Читать книгу Uma aristocrata no deserto - Escondida no harém - Maisey Yates - Страница 10
Capítulo 6
ОглавлениеFarah deteve-se dentro de uma porta escondida nas sombras para respirar fundo e decidir que caminho seguir naquele labirinto de ruas e edifícios. Ao princípio, pensara que não era possível escapar, mas, no fim, fora muito fácil.
Um pedreiro esquecera-se de uma escada extensível no jardim, o que lhe bastara para escalar o muro do palácio. Além disso, os preparativos de alguma celebração tinham-na ajudado a camuflar-se entre tantos empregados.
Observando a posição do sol, decidiu dirigir-se para norte e começou a andar em ziguezague entre o mar de corpos que a rodeavam.
Olhando para a direita e para a esquerda, correu por um pequeno beco com edifícios altos aos lados e chegou a uma pequena praça. Tapou a cara com o lenço que tinha na cabeça e acelerou o passo, enquanto um mau pressentimento a assaltava.
– Está uma tarde muito quente para sair para passear, menina Hajjar – comentou alguém, num tom profundo.
Ao virar-se, Farah reconheceu ao príncipe à espera dela no beco.
– Prefiro ficar em casa nas horas de calor.
Encontrara-a! Como era possível? Farah tinha a certeza de que ninguém a vira a ir-se embora. Dissera à empregada que ia dormir. Frustrada, viu como ele a observava com um ar tranquilo, como se fossem dois velhos amigos que se encontravam por acaso. No entanto, eram inimigos acérrimos e ela não o esqueceria, por muito sedutora que fosse a sua boca, sobretudo, depois de ter tomado banho e se ter barbeado.
Por Alá, estava muito bonito!
Algo se acendeu entre as pernas de Farah, ao mesmo tempo que a respiração acelerava. Aquele homem despertava coisas dentro dela a que preferia não dar nome.
Ele estava vestido com uma túnica preta e, apesar de estar limpo, não parecia mais civilizado do que no deserto. Era o arquétipo do poder masculino e atraía-a imenso.
Furiosa, tirou a espada que escondera nas dobras da túnica.
– Mais um passo e lamentarás.
– Não me digas? – replicou ele, arqueando uma sobrancelha com um ar trocista.
A sua insolência era insultante. Farah sabia que não podia vencê-lo em combate, pois era muito alto e muito forte. No entanto, talvez pudesse fazê-lo recuar por um momento, o suficiente para fugir e desaparecer entre as ruelas.
Em qualquer caso, não tencionava render-se.
– Pousa a espada, Farah! – ordenou ele, com suavidade.
Ela mexeu os dedos no punho da espada. A forma como pronunciava o seu nome naquele tom tão viril e sensual fazia a sua temperatura subir.
– Não.
– Pensava que eras inteligente, minha pequena Zenóbia. Vais demonstrar-me que me enganava?
Farah treinara-se para a luta com alguns dos homens do pai, até Mohamed o ter proibido. Depressa lhe tiraria a vontade de se rir.
– Escapei, não foi? – perguntou ela, com ferocidade.
Ele cerrou os dentes. Ainda bem. Um homem furioso cometia mais erros do que se estivesse tranquilo, pensou ela.
– Os meus guardas encontraram-te – observou ele, olhando para a lâmina da espada.
– Os teus guardas são uns inúteis. Duvido que conseguissem encontrar um grão de areia no deserto. Talvez lhes falte treino.
Quando Zachim voltou a cerrar os dentes, ela quase sorriu ao verificar que conseguia irritá-lo tão facilmente. Ele tivera sorte quando a apanhara no acampamento. Mas, daquela vez, não seria tão afortunado.
– Não é boa ideia provocar um leão furioso – avisou ele, num tom rouco.
Um calafrio percorreu Farah diante da sua ameaça.
– Se for verdade que os teus homens me localizaram, porque não me prenderam?
– Ordenei-lhes que não o fizessem.
– Porquê? – perguntou ela, ficando tensa ao ver que ele começava a aproximar-se.
Farah interrogou-se porque a praça atrás dela estava tão silenciosa, embora não desviasse os olhos do príncipe. Naquele momento, nada era mais perigoso do que aquele homem. Levantou a espada, preparando-se para a luta.
– Temias que os magoasse?
– Não – negou ele, rodeando-a pela direita. – Temia que te magoassem – acrescentou. – Deixa a espada. Não podes ganhar esta batalha.
Ela não disse nada. Pelo canto do olho, captou movimento no terraço do edifício que tinha ao lado. Portanto, não estavam sozinhos.
