Читать книгу Mundos aparte - De ama a esposa - Maggie Cox - Страница 9

Capítulo 5

Оглавление

Passara toda a noite a dar voltas à cabeça, pensando no que fazer. Finalmente, precisando de um pouco de ar fresco, saiu da casa que continuava silenciosa e, com as mãos nos bolsos, seguiu um dos caminhos serpenteantes. Começava a amanhecer e a névoa prateada cobria as árvores e sebes como um manto diáfano. O ar era tão frio que Pascual tremeu. Admitiu que o campo inglês, no Outono, era um presente para a vista. Os seus pés esmagavam as folhas douradas e húmidas contra o cascalho. Era o primeiro prazer verdadeiro que experimentava desde a sua chegada.

Na sua casa, em Buenos Aires, a temperatura seria de vinte e dois graus, e o dia seria ensolarado e quente. Contudo, naquele momento, não sentia nenhuma saudade do seu país natal. Compreendeu que ao saber que estava no mesmo país em que o seu filho estava, era suficiente para se sentir bem. Pensou no aspecto teria a criança. Se se parecia fisicamente com ele e se tinham outros traços em comum. Pigarreou com impaciência, para soltar o nó que tinha na garganta.

«Como foi capaz de me fazer isto?». Não entendia porque é que Briana lhe escondera a existência do filho, de propósito. Mesmo que a tivesse traído com Claudia, coisa que não fizera, não merecia que o tratasse assim. O facto de o pai dela ter tido aventuras com outras mulheres, não lhe dava o direito de supor que Pascual faria o mesmo. Ele era um homem de outro tipo. Era um homem honrado e leal. Desejou que ela o tivesse visto assim. Teria sido ainda mais improvável ter uma aventura, sabendo que tinha um filho em que pensar. Parecia-lhe impossível ter amado uma mulher tão desconfiada, uma mulher que preferira abandoná-lo a pedir-lhe explicações e ouvir a sua versão da história.

Preferia dedicar a sua atenção às soluções, em vez de se lamentar, deixou o passado de lado e reviu algumas das decisões a respeito do futuro, que tomara na noite anterior. Quando regressasse a Buenos Aires, dali a alguns dias, o filho iria com ele. Isso era indiscutível. «Quando te tornas pai», dissera-lhe o amigo Fidel uma vez, «tudo muda. De certa forma, o caminho torna-se mais claro. Preocupas-te menos com as tuas necessidades e ambições. Dedicas quase cada momento do dia à criança amada, que ajudaste a trazer a este mundo.»

Infelizmente, o amigo não vivera para ver o seu filho crescer. Visto que já tinha perdido os primeiros anos de infância de Adán, Pascual não queria que lhe acontecesse o mesmo. Se Briana criasse algum tipo de dificuldades, não hesitaria em empreender acções legais para reclamar os seus direitos. Mas tinha a esperança de que não chegasse a tal ponto. Seria muito melhor que compreendesse que tinha cometido uma grave injustiça com o filho e com ele, ao mantê-los afastados, e que estivesse disposta a rectificar o seu erro em vez de o piorar ao interpor-se no seu caminho.

Parou um momento, emitiu um longo suspiro e retomou a subida pelo caminho serpenteante. Quase tropeçou ao recordar o beijo que lhe roubara na noite anterior, antes de descobrir a existência do filho. Uma onda de calor queimou-lhe o ventre, perturbando-o. Não entendia que, depois de cinco longos anos de separação, ainda conseguisse despertar nele uma luxúria e um desejo tão intensos. Sentindo-se traído pelo seu próprio corpo, Pascual começou a andar mais depressa. Decidiu, com amargura, acelerar o passo para queimar a energia nervosa que vibrava no seu corpo. Se não o fizesse, o desejo inconveniente e traiçoeiro que sentia não lhe daria um momento de paz.

Tomara mais uma decisão. A ideia de assistir a um jogo num dos campos de pólo mais elitistas do Reino Unido já não o atraía, mesmo que fosse o final da época. Tinha coisas muito mais importantes na cabeça. A primeira, era pôr Briana ao corrente dos seus planos, depois, visitaria o seu filho.

Atónita, Briana olhou para a colega.

– Decidiu não ir ao jogo de pólo? Os outros estão lá fora, à espera no carro! Que razão te deu?

Tina, incomodada e também perturbada, franziu o sobrolho.

– Só disse que mudou que opinião, que tinha surgido uma coisa mais importante e que devia transmitir-lhes o seu pedido de desculpas. Disse que os veria no jantar, esta noite. Enquanto isso…

A jovem hesitou e Briana sentiu uma pontada de apreensão que lhe acelerou o coração.

