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Capítulo 3

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O clube privado estava situado numa elegante casa georgiana, numa rua tranquila, e receberam-nos de braços abertos. Habituado ao facto de o seu nome e a sua riqueza lhe abrirem todas as portas, Pascual encostou-se às costas esbeltas de Briana enquanto os conduziam para o casino privado, ao qual só alguns tinham acesso.

Estava a anunciar a quem se incomodasse em olhar para eles, que ele era o seu acompanhante dessa noite, mas não parou para analisar porque se sentia tão possessivo a respeito de uma mulher que o tratara com um desdém imperdoável. Pascual só sabia que precisava de estar perto de Briana e também gostava de a incomodar. Magoara-o muito e, por puro instinto animal, queria encontrar uma forma de se vingar… De fazer com que pensasse duas vezes antes de voltar a agir assim.

Quando o gerente do casino lhe perguntou o que lhe interessava, respondeu sem hesitar que era a roleta americana. Segundos depois, estavam sentados à volta de uma mesa redonda de mogno, com uma roleta no meio e pediam as bebidas a uma bonita empregada que usava um vestido lilás. Pascual assegurara-se de que Briana se sentava ao seu lado no banco estofado com veludo vermelho. Aproximou a sua coxa da dela e sorriu, satisfeito, ao perceber como tremia. Ele também estava a sentir-se afectado pelo cheiro sedutor do seu perfume e pelo calor do seu corpo. Praguejou entredentes. Custava-lhe a acreditar que, tantos anos depois, continuasse a atraí-lo daquela forma.

Entre eles havia uma química irresistível, isso era inegável.

Ao captar um brilho ciumento no olhar de Steve Nichols, o argentino, pensou, irónico, que tudo era válido no amor e na guerra, e aproximou-se mais de Briana. Ela levantou o olhos cinzentos e corou violentamente.

– Escolherás os meus números esta noite – disse ele, num tom de voz suave, enquanto o croupier distribuía as fichas.

– Não sei se o jogo me convence – replicou ela. – E se perderes tudo por minha causa?

Como se tivesse compreendido que esse comentário também podia aplicar-se à maneira como acabara a sua relação, mordeu o lábio inferior com força, sem conseguir esconder a sua inquietação.

– Lamento – murmurou.

Por um instante, Pascual esqueceu que não estavam sozinhos, mas num lugar público, embora supostamente discreto e frequentado por pessoas importantes em busca de privacidade. Teve de lutar com o impulso selvagem de reclamar a sua boca e beijá-la com paixão.

Pensando que talvez isso fosse possível depois, incapaz de deixar de olhar para ela, esforçou-se por controlar o ritmo do seu coração. A ideia cresceu no seu interior, excitando-o.

– Façam as vossas apostas – convidou o croupier.

– O que vai ser? – perguntou Pascual à sua acompanhante, arqueando uma sobrancelha.

Sem desejo de participar, mas consciente de que não podia negar-se, Briana franziu o sobrolho.

– Seis vermelho – disse.

– Porquê o seis?

– Sempre me trouxe sorte – respondeu.

Enquanto a pequena bola branca saltava pela roda, todos a seguiram com o olhar, como se estivessem hipnotizados. Pascual, que não se importava de ganhar ou perder, sentiu um aperto no coração quando a bola caiu no seis vermelho. Acabara de multiplicar a importância da sua aposta por trinta e cinco.

Os seus anfitriões e outros dois casais aplaudiram com cortesia. Quando o croupier lhe entregou as fichas, Pascual pô-las à frente de Briana.

– Volta a apostar – incitou, com um sorriso. – Tens outros números que te dêem sorte? O que ganhares será para ti.

– Preferia não o fazer, se não te importares – com aspecto agitado, levantou-se. Vermelha como um tomate, parou uma empregada. – Podia dizer-me onde é a casa de banho, por favor? – pediu.

Pascual, um pouco preocupado, levantou-se também. Agarrou Briana pelo cotovelo quando começava a afastar-se.

– O que se passa? Sentes-te mal?

– Não devia ter vindo aqui! – gritou ela. Os seus olhos prateados cintilaram sob a luz do lustre opulento que pendia do tecto. – Vim e arrependo-me de o ter feito.

– Porquê? Incomoda-te tanto ganhar dinheiro?

– Não estou a ganhar nada, Pascual! É o teu dinheiro que estás a arriscar à sorte e não quero saber mais do assunto.