– Precisas de ajuda para desarmar uma mulher, príncipe Zachim? – troçou Farah.
– Penso que já demonstrei que não, gatinha.
– Sim! Foi apenas sorte. Apanhaste-me desprevenida.
– A sério? – perguntou ele e pousou os olhos nos seus lábios, como se soubesse exatamente o que a distraíra da primeira vez. – E quem diz que não voltará a acontecer?
– Eu – afirmou ela, sentindo-se humilhada pela atração que não conseguia evitar. – Sei que tens uma espada. Tira-a ou afasta-te do meu caminho.
– Não vou lutar contigo.
– Tens medo?
Ele sorriu.
– Deixa-o. Ambos sabemos que não podes vencer-me.
Farah susteve a respiração. Aborrecia-a que ele estivesse tão seguro de si próprio. Com todas as suas forças, desejou poder fazer com que o grande príncipe do Bakaan se inclinasse à frente dela.
– Posso fazer-te correr – ameaçou ela e esgrimiu a espada no ar, testando o seu peso e o seu equilíbrio.
– Gostaria de o ver – respondeu ele, com um sorriso.
Então, mexendo-se com uma velocidade incrível, Zachim desembainhou a sua espada.
Sem hesitar, ela carregou contra ele. Os metais chocaram e ecoaram no beco. Finalmente, a adrenalina do combate permitira-lhe esquecer o medo e a tensão que sentira antes. Concentrou-se em procurar um ponto fraco no seu adversário, mas não encontrou nenhum.
– Para, Farah! – ordenou ele, tirando o suor da testa com a manga.
Como resposta, ela voltou a atacar o inimigo. Espada contra espada, continuaram a lutar até que, de repente, se ouviu o som de roupa rasgada.
Ambos ficaram imóveis. Horrorizada, Farah viu como o sangue começava a cair da manga do príncipe.
Oh, por Alá… Ela não quisera magoá-lo. Com os olhos assustados, olhou para ele por um instante, antes de soltar a espada e fugir por um beco.
O suor e o medo tiravam-lhe agilidade. Quando uma mão a agarrou pelo lenço da cabeça, gritou com todas as suas forças. Por sorte, o lenço caiu e ela continuou a fugir.
O som dos passos avisava-a de que o príncipe estava perto, até a agarrar pelo braço e a fazer virar-se de repente.
Cheia de verdadeiro terror, Farah lutou contra ele com todas as suas forças. No entanto, Zachim só demorou um segundo a imobilizá-la com a cara colada contra uma porta, as mãos por cima da cabeça e as pernas abertas, presas pelas dele.
Zachim tentou recuperar o fôlego enquanto a segurava contra a porta. O corte doía-lhe, mas não era grave, pois ela recuara no último momento. Devia tê-la desarmado desde o princípio, pensou. Mas desfrutara muito do combate. Era boa com a espada, sim. Não tanto como ele, embora combater com ela o enchesse de vida e excitação. Fora o mesmo que sentira quando tinham galopado juntos pelo deserto. Há muito tempo que não se sentia tão vivo. Talvez fosse por aquela mulher ser tão perigosa.
Como se tivesse notado que estava perdido nos seus pensamentos, Farah tentou libertar-se e ele apertou-a com mais força contra a porta. Então, pensou que podia ter mais armas. Tinha de a revistar, antes de a soltar. Sem querer, imaginou-se a percorrer-lhe o corpo com as mãos e a tirar-lhe as roupas pouco a pouco. E experimentou uma ereção. Por alguma razão, o seu corpo agia por conta própria quando estava perto dela, pensou, praguejando. Normalmente, costumava sentir-se atraído por mulheres que lhe correspondiam. E aquele não era o caso.
Zachim teve a tentação de apoiar a sua ereção contra o traseiro arredondado da sua adversária. Seria muito agradável, pensou. E, se fletisse um pouco as pernas, podia aninhá-la entre as suas coxas.
Com uma ereção que não parava de crescer, o príncipe inspirou o seu cheiro. Aproveitando o momento, a gatinha selvagem deu-lhe um pontapé e soltou uma mão.
Devia controlar as suas fantasias, repreendeu-se Zachim, segurando-a novamente.
– Teria corrido melhor se tivesses usado o teu corpinho ágil para me dar prazer, em vez de lutares comigo.
Uma mistura de medo e fúria brilhou nos olhos castanhos de Farah. Mas Zachim adivinhou neles algo mais. Desejo, interrogou-se. O que faria se a beijasse com paixão até fazer com que lhe rogasse que a possuísse?
– Preferiria queimar-me com óleo a ferver a ter de te seduzir – declarou ela.
