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Capítulo 2

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O coração batia com a força e rapidez de um expresso. Era difícil aceitar que a mulher que amara, que o abandonara alguns dias antes do casamento, estava ali de pé, diante dele.

Pascual descobriu que a lembrança que tinha dela não lhe fazia justiça. Em carne e osso, Briana Douglas era muito mais bela do que a imagem que conservava na sua mente. Nesse momento, fazia-o pensar num vinho do Porto intenso e exótico, e por mais que deplorasse a forma como o tratara, continuava a desejar beber cada centímetro da sua pele até se embriagar. Sempre tivera um corpo que lhe acelerava o coração. O fato de saia estreita fazia honra à sua figura perfeita. A sua simples presença exsudava uma sexualidade que fazia o seu sangue ferver. Faria bulir o sangue de qualquer homem! Mas era o rosto que mais chamava a sua atenção.

Com aqueles olhos cinzentos, quase felinos, faces rosadas como uma maçã e lábios carnudos e sedutores, era uma mulher que exacerbava as suas fantasias sensuais mais secretas. Com aquela cara e aquele corpo pararia o trânsito em qualquer cidade do mundo, sem se esforçar. De repente, Pascual sentiu uns ciúmes terríveis ao imaginá-la com alguém, ao pensar que poderia tê-lo deixado porque preferia outro homem. Demorou um momento a controlar essa sensação, assim como uma onda de luxúria súbita e inconveniente.

– Teve de haver outra razão para me deixares, para além do que escreveste. Foi por causa de outro homem? Foi isso? – não conseguiu evitar fazer a pergunta que andava há anos a consumi-lo. Ao ver que Briana tremia, estudou-a com o olhar, tenso como uma corda de violino, com medo da sua resposta.

– É claro que não! Lamento se pensaste isso, mas não havia mais ninguém… Continua sem haver.

Ele deixou escapar um longo suspiro de alívio. Mesmo assim, enfurecia-o que parecesse tão serena quando ele trovejava por dentro como um vulcão em ebulição.

– E tu? – aventurou ela. – Voltaste para a tua ex?

– A minha ex?

Nesse momento, Pascual recordou um incidente que tivera lugar na noite antes de Briana se ir embora. A modelo brasileira com quem saíra antes de conhecer Briana aparecera inesperadamente na festa familiar, de braço dado com o seu primo Rafa. A sua mãe, a perfeita anfitriã, deixara-os entrar. Claudia bebera em excesso durante a noite e, quando Briana estava no terraço, a falar com Marisa e Diego, apanhara-o desprevenido. Rodeara o seu pescoço com os braços, apertara-se contra ele e beijara-o na boca…

Pascual ficou tenso, com raiva e desdém renovados, ao recordar o incidente. Não tivera o mínimo interesse em voltar para Claudia, nem então, nem depois. Amava Briana. Mas era óbvio que ela não correspondia ou não teria sido tão fácil deixá-lo sem mais nem menos. Isso destruía-lhe a alma. Nenhum homem gostava de descobrir que a relação que achava real se baseava numa mentira. Uma mentira que implicava que a sua amada não sentia tanto amor por ele como lhe dissera. Uma nova onda de dor e cólera sulcou as suas veias ao pensar no abominável comportamento da mulher que tinha à sua frente.

Ela levantou os seus olhos feiticeiros e tentou esboçar um sorriso. Não teve demasiado sucesso e ele percebeu a preocupação e a dor que reflectia o seu olhar. Alegrou-se por a ter incomodado. Deus sabia o quanto ela o incomodara.

– Quando apareceu na festa… Pensei que tu e ela…

– Enganaste-te. Saía com o meu primo e ele levou-a como acompanhante. Fim da história!

– Bom, então… Será melhor ir-me embora e deixar-te beber o café – disse. – Os teus anfitriões estão à espera na sala do andar de baixo. Queres que lhes diga que estarás pronto em vinte minutos ou assim? Esperarei no hall para te acompanhar.

– Estarei pronto quando estiver, não antes! – gritou Pascual. Virou-lhe as costas e dirigiu-se para a bandeja.

Em silêncio, serviu-se de uma chávena do café aromático e bebeu um gole. Embora tivesse gostos muito definidos a respeito do café que bebia, não encontrou nenhum defeito na mistura escolhida.

Virou-se novamente para Briana, que estava levemente corada.

– Estarás aqui todo o fim-de-semana? – perguntou, consciente de que a conversa que tinham iniciado não podia acabar assim.

– Sim, o meu trabalho exige-mo.

– Há quanto tempo trabalhas para esta empresa?

– Há três anos. Sou a dona.

– Agora és uma mulher de negócios? Conseguiste surpreender-me outra vez!

