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Capítulo 1

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De regresso do seu passeio a cavalo, sob o deslumbrante sol de Palermo, Pascual Domínguez entrou a trotar nos estábulos e desmontou. Deu uma palmada na garupa do cavalo e ordenou ao rapaz das cavalariças que o soltasse no prado, depois de se ocupar dele.

Estava de bom humor. Na noite anterior, houvera uma festa familiar em honra do seu noivado e desejava passar algumas horas a sós com a noiva, Briana, quando ela saísse do trabalho.

A festa fora tão concorrida que não tinham conseguido falar nem um momento. No entanto, naquela noite, iam jantar ao seu restaurante favorito e, depois, esperava que passasse a noite com ele, antes de irem passar alguns dias juntos. Sozinhos e longe da sua bem-intencionada família e amigos.

Briana virara o seu mundo organizado ao contrário, era indubitável. Nem em sonhos pensara que chegaria a sentir uma ligação tão instantânea e poderosa com uma mulher e agradecia-lhe, diariamente, por isso.

Desde que pusera os olhos na jovem ama inglesa, que os seus amigos Marisa e Diego de la Cruz tinham contratado para cuidar da filha, Briana Douglas transformara-se no centro das suas esperanças e sonhos. Aceitara tornar-se sua esposa e ele contava os dias que faltavam para o casamento.

Assobiando, entredentes, atravessou a porta dupla da casa e encontrou a sua governanta, que o esperava. Uma ruga ensombrecia o seu rosto de pele lisa e morena.

– O que se passa, Sofía? – Pascual arqueou uma sobrancelha e sentiu um calafrio de apreensão inexplicável.

– A menina Douglas veio aqui quando estava a cavalgar… – começou por dizer a mulher de meia-idade.

– Onde está? – interrompeu ele, olhando com impaciência para a fantástica entrada de mármore.

– Não ficou, senhor.

A governanta pôs a mão no bolso da saia preta e comprida, tirou um envelope branco e ofereceu-o a Pascual. Ele sentiu que o sangue lhe gelava nas veias.

– Disse-me para lhe entregar isto.

– Obrigado – arrancou-lhe o envelope da mão, dirigiu-se para a escada e subiu os degraus, dois a dois.

Na sua suíte privada, rasgou o envelope. Odiava o pressentimento de desgraça, que o fazia sentir um nó no estômago. Aproximou-se da varanda da sala de estar e a brisa perfumada, com cheiro a jasmim e madressilva, agitou a folha de papel creme que a sua mão agarrava com avidez.

Começou a ler e a sensação gelada que o invadira intensificou-se.

Querido Pascual,

Por onde hei-de começar? É muito difícil dizer-te isto, mas decidi que não posso seguir em frente com os nossos planos de casamento. Não porque deixei de te amar ou algo do género. Os meus sentimentos por ti continuam a ser tão intensos como sempre. Contudo, comecei a perceber que o nosso casamento nunca poderia funcionar. A diferença de classes e do que somos como pessoas é demasiado grande. Tentei falar contigo, mas dizes-me sempre que não há razões para preocupações e que invento problemas onde não há.

Receio que estejas enganado. No fim, essas divergências exercerão um efeito negativo na nossa relação. Já houve repercussões no teu ambiente familiar, por quereres casar com uma estranha. Claro que a tua família significa tudo para ti e não quero interpor-me entre vocês. Com o tempo, sentirias ressentimento por mim. Portanto, em vez de provocar mais dor ficando e vendo como o que agora temos se desintegrará, decidi regressar a Inglaterra e retomar a minha vida lá.

Compreendo que esta notícia seja uma tremenda surpresa para ti e lamento imenso a dor que possa causar-te, mas penso que, a longo prazo, é o melhor, para o bem de ambos. Foste muito bondoso comigo e nunca o esquecerei, Pascual. Penses o que pensares enquanto lês esta carta. Também lamento que tenhas de ser tu a dizer a todos que o casamento não se celebrará, mas depois de ter conhecido um pouco a tua família, tenho a certeza de que a notícia confirmará a sua convicção de que eu era totalmente inadequada para ti desde o começo.

Por favor, não tentes voltar a entrar em contacto comigo. É a única coisa que te peço. Só prolongaria a dor de ambos e penso que é melhor voltarmos a começar do zero. Cuida de ti, desejo-te o melhor, agora e sempre.

