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Capítulo 4

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Parecia que alguém tentara atirar a porta abaixo. Briana, com o coração acelerado, esperou que os seus olhos se adaptassem à escuridão. Depois, inclinou-se para o candeeiro e acendeu-o. Levantou-se da cama e correu para a porta, para ver quem batia com tanta urgência. Pensou, aterrorizada, que talvez tivesse acontecido alguma coisa ao seu filho.

A imagem que se ergueu à frente ela, na escuridão do corredor, era a de Pascual. Os seus olhos cintilavam como os de um louco prestes a perder o controlo. A sua expressão de fúria e raiva deixou-a cravada no lugar.

– Ordinária egoísta e sem coração! – gritou ele.

– O que se passa? – perguntou ela, num tom fraco, levando a mão ao decote da camisa de dormir de algodão. Receava conhecer a resposta.

Ele entrou no quarto, fechou a porta com um pontapé e dirigiu-se para Briana como uma pantera prestes a precipitar-se sobre a sua presa. Ela recuou, assustada, mas Pascual agarrou-a e puxou-a para si. O seu peito duro agiu como um muro impenetrável que impediria a sua fuga.

– Tens um filho! Um filho de quatro anos! É meu, não é? Tem de ser meu! Nem sequer tu me terias enganado com outro homem enquanto estivemos juntos… Certifiquei-me de que passavas quase todas as noites ocupada na minha cama!

Durante uns segundos intermináveis, Briana ficou sem fala. Ao ver a tempestade de dor e de ódio que o rosto de Pascual reflectia, sentiu um nó no estômago, de medo e arrependimento.

– Como…? – gaguejou, quase sem sentir a pressão férrea dos seus dedos no pulso. – Como descobriste?

– A tua colega, Tina, esclareceu muitas coisas – respondeu ele, num tom venenoso. – Encontrei-a na sala, a ler e sugeri que bebesse alguma coisa comigo. Sentados à frente da lareira, o álcool não demorou a fazê-la falar. Antes de dar por isso, estava a contar-me a história da tua vida!

– Ela… Não faria isso!

– Sabes muito pouco sobre a natureza humana – Pascual soltou-lhe o braço, como se fosse uma serpente venenosa. – Não é de estranhar que a tua empresa esteja à beira da ruína! Não sabias que todos têm um preço? No caso da tua colega, bastou um copo de xerez para que pusesse todos os teus segredos a meus pés.

Novamente sem palavras, Briana passou a mão pelo cabelo despenteado. Desejou que Tina não tivesse sido tão liberal na sua conversa ou que tivesse ido dormir ao mesmo tempo que ela, em vez de se deixar baralhar pelo encanto incrível de Pascual. O que mais a incomodava era que tivesse descoberto a existência do seu filho não por ela, mas por uma colega dada ao mexerico. Era lógico que estivesse furioso. E, sem dúvida, era inevitável que ela assumisse a sua culpa, apesar de continuar a pensar que tivera uma boa razão para o abandonar.

– Sim… Adán é teu filho – tinha a boca tão seca que lhe custou dizer as palavras. Com um ar de dor, levantou o olhar para receber a resposta dolorosa daquele homem que parecia encher o quarto com a sua presença imponente, fazendo com que se sentisse relegada a um canto minúsculo.

– Adán? – o seu tom de voz era rouco, como se também lhe custasse falar. – Tiveste a temeridade de lhe dar um nome espanhol e de esconder de mim, o seu pai, a sua existência… Porquê?

Pascual, abanando a cabeça, foi incapaz de esconder a sua tortura. Briana sentiu um aperto no coração por ele, embora soubesse que rejeitaria e odiaria qualquer demonstração de compaixão.

– Porque lhe dei um nome espanhol?

– Não! Porque me escondeste que estavas grávida e ignoraste os meus sentimentos como se não tivessem a menor importância? Pensei que era impossível que me ferisses mais do que quando te foste embora, sem sequer me dares a menor indicação de que tencionavas fazer uma coisa tão incrível. Mas acabei de descobrir que és capaz de crimes muito piores. Enganei-me ao pensar que te conhecia, Briana. O teu comportamento está para além da minha compreensão. És uma estranha para mim!