– Enquanto isso, o quê? – exigiu saber, com um laivo impaciente provocado pelo medo.

– Enquanto isso, o senhor Domínguez gostaria de falar contigo em privado… No seu quarto.

A expressão de curiosidade da loira era uma pergunta e Briana resmungou mentalmente. Aquilo era a última coisa de que precisava. Tina a tecer conjunturas se havia alguma coisa entre o bonito argentino e a sua chefe! Ao recordar a pequena mancha rosada que tinha no pescoço, o presente de despedida de Pascual na noite anterior, uma labareda de vergonha e culpa assolou o seu corpo. Automaticamente, levou a mão ao colarinho da camisa de seda, para o subir um pouco.

– Bom. Então, terás de sair e transmitir a mensagem aos nossos clientes. E, claro, não menciones que Pas… O senhor Domínguez quer ver-me no seu quarto.

Briana, sentiu-se a corar por ter estado prestes a dizer o nome próprio dele, virou-se e, lentamente, como se tivesse chumbo nos sapatos, subiu as escadas e encaminhou-se para o patamar onde se encontrava a suíte de Pascual.

Mordiscando o lábio, bateu com os nós dos dedos na porta de carvalho.

– Entre!

Pascual lançou-lhe um frio olhar, crispou os lábios sensuais com desagrado e abriu a porta para a deixar passar. Vestido de preto dos pés à cabeça, projectava a imagem de um homem de virilidade indomável, habituado a dar ordens. Que Deus ajudasse quem se atrevia a opor-se a ele!

A ansiedade de Briana aumentou só de o ver. Pascual fechou a porta atrás de si e seguiu-a para o meio do quarto. A empregada enchera de flores frescas uma enorme jarra branca que estava sobre a secretária e, o seu cheiro, sobretudo o dos lilases, pairava no ar como um perfume exótico e embriagador. Briana só teve de dar uma olhadela aos olhos escuros como a noite, para saber que a esperavam problemas.

– Porque… Porque não queres ir ao jogo de pólo? – atreveu-se a perguntar.

– Porque as minhas prioridades mudaram, como tenho a certeza de que sabes muito bem porquê.

Ela não respondeu. O ambiente era tão eléctrico e perigoso como seria a chama de uma vela a titilar junto de um monte de palha.

– Fazes bem em guardar silêncio! – um músculo do seu queixo ficou tenso. – Porque aviso-te de que nada do que disseres mudará o rumo que decidi seguir. Quando voltar para Buenos Aires, dentro de dois dias, o meu filho e tu acompanhar-me-ão e passarão lá uma longa temporada de férias. Umas férias em que se celebrará o nosso casamento. O casamento que devia ter sido celebrado há cinco anos!

– O quê?

– Ouviste-me. E, quando regressares ao Reino Unido, será para pores a tua empresa em ordem e fechá-la.

– Fechá-la?

– Sim. Tem problemas, não tem? Será um alívio para ti deixá-la para trás. Quando estiveres de volta a Buenos Aires, em vez de gerires um negócio, terás de te habituar a desempenhar as funções que se esperam da minha esposa. Não te preocupes, Briana… – o olhar escuro de Pascual foi provocador em extremo. – Estarás mais do que ocupada a cumprir esse papel. E isso inclui partilhar a minha cama, cuidar do nosso filho, agir como anfitriã dos jantares e festas que celebrar, e ser uma acompanhante impecável em todas as funções sociais. Tenho a intenção de te integrar no meu mundo. Esse mundo que desprezas, ao ponto de não teres conseguido suportar a ideia de fazer parte dele! Podes esquecer a tua intenção de criar o nosso filho em Inglaterra, como mãe solteira. Isso é coisa do passado. Hoje é um novo dia e as coisas mudarão muito para ti. Podes contar com isso!

Sentindo-se como se uma tempestade acabasse de arrancar o telhado da sua casa, Briana perdeu o dom da palavra. Era como se o impacto do que acabava de ouvir a tivesse deixado muda.

– Não tens nada para dizer? – Pascual ergueu o queixo, particularizando a sua irritação.

– Sim… Claro – olhou para ele, inquieta. – Tenho muito para dizer. Mas tenho a certeza de que não me ouvirás.

– Ouvirei. Isso não significa que fique de acordo contigo ou mude de opinião.

– Entendo que queiras fazer parte da vida de Adán, é o teu direito como pai. Mas não podes querer que voltemos para Buenos Aires contigo ou que tu e eu nos casemos. Que necessidade tens de chegar tão longe? Além disso, custa-me acreditar que queiras casar comigo depois do que se passou entre nós. Não faz nenhum sentido.