Normalmente, Zachim não achava difícil controlar as suas emoções. Mas aquela mulher conseguia fazer com que um monge esquecesse os seus votos de celibato.
– Mentirosa.
Antes de conseguir pensar se era correto ou não, o príncipe abraçou-a e beijou-a sem piedade. Não parou, por muito que ela se retorcesse e lutasse para se soltar.
A faísca que havia entre eles acendera-se quando Farah lhe pusera os dedos na boca ou, talvez, antes. Para além da lógica e da razão, a única coisa que queria era submetê-la, ter as suas pernas compridas à volta das ancas e possuí-la até a fazer esquecer o seu próprio nome.
Quando ela gemeu como se estivesse a magoá-la, Zachim levantou a cabeça finalmente. A sua prisioneira tinha as faces rosadas e madeixas de cabelo na cara. Tinha os lábios inchados e húmidos e, com cada gemido, esmagava os seios contra o peito dele.
Emocionado com a sua própria reação, Zachim pensou em soltá-la naquele mesmo instante. Mas mudou de ideias quando ela deitou a língua de fora e lambeu os lábios, onde a beijara. Então, apercebeu-se de que já não tentava libertar-se, mas olhava para a boca dele, pedindo mais.
Com um gemido desesperado, ele inclinou a cabeça e voltou a beijá-la, daquela vez, com mais suavidade. Queria saboreá-la, sentir a sua textura e o seu sabor. Quando ela levantou a cara, entregando-se ao beijo, ele excitou-se ainda mais. Nunca experimentara algo tão íntimo, tão delicioso, pensou, apertando-se contra ela.
Farah escondeu os olhos por baixo das pestanas grossas, como se aquilo fosse demasiado, como se não conseguisse resistir ao inevitável. Abriu mais os lábios, dando as boas-vindas à língua do seu captor. Sem se aperceber, soltou-lhe as mãos e agarrou-a pelo queixo, para poder perder-se na sua boca com mais profundidade.
Ao sentir que ela se derretia nos seus braços e o acariciava timidamente com a língua, Zachim sentiu que o resto do mundo desaparecia à sua volta. Tremendo, a jovem emitiu um gemido suave e agarrou-se aos seus ombros. Ele não conseguia parar de tocar nela. Só queria chegar por baixo da sua túnica para poder sentir o calor da sua pele.
Vagamente, então, apercebeu-se de que não estavam sozinhos. Alguns guardas que tinham parado na entrada do beco estavam a presenciar como fazia amor com a prisioneira. Não era um comportamento exemplar. Por isso, usando toda a sua força de vontade, deu um passo atrás.
Quando a soltou, Farah caiu contra a porta, com os olhos esbugalhados e os lábios inchados, húmidos. Estava bonita. E parecia perplexa.
– O que aconteceu? – perguntou ele, finalmente, quando conseguiu recuperar a prudência.
Um tumulto de emoções desenhou-se no rosto de Farah, entre elas, o orgulho ferido.
– Forçaste-me.
Ele sentiu-se como se o tivesse esbofeteado. O pai fora um perseguidor, mas ele não era. Não a forçara, pois ela suplicara que a beijasse desde que se tinham visto.
– Dei-te o que querias. Se te atreveres a negá-lo, despir-te-ei e demonstrar-te-ei que é verdade.
– Oh!
Zachim pôs-lhe as mãos nos ombros e virou-a para que o precedesse.
– Considera-te avisada.
«Oh!» Isso fora tudo o que conseguira dizer depois de a ter beijado com loucura, para a insultar depois?
Naquele momento, Farah conseguia pensar em centenas de respostas melhores, embora fosse demasiado tarde.
Voltara a fechá-la no harém, com dois guardas à porta, por dentro.
Ao ouvir o ferrolho, virou-se para a entrada.
Era o príncipe, flanqueado por duas das empregadas que lhe enviara antes.
– Vejo que ainda tens o braço ligado – observou ela, sentindo-se um pouco culpada por o ter ferido. Embora tivesse merecido. – Que pena!
– Sim. Graças a ti – queixou-se, com um ar sério. – Vejo que não seguiste as minhas instruções quanto a vestir-te.
Farah ficou tensa diante daquela presença arrogante. Já não usava a túnica preta que lhe dava o aspeto de um pirata ameaçador, mas uma branca que realçava o tom âmbar dos seus olhos.
Ainda não conseguia acreditar em como reagira aos seus beijos no beco, pensou ela, apertando os punhos para tirar a lembrança da cabeça.