Pascual viu as emoções a sucederem-se no seu rosto pálido e ensonado. Mas desejou ver mais do que a prova de sentimentos. Teria gostado de dispor de um microscópio mental para observar o mais profundo do seu coração e tentar entender o que a motivara a dar-lhe um golpe tão cruel, mas ao mesmo tempo, perversamente maravilhoso.

Saber que era pai virara o seu mundo ao contrário. Fora a notícia mais importante que recebera em toda a sua vida. No entanto, nesse momento, a raiva e o desespero eram as emoções predominantes que o atingiam como um ciclone violento. Não suportava pensar que perdera quatro anos da vida do filho por causa da mulher que tinha à frente dele.

«Será que a trataste tão mal, que provocaste essa maldade?», perguntou a si mesmo. Achava que não o fizera. Desde o princípio, tratara-a com respeito e cuidado, «ou não?» Dada a gravidade do que lhe fizera, pela primeira vez sentiu um vestígio de dúvida. Talvez lhe tivesse escapado alguma coisa importante. Rebuscou na sua memória com tanta honestidade como pôde, mas não encontrou nada que tivesse dito ou feito para a magoar. Para além da desafortunada cena instigada pela ex-namorada, bêbada, na festa. Um incidente de que ele, como já lhe dissera, fora vítima. Concluiu que essa não podia ser a única razão para lhe esconder a existência do seu filho. Tinha de haver outros motivos pessoais, inerentes a Briana, e jurou que não desistiria até chegar ao fundo da questão.

Ela, com aspecto desanimado, afastou o cabelo do rosto com uma mão trémula. Pascual não conseguiu evitar fixar-se na curta camisa azul que tinha vestida. Pelo seu aspecto, de t-shirt larga, adivinhou que procedia de uma loja normal e não fora desenhada para seduzir. Noutro tempo, a falta de sofisticação e atrevimento de Briana tinha-lhe parecido encantadora. Mesmo naquele momento, enquanto se debatia entre a incredulidade e o desespero devido ao que lhe fizera e apesar da roupa simples que cobria o seu corpo, a sua libido traiçoeira começava a descontrolar-se. Admirou os seios, redondos e firmes, que se apertavam contra o tecido fino, os mamilos provocantemente erectos, a curva perfeita e angélica das suas ancas e coxas nuas bem torneadas.

– Passei muito tempo angustiada a pensar em como te contar. Quando descobri que eras o convidado VIP do fim-de-semana foi um grande golpe para mim. Não é que quisesse evitar que falássemos sobre o que aconteceu no passado, mas precisava de me habituar à ideia da tua presença aqui.

– Já tiveste tempo suficiente para te habituares e deves-me uma explicação… Para o dizer de alguma forma!

– Porque não te sentas? – dirigiu-se, com graciosidade, até à banqueta estofada em cor-de-rosa e creme, sobre a qual deixara o robe. Agarrou a peça de roupa azul e vestiu-a, deixando a banqueta vazia.

Pascual, sem saber como conter a sua impaciência e frustração face ao que percebia como meras tácticas de atraso, abanou os braços com raiva.

– Não me digas o que fazer! – praguejou violentamente e captou uma faísca de receio nas pupilas cinzentas. Mas recusou-se a preocupar-se com o facto de estar a intimidá-la. – Só quero uma explicação sincera das tuas acções. Depois…

– Depois… O quê?

– Meu Deus! Pára de perder tempo e explica-me tudo!

– Está bem. Quis dizer-te depois de que te declarares… Não é fácil suavizar a verdade, mas já então tinha começado a compreender que estava a enganar-me ao pensar que o nosso casamento poderia funcionar.

A sensação de rejeição e dor que o embargara desde que Briana se fora embora, transformou-se numa banda de aço que se curvou à volta do seu peito e começou a oprimi-lo com tanta força como uma cobra.

– Basta considerar os nossos antecedentes – continuou ela, sem esconder a sua apreensão. – Tu nasceste entre riquezas e privilégios, com todas as expectativas que isso traz, enquanto a minha origem era… Vulgar? Nunca teria encaixado no estilo de vida de elite a que estavas habituado, Pascual! A tua família fez-me ver isso muito cedo. Viam-me como uma vagabunda. Alguém carente de propósito e rumo, porque tinha deixado a minha rotina habitual para viajar e não me importava de desempenhar trabalhos pouco prestigiosos para ganhar dinheiro.