– Bom, certamente, não é porque tenha descoberto que não posso viver sem ti, nem nada assim tão estúpido! – Pascual fez uma careta. – Não. Faço isto pelo bem do meu filho. O filho que me negaste nos últimos quatro anos. És a sua mãe e, embora não me tenhas demonstrado respeito, eu respeitar-te-ei a ti para não lhe falhar a ele. Quero ser o pai que Adán merecia ter desde o primeiro dia e, se isso significa casar-me com a traidora da sua mãe, então…

– Traidora? – os olhos cinzentos de Briana arredondaram-se, expressando o seu protesto. – Nunca te enganei… Nunca! Se alguém demonstrou sentir atracção por outras pessoas, foste tu!

– Continuas a dar voltas a essa cena ridícula com Claudia? – Pascual suspirou com impaciência. – O que posso dizer para te convencer da verdade? Juro-te que estava bêbada. Como estava zangada porque tinha acabado com ela, queria magoar-te, Nem sequer percebi que estavas a ver o que se passava! Se soubesse, teria falado contigo para te explicar a situação. Mas não me deste essa oportunidade, pois não?

– Estava demasiado magoada e incomodada!

– E, pelos vistos, achaste que eu era como o teu pai! Chamei-te traidora porque me prometeste que serias minha esposa, Briana. Não cumpriste a tua promessa. Em vez de o fazeres, foste embora, fizeste-me ficar como um estúpido à frente de toda a gente e, ainda por cima, escondeste que estavas grávida do meu filho. Desleal, falsa… Traidora é uma palavra tão válida como qualquer outra para descrever as tuas acções, não te parece?

– Não podes esperar que aceite os teus planos sem protestar, que ceda às tuas ordens, Pascual. Não vivemos na Idade Média e não vou estar de acordo com tudo o que disseres só porque me sinto culpada devido ao que aconteceu há cinco anos.

– Então, sentes-te culpada. Finalmente! Uma demonstração de arrependimento!

– Claro que me sinto mal em relação ao que se passou. Dia após dia, ao ver Adán crescer, pensei no que estava a perder por não ter o seu pai por perto. Arrependo-me sinceramente da minha atitude nesse sentido. Mas não queria ser vingativa ou cruel quando decidi não entrar em contacto contigo. Nesse momento, considerando a tensão a que me via submetida, fiz o que achei ser correcto.

– Do meu ponto de vista, nem sequer pensaste um momento. Reagiste! Sabia que podias ser impulsiva e gostava disso em ti, mas não teria imaginado, nem num milhão de anos, que a tua impulsividade te levaria a fazer o que fizeste – semicerrou os olhos. – Tenho uma pergunta para ti. Tencionavas falar-me de Adán? E se os negócios não me tivessem trazido aqui este fim-de-semana? E se não tivessem contratado os serviços da tua empresa para me atender? Terias deixado passar mais tempo? Terias esperado até o nosso filho ser um homem, para entrares em contacto comigo? Ou talvez fosses capaz de nunca o fazer?

Era, sem dúvida, uma possibilidade devastadora. E fez com que Briana se sentisse como se tivesse cometido um crime merecedor de prisão perpétua. Não era a primeira vez que se sentia esmagada pela gravidade da decisão que tomara ao sair de Buenos Aires, há cinco anos. Mas nunca a ressaca da onda de dor e arrependimento fora tão intensa como naquele momento. Enfrentar a vitalidade e a beleza do homem que tinha à sua frente, fizera-a compreender o mal que lhe causara. Fora a culpada da sua humilhação e tortura no passado e, mais ainda, no presente. Em vez de seguir em frente com o casamento e comprometer-se com o homem que amava, deixara que o medo e a dúvida ganhassem o jogo. E a consequência era a cena que estava a viver, equivalente a uma tortura.

Voltou a desejar ter tido uma referência masculina melhor do que o pai, sempre cruel e infiel. Independentemente do ponto de vista, a verdade era que negara a Pascual a oportunidade de ter uma relação com o filho. Mesmo se tivesse chegado a ser infiel no casamento, e Briana não podia esquecer como se sentira magoada ao vê-lo nos braços da ex-namorada, não teria merecido tal castigo. Briana suspirou com desalento e deu alguns passos na direcção dele. Desejava com todo o seu coração poder resolver as coisas, mas sabia que era impossível recuar no tempo e apagar o que se passara.