Embora não tivesse conseguido evitar o tom cínico da sua voz, Pascual estava realmente surpreendido. A Briana que conhecera não dera a impressão de ter interesse em criar a sua própria empresa. Na altura, alegara que só era feliz a trabalhar com crianças e animais. Quando chegara a Buenos Aires, encontrara trabalho a passear cães e depois como ama. No entanto, ele tivera de aceitar que não fora totalmente franca com ele e a sua desonestidade continuava a magoá-lo profundamente.

– Deixarei que desfrutes do café em paz. Espero-te lá em baixo.

Briana dirigiu-se para a porta, sem conseguir disfarçar a sua ansiedade por sair dali. Pascual irritou-se por ela querer manter distância entre eles outra vez.

– Antes de fugires a correr, quero que me dês dados sobre os empresários com que vou reunir-me. Terás alguma informação útil para mim, não é? – olhou para ela fixamente. Desejava testá-la, descobrir se era competente no negócio que escolhera. Se ele se dedicasse a algo parecido, teria querido saber que tipo de gente contratava os seus serviços.

– O que queres saber? – perguntou ela, obviamente incomodada por não poder fugir.

– Quero saber o que não revelaram na sua oferta para comprar os meus cavalos. Entendes a que tipo de informação me refiro? É importante que os meus cavalos estejam nos melhores lares. Como sabes, não faço estas transacções só por dinheiro.

– As suas qualificações são de primeira, mas se precisares de algum dado específico, pergunta. Garanto-te que fiz os meus trabalhos de casa nesse sentido.

– A sério? No entanto, ignoravas que eu era o convidado VIP do fim-de-semana, não era? Não te parece um descuido digno de menção?

– Não é um erro habitual em mim, garanto-te – as suas faces tingiram-se de vermelho. – Ultimamente, tenho tido muitas coisas na cabeça e…

– Os teus problemas pessoais nunca deviam incapacitar-te para fazeres bem o teu trabalho.

– Talvez seja assim num mundo perfeito, mas se por acaso não reparaste, este mundo não é perfeito. De vez em quando, as pessoas têm preocupações que influenciam o seu trabalho.

– Que coisas te preocupam hoje em dia, Briana? – perguntou Pascual, num tom amargo. – Supostamente, devias estar feliz e contente. Ao fim e ao cabo, escapaste de um homem e de um casamento que não desejavas. Imaginava que me tinhas deixado plantado, porque tinhas encontrado exactamente o que procuravas.

– Podemos parar com isto? Já é bastante doloroso encontrarmo-nos novamente de surpresa para, ainda por cima, discutirmos. Ambos estamos aqui por razões mais importantes do que o nosso vínculo pessoal. Sei que temos de falar, mas não me parece que este seja o melhor momento.

Pascual não podia argumentar, embora gostasse de o fazer. Bebeu outro gole de café e deixou a chávena na bandeja.

– Vou ter contigo dentro de cinco minutos – disse. – Sem dúvida, teremos oportunidade de falar de assuntos pessoais durante o fim-de-semana. E, se parecer que não será possível, criaremos uma oportunidade. Posso garantir-te uma coisa: Não vais sair daqui antes de me contares porque fugiste de mim e do casamento. Não te deixarei ir até estar convencido de que me contaste a verdade!

Enquanto tentava conversar com Tina no hall, depois do seu encontro com Pascual, Briana continuava a tremer por dentro. Apercebeu-se de que a sua colega reparava na sua distracção. Briana orgulhava-se da sua capacidade para manter a calma na maioria das situações e, sobretudo, em assuntos de trabalho, mas ia ter de procurar no mais profundo de si mesma para encontrar recursos que a ajudassem a aguentar o resto do fim-de-semana.

Quando, segundos depois, Pascual desceu a escada, ficou com falta de ar. Se queria deixar claro que ele era o convidado VIP daquele fim-de-semana, conseguira. Vestia um casaco preto feito à medida, calças bem cortadas e uma camisa azul. Os joelhos de Briana tremeram ao vê-lo. Sempre parecera incrível com fato. Elegante, muito masculino, elegante sem esforço, tão bonito e sexy que uma mulher esquecia tudo assim que punha os olhos nele, fosse qual fosse a sua idade ou o estado civil!

Não a surpreendeu que Tina se inclinasse para ela para lhe sussurrar ao ouvido.

– Meu Deus! É o homem mais fantástico que vi em toda a minha vida. Temos sorte por ser o cliente VIP.

«Sorte?» Briana não teria descrito assim o que sentia, quando Pascual lhe lançou um olhar desdenhoso, avisando-a de que ainda não acabara com ela.

