Читать книгу Uma aristocrata no deserto - Escondida no harém - Maisey Yates - Страница 6

Capítulo 2

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Sentindo-se culpada por ter estado a desfrutar da ausência do pai, Farah correu para os estábulos e montou o cavalo branco. Se o que Lila dizia era verdade, o pai podia enfrentar a pena de morte por essa temeridade.

Como se conseguisse perceber o seu desassossego, o Raio de Lua relinchou e levantou a cabeça.

– Calma – tranquilizou-o Farah, embora precisasse mais de se acalmar do que o cavalo. – Corre como o vento. Tenho um mau pressentimento.

Pouco depois, entrou no acampamento secreto, desmontou e entregou o cavalo a um dos guardas para que lhe desse água. Estava a escurecer e, nas tendas, estavam a fazer-se os preparativos para passar a noite. De um dos lados do acampamento estava o deserto e, do outro, as montanhas, banhadas pelos últimos raios do entardecer.

No entanto, naquele dia, não tinha tempo para se deleitar com a sua beleza, pensou Farah. Estava muito nervosa, rezando para que Lila se tivesse enganado.

– O que estás a fazer aqui? – perguntou Amir, num tom seco e com o rosto tenso, ao vê-la a aproximar-se da tenda do pai.

– E tu? – replicou ela, cruzando os braços num gesto desafiante. Não estava disposta a deixar-se intimidar pelo seu antigo amigo da infância.

– Isso não é um assunto teu.

– Se o que me disseram é verdade, é – contradisse ela e respirou fundo. – Por favor, diz-me que não é verdade.

– A guerra é coisa de homens, Farah.

– Guerra? – repetiu ela e praguejou como um homem teria feito, enfrentando o olhar de desaprovação de Amir. – Portanto, é verdade – sussurrou. – O príncipe de Bakaan está aqui?

Amir cerrou os dentes.

– O teu pai está ocupado.

– Está lá dentro?

Farah referira-se ao príncipe, mas ele não entendeu.

– Não pode ver-te agora. As coisas são… Delicadas.

Uma forma muito subtil de o descrever, pensou ela. A tensão podia sentir-se no acampamento.

– Como aconteceu? Sabes que o meu pai é um homem velho e amargurado. Era a tua responsabilidade cuidar dele.

– Continua a ser o chefe de Al-Hajjar.

– Sim, mas…

– Farah? És tu? – chamou o pai, da tenda.

Ela sentiu um nó no estômago. Por muito machista e autoritário que fosse, era a única pessoa que tinha no mundo e amava-o.

– Sim, pai – confirmou Farah e, passando à frente de Amir, entrou na tenda.

O espaço estava iluminado com candeeiros a óleo, dividido por uma zona para comer e outra para dormir, com uma cama ampla e um círculo de almofadas. Vários tapetes cobriam o chão para o isolar do frio da noite.

O pai parecia cansado. Os restos do jantar ainda estavam na mesa.

– O que estás a fazer aqui, menina? – perguntou ele, com o sobrolho franzido. As mulheres não eram bem-vindas no santuário privado do chefe da tribo.

Farah conteve-se para não responder que só queria cuidar dele. A sua relação nunca fora muito afetuosa.

– Ouvi dizer que sequestraste o príncipe de Bakaan – indicou, rezando para que não fosse verdade.

O pai esfregou a barba branca, um gesto que significava que estava a pensar se devia responder ou não.

– Quem te disse isso?

– É verdade, então? – perguntou ela, sentindo-se embargada pela preocupação.

– A notícia não pode espalhar-se. Amir, encarrega-te disso.

– É óbvio.

Farah não se apercebera de que Amir a seguira para dentro. Virou-se para ele e, ao prestar mais atenção, apercebeu-se de que tinha um olho arroxeado.

– Como aconteceu isso?

– O que importa?

Farah interrogou-se se fora o príncipe que lhe dera um murro, mas não indagou mais.

– Mas porquê? Como?

Amir deu um passo à frente com o rosto tenso.

– O arrogante príncipe Zachim pensou que podia atravessar as dunas com o carro a meio da noite sem ter nenhuma reserva de combustível.

– E? – inquiriu Farah, olhando para o pai.

– E capturámo-lo.

Ela pigarreou, tentando não pensar o pior.

– Porque fizeram isso?

– Porque não queremos que outro Darkhan tome o poder e ele é o herdeiro.

– Pensei que o irmão mais velho era o herdeiro.

– O miserável Nadir vive na Europa e não quer ter nada a ver com Bakaan – indicou Amir.

– Isso não vem ao caso – replicou ela, abanando a cabeça. – Não podem… sequestrar um príncipe sem mais nem menos!

– Quando se souber que o príncipe Zachim já não está disponível, o país desestabilizar-se-á ainda mais e ficaremos com o poder que sempre nos pertenceu por direito próprio.

– Pai, as guerras tribais de que falas acabaram há centenas de anos. Eles ganharam. Não achas que está na hora de deixar o passado para trás?

