Читать книгу Uma aristocrata no deserto - Escondida no harém - Maisey Yates - Страница 8
Capítulo 4
ОглавлениеDurante um instante, Zachim pensou que teria de a deixar inconsciente, mas não queria fazê-lo. Para sair do acampamento, precisava que ela o guiasse para os cavalos sem atrair muita atenção.
Por sorte, a mulher ignorava como era indispensável para a sua fuga e assentiu. Devagar, ele afastou a mão. Ela cerrou os dentes, como se a tivesse magoado. Era provável que tivesse sido assim. Lutara como um gato selvagem e tivera de usar a força para a dominar. Era surpreendente que uma mulher tão esbelta e suave fosse tão forte. E a sua cara… Era muito bela. Ao olhar para ela, sentia vontade de se perder naqueles olhos castanhos. Uma tez suave e uns lábios carnudos completavam a imagem.
Durante a resistência, o keffieh que lhe cobria a cara caíra. Tinha o queixo erguido num gesto desafiante, como se tivesse vontade de o mandar para o inferno. No entanto, ansiava voltar a ouvir o gemido doce que escapara da boca dela quando lhe lambera os dedos.
«Mau momento para ter uma ereção, príncipe», pensou Zachim.
– Escondes mais armas? – perguntou ele, tirando a corda dos pulsos.
Mesmo na escuridão da tenda, Zachim conseguia adivinhar a sua fúria.
– Não vou dizer-te!
– Se não o fizeres, terei de te revistar.
– Não! – exclamou ela, imediatamente. – Não tenho.
Ele conteve a gargalhada diante da sua resposta desesperada e interrogou-se se tinha medo ou se temia a química inesperada que surgira entre os dois.
– Vamos.
– Não vou a lado nenhum contigo – declarou ela.
– Virás, sim. Vais tirar-me daqui e levar-me até onde estão os cavalos. Se alguém nos deter, dir-lhe-ás que me levas ao teu pai. Conduzir-me-ás a puxar esta corda e fingiremos que tenho as mãos atadas.
No silêncio que se fez depois, Zachim quase conseguia ouvi-la a pensar, debatendo-se para encontrar uma alternativa. Para lhe demonstrar quem mandava, agarrou-a pelo traseiro e apertou-a contra o seu corpo. Não podia deixá-la ir-se embora, pelo menos, até terem chegado aos cavalos.
– Dá o alarme e matarei qualquer pessoa que se aproxime.
A temperatura do deserto já baixara e o vento batia cada vez com mais força na tenda. Zachim não sabia se o acampamento de Mohamed Hajjar era muito afastado da civilização, mas intuía que a noite seria longa.
Inclinou-se para pegar num pedaço de corda, que pôs à volta dos pulsos. No meio da escuridão, teriam de se aproximar muito para perceber que não estava realmente preso. Só tinha de chegar até aos cavalos. É óbvio, teria preferido ter um veículo todo-o-terreno, mas nos três dias que passara prisioneiro, não ouvira nenhum motor à volta.
– Bom, minha pequena rainha caçadora, vamos.
– Não sou nada teu! – protestou ela, sem querer olhar para ele.
No entanto, Zachim percebeu que lhe tremiam os lábios. Apesar da sua integridade fingida, tinha medo. Era melhor assim, apesar de ele nunca ter ferido uma mulher na sua vida. Embora também fosse verdade que nunca antes lhe tinham dado razão para isso. As mulheres amavam-no e ele amava-as. Era um tipo de relação muito mais agradável do que aquela.
– Mexe-te! – ordenou ele e, segurando-lhe as mãos, apontou a adaga para o braço dela. – Devagar.
Quando ela levantou a porta da tenda, Zachim respirou fundo ao não ver o namorado por perto.
O guarda estava lá, no entanto, e aproximou-se imediatamente. Perguntou a Farah se estava tudo bem. Quando ela hesitou, o príncipe apertou-lhe a adaga afiada contra o pulso.
– Está tudo bem – mentiu ela.
– Terás de melhorar os teus dotes de interpretação, mas, por enquanto, vai ter de servir – sussurrou-lhe Zachim ao ouvido. Ao fazê-lo, encolheu-se quando um cheiro desagradável a camelo o envolveu.
– Não podes escapar. Aproxima-se uma tempestade.
Ele já se apercebera da tempestade. Ao percorrer o acampamento com o olhar, verificou que a maioria dos homens estava a comer à volta das fogueiras ou a prender as tendas contra o vento crescente.
– Eu sei. Isso ajudará.
Ela deteve-se de repente.
– Não vou fazê-lo.
– O teu pai chorará a tua morte, sem dúvida.
– Não vais matar-me.
Zachim apertou-se contra ela por trás.
– Não subestimes o que sou capaz de fazer. Esqueceste quem era o meu pai?
– Porco – acusou ela e cuspiu para o chão.
«Exatamente», pensou ele.
