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CAPÍTULO 5

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– Veste o casaco, Andi. Vamos dar um passeio – disse-lhe Linus, quando acabaram de comer e Andi estava aninhada junto da lareira do bar.

Não pareceu impressionada com a sua sugestão ao virar-se e olhar pela janela.

– Esteve a nevar outra vez.

– Já me dei conta – disse ele. A neve tinha recomeçado a cair enquanto ajudava Jim a tirar a neve do caminho que conduzia ao bar. – Vamos, Andi. Vai ser divertido!

– Não vejo o que tem de divertido passar frio e ficar molhada.

Linus olhou-a fixamente. Continuaria incomodada com ele devido à conversa de manhã?

– Quando eras pequena não brincavas na neve?

Ela arqueou os sobrolhos.

– Nas poucas vezes em que nevava em Hampshire, o meu pai insistia sempre que fôssemos para um clima mais quente.

– E depois de te mudares para Londres?

– Não costumava nevar quando vivia em Londres.

– E, sem dúvida, quando o fazia, tu ficavas em casa, aninhada, até que derretesse toda.

– É claro.

– Alguma vez foste esquiar?

– Bom, claro que já fui esquiar. Todos os Invernos, quando era pequena, e várias vezes desde então. Mas esquiar é outra coisa.

– Alguma vez caminhaste pela neve só por diversão?

– Claro que não – respondeu Andi, franzindo o sobrolho.

– Incrível... – disse Linus. E ele que sempre tinha pensado que a sua infância tinha sido chata. Pelo menos, a sua mãe e depois, a sua tia, tinham-lhe permitido ser criança. – Mais uma razão para irmos dar um passeio agora. Vamos, Andi. Ensinar-te-ei a fazer e a atirar bolas de neve.

Ela olhou para ele, com pouco entusiasmo.

– Já te disse que não quero acabar molhada e gelada.

– Isso faz parte da diversão.

– Talvez para ti. Linus, eu estou perfeitamente onde estou, muito obrigada. O que estás a fazer? – perguntou, quando Linus atravessou a sala com grande rapidez, a agarrou pelo braço e a levantou sem esforço. – Não vou sair, Linus! – exclamou, quando começou a arrastá-la para a porta.

Linus parou e olhou-a com os olhos semicerrados.

– Andi, tens duas opções. Podes vestir o casaco, o gorro e as luvas e sair comigo de livre vontade ou... – fez uma pausa para criar efeito – agarrarei em ti como estás, levar-te-ei lá para fora e atirar-te-ei à neve.

Andi ficou a olhar para ele, incomodada e indignada ao não poder escapar dele.

– Não quero...

– Demasiado tarde. Perdeste a tua oportunidade – Linus agachou-se e pegou-lhe ao colo, antes de se dirigir para a porta.

– Linus, pára! – Andi começou a espernear nos seus braços. – Linus, larga-me!

– Não. Vais directa para a neve – disse ele, enquanto se agachava para abrir a porta.

– As minhas botas são muito caras! Se se estragarem...

– Comprar-te-ei outras – respondeu Linus, de pé à frente da porta aberta. – Decide-te, Andi. De livre vontade ou não?

– Está bem, está bem! – gritou Andi, sabendo que cumpriria a sua ameaça se não lhe obedecesse. – Vou mudar de botas e buscar o meu casaco – murmurou, com impaciência. – Mas a primeira coisa que vou fazer quando sair é enfiar-te uma bola de neve pela gola da camisola! – ameaçou, enquanto Linus a deixava no chão.

– Primeiro, terás de me apanhar – respondeu ele, com um sorriso.

– Não te preocupes. Apanhar-te-ei.

– É assim mesmo!

– Não. Agora, vou vingar-me! – garantiu-lhe Andi.

«É um abusador», decidiu Andi, enquanto subia as escadas para ir buscar o gorro e o casaco. Um abusador sem coração. Um abusador sem coração, mas muito sexy.

Andi sentou-se na beira da cama. A cama onde Linus a tinha beijado na noite anterior.

Bolas! Jamais voltaria a pensar nele apenas como Linus Harrison, o seu chefe.

Ao começar a trabalhar para ele, tinha-se sentido incomodada pelo modo como a tinha manipulado e, por isso, decidira não se deixar impressionar.

Mas, durante as semanas e meses seguintes, tinha-lhe sido impossível não admirar a sua astúcia. Não reparar na sua habilidade para olhar para alguma coisa e ver as possibilidades de um ponto de vista empresarial.

Em que momento é que essa apreciação das virtudes empresariais de Linus se tornara algo mais pessoal? Quando é que a admiração se tinha transformado em atracção?

Fora-se dando conta de como os seus traços duros faziam com que o coração lhe pulsasse mais depressa. Como os seus olhos podiam ser frios e desafiantes, e tornarem-se imediatamente sensuais e perversos. Mas, sobretudo, descobria-se a contemplar a sua boca, o seu lábio inferior era ligeiramente mais carnudo do que o superior, os seus dentes eram muito brancos quando sorria. E as suas mãos... Linus tinha umas mãos compridas que se mexiam com elegância.