– Que princípios tão elevados! É uma pena que não fossem evidentes quando fugiste de mim há cinco anos, sem sequer me explicares porque tinhas decidido que não era suficientemente bom para ser o teu marido!

– Vi-te a beijar outra mulher! – os ciúmes e a dor embargaram Briana com tanta força como no momento do incidente.

Recordando onde estavam, olhou para trás de si e verificou que tinham audiência. Abanou a cabeça com angústia. Não tencionara reagir assim, mas a lembrança embargara-a desde que voltara a ver Pascual e já não conseguia ocultá-lo mais tempo. Deu um puxão para libertar o seu braço, tentando recuperar o equilíbrio perdido e restaurar a sua dignidade.

– Quem? – perguntou ele, atónito. – Quem era essa mulher que me viste beijar?

– Sabes muito bem! – exclamou Briana, num tom de voz baixo e trémulo.

– Referes-te a Claudia, na noite da festa? Uma Claudia tão bêbada, que não sabia o que fazia!

– Oh, sabia muito bem o que fazia, Pascual… E tu também, a julgar pelo que vi.

– Porque não me disseste que tinhas visto isso? Foi por isso que te foste embora? Meu Deus!

– Será melhor não montarmos uma cena aqui, à frente de todos. Daria muito má impressão aos teus anfitriões e também não faria nenhum bem à minha empresa.

– No entanto, não pensaste na impressão que a minha família e amigos receberiam quando me abandonaste uma semana antes do nosso casamento.

O coração de Pascual estava acelerado e quase não se importava de armar uma cena. A lembrança da traição de Briana continuava a magoá-lo muito. Além disso, horrorizara-o descobrir que fora testemunha do incidente desagradável com Claudia e que isso a fizera ir-se embora. Não entendia porque não o enfrentara, exigindo uma explicação e dando-lhe a oportunidade de lhe dizer que a ex-namorada estava bêbada e que detestara que se precipitasse sobre ele.

Consciente de que não estavam sozinhos, preferiu não oferecer um espectáculo a todos os presentes. Falariam do assunto em privado. Inclinou a cabeça levemente, sem esconder a sua impaciência e irritação.

– Vai à casa de banho. Quando voltares, direi ao motorista para nos levar para casa. Perdi todo o interesse em apostar esta noite!

Briana tirou a escova da mala de couro e fez uma tentativa para arranjar o cabelo. A parede de espelho da casa de banho luxuosa impedia-a de esconder a sua tristeza. Sabia que devia ter controlado as suas emoções, mas não conseguira. Quando Pascual, tentador e indiferente, pusera o monte de fichas à frente dela, o facto de pensar que conseguiria pagar a renda de três meses com uma ficha, fora a gota de água. Enquanto ela estava doente de preocupação com a ameaça da bancarrota, Pascual agia como se o dinheiro não significasse nada para ele. Na verdade, dada a sua fortuna enorme, podia esbanjar sem limite.

Se fosse honesta consigo própria, tinha de admitir que, naquele momento, as finanças não eram o que mais a preocupava. O belo rosto do seu filho, uma versão em miniatura do pai, não abandonava a sua mente nem um segundo. Como iria dar a notícia da sua existência a um homem que depois a desdenharia ainda mais. Escondera que ele era o pai de Adán. Pascual tinha o direito de a recriminar por isso.

No entanto, Briana ficara devastada ao ver Claudia nos seus braços naquela noite. A sua atitude fora uma tentativa de se proteger, e também ao seu filho, de futuros sofrimentos… Pela primeira vez, o medo de ter tomado a decisão errada fê-la sentir um nó no estômago. Segundo ele, Claudia estava bêbada. Seria verdade?

Suspirou com resignação e voltou para a sala de jogo. Pascual esperava-a, tal como prometera.

– Estás pronta para voltar para casa? – perguntou, percorrendo-a de cima a baixo com o olhar.

– E os outros? – perguntou ela, nervosa. Olhou para a mesa da roleta, onde jogavam os três homens que os tinham acompanhado.

– Darei instruções ao motorista para voltar e vir buscá-los. Não te preocupes, não os deixaremos aqui abandonados!

A viagem de regresso a casa decorreu em silêncio. Ambos estavam dolorosamente conscientes do passado que se interpunha entre eles e não se atreviam a retomar o assunto. Seria como andar sobre vidros, com os pés descalços.

