Ele tinha muita experiência. Além disso, gelarás o suficiente quando saíres para procurares a árvore de Natal.

Penny deixou-se cair na cadeira.

– Sim, bom… É possível que tenha razão. Não posso aprender tudo de uma vez e estou tão cansada... Se calhar, Jake tem razão. Ai, tínhamos combinado que amanhã me ensinaria a disparar, mas receio que isso também tenha de esperar.

– Fico contente por finalmente teres decidido proteger-te.

– Devia ter mostrado as pistolas do meu pai a Jake.

Harriet esboçou um leve sorriso.

– De certeza que voltará. Aquele homem gosta muito de uma boa refeição.

– Sim, claro que sim – assentiu Penny, pensativa.

Por uma vez, o meteorologista não se enganara.

E Jake também não se enganara ao pensar que os três trabalhadores teriam feito as malas. Sam, o cozinheiro, admitiu que tinham voltado antes dos outros, mas tinham prometido dar-lhe uma sova se dissesse alguma coisa.

– Não faz mal, homem. Tenho a certeza de que se foram embora para sempre.

De manhã, Jake organizou o resto dos homens. Tinham de dar de comer a três manadas diferentes, partir o gelo do reservatório e verificar se havia algum animal em perigo. Eram oito, contando com ele. Jake dividiu os trabalhadores em dois grupos de três e ficou com Dusty, o melhor de todos.

Mas depois de tomar o pequeno-almoço, avisou-os para que se agasalhassem o máximo possível.

– Vai fazer muito frio. Quando acabarem as vossas tarefas, voltem para aqui; Sam terá café quente.

Todos estavam bem agasalhados quando uma pancada na porta os parou.

Jake sabia quem era e não queria abrir a porta, mas sabia que também não podia deixá-la ali.

Um amor inesperado - Um bebé, um milagre

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