Andi tinha começado a perguntar-se como seria sentir aquelas mãos a acariciarem-na. Ou como seria a sua boca se a beijasse.

Pelo menos, depois da noite anterior já tinha res-posta para essas duas perguntas.

«Esquece, Andi», disse a si mesma com firmeza, enquanto pegava no casaco e nas luvas. Linus era o seu chefe, se quisesse que continuasse a sê-lo e garantir também o bem-estar da sua mãe, então seria melhor esquecer que a noite anterior tinha existido.

– Continuas zangada comigo? – perguntou Linus, enquanto Andi caminhava em silêncio junto dele em direcção ao pinhal situado na parte de trás do pub. As árvores estavam cobertas de neve.

Andi tinha estado lá em cima mais tempo do que Linus tinha esperado e estivera prestes a ir buscá-la ao quarto. Mas, antes que pudesse fazê-lo, ela tinha regressado ao bar, depois de calçar as botas que, conforme lhe tinha dito, tinha trazido para o jogo de domingo. Também usava o casaco e as luvas, um gorro de lã e uns óculos de sol para se proteger do brilho da neve.

– Não sabia que estava zangada contigo – respondeu ela.

Antes que Linus pudesse dar-se conta do que estava a fazer, Andi agachou-se, agarrou num punhado de neve e enfiou-lho pela gola da camisola, aproveitando o facto de ele ter as mãos nos bolsos do ca-saco.

– Que má! – gritou Linus, quando conseguiu libertar as mãos. Fez uma bola de neve e atirou-lha.

O que se seguiu foi uma batalha de bolas de neve com má pontaria da parte de Andi. Acabaram encharcados e sem fôlego, dez minutos mais tarde.

– Trégua! – gritou Linus. – Já não sinto os dedos. Estão congelados.

– É bem feito! – respondeu Andi.

– Admite, Andi. Foi divertido.

– Foi – reconheceu ela. – Sobretudo, porque agora pareces o Abominável Homem das Neves! – riu-se enquanto olhava para Linus, que tinha o cabelo encharcado e o casaco e as calças de ganga cobertos de neve.

Linus olhou à sua volta quando, depois de um consentimento tácito, retomaram o passeio para o bosque.

– Tinha-me esquecido de como o ar é puro aqui em cima.

– Sentes falta? – perguntou Andi.

– Às vezes. Outras vezes, recordo como me sentia frustrado quando era mais jovem e brincava nas ruas de Glasgow e o pouco que podia fazer em adolescente, a viver com a minha tia numa pequena vila nos subúrbios de Ayr.

Andi olhou para ele. Linus nunca tinha falado com ela sobre a sua vida.

– Foste viver com ela quando a tua mãe morreu, não foi? – tinha-o descoberto graças aos artigos que tinha lido sobre ele.

– Sim.

– Não com o teu pai?

– Não – respondeu ele. – Nunca conheci o meu pai. Ou, melhor dizendo, ele nunca me conheceu.

– Não entendo.

– Há uns dez anos, decidi procurá-lo.

– E?

– Nada. As semelhanças entre ambos eram evidentes. A cor do cabelo. A minha mãe e a minha tia Mae são... eram ruivas. A compleição também era a mesma – encolheu os ombros. – As semelhanças estavam claras, mas, quando olhava para ele, não sentia nada. Absolutamente nada.

– E esperavas sentir alguma coisa? – perguntou Andi, com delicadeza.

– Curiosamente, sim. Ao crescer sem pai, tinha desenvolvido a curiosidade de saber que tipo de homem era. Graças à minha mãe, sabia que o tinha conhecido quando vivia em Londres, que era advogado, muito ambicioso, e que não queria uma esposa e um bebé que o prendessem naquela altura. A minha mãe escondeu-me a verdade durante anos, mas, finalmente, quando tinha catorze anos, falou-me dele. O meu pai discutiu com ela quando lhe disse que estava grávida. Simplesmente, deu-lhe algum dinheiro e disse-lhe que abortasse ou que jamais voltaria a vê-lo. Ela ficou com o dinheiro, regressou a casa e começou do zero.

– Isso... Isso é muito duro – disse Andi.

– Também poderia dizer-se que foi sincero. Mesmo sabendo tudo isto, suponho que uma parte de mim pensasse que, se nos conhecêssemos, se daria aquele momento de reconhecimento instantâneo. Aquela emoção de ambas as partes – Linus abanou a cabeça. – Em vez disso, não senti nada ao olhar para aquele homem ligeiramente encurvado e calvo. Era sócio de um escritório prestigiado de advogados, mas nunca se casou. Simplesmente, era um homem que tinha deixado escapar a vida. Que tinha deixado escapar a minha mãe. Acredita em mim, Flora era uma mulher excepcional – acrescentou, com orgulho.

Andi nunca o tinha posto em dúvida. Devia ter sido muito difícil para Flora Harrison criar uma criança sozinha há trinta e seis anos.