Com todo o meu amor,

Briana

Dios mío!

Pascual, assolado por uma onda desumana de incredulidade, de dor e de desilusão, voltou a ler a carta, incapaz de assimilar o seu conteúdo devastador. Abandonara-o. Briana, a mulher da sua alma, a bela jovem por quem se apaixonara à primeira vista e, com quem ia casar, voltara para Inglaterra. Nem sequer tivera a coragem de lhe comunicar a sua decisão pessoalmente.

Na noite anterior, parecera muito feliz na festa. Ou talvez não. Ao pensar melhor, lembrou-se que, no fim da noite em casa dos seus pais, ela parecera estar um pouco cansada e tensa. Desejara ficar a sós com ela e perguntar-lhe o que a preocupava. Mas, no fim, visto que os seus amigos não tinham querido que deixasse a festa demasiado cedo, pedira ao seu motorista para levar Briana a casa, supondo que a veria naquela noite e poderia descobrir o motivo da sua inquietação.

Era demasiado cruel perceber que a sua intenção não chegaria a materializar-se, porque ela decidira ir-se embora sem esperar para falar com ele. «Porque não ouviste antes o que tentava dizer-te?», recriminou-se, angustiado. Era óbvio que Briana estava convencida de que havia problemas, embora ele não o achasse. No entanto, não tinha o direito de supor que sabia «o que era melhor para ambos a longo prazo». Falava em relação a si própria… E não dele!

Começou a sentir que a divisão ampla se transformava numa prisão. A necessidade de sair e respirar ar puro estimulou-o. Atirou a carta para cima da secretária e saiu de casa. Praguejou enquanto saía novamente para o sol do meio-dia. Os saltos das suas botas de montar ecoavam nas pedras da calçada, branqueadas pelo sol.

Pela segunda vez, nos seus trinta e seis anos de vida, sentira a dor amarga da perda e isso desestabilizara-o por completo. No ano em que Pascual fizera trinta anos, Fidel, o seu melhor amigo, falecera num horrível acidente de viação, deixando para trás a esposa e o filho. Isso fizera-o entender, de forma brutal, que a vida era breve e não servia de nada dispor de uma grande riqueza, quando não se tinha alguém para a partilhar. Reflectira sobre o futuro e compreendera que desejava ter uma esposa, a sua família. Mas a sua esperançada busca de uma companheira levara-o a entregar o seu coração a uma mulher que, obviamente, valorizava tão pouco os seus sentimentos, que era capaz de se ir embora sem aviso prévio e sem lhe dar uma explicação digna desse nome.

Pascual voltou a sentir o impacto da carta de Briana e a sua agonia e desespero foram tais, que esteve prestes a cair de joelhos. Perguntou a si mesmo porque não confiara o suficiente nele para lhe confessar as suas dúvidas sobre o futuro. Se as dúvidas eram o problema. Tal como ele o via naquele momento, as suas acções transformavam-na num ser desprezível. O seu único consolo era a esperança de que se arrependesse amargamente de o ter abandonado e sofresse as consequências.

Porque não iria atrás dela. Não ia dar-lhe a oportunidade de o rejeitar uma segunda vez, por muito desesperado que estivesse por vê-la nos dias, semanas ou anos seguintes. E, se descobrisse que o abandonara por causa do impensável, porque se apaixonara por outro, amaldiçoá-la-ia até ao fim dos seus dias.

Cinco anos depois,

Londres, Inglaterra

– Era o carteiro, querida?

– Sim, mãe.

Briana olhou para o fino envelope castanho que fora buscar e sentiu que o seu coração começava a pesar como chumbo no seu peito. Se não se enganava, era outra missiva do banco e havia a possibilidade de ameaça de um processo judicial, que passara semanas a rondá-la e parecia se ter transformado numa horrível realidade.

Há dezoito meses, a empresa que criara, de serviços administrativos e turísticos para executivos em viagens de negócios, florescia a um ritmo que superava todos os seus sonhos. Contudo, desde que a recessão global começara a criar raízes, caíra a pique. As pessoas não estavam dispostas a usar uma empresa pouco conhecida, quando havia outras de mais renome, que podiam arriscar-se a reduzir o preço dos seus serviços, minando assim a competição.