– Porque envolves a minha família nisto? Só estás a usá-los como desculpa. Está claro que os teus sentimentos por mim não eram equiparáveis ao que sentia por ti e foste demasiado cobarde para te justificares e dizê-lo!

– Não! Não foi assim.

– Então, porque não me disseste que estavas grávida? Como pudeste ir-te embora sabendo que tinhas o meu filho dentro de ti? Que tipo de homem consideras que sou, para pensares que não me interessaria por essa notícia? Não pensaste que eu gostaria de conhecer o meu próprio filho e participar na sua educação? Ou perdeste a cabeça temporariamente ou és ainda mais desumana do que eu pensava!

O belo rosto que tinha à frente dele enrugou-se um pouco, mas Briana não demorou a recuperar e a olhá-lo novamente. Enquanto a estudava, o seu coração acelerou como um cavalo na recta final, galopando para a linha da meta. Anos de angústia e tristeza devido ao seu abandono acabavam de chegar ao clímax e não estava disposto a controlar as suas emoções. Especialmente, depois de descobrir que Briana tivera um filho dele e lho escondera.

– Não sabia que estava grávida quando me fui embora – Briana levou a mão ao peito. – Descobri-o algumas semanas depois de chegar a casa. Pascual…

A dor intensa que Pascual viu nos seus olhos cinzentos, juntamente com o leve tremor da sua voz, conseguiu atravessar a couraça que erguera à volta do seu coração. Sentiu uma pontada de dor.

– Vou contar-te a verdade. Sabia, por experiência própria, o que era ter pais oriundos de mundos diferentes. Isso fez da minha infância uma batalha esquizofrénica e também dolorosa. A minha mãe era de uma família operária, mas o meu pai foi educado numa escola privada e estava a preparar-se para ser advogado quando se conheceram. Ao contrário de nós – ela corou intensamente, – eles casaram-se. Mas a forte atracção que sentiam um pelo outro não conseguiu superar o abismo social e cultural que os separava e a relação não demorou a ressentir-se. Discutiam muito e a minha mãe diz que o meu pai começou a sentir a falta do seu mundo e a gozar com as origens dela e a sua falta de educação. Contudo, apesar da sua crueldade, ela continuava a amá-lo. Então, ele piorou as coisas tendo uma aventura… A primeira de muitas.

Briana afastou o cabelo despenteado da face avermelhada e o seu olhar perdeu-se no horizonte, obviamente a reviver o que se passara.

– Eu tinha cinco anos quando se separaram. Cresci a passar dois fins-de-semana por mês com o meu pai, na mansão ancestral da sua família, em Dorset, e o resto do tempo com a minha mãe, numa casa minúscula em Camberwell. Quando estava com o meu pai, ele encarregava a sua governanta de se ocupar de mim. Costumava chamar-me o seu «erro lamentável». Depois do divórcio, não demorou a voltar a casar-se com uma mulher da sua classe social. Nenhum membro da sua família me queria, nem me fazia sentir bem-vinda, e passava cada segundo a desejar voltar para a minha mãe! Não mantive o contacto com eles, no caso de quereres saber.

Deixou escapar um suspiro profundo.

– Quando te conheci, Pascual, realmente queria acreditar que a nossa diferença de classe social não sabotaria o nosso futuro em comum. No entanto, depois, comecei a ter dúvidas terríveis, que não conseguia desprezar. Os jantares e os jogos de pólo a que me levavas com os teus amigos ricos, o desdém que via nos olhos da tua família, porque não me consideravam à tua altura… No final, isso venceu. Tinha visto o que tinha acontecido com os meus pais e soube que me enganava ao pensar que a nossa relação podia funcionar. Quando te vi com a tua ex-namorada, nessa noite, de repente, entendi o inferno por que a minha mãe devia ter passado quando o homem que amava teve uma aventura. Isso convenceu-me de que nunca poderia estar com alguém que tinha a capacidade de me ser infiel, porque me devastaria.