Nunca a tinham beijado antes daquela maneira. Amir nunca tentara sequer. Só a tinham beijado uma vez. Fora um jovem da aldeia vizinha, carente de bom senso e sem medo do pai. Aquele beijo fora rápido e casto comparado com os do príncipe de Bakaan.
– Estou vestida – indicou ela, sabendo que Zachim se referia ao vestido de seda púrpura que lhe tinham trazido antes, no qual nem sequer tocara.
– Sim. Infelizmente, o que vestiste não encaixaria no casamento do meu irmão.
– O que me importa o casamento do teu irmão?
– Nada. É óbvio. Mas dado o teu comportamento recente, não quero estar no casamento do meu irmão preocupado com o que vais fazer na minha ausência.
Ela não pôde evitar alegrar-se diante da ideia de lhe causar incómodos.
– Deixa-me com os teus guardas. Certamente, encontraremos uma forma de nos divertir.
– Sem dúvida – murmurou ele. – Mas não quero ter de castigar mais homens.
– Sou assim tão perigosa, príncipe?
– És problemática, diria – replicou ele, com um sorriso sensual.
– O meu pai não morderá o anzol, aviso-te – informou ela, rezando para que fosse verdade.
– Logo veremos.
Porque parecia tão composto e tranquilo, questionou-se Farah, cerrando os dentes de raiva. Claro, não era a sua vida que estava em jogo.
– Entretanto, as empregadas vieram para te preparar para ir comigo à festa.
Ela apercebeu-se, pela primeira vez, de que as empregadas estavam carregadas com toalhas, óleos e quem sabe que mais coisas.
– E desta vez quero que cooperes – continuou ele, seguro de si próprio.
– De maneira nenhuma…
– Não queres ir ao casamento? – interrompeu-a ele, observando-a com a irritação com que olharia para um inseto. – Sim, eu sei – replicou e deu mais dois passos, aproximando-se do espaço pessoal da prisioneira. – Mas vais fazê-lo. E vais portar-te bem.
Quando ia mandá-lo para o inferno, o príncipe abanou a cabeça devagar.
– Também posso fechar-te numa cela. Ou prender-te à cama. Não gostaria que estivesses incomodada.
Farah deu um passo atrás, intimidada. Custava-lhe a respirar quando o tinha tão perto.
– Seria melhor do que ter de aguentar a tua companhia durante uma festa.
Uma das empregadas deu um grito abafado diante do seu atrevimento. O príncipe semicerrou os olhos.
– Mas quem disse que ias estar sozinha nessa cama?
Um desejo incontrolável acendeu-se dentro de Farah, enquanto a cabeça se enchia de imagens do príncipe nu e com uma ereção poderosa. Em cima dela. Dentro dela. Sem dúvida, tinha de ser um espetáculo ver aquele homem magnífico nu.
– E se me desculpar em nome do meu pai? – sugeriu ela, finalmente, pronta para se humilhar e inclinar à frente dele para livrar o pai de mais problemas e voltar à sua vida de sempre. – E se, de alguma forma, resolver o que ele fez?
Zachim recostou-se no armário que tinha atrás.
– O que tinhas em mente, habiba?
Farah olhou para as empregadas.
– Poderia trabalhar para ti. Poderia cozinhar ou limpar ou…
– Já tenho muitos empregados ao meu serviço.
Farah mordeu o lábio inferior.
– Poderia… – começou a dizer ela, tentando pensar em algo para lhe oferecer. – Poderia treinar os teus cavalos. E os camelos.
– Já não há camelos no palácio e os meus cavalos têm muito bons treinadores.
– Bolas! Não há nada de que precises?
O príncipe percorreu-a de cima a baixo com o olhar, incendiando-a pelo caminho.
– Continua. Certamente, consegues pensar em alguma coisa que seja agradável para os dois.
Ela franziu o sobrolho. Referia-se a…?
– Isso não! – gritou, sentindo que ficava vermelha como o fogo. – Nunca!
– Então, não temos nada de que falar – comentou ele, num tom de aborrecimento.
– És tão tirano como o teu pai.
Furiosa, Farah virou-se para se fechar no quarto, quando o príncipe a agarrou pelo braço.
– Bolas! O teu pai prendeu-me durante três dias. Se achas que vai ficar impune, estás muito enganada – avisou-a ele. – Agora, veste-te. Se voltares a causar problemas a estas mulheres, não serei tão atencioso.
Ela engoliu em seco, decidida a não delatar as suas emoções. Esperou que Zachim saísse do quarto e virou-se para as duas empregadas, que a observavam com os olhos esbugalhados.
– Tomarei banho sozinha, entendido?
– Sim, senhora.