Tinha um filho para criar e uma renda para pagar. Não sabia como ia fazê-lo, quando mal tinha ganhos suficientes para comprar comida e pagar as contas básicas.

– Briana? Vais tomar o pequeno-almoço com Adán e comigo antes de ires de fim-de-semana?

– Claro. Dá-me um minuto, pode ser?

Briana, com um suspiro, guardou o envelope fechado na mala. Não ia partilhar com a sua mãe a notícia de que acabara de receber outra carta preocupante sobre a sua dívida. Frances Douglas venderia a roupa que tinha vestida, se com isso pudesse ajudar a filha e o neto a chegarem ao fim do mês. Já hipotecara a sua casa para os ajudar. Fizera mais do que o suficiente. Sem a sua ajuda, Briana nem sequer teria conseguido criar a empresa. Era ela que tinha de conseguir sair do abismo em que caíra.

Passou uma mão pelo cabelo castanho, sedoso e rebelde, e voltou à cozinha com um sorriso forçado. O filho estava sentado num banco alto, a dar conta de uma taça de cereais e a mãe estava a pôr duas fatias de pão integral na torradeira.

A criança sorriu de orelha a orelha ao ver Briana.

– Mãe, estou a repetir! – anunciou com alegria. Uma gota de leite brilhava na covinha do seu queixo.

– A sério, meu anjo? Não é de estranhar que estejas a crescer tanto! – depositou um beijo carinhoso na sua cabeça morena e dirigiu-se para o fervedor da água que estava sobre a bancada. – Queres uma chávena de chá, mãe?

– Porque não te sentas com Adán e me deixas tratar disso? Não deixarei que saias de casa sem comer pelo menos umas torradas! Com tantas preocupações, estás muito pálida e magra. Ficar doente não servirá de nada.

– Não é porque não como – Briana pôs o cabelo atrás das orelhas, suspirou e pôs duas saquetas de chá nas chávenas. – Tenho andado um pouco absorta, mais nada. Este fim-de-semana tem de correr bem, mãe. Tenho três empresários que vão receber um milionário estrangeiro e tenho de os atender numa mansão Tudor, com a qual nem sequer estou familiarizada. Tenho de chegar cedo e pôr-me em dia para os receber como merecem ou será um desastre! Ainda bem que Tina foi ontem, para começar a organizar tudo. Se ficarem com uma boa impressão, é provável que me dêem mais trabalho, portanto, faz figas por mim, está bem?

– Não devias precisar que fizesse figas! – anunciou Frances Douglas, franzindo a testa. – És a melhor no que fazes, Briana Douglas, não o esqueças! A dívida que ameaça a empresa deve-se à tua natureza ingénua, não à tua falta de capacidade.

– Obrigada, mãe. Precisava de um pouco de ânimo esta manhã. És um anjo!

– Não te preocupes com Adán. Organizei um fim-de-semana fantástico para os dois. Quero que vás trabalhar e te concentres no que tens de fazer sem te preocupares connosco.

– Prometo não vos falhar.

Os olhos cinzentos da mãe humedeceram-se.

– Nunca me falhaste em vinte e sete anos de vida, nem penses que há essa possibilidade!

Briana, com os olhos também húmidos, assoou o nariz e deu-lhe um abraço forte. Era muito sortuda. Tinha a melhor mãe que uma rapariga podia desejar e um filho encantador que era a luz da sua vida. Deixando de lado os problemas financeiros, não estava nada mal. No entanto, assim que decidiu olhar para as coisas pelo lado positivo, a imagem do pai do seu filho cintilou na sua mente e a pontada que sentiu no coração quase a deixou com falta de ar.

A casa era impressionante. Situada no meio do verde aveludado das colinas suaves de Warwickshire, denominada a terra de Shakespeare, era uma bela relíquia da época tumultuosa dos Tudor. Qualquer pessoa que se interessasse por História teria olhado para ela com admiração.

Pascual fê-lo durante vários minutos, depois de o motorista abrir a porta do Rolls-Royce, que o trouxera do aeroporto. Admirou a fachada branca com vigas de madeira, as pequenas janelas em forma de arco e os painéis de vidro chumbado do edifício de três andares. O ambiente também era espectacular. A caminho dali, depois de transpor um portão metálico, tinham atravessado um lindo parque com árvores centenárias. Começou a cair chuva miudinha, como se tudo quisesse recordar-lhe que estava no campo, em Inglaterra, longe da vida colorida e do calor de Buenos Aires. Quando a chuva piorou, correu para procurar abrigo.