– Sempre estiveste na minha mente, Pascual. Suponho que me perdi no dia-a-dia, nas exigências de tentar criar uma empresa e de ganhar o suficiente para que Adán e eu pudéssemos viver – explicou. – No fim, tinha passado tanto tempo sem falarmos, que tinha medo de te telefonar, de me desligares o telefone, e receava que, se fosse a Buenos Aires, me fechasses a porta na cara.

– Sabendo que tinha um filho? Achas mesmo que teria sido capaz disso? – Pascual, incrédulo, deixou cair as mãos sobre as ancas estreitas e masculinas. – Cada vez tenho mais certezas de que não fazes ideia do tipo de homem que sou, Briana. O facto de pensares que não me interessaria saber que tinha concebido um filho contigo deixa-me sem fala!

Briana encolheu os ombros, hesitante. Incomodava-a perceber que, na verdade, não conhecera Pascual tão bem como pensara. Envergonhou-se de si própria.

– O que posso fazer para corrigir a situação?

Pascual fixou nela o seu olhar de veludo preto e não hesitou antes de responder.

– Para além de vires comigo para Buenos Aires, como disse antes, agora, podes pedir um carro com motorista para nos levar a tua casa. Assim, finalmente, poderei conhecer o meu filho!

– Mas são três horas de viagem de ida e três de volta. Não chegarás a tempo para o jantar com os meus clientes, se fizermos isso.

Ao ver como Pascual reagia face a essa informação, Briana arrependeu-se de ter expressado em voz alta os seus pensamentos. Mas a verdade é que não pensava apenas naquilo que os seus clientes diriam quando lhes comunicasse que Pascual não jantaria com eles. Acima de tudo, preocupava-se com o filho. Não sabia como reagiria se aparecesse em casa, de repente, com um homem desconhecido para ele e que afirmava ser o seu pai.

– Achas que estou mais preocupado com um jantar de negócios do com que em ver o meu filho pela primeira vez? – gritou Pascual, com fúria. – Diz-lhes que nos veremos em Londres, amanhã… Onde eles quiserem. Podes alegar que me surgiu um assunto de suma importância. Porque não? – encolheu os ombros largos com indiferença. – É a verdade.

– Então, terei de telefonar à minha mãe para lhe dizer que vamos. Está a cuidar de Adán enquanto estou fora.

– Telefona e depois pede um carro. Quero partir o mais depressa possível.

– Tenho o carro aqui. Posso conduzir.

– Muito bem. Vai fazer a tua chamada e não percamos mais tempo, está bem?

Dando o assunto por concluído, Pascual esticou o braço para o jarro de água que estava em cima da mesa do café e serviu-se de um copo. Briana, com a sensação de que as suas pernas se transformavam em água, dirigiu-se para a porta e saiu do quarto.

Uma vez lá fora, no silêncio do corredor, apoiou-se na parede e tentou controlar a onda de medo e inquietação que a assaltara ao pensar em ir a sua casa. Sentia inquietação para saber o que aconteceria quando pai e filho se vissem pela primeira vez. O filho podia ser tímido e pouco comunicativo, mesmo com pessoas que conhecia e muito mais com os estranhos. Não sabia como Pascual reagiria se tivesse a sensação de que a criança o rejeitava.

Preocupada com ambos, sentiu que as lágrimas se amontoavam nos seus olhos e começavam a sulcar suas faces. Limpou-as com a mão, afastou-se da parede e voltou para o seu quarto, para telefonar.

A casa estava situada numa rua agradável, num dos distritos mais tranquilos de Londres. Estava pintada de branco e mais bem cuidada do que as casas vizinhas. Enquanto Pascual seguia a silenciosa Briana pelo caminho que levava à porta de entrada, que tinha uma bonita vidraça, a ideia de ver o seu filho causou-lhe uma descarga de adrenalina.

Fizera-lhe perguntas sobre ele pelo caminho, mas mostrara-se renitente nas suas respostas, como se tivesse medo de que, se Pascual soubesse demasiado, fosse mais difícil reservar a criança para ela. Irritava-o profundamente que Briana continuasse a resistir a deixá-lo fazer parte das suas vidas, quando ele só queria ter a oportunidade de ser pai. Não restava confiança entre eles. Destruíra-se há cinco anos. Naquele momento, eram como dois guerreiros a defenderem o seu campo de batalha, dispostos a lutar, em vez de serem os amantes apaixonados que tinham sido.

Briana abriu a porta e entraram. Pascual, embora muito excitado com a ideia de conhecer o filho, voltou a sentir-se golpeado pela enorme magnitude da traição de Briana, que lhe magoara a alma.

Mundos aparte - De ama a esposa

Подняться наверх