– Espero que não fiques triste por mim – disse Linus a brincar. – A verdade é que, provavelmente, triunfei só para ferir aquele pulha.

– Linus! – exclamou Andi, embora não tivesse conseguido evitar sorrir.

Linus simplesmente encolheu os ombros.

– Não te parece irónico que a criança cuja existência escolheu ignorar fosse capaz de o superar?

Não. Parecia-lhe triste. Para Linus, não para o seu pai.

Ao olhar para trás, Andi só pôde sentir-se agradecida por todos aqueles anos de infância em que tinha contado com o amor incondicional de ambos os pais.

– Fala-me da tua tia Mae – disse, de repente.

– A tia Mae é extraordinária – anunciou ele, com orgulho. – Na verdade, não é minha tia, mas tia da minha mãe. Ela já tinha cinquenta e poucos anos e era uma solteira empedernida quando me acolheu há vinte e um anos. Poderia pensar-se que era má ideia encarregar-se de um rapaz de quinze anos, que acabava de perder a sua mãe. Mas, passados poucos minutos de me mudar para a casa dela, disse-me que não pensava tolerar nenhuma das minhas birras, que tinha de me comportar enquanto estivesse na sua casa. Eu já era vários centímetros mais alto do que ela, mas lá estava a tia Mae, a impor as suas regras.

Andi riu-se ao imaginar a cena.

– E o que fizeste? – perguntou.

– Comportei-me, é claro. Ninguém contradiz a minha tia Mae.

– Parece uma mulher maravilhosa.

– Pergunto-me se continuarás a pensar o mesmo quando a conheceres.

Andi nunca tinha ouvido Linus a falar da infância, nem da família do modo como fizera nos últimos minutos. A imagem que criara dele fora a que tinha lido nos artigos ao longo dos anos. Aquela revelação proporcionava uma certa intimidade que faltava à sua relação.

Seria aquela intimidade consequência do que tinha acontecido entre eles na noite anterior? Andi não tinha a certeza.

Seria parva se desse mais importância do que a necessária às palavras de Linus ou ao seu comportamento no quarto. Linus era um homem que vivia a vida segundo as suas próprias regras, como poderiam garantir as mulheres que entravam e saíam da sua vida. Andi sofreria uma desilusão se desse outro significado às confidências de Linus. Talvez só quisesse explicar-lhe a sua relação com a sua tia antes de Andi a conhecer.

– Acho que está na hora de voltarmos. Começa a ficar frio – disse, depois de respirar fundo.

Linus olhou-a com os olhos semicerrados. Normalmente, não falava da sua infância, nem das duas mulheres responsáveis pela sua educação e só o tinha feito porque Andi lhe perguntara.

Não. Estaria a mentir se dissesse que essa fora a razão pela qual se tinha aberto com ela. Por alguma razão, desejava que Andi, apesar do passado privilegiado dela, soubesse e compreendesse porque é que ele era o homem que era.

Regra geral, não lhe importava se uma mulher o entendia ou não. Mas tinha partilhado coisas com Andi que nunca contara a ninguém.

– Está bem – respondeu, enquanto se virava. O silêncio entre Andi e ele tornou-se mais incómodo.

Porque lhe teria contado tantas coisas? Ele nunca falava da sua vida pessoal.

– Jim acha que as máquinas de limpar a neve virão esta tarde – disse, de repente.

– Isso é bom.

– Sim, embora já seja demasiado tarde para irmos a algum lugar hoje. Mas, com sorte, isso significará que poderemos continuar a nossa viagem amanhã.

– Amanhã?

– Teremos de passar outra noite aqui.

– Eu posso dormir no bar esta noite – sugeriu ela.

– Isso é ridículo e sabe-lo – respondeu Linus. – Eu tentarei ficar quieto esta noite, se tu conseguires...

– Não tenho intenção de te pôr as mãos em cima – disse ela, antes de o deixar acabar a frase.

– Pois, ontem à noite, fizeste-o.

– Por favor, não puxes o assunto – respondeu Andi, vermelha de vergonha.

– Esta discussão é quase mais infantil do que a tua sugestão de dormir no bar esta noite.

– Para se discutir são precisos dois.

– Meu Deus, que mulher tão teimosa!

– Olha quem fala! Embora, no teu caso, se trate de um homem teimoso, claro!

– Tenho de voltar para o pub para fazer algumas chamadas.

– Óptimo! – respondeu Andi.

– Óptimo! – acrescentou Linus.

Ela arqueou os sobrolhos ao ver que Linus não se mexia.

– Não deixes que te entretenha – disse-lhe.

Andi continuou a olhar para ele durante vários segundos, antes que Linus se virasse e se afastasse para o pub.

Respirou fundo ao vê-lo a partir. Sabia que a relação profissional que tinham construído durante o último ano, tão fácil de manter durante as suas breves visitas a Tarrington Park, estava a desmoronar-se, tal como as defesas que tinha construído para não se sentir atraída por ele.

Tempestade de paixões - Uma segunda vez

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