– Fico feliz por nos termos entendido. Agora, anda e, com sorte, nenhum dos teus homens morrerá.
Farah afastou as madeixas de cabelo que se tinham soltado enquanto lutava. Sem dúvida, aquilo só serviria para confirmar a opinião do pai sobre as mulheres. Naquele momento, até ela concordava que teria sido melhor ficar em casa. Fora a sua estupidez que a deixara naquela posição.
– Não te sintas mal por me ajudar a escapar – sussurrou o príncipe, como se lhe tivesse lido o pensamento. – Se fosse qualquer um destes homens, teria tido de o matar.
Esse pensamento não conseguiu consolar Farah. Cometera um erro que não sabia como o solucionar. Em vez de resolver as coisas como tencionara, só conseguira agravá-las.
Enquanto o vento frio lhe golpeava na cara, Farah esperou que algum dos homens que os rodeavam percebesse que alguma coisa estava mal. Mas, para além de olharem para eles, não fizeram mais nada. Confiavam nela. E ia defraudá-los, pensou, com os olhos húmidos de raiva.
– Para aqui.
Ao ouvir as palavras em voz baixa do príncipe, Farah apercebeu-se de que já tinham chegado até aos cavalos. Como se tivesse sentido a sua presença, o dela aproximou-se.
– Por Alá, é grande… – murmurou o príncipe, com um ar apreciativo.
O animal aproximou-se da dona, procurando a sua carícia.
– É teu?
Pelo seu tom de voz, ela adivinhou que ia roubá-lo. Empurrou o Raio de Lua pelo focinho para o afastar.
Ao mesmo tempo, um grito ecoou do outro lado do acampamento. Amir chamava-a.
Os gritos aproximavam-se cada vez mais, juntamente com os passos dos homens do pai a correr pela areia. O príncipe parou de fingir que estava preso e, antes de Farah conseguir reagir, segurou-a pela cintura e levantou-a no ar. Durante uma milésima de segundo, os seus olhares encontraram-se e ela pôde perceber um brilho de indecisão no dele. Mas só durou um instante. No instante seguinte, sentou-a no Raio de Lua, saltou atrás dela para a garupa e açulou o resto dos cavalos, fazendo-os sair do recinto em que estavam.
Num abrir e fechar de olhos, o Raio de Lua corria a todo o galope. A única coisa que Farah pôde fazer foi agarrar-se às suas crinas, enquanto o príncipe a rodeava por trás para pegar nas rédeas, guiando-os para a noite escura do deserto.
Horas depois, molhados, sujos e cansados, pararam para deixar descansar o cavalo. Farah teria caído da sua garupa se não fosse porque Zachim a segurava com força pela cintura, colando-se contra ela com o seu peito nu.
Há algumas horas, quando a tempestade os surpreendera, o príncipe parara por um instante, tirara a t-shirt e prendera-a à volta dos olhos e do focinho do cavalo, para o proteger da areia. Depois, cortara um pedaço da parte inferior da túnica de Farah e rasgara-o em dois, para proteger as caras de ambos.
Magoada e com areia em cada milímetro do corpo molhado e frio, Farah levantou o olhar e viu, com alívio, que tinham parado à frente de uma gruta onde podiam proteger-se.
O príncipe desmontou e puxou-a sem cerimónias para a conduzir, juntamente com o cavalo, para o refúgio. Era um lugar muito pequeno, mas, por sorte, não deixava entrar o vento.
Devagar, Farah tirou o pano que lhe cobria a cara. Tentou sacudir a areia do corpo, mas estava tão molhada que era impossível. Portanto, virou-se para o Raio de Lua para lhe massajar as patas duras. Atrás dela, ouviu que o seu raptor sacudia um pouco de roupa e pensou que teria tirado a t-shirt da cabeça do cavalo. Devia ter o peito dorido, depois de ter cavalgado com a pele nua no meio da tempestade, pensou.
– Obrigada – agradeceu ela.
– Porquê? – perguntou ele, atrás dela, sobressaltando-a com a sua proximidade na escuridão da gruta.
– Por protegeres o meu cavalo.
– Se tivesse morrido, nós também morreríamos.
Muito bem, portanto, não o fizera por compaixão, mas pelo seu próprio interesse, pensou ela. Quando ia afastar-se, ele segurou-a pela cintura.
Furiosa por ele se atrever a tocar nela, empurrou-lhe as mãos com um grito de aviso.
– Disse-te que não tenho mais armas.
– Onde está o teu telemóvel?
– Porque haveria de ter telemóvel? A nossa aldeia não tem rede – indicou ela, sem conseguir evitar sentir-se intimidada pela sua proximidade, a sua força e o seu tamanho.
Zachim praguejou e afastou-se.
– Praguejar não te ajudará – avisou ela, com uma gargalhada trocista. – Tu é que tens a culpa, pois o teu pai não quis gastar dinheiro em infraestruturas para o seu país, apenas para ele próprio – acrescentou e cobriu os braços com as mãos, tiritando de frio.