– Meu Deus! Já te disse o que aconteceu realmente! – interveio Pascual, com frustração. – Ela bebera demasiado e só queria criar problemas. Estava ciumenta porque queria casar-me contigo e não com ela. Achava que te tinha demonstrado de mil e uma maneiras que te amava a sério e não desejava nenhuma outra. E mesmo assim, julgaste-me e declaraste-me culpado por esse estúpido incidente. Nem sequer me deste a oportunidade de me defender antes de te ires embora!

– Vi o que vi e fiquei devastada. Dado o meu passado, é compreensível, não achas? Simplesmente, não podia arriscar-me a, uma vez casados, deixar que te aborrecesses de mim e começasses a ter aventuras. Não queria que o que tínhamos se transformasse em algo feio e doloroso. Também não queria transformar-me no «erro lamentável» de outra pessoa! Quanto a Adán… Quando descobri que estava grávida, passei muito tempo a decidir o que fazer. Era óbvio que tinha de tomar decisões a respeito do seu futuro. Pensei que significaria, para efeitos práticos, que teria de viajar para a Argentina para te ver todos os meses. Teria sido uma situação impossível. O maior desejo de um progenitor é que o seu filho cresça a sentir-se querido e a salvo. Cheguei à conclusão de que só poderia dar-lhe isso se ficasse comigo. Sei que, pensando friamente, parece desprezível que tenha tomado essa decisão sem te envolver. Mas, depois de te ter abandonado, não tive outro remédio senão tomá-la.

– Não deixas de te referir à criança como se fosse só tua, mas eu também participei na sua concepção, não foi? – Pascual tinha um nó na garganta e custava-lhe falar. – Porque não me contaste, na altura, como a tua experiência passada te afectava? Nunca devias ter ido embora sem falar comigo. Receber um bilhete no dia após a festa de celebração do nosso noivado e ler que te tinhas ido embora, foi mais do que terrível. Achei que estava a ter um pesadelo!

Pascual fixou o olhar no chão, recordando a dor que o perdera num abismo de desespero pela primeira vez na sua vida. Abanou a cabeça.

– Eu… Naquele momento, era-me difícil pensar bem – disse Briana. – Os preparativos do casamento tinham começado e cada dia tinha mais medo de estar a cometer um erro terrível… E para piorar tudo, houve o incidente com a tua ex-namorada.

– E não podias falar comigo sobre essas coisas? Não era um desconhecido, que não se importava. Supostamente, era o homem que amavas!

– Eras! Quer dizer, tu…

– Receio que as tuas explicações cheguem demasiado tarde, querida – estudou-a com o olhar. – Nada do que possas dizer-me agora fará com que recuperes a minha confiança e o meu respeito. O que fizeste esmagou todos os sentimentos que alguma vez tive por ti, transformando-os em pó e cinzas.

Pascual atravessou o quarto, tentando limpar a cabeça. A chuva batia com força nos vidros antiquados, como o eco da pressão que crescia no seu interior. Pensamentos, lamentações e sensações dolorosas assolavam a sua mente e o seu coração, ao ponto de mal conseguir suportá-lo. Mas entre todo esse tumulto, uma coisa dominava tudo o resto: Tinha um filho.

Ao recordar a paixão que o seu amigo Fidel sentira pelo seu único filho, dominou-o a determinação de resolver as coisas, pelo menos nesse sentido. Não estivera presente durante os primeiros quatro anos de vida do filho, mas estaria presente a partir daquele momento!

Virando-se para a figura solitária e esbelta que continuava parada no meio do quarto, rejeitou qualquer fugaz sentimento de piedade ou empatia. O que Briana dissera era verdade: As explicações tinham chegado demasiado tarde. O que acontecesse agora, seria causado por ela.

– Não quero continuar a falar do assunto esta noite. Preciso de tempo para pensar. Para mim, foi um grande choque descobrir que tenho um filho. E também o facto de saber que a sua mãe fria e egoísta decidiu que eu não tinha o direito de saber da sua existência. Falaremos novamente amanhã, depois do jogo de pólo. Tomarei então decisões importantes.

– As decisões sobre o futuro não dependem só de ti, Pascual!

– Se eu fosse a ti, Briana – disse, lançando-lhe um olhar furioso, – não me arriscaria a dizer nada sobre o assunto esta noite. Já fizeste as coisas à tua maneira durante demasiado tempo. Não permitirei que essa situação se prolongue e mais vale acreditares nisso!