Indevidamente, a tensão foi crescendo no banco traseiro do luxuoso Rolls, como uma tempestade pequena, mas letal, prestes a rebentar. Briana recordou a cena na sala de jogo, quando Pascual perdera a paciência, e soube que se aproximava o confronto.

Cruzou os braços sobre a barriga, num gesto protector. O cheiro e o calor que emanava do corpo de Pascual estavam a inquietá-la ainda mais. Tudo o que sabia desse homem imponente enfatizava as diferenças que os separavam. Era rico, bonito, poderoso e inalcançável. Embora tivesse dito que a amava, sempre reservara alguma coisa… Isso confirmara o que Briana já pensava: Que não era suficientemente boa para ele. Quando o vira a beijar a modelo elegante, a ex-namorada, o seu medo de que a relação entre eles fracassasse aumentara.

De volta a casa, Briana rezou para que o eminente confronto não tivesse lugar naquela noite. Sabia que era adiar o inevitável, mas sentia-se demasiado vulnerável para discutir com Pascual nesse momento. As acusações voariam como mísseis letais e algumas acertariam no alvo. Uma boa noite de descanso talvez lhe desse forças para suportar um confronto com ele no dia seguinte.

Estavam junto da impressionante escadaria de estilo Tudor. Ela esticou o braço para o corrimão de carvalho, indicando a sua intenção de se retirar. Mas o olhar carrancudo e pensativo que Pascual lhe lançou confirmou que não ia deixá-la ir-se embora sem mais nem menos.

– Quando saí de Buenos Aires, tive a sensação de que ia acontecer alguma coisa inesperada – comentou ele, num tom fraco.

Briana sentiu um calafrio e esfregou os braços.

– Não quero arruinar a tua viagem, Pascual, a sério. Sei que ainda te sentes muito magoado e ressentido comigo, mas…

– Não duvides! – os seus olhos escuros cintilaram, como se as emoções que sentia fossem um fogo escondido por detrás de um véu fino. A qualquer momento, as faíscas acenderiam e começaria o inferno.

– Escuta – continuou ela, rezando para que acedesse ao seu pedido, – amanhã, depois do jogo de pólo que organizaram para ti, terás tempo livre. Eu estarei aqui, a fiscalizar os preparativos para o jantar. Se quiseres falar comigo, prometo estar à tua disposição, durante o tempo que quiseres. Por favor, Pascual… Foi um dia muito longo e estou cansada.

– Sempre conseguiste levar a tua avante, quando olhavas assim para mim.

– Assim, como?

– Como uma menina triste e perdida – os seus lábios curvaram-se com uma careta irónica, mas também amarga. Esticou o braço e pousou os dedos na face de Briana. – Podias fazer o que quisesses comigo, essa é a verdade!

– A sério? – murmurou Briana. Sentiu que lhe gelava o sangue nas veias e um formigueiro estranho na barriga.

– És parva se não sabias! – exclamou ele, com dureza. Mas, um momento depois, os seus traços suavizaram-se, enfeitiçando-a com a sua beleza. – Deixar-te-ei ir para a cama se me deres um beijo – disse, num tom rouco. – Pelos velhos tempos.

Briana não teve tempo para responder. De repente, a boca de Pascual estava sobre a dela e sentiu a sua língua aveludada a introduzir-se dentro da sua boca e a iniciar uma dança erótica com a dela. Teve a sensação de que o seu sangue se transformava em fogo líquido e as suas pernas em gelatina.

Ele agarrou as suas ancas, possessivo, e apertou-a contra o seu corpo. Afastou os lábios da sua boca e deslizou-os por um lado do seu pescoço. Quando Briana sentiu o toque dos seus dentes a mordiscarem a pele, emitiu um gemido. Sabia que estava a perder-se num mar erótico, que lhe despertava o desejo de nadar e não de se afastar. Se não pusesse fim àquela loucura, imediatamente, era indubitável que não passaria a noite sozinha.

A ideia de partilhar a sua cama com ele aterrorizou-a. Pascual Domínguez era uma força da Natureza, a que não conseguia resistir, mas não podia ir para a cama com ele antes de lhe confessar que tinham um filho em comum. Se o fizesse, o seu pecado da omissão multiplicar-se-ia sem remédio.

– Tens de parar! – ela ofegou. Pôs as mãos no peito dele, duro como o aço, e empurrou com tanta força quanto pôde.