Esteve prestes a chocar com uma jovenzinha loira e magra que disse chamar-se Tina e que trabalhava para os homens de negócios que tinham organizado aquela estadia de fim-de-semana de Pascual. Depois de lhe mostrar a sua suíte, disse-lhe que voltaria com café e que, mais tarde, a sua colega o levaria a conhecer os seus anfitriões.

Agradecendo a oportunidade de tomar um duche e familiarizar-se com o ambiente antes de almoçar e entregar-se aos negócios, Pascual levou o seu tempo a preparar-se para a reunião. A chuva não parava de cair, batendo nos vidros da janela do quarto. Olhou lá para fora e, ao ver que as árvores se dobravam quase até ao chão, compreendeu que o vento adquirira a intensidade de uma tempestade. Contudo, dentro de casa, o ambiente era quente e agradável. Sentiu uma espécie de paz, que quase nunca experimentava em sua casa, a descer sobre ele como uma suave manta de penas que o isolava do resto do mundo.

Deixou escapar um suspiro de satisfação. Ao fim e ao cabo, não tinha de se preocupar. Por mais que fizesse esperar os seus anfitriões, nunca pensariam em emitir uma só queixa. Tinham a oportunidade de comprar os cavalos de pura raça mais procurados do mundo, a elite da elite, portanto, controlariam a sua impaciência, independentemente do tempo que Pascual demorasse.

Estava absorto a pôr os botões de punho de diamante nos punhos da camisa azul de Savile Row, quando ouviu uma pancadinha na porta. Supôs que seria a pequena loira e pensou que lhe saberia bem uma chávena de café bem forte.

Do outro lado da porta de carvalho, no corredor comprido e de tecto baixo, Briana tentava controlar o ritmo da sua respiração. Chegara atrasada, apesar dos seus esforços, mas a tempo de pegar na bandeja de café que Tina levava para a suíte do convidado importante. Passou uma mão pelo cabelo e desejou que a pressa e o facto de não ter tido tempo de retocar a maquilhagem não diminuíssem o profissionalismo, que era a sua marca de qualidade. Nem sequer perguntara a Tina como se chamava o convidado. Com um pouco de sorte, estaria tão agradecido pelo café que não repararia que não o chamava pelo seu nome.

A cafeteira de prata, o prato, a chávena e a jarrinha de porcelana branca tremeram sobre a bandeja que Briana segurava. Concentrou-se e respirou fundo outra vez.

– Mesmo a tempo! Ia… Meu Deus!

Uns olhos de cor tão intensa como a do melhor cacau, num rosto atraente de traços duros, com maçãs do rosto altas e uma boca incrivelmente sensual e viril, fixaram-se nela como se o seu proprietário não conseguisse acreditar no que via.

– O que fazes aqui?

Briana agarrou a bandeja, que estivera prestes a deixar cair. Achou que estava a sonhar. O seu coração batia no peito a ritmo infernal. Pascual era o convidado importante! Era imperdoável não o ter sabido. O seu equilíbrio e profissionalismo desapareceram de repente. Sentia-se tão vulnerável, exposta e inadequada, que as lágrimas começaram a queimar-lhe a garganta.

– Ouviste o que disse?

Durante um momento, o seu sotaque pareceu-lhe mais marcado do que o recordava. Briana descobriu, para sua tristeza, que o tom sensual da sua voz continuava a ter o poder de fazer com que as suas pernas tremessem como gelatina.

– Estou a trabalhar… E trouxe-te o café – conseguiu dizer, oferecendo-lhe um sorriso trémulo. – Importas-te que pouse a bandeja? Tenho medo de a deixar cair.

Pascual abriu a porta para que entrasse. Os seus olhos seguiram-na, acusadores, enquanto atravessava o quarto para deixar a bandeja numa mesa de carvalho esculpido.

– O que significa isto?

Estava a observá-la como se fosse uma brincadeira de mau gosto… Uma brincadeira que detestava.