– Senhor… Domínguez… A sua reunião é por aqui. Por favor, siga-me.

Conduziu-o até à sala elegante onde esperavam três homens de negócios. Levantaram-se em uníssono ao vê-lo. Num tom de voz trémulo, Briana fez as apresentações. Foi óbvio o alívio dos três homens ao verem Pascual e percebeu imediatamente a deferência com que o tratavam. O seu ex-noivo sempre conseguira essa reacção das pessoas. A sua atitude, quase aristocrática, aliada à sua beleza sensacional, garantia-lhe atenção imediata em qualquer lugar que fosse.

Briana descobriu que o impacto que exercia ao entrar numa divisão não diminuíra um ápice naqueles cinco anos. Perguntou o que Tina diria se descobrisse que o argentino bonito e rico era o pai de Adán. Ela própria achava difícil de acreditar. Parecia-lhe que passara uma eternidade desde que o seu romance intenso e apaixonado acontecera. Uma eternidade solitária e manchada de dor.

– Pode trazer-nos mais café e talvez brande, querida? – disse Steve Nichols a Briana, levando-a para um canto. Era director de uma agência publicitária, com sede em Soho e, há pouco tempo, co-proprietário, com os seus dois colegas, de um picadeiro situado em Windsor.

Ela, olhando para os seus olhos azul-claros, a pele pálida e brilhante, sentiu um calafrio de desagrado. Infelizmente, conhecia os do seu tipo. Embora estivesse numa viagem de negócios, considerava que podia seduzir qualquer mulher razoavelmente atraente entre os dezasseis e os quarenta anos de idade. Briana teria de ter muito cuidado. O facto de as suas qualificações empresariais serem impecáveis, não significava que as suas maneiras e comportamento com as mulheres seguissem a mesma pauta.

Com Pascual, um empresário de alto nível que vendia uma coisa que ele desejava, seria lisonjeiro e diferente. Mas podia transformar-se num problema para Tina e para ela.

– É claro. Desejam mais alguma coisa? – perguntou Briana. Esperou até que todos dissessem que café e brande bastariam no momento.

– Volta depressa, querida – sussurrou Steve Nichols, piscando-lhe um olho. Ela percebeu o olhar desaprovador de Pascual e corou. Rogou a Deus para que não pensasse que estava a dar azo à sedução.

A reunião durou três horas, quase até à hora do jantar. Os anfitriões tinham pedido que o jantar fosse proporcionado por um excelente restaurante local. Briana e Tina atenderam os supervisores do catering na enorme cozinha, enquanto os empresários se retiravam para os seus aposentos para se refrescarem.

Briana agradeceu o facto de poder concentrar-se nos aspectos práticos do seu trabalho e livrar-se assim da maré de ansiedade e emoção que a assolava desde que vira Pascual. «Não poderás evitá-lo o tempo todo», pensou. Mais cedo ou mais tarde, exigiria explicações pela sua forma inesperada e abrupta de sair da Argentina.

Exigiria um relato completo da razão por que se fora embora.

A verdade era que as suas razões para se ir embora continuavam a causar-lhe dor, apesar do passar dos anos. Na verdade, às vezes pensava que a perseguiriam para sempre, arruinando qualquer possibilidade de ser feliz com outro homem… Embora nem sequer quisesse estar com outro homem. Pascual não podia ter nenhuma confiança nela, depois do que se passara. Perguntou a si mesma se acreditaria quando lhe explicasse toda a verdade.

Já a meio da noite, depois de o sol se pôr, Tina saiu da sala de jantar privada, com vista para os jardins já escondidos por trás das pesadas cortinas de veludo. Briana levantou-se da poltrona ao vê-la.

– Como estão a correr as coisas lá dentro? Todos contentes? – perguntou.

– A comida tem um aspecto fantástico! Estão a gostar muito. Mas o nosso argentino deslumbrante parece aborrecido. Na verdade, parece que preferiria estar noutro lugar.

Briana sentiu um nó no estômago. Assuntos pessoais à parte, se Pascual parecia aborrecido, os empresários que tinham contratado os serviços da sua empresa deviam estar incomodados e sentia-se responsável. De alguma forma, tinha de salvar a situação.

– Estava a pensar que talvez queiram sair depois. Na cidade, há um clube privado com casino. Telefonei e adorariam receber os nossos clientes.

– Boa ideia! Porque não entras para lhes dizer? – perguntou Tina, piscando-lhe um olho. – Certamente, preferirão ouvir a notícia dos teus lábios. Percebi que não tiram os olhos de cima de ti, sobretudo, o divino senhor Domínguez!

– É imaginação tua.