– Não, não me parece. A tribo de Al-Hajjar nunca reconhecerá o poder dos Darkhan e não consigo acreditar que a minha própria filha me fale assim. Sabes muito bem o que me arrebataram.

Farah suspirou. Sim, o rei recusara-se a abastecer as regiões contíguas a Bakaan com provisões médicas, entre outras coisas. Por isso, ninguém pudera salvar a vida da sua mãe grávida, o tesouro mais querido do pai. Ela nunca bastara para acalmar a sua dor.

O pai continuou a enumerar tudo o resto que os Darkhan lhe tinham roubado: terra, privilégios, liberdade. Eram as mesmas histórias que ouvia desde pequena. E, na verdade, estava de acordo com a maioria das suas acusações. O falecido rei de Bakaan fora um tirano egoísta que nunca se preocupara com o povo.

No entanto, na sua opinião, sequestrar o príncipe Zachim não era uma maneira de resolver os velhos problemas. Sobretudo, quando era uma ofensa que se pagava com a prisão ou a morte.

– Como é que isto vai melhorar as coisas e trazer a paz? – inquiriu ela, apelando ao seu sentido racional.

O pai encolheu os ombros.

– O país não terá nenhuma oportunidade com ele no trono. É muito poderoso.

Sim, Farah ouvira dizer que o príncipe Zachim era poderoso. Também ouvira dizer que era muito bonito, o que as fotografias que vira publicadas na imprensa cor-de-rosa confirmavam. Embora não se preocupasse com o aspeto dele!

– E o que se passará agora? O que fará o conselho de Bakaan?

Pela primeira vez desde que Farah entrara, o pai mostrou-se inseguro. Levantou-se e começou a dar voltas pela tenda.

– Ainda não sabem.

– Não sabem? – repetiu ela, franzindo o sobrolho. – Como é possível que não saibam?

– Quando estiver pronto para revelar os meus planos, fá-lo-ei – afirmou o pai.

Isso significava que não tinha nenhum plano, adivinhou ela.

– Além disso, não é algo de que queira falar contigo. E porque estás assim vestida? Essas botas são de homem.

Farah bateu com o pé no tapete. Esquecera-se de que não tirara a roupa velha que usava para trabalhar com os camelos. Mas, iam falar da sua vestimenta quando tinham sequestrado o homem mais importante do país?

– Isso é o menos importante…

– Não é, se eu o disser. Sabes o que penso.

– Sim, mas penso que há coisas mais… urgentes para discutir, não achas?

– As cartas já estão lançadas. Não há mais nada para discutir.

Com um ar cansado, o velho chefe deixou-se cair nas almofadas.

– Pelo menos… Está bem? – quis saber ela, com o coração apertado, temendo que lhe tivessem batido. Isso só pioraria as coisas ainda mais.

– Para além de que o maldito homem se recusa a comer, sim.

– Sem dúvida, pensa que a comida foi envenenada.

– Se quisesse matá-lo, usaria a espada – declarou o pai.

– Talvez essa seja a solução – indicou Amir. – Matamo-lo e desfazemo-nos do corpo. Assim, ninguém poderá atribuir-nos a sua morte.

Farah lançou-lhe um olhar assassino.

– Não consigo acreditar que estejas a falar assim, Amir. Para além de ser uma barbaridade, se descobrissem no palácio, dizimariam a nossa aldeia.

– Ninguém descobriria.

– E ninguém vai morrer – assegurou ela, pondo as mãos na cintura. – Irei vê-lo.

– Não te aproximes dele, Farah! – ordenou o pai. – Tomar conta do prisioneiro é trabalho de homens.

Ela mordeu a língua para não responder que o pai não estava a fazê-lo muito bem se o prisioneiro se recusava a comer. Sem dizer nada, virou-se.

– Onde vais? – gritou Amir, num tom autoritário.

– Vou comer – indicou ela, tensa. – Parece-te bem?

– Gostaria de falar contigo.

Farah sabia que estava à espera de uma resposta sobre poder cortejá-la ou não, mas não estava de humor para enfrentar a sua reação quando se recusasse.

– Não tenho nada para te dizer por enquanto – informou ela.

– Espera por mim lá fora! – ordenou Amir, cerrando os dentes.

Ela sorriu para si. Nunca obedeceria às ordens dele!

Depressa, saiu da tenda. Lá fora, o vento sacudia o acampamento, mas o céu continuava limpo. Pelo menos, não parecia aproximar-se uma tempestade.

Decidiu não perder tempo a comer e dirigiu-se para a única tenda vigiada por guardas. Estava furiosa com o pai pelos seus atos e também estava furiosa com o príncipe, o filho do homem que devastara a sua vida para sempre ao ser o responsável indireto pela morte da mãe.

Mesmo assim, precisava de manter a calma para procurar uma maneira de tirar o pai daquela confusão antes de fazer algo ainda pior… como ouvir os conselhos de Amir.

Uma aristocrata no deserto - Escondida no harém

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