Ignorando o seu sarcasmo, Zachim tirou a manta ao cavalo.
– O que estás a fazer?
– Precisas mais dela do que ele.
– Vai ficar gelado.
– Não. Tem uma camada grossa de pelo e está praticamente seco. Nós não.
Farah não pôde reprimir outro calafrio. O vento soprava na entrada da gruta. Demasiado cansada para discutir, deixou-se cair de joelhos ao chão.
– Estás muito perto da entrada. Anda cá.
– Estou bem.
– Não foi uma sugestão – sussurrou ele, tão perto que a fez tremer.
– Estou demasiado cansada para discutir – admitiu ela. – Deixa-me em paz.
– Como o teu pai me deixou em paz?
Farah fechou os olhos. Não queria pensar que se encontravam naquela situação por causa da imprudência do pai.
– Não te disse que estou demasiado cansada para…! Eh! O que estás a fazer? Deixa-me no chão!
– Eu também estou cansado. Estou faminto e zangado, portanto, não ponhas a minha paciência à prova porque a perdi quando, há três dias, o teu pai se recusou a libertar-me. Não teve a coragem de me enfrentar cara a cara desde então.
– O meu pai não é um covarde!
– Não? – replicou ele, deixando-a no chão com suavidade. – Portanto, justificas as suas ações? És uma cúmplice?
Quando Zachim se sentou ao seu lado, Farah virou-se imediatamente para se afastar, mas ele segurou-a pelo braço. Depois, rodeou-a pela cintura com o outro braço e deitou-a de lado. Ele deitou-se atrás dela, apertando-se contra as suas costas.
– Não tenciono dormir contigo!
O príncipe pôs a manta por cima deles.
– Não. Vais dormir ao meu lado. Há muita diferença, habiba. E asseguro-te de que não estás convidada para fazer amor.
Farah sentiu raiva diante da sua arrogância.
– Mas só há uma manta – continuou ele, apertando-se ainda mais contra ela. – E, como não consegues parar de tremer, temos de partilhar o nosso calor corporal. Relaxa e tudo será mais fácil.
«Relaxar?» Farah não teria estado mais tensa se lhe tivesse apontado uma pistola à cabeça. Há muito tempo que não estava tão perto de uma pessoa e o seu contacto estava a começar a incomodá-la.
– Isto não está bem.
– Mas sequestrar o teu príncipe está bem.
– Tens de ter sempre a última palavra?
– E tu?
Recusando-se continuar a discussão, Farah enrolou-se, tentando pôr distância entre os dois. Era melhor fingir que ele não estava ali. Imaginaria que estava sozinha, em vez de entre os braços do pior inimigo do pai.
Finalmente, adormeceu. Graças a Alá. Quando parara de tremer, começara a mexer-se à frente dele, tentando encontrar a posição. Zachim tivera de lhe pôr uma mão na anca para fazer com que ficasse quieta e parasse de lhe esfregar o traseiro contra a ereção dolorosa. Não quisera que ela soubesse como o excitava.
O príncipe sabia que a sua reação só se devia a ter passado muito tempo sem estar com uma mulher. Possivelmente, a sensação de perigo aguçara os seus sentidos. Fosse o que fosse, não tencionava render-se ao desejo. Não era o tipo de homem que perdia a cabeça por alguém.
Suspirando, tentou ficar confortável. A mulher gemeu em sonhos como um gatinho com um pesadelo. Sem dúvida, tinha razões para estar assustada, pois esperava-a uma pena da prisão de, pelo menos, vinte anos. Então, ela colou-se um pouco mais a ele, distraindo-o dos seus pensamentos. Por um instante, pensou em pôr-lhe o braço por baixo da cabeça, para que estivesse mais confortável, mas decidiu não o fazer. O que importava que a filha do seu captor estivesse confortável? Bom, era verdade que lhe dera de comer antes, mas… Bolas! Só de recordar como lhe pusera os dedos na boca, deu por si a imaginar o corpo nu dela. Percebera a excitação nos olhos dela quando lhe chupara os dedos. Ela não conseguira esconder o seu desejo. Igual ao que o possuía. Novamente.
Zachim interrogou-se se seria a namorada do soldado arrogante com quem discutira. Era óbvio que o outro homem gostaria. A tensão que houvera entre ambos fora óbvia. Embora o soldado fosse, sem dúvida, um imbecil. Se ela fosse a sua mulher, nunca a teria deixado sozinha numa situação perigosa. Por sorte, no entanto, não era a sua mulher.
A jovem tiritou e encolheu-se um pouco mais. Devia ter frio, adivinhou o príncipe. Tal como ele. Tinha frio, fome e sentia os braços e o peito em carne viva por causa da forma como a areia e a chuva o tinham castigado durante a tempestade.
Mais valia que Farah Hajjar não lhe desse problemas de manhã, porque estava de muito mau humor.