– Já te disse, estou a trabalhar. Os teus anfitriões contrataram a minha empresa de serviços para que se encarregasse da recepção e da hospitalidade durante a tua estadia. Não sabia que o convidado VIP eras tu. Lamento, Pascual…

Mordeu o lábio inferior e corou, arrependendo-se de ter usado o seu nome. Sobretudo, porque o belo rosto não revelava nenhum prazer em voltar a vê-la, mas sim o contrário!

– Isto devia ser a última coisa de que precisavas. Ver-me outra vez, quero dizer – murmurou. A sua autoconfiança desapareceu por completo enquanto ele observava o seu corpo de cima abaixo, como se quisesse queixar-se do fato simples, mas profissional, de cor preta.

Ficou sem saber o que fazer. Se rejeitasse a sua assistência e a impedisse de fazer o seu trabalho, seria a última gota que destruiria as suas finanças e a sua reputação profissional. Briana rezou para que não chegasse tão longe. Enquanto se preocupava com a perda do trabalho e tentava não pensar na dor do passado, os seus olhos famintos desejavam chorar de júbilo ao verem o homem que amara e que sonhara voltar a ver algum dia.

Estava impressionante. «Um presente para os olhos», teria dito a sua mãe. Mal mudara, embora a sua estatura lhe parecesse mais imponente do que nunca. Continuava a ser esbelto, musculado e não duvidava que a roupa sublime, feita à medida, escondia um físico invejável, em plena forma. Se a isso se juntasse a beleza do seu rosto, teria de admitir que Pascual Domínguez, não era o tipo de homem que uma rapariga via diariamente. Pelo menos, não ao pé de Briana.

Deslumbrara-a desde o princípio e não demorara a apaixonar-se loucamente por ele. Quando descobrira que ele sentia o mesmo por ela, custara-lhe a acreditar na sua boa sorte. Mas isso fora há cinco anos. Cinco anos em que tivera de assumir a sua condição de mãe solteira, porque Pascual não fazia ideia que tinham concebido um filho antes de ela se ir embora. Não passava um dia sem sentir o peso do remorso, ao lidar com essa realidade…

Ele continuava sem falar, olhando-a como se não soubesse se devia sacudi-la até lhe tirar os sentidos ou gritar até lhe apitarem os ouvidos. Briana retorceu as mãos geladas e olhou para a bandeja que deixara sobre a mesa.

– Queres que te sirva um café?

– Esquece o maldito café! O que achas que estás a fazer? – gritou ele, num tom de voz amargo.

– Não estou a fazer nada – murmurou. – Esta situação é tão inesperada e surpreendente para mim como para ti.

– Mas brincaste comigo, como se fosse um parvo, não foi, Briana? – semicerrou os olhos escuros. – Ainda me custa a acreditar que tenhas feito o que fizeste… Por muito tempo que tenha passado!

– Nunca tive a intenção de fazer com que te sentisses um parvo.

Ao perceber que começavam a tremer-lhe os lábios, Briana tentou controlar os nervos, para não perder a força à frente dele e confessar tudo. De que serviria explicar porque o deixara realmente? Tinham passado cinco anos. Não quisera ouvi-la então, não tinha razão para o fazer naquele momento. Além disso, não queria remexer as coisas e acabar por discutir com ele como, sem dúvida, aconteceria. Também não podia falar da existência de Adán. Precisava de mais tempo…

– Lamento muito que as coisas tenham acabado daquela maneira, mas não foi para o bem?

Era um comentário estúpido e banal de que Briana se arrependeu imediatamente.

– Para o bem? – gritou ele.

As palavras ecoaram pelo quarto e, para Briana, foi um grande golpe captar as emoções que expressavam: Confusão, raiva, frustração… Estava tudo ali.

Ele passou os dedos pelo cabelo escuro e espesso, e mexeu a cabeça, olhando para ela fixamente.

– Posso superar o facto de ter parecido um parvo com a minha família e amigos, mas o que não posso aceitar, nem perdoar é que não me tenhas dado nenhuma pista de que os teus sentimentos por mim eram tão frágeis. Nem que não me darias a oportunidade de ouvir a razão dos teus próprios lábios. Tive de a ler numa carta fria e carente de emoção! Deves ser uma actriz consumada, Briana… Parecias feliz e apaixonada e eu acreditava. Que idiota!

Mundos aparte - De ama a esposa

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