Consciente de que, se continuasse no quarto com ela mais um segundo, se entregaria a uma explosão de raiva incontrolável, Pascual dirigiu-se para a porta. Saiu para o corredor escuro e não olhou para trás.

– Tiveste uma má noite?

O tom sempre risonho de Tina quase fez com que Briana desse um salto. Tinham-se encontrado para tomar o pequeno-almoço na cozinha, na manhã seguinte. Com os nervos em franja, serviu-se de uma chávena de café e lançou um olhar irónico à colega.

– Pode dizer-se que sim.

Levou a chávena para a robusta mesa de carvalho, afastou uma cadeira e sentou-se. Com ar ausente, acrescentou leite e açúcar à bebida. As suas olheiras revelavam que não dormira durante toda a noite. Que mulher teria conseguido dormir depois de Pascual a acordar, irritado, a meio da noite? Não conseguia parar de se perguntar, com ansiedade, que decisões importantes a respeito de Adán e dela é que Pascual tomaria.

Na noite anterior, estivera mais do que furioso e, em grande medida, ela aceitava merecer a sua condenação. Nunca devia ter-lhe escondido a existência de Adán, por muito que a assustasse que a sua vida futura se transformasse numa réplica da sua infância. A grande tragédia era que amara esse homem com toda a sua alma e, ao vê-lo novamente, compreendera que o seu amor por ele continuava vivo. Estivera adormecido, à espera de voltar a acordar.

Em alguns momentos, durante o confronto desagradável da noite anterior, Briana desejara aproximar-se de Pascual, suplicar-lhe perdão e perguntar-lhe o que podia fazer para o compensar. Mas não o fizera por medo do que ele pudesse exigir. Angustiava-a a ideia de ele pensar seriamente em tirar-lhe a custódia do filho e esse sentimento oprimia-a. Dada a sua riqueza e o poder da sua família, Pascual contava com os meios necessários para lhe tirar Adán. Briana não conseguiria evitá-lo de maneira nenhuma. Comparada com essa ideia inquietante, a ameaça de um julgamento por dívidas da sua empresa carecia de toda a importância.

Sem saber o que fazer, olhou para a chávena de café, observando as espirais de vapor que se elevavam da porcelana delicada. Sentia-se como se estivesse num túnel escuro, sem possibilidade de encontrar a luz no fim. Se o seu pai tivesse tido a capacidade de ser fiel à mãe, se tivesse posto o bem-estar da esposa e da filha acima do snobismo da classe e do dinheiro com que crescera, talvez Briana não tivesse acabado perdida na situação penosa que estava a viver com Pascual.

– O que se passa contigo, Bri? – Tina sentou-se à frente dela. O seu bonito rosto expressava preocupação genuína.

Briana, consciente do que a sua jovem amiga, involuntariamente, revelara a Pascual na noite anterior, sentia-se muito renitente a falar de assuntos pessoais. Tinha a certeza de que Tina não quisera fazer nenhum mal, mas mesmo assim não devia ter falado dela tão alegremente.

– Estou bem. Passei uma má noite, foi só isso.

– O nosso impressionante senhor Domínguez esteve a fazer-me perguntas sobre ti ontem à noite. Na verdade, cada vez que tentava mudar de assunto, dava-me a volta para falar de ti! Penso que gosta mesmo de ti, Bri.

– Tanto faz se gosta ou não. Estou aqui para fazer o meu trabalho, mais nada. E, no futuro, agradecer-te-ia se não falasses livremente das minhas circunstâncias pessoais. Sobretudo, com pessoas para as quais estou a trabalhar.

Tina, sinceramente surpreendida com a explosão de mau humor da sua chefe, nada habitual, encolheu os ombros com ar compungido.

– Lamento muito. Mas é um homem tão encantador… Antes de dar por isso, tinha-me sacado coisas que, normalmente, não contaria. Refiro aos problemas financeiros da empresa e à tua condição de mãe solteira…

– Aceito o teu pedido de desculpas. Mas, acredita em mim, se queres triunfar nesta empresa e na tua vida, terás de aprender a ser muito mais discreta! Vou acabar o café e depois começaremos a trabalhar. Se o senhor Domínguez te fizer mais perguntas sobre mim, diz-lhe para falar comigo, está bem?

Mundos aparte - De ama a esposa

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