– Só sei que se tivesse metade da beleza que tu tens, Briana Douglas, tiraria o maior partido possível. Todos os homens que estão a jantar ali dentro são milionários e o senhor Domínguez, o mais bonito de todos, é multimilionário! Nunca sonhaste que um homem vergonhosamente rico e bonito se apaixonaria por ti e se casaria contigo?

Briana ter-se-ia rido se a ironia do comentário da colega não a magoasse tanto. Levou a mão à face com um ar de indiferença. Depois, esticou o casaco de veludo preto, que vestia sobre uma blusa de seda branca e alinhou-o com a cintura da saia a condizer.

– Irei falar com eles. Enquanto isso, Tina, podes ir buscar-me uma chávena de café e uma sandes à cozinha? Não me apetece jantar esta noite. Importas-te?

– Estás louca, não vais provar a comida fantástica do catering? Trouxeram também para nós, suponho que sabes.

– Podes comer a minha parte.

Briana dirigiu-se para a sala de jantar, pensando que já ia custar-lhe muito comer uma sandes. Tinha um nó no estômago, que se apertava cada vez que pensava em manter uma conversa privada com Pascual. Inquietava-a ainda mais pensar no filho, a criança que ele não tinha consciência de ter concebido antes de ela abandonar a Argentina a toda pressa. Um homem com a riqueza e o estatuto social de Pascual poderia tirar-lhe Adán num abrir e fechar de olhos, se essa fosse a sua vontade.

– Um casino? Uma ideia muito inspirada, menina Douglas! – Steve Nichols recostou-se na cadeira grandiosa de estilo Tudor. Enquanto os seus colegas corroboravam a sua opinião, piscou-lhe o olho novamente.

Briana cerrou os dentes, irritada. Olhou para os outros e tentou captar a sua atenção com um sorriso. Mas encontrou o olhar de Pascual. Não parecia aborrecido, tal como Tina dissera, estava irritado! Perguntou-se se se devia ao facto de ela ter entrado na sala de jantar.

Noutros tempos, o seu rosto iluminava-se sempre vez que a via entrar. Briana não conseguiu evitar ter saudades daqueles tempos felizes. Ser jovem e estar apaixonada pelo homem dos seus sonhos. Viver numa cidade vibrante e espantosa como Buenos Aires fora incrível. Às vezes, tinha de se beliscar para recordar que aquilo fora real. Parecia-lhe que tudo fora um sonho, porque se sentia agora muito sozinha. Mas bastava-lhe olhar para o rosto doce do seu filho para ver a semelhança com o seu pai carismático. Então, agradecia a Deus. Adán recordava-lhe que não perdera tudo. Tinha o seu adorado filho.

– E o senhor Domínguez? – obrigou-se a perguntar. – Gostaria de ir ao casino?

– Só se aceder a acompanhar-me, menina Douglas – respondeu ele, num tom de voz suave, arqueando uma sobrancelha. – Eu gosto de levar uma rapariga bonita quando vou ao casino… Para dar sorte, sabe.

– Eu… Receio que tenha trabalho.

Todos os olhos pousaram nela e Briana desejou que o chão se abrisse sob os seus pés. O que é que Pascual quereria ao convidá-la a ir com eles? Sem dúvida, sabia que era inapropriado e que a poria numa situação comprometedora.

– Vá lá, menina Douglas – disse Mike Daniels, outro dos empresários. – O senhor Domínguez é o nosso convidado desta noite. Veio da Argentina para vir à reunião, o mínimo que podemos fazer é conceder-lhe o seu desejo, não acha? Considere-o um trabalho extra. Os meus colegas e eu pagaremos qualquer gasto.

Ainda hesitante, Briana adivinhou que Pascual estava a divertir-se com o seu desconforto e vergonha. Desejou poder dizer a Mike Daniels, que fazer de acompanhante do seu convidado VIP não estava incluído nos serviços que a sua empresa prestava. Mas tinha a sensação de que o ex-noivo podia tornar a vida difícil a todos, se se recusasse a acompanhá-lo.

– Não trouxe roupa apropriada para ir a um casino.

– Essa roupa serve perfeitamente – o sorriso do seu torturador ampliou-se e os seus olhos escuros faiscaram, maliciosos, enquanto percorria o seu corpo de cima a baixo. O seu olhar parou na curva generosa dos seus seios, sob o casaco de veludo.

Briana percebeu que tencionava envergonhá-la e humilhá-la o máximo possível. Teria deixado a sua raiva clara se estivessem sozinhos. Contudo, dadas as circunstâncias, via-se obrigada a conter-se. Fazer uma cena arruinaria a reputação de boa profissional que tanto lhe custara conquistar.

– Está bem, então. Telefonarei para o casino para lhes dizer quantos somos.

Mundos aparte - De ama a esposa

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