– Porquê? – uma madeixa sedosa de cabelo preto caía sobre a sua testa e a expressão do seu rosto era brincalhona, desafiante e sexy. – Assusta-te que te deixe acordada toda a noite, a fazer-te aquelas coisas que, segundo dizias, te deixavam louca de paixão, minha querida?

Briana agarrou o corrimão à procura de apoio, com o rosto avermelhado. Todo o seu corpo ardia com a lembrança das imagens que as palavras de Pascual tinham conjurado. Na hora de fazer amor, a sua paixão e ardor sempre a tinham deixado sem respiração e louca de desejo. Tinha saudades daqueles momentos, mas tinha de ser forte!

– Estou aqui para trabalhar, não para proporcionar diversão nocturna aos meus clientes! – exclamou, num tom indignado.

– Alegra-me ouvir isso. Porque não duvido que o lisonjeiro senhor Nichols fosse o primeiro a fazer fila à tua porta.

Briana tremeu.

– Mesmo que tivesses razão, garanto-te que não sinto o mínimo interesse por esse homem.

– Melhor.

– Não gostas dele?

– Até agora, não vi muito que me agrade – confessou Pascual. – Este acordo não está fechado, mesmo que isso te surpreenda. Como disse antes, não é só uma questão de dinheiro. Tenho de me certificar de que os meus cavalos estarão em boas mãos e receberão o tratamento e cuidados que merecem, dado a sua raça e treino excelentes.

– A julgar pelo que ouvi, os seus estábulos em Windsor têm uma reputação impressionante.

– Talvez… Mas os nossos três amigos adquiriram-nos recentemente. Acabaram de descobrir a sua paixão pelo pólo. Isso não é garantia de que saibam administrar um picadeiro com sucesso ou cuidar dos cavalos.

– Mas haverá pessoas que se ocuparão de o fazer por eles, não é?

– Mesmo assim… – Pascual encolheu os ombros. – Já chega de falar de negócios por esta noite.

Aproximou-se mais e pôs as suas mãos esbeltas nos antebraços de Briana.

– Sabes que me interessa muito mais convencer-te a passares a noite comigo.

– Porquê? – olhou para ele, serena e controlada, embora tivesse o coração acelerado. – Pelos velhos tempos? Ou para demonstrar que podes? No caso de teres dúvidas, Pascual, dir-te-ei que continuo a achar-te atraente e que poderia deixar que me seduzisses. Mas, no fundo, ambos sabemos que não seria boa ideia e, provavelmente, acabaríamos por nos sentir mal. Não física, mas psicologicamente. O que tivemos faz parte do passado e, mesmo que tudo tenha acabado mal, penso que devia continuar a ser assim.

– E deixar as coisas como estão? – fez uma careta de amargura. – Talvez isso seja bom para ti, Briana, mas para mim não. Já tive de esperar cinco anos para ouvir dos teus lábios uma explicação, saber a razão por que te foste embora. O facto de me teres visto a beijar a minha ex-namorada nessa festa é apenas a ponta do icebergue, tenho a certeza!

– Prometi falar contigo amanhã, não foi?

– Sim. Mas como sei por experiência que as tuas promessas não são duradouras. Entenderás que tenha as minhas dúvidas a respeito disso.

Briana engoliu em seco, sentiu culpa, remorso e angústia em partes iguais. Se Pascual já duvidava da sua honestidade, não imaginava como reagiria no dia seguinte, quando lhe falasse do filho cuja existência lhe escondera. Tremiam-lhe tanto as pernas que estranhava que conseguisse continuar de pé.

– Está bem – aceitou ele, com um certo desinteresse. – Continuaremos esta conversa amanhã, quando regressar do jogo de pólo. Agora, vou servir-me de uma bebida e ficarei um momento na sala, a imaginar-te na cama e a fantasiar com o que tens vestido. Sei que sempre resistias a dormir nua, continua a ser o caso?

Briana, ao recordar como costumava gozar com a sua «modéstia encantadora», agarrou-se ao corrimão com mais força. Independentemente do que usava na cama, Pascual sempre conseguira fazer com que acabasse nua.

– Boa noite, Pascual… – murmurou, optando por ignorar a pergunta.

– Boa noite, Briana!

Esboçou um sorriso e virou-se bruscamente, dirigindo-se para a sala. Briana observou-o até abrir a porta e as costas largas desaparecerem da sua vista. Ainda sentia o seu sabor intoxicante na boca, como um néctar embriagador que a fazia desejar que a sua noite juntos tivesse acabado de forma muito diferente…

Mundos aparte - De ama a esposa

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