Читать книгу Tempestade de paixões - Uma segunda vez - Маргарет Майо - Страница 7

CAPÍTULO 2

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– Pensei que tinhas dito que nem sempre nevava na Escócia em Fevereiro.

– Enganei-me – respondeu Linus, com o sobrolho franzido, sentado ao volante do Range Rover, enquanto tentava ver a estrada através da neve que caía.

Tinham saído de Hampshire muito cedo naquela manhã e tinham parado perto de Manchester para almoçar. Já estava escuro quando a neve recomeçara a cair, quase imediatamente a seguir a atravessarem a fronteira entre a Inglaterra e a Escócia, e tinha começado a cair com mais força à medida que se aproximavam da casa da sua tia em Ayr, na costa oeste.

– Talvez devesse ter visto a previsão meteorológica antes de termos partido – acrescentou ele, com impaciência.

– Talvez? Deu-me a impressão de que tinhas tudo sob controlo – murmurou Andi, secamente.

– Infelizmente, nem sequer eu posso controlar o tempo. – «O tempo está realmente mau», pensou Linus ao dar-se conta de que mal conseguia ver mais de dois metros à frente. Avançavam cada vez mais devagar. – Se não parar em breve, teremos de procurar um lugar onde passar a noite.

– Está assim tão mau? – perguntou ela.

– Podes vê-lo por ti mesma – respondeu ele, assinalando com a cabeça a estrada coberta de neve.

Não era que o Range Rover não estivesse preparado para aquilo, mas Linus não queria continuar a conduzir sem saber por onde ia. O facto de não ver nenhum carro em sentido contrário há algum tempo indicava que a situação seria pior mais adiante.

– Não tenho intenção de dormir no carro, portanto, procura um lugar onde possamos passar a noite – Linus não deixava de olhar para a estrada enquanto falava.

Andi virou a cabeça e começou a procurar através da neve qualquer sinal de pessoas, sobretudo, as luzes de alguma estalagem ou hotel onde pudessem descansar até que a neve parasse. Sentia-se culpada por não ter visto a previsão meteorológica e não estar preparada. Estar zangada com Linus pela possibilidade de ter de passar algumas semanas na Escócia de vez em quando não era desculpa.

– Ali! – gritou, de repente, assinalando uma luz situada à esquerda da estrada. – Pode ser uma estalagem ou... Não, é só uma luz.

– Uma luz significa que é habitado – disse Linus e olhou para onde Andi tinha assinalado. – Sim! Há um caminho. Pelo menos, espero que seja um caminho – franziu o sobrolho e virou o carro em direcção às luzes. A neve cobria tudo e esperava que debaixo daquele manto branco houvesse uma superfície firme. – É uma estalagem – acrescentou, com satisfação, ao ver o letreiro onde se via um cardo e um veado. Colocou o carro onde esperava que fosse o estacionamento deserto e desligou o motor. – Não é muito grande, mas terá de servir. Queres experimentar?

– Temos outra opção? – perguntou ela.

– Não, mas achei que era melhor perguntar – brincou ele, enquanto tirava os casacos do banco traseiro. – Não saias até que venha buscar-te – aconselhou, enquanto se preparava para abrir a porta e enfrentar a tempestade de neve. – Se te perdesses com esta tempestade, talvez não fosse capaz de voltar a encontrar-te.

Andi tremeu ao sentir o frio quando Linus abriu a porta e saiu, antes de voltar a fechá-la. A neve caía com tanta intensidade, que nem sequer conseguiu vê-lo a contornar o carro para abrir a sua porta. Só se apercebeu de que o tinha feito quando a porta se abriu ao seu lado.

– Cuidado, há gelo – disse ele, quando Andi apoiou os pés no chão.

A advertência chegou demasiado tarde, porque os seus pés escorregaram e teve de se agarrar ao casaco de Linus para não cair.

– Desculpa – murmurou, entredentes, enquanto tentava recuperar o equilíbrio. O vento e a neve eram tão frios que já sentia a cara e a queixo gelados. – Isto é horrível! – gritou por cima do rugir do vento e soube que Linus não a tinha ouvido ao vê-lo a abanar a cabeça.

Linus agarrou-a pela mão e virou-se para enfrentar o vento, enquanto caminhavam para a estalagem. Caminhavam devagar e surpreendeu-a ver a distância que faltava quando levantou a cabeça. O vento magoava tanto a cara que parecia que soprava de propósito para lhes impedir a passagem. Quase como se as forças da Natureza não quisessem que chegassem ao refúgio e ao calor que a estalagem prometia.

Andi não conseguia respirar bem pelo nariz e a garganta ardeu-lhe quando tentou respirar pela boca.

– Bolas, assim não vamos a lado nenhum! – Andi mal ouviu a exclamação impaciente de Linus antes de o vento a levar, de modo que se surpreendeu quando ele se virou, lhe pegou ao colo e começou a caminhar com determinação para as luzes da estalagem.

Andi passou-lhe os braços pelo pescoço e baixou a cabeça contra o seu peito para se proteger do vento. Inclusive a humidade do seu casaco era mais agradável do que o ardor na garganta quando tentava respirar.

Era incrível pensar que, embora fizesse frio, o sol tinha tentado brilhar ao saírem de Hampshire naquela manhã. Era como se estivessem noutro mundo.

O que seria deles se Linus não conseguisse chegar à estalagem? Agarrou-se a ele e entrelaçou os dedos gelados. Deveria ter trazido umas luvas. E um gorro.

– Já estamos quase a chegar! – gritou Linus. – Abre a porta – acrescentou, segundos mais tarde.

Andi levantou a cabeça e viu que já tinham chegado à estalagem. A luz brilhava através das janelas congeladas, assim como o que parecia ser uma lareira.

Tinha os dedos tão frios e insensibilizados que lhe custou a afastá-los. A neve desfez-se na manga do seu casaco e depois caiu ao chão quando direccionou o braço para a maçaneta. Os dedos escorregaram-lhe ao princípio, mas finalmente conseguiu agarrá-la e virá-la. Ambos estiveram prestes a cair ao atravessarem a porta do que parecia ser o bar.

O estalajadeiro ficou a olhar para eles, de boca aberta, obviamente perplexo ao ver que havia alguém lá fora com aquele tempo.

– Feche a porta, por favor – disse-lhe Linus, enquanto levava Andi para junto da lareira. Sentou-se sem a largar, pois ela parecia incapaz de largar o seu casaco.

– Está tudo bem, Andi – murmurou ele. – Estamos bem – acrescentou, com satisfação, enquanto o calor do lume começava a desentorpecer-lhe a cara e as mãos.

A sensação de formigueiro que se seguiu foi quase igualmente dolorosa, mas era uma dor agradável, depois da preocupação dos últimos minutos. Realmente, não tinha tido a certeza de conseguir chegar à estalagem no meio da tempestade.

Embora não pensasse dizê-lo a Andi. Sabia por experiência que Andi era uma mulher que normalmente mantinha a calma em qualquer situação. Tinha-o feito depois da morte do seu pai e do seu noivo, durante a venda da casa familiar para saldar as dívidas do seu pai e também ao aceitar trabalhar para ele. Mas, a julgar pela maneira como se agarrava a ele, parecia que tinha chegado ao limite da sua resistência.

Olhou para ela e pareceu-lhe pequena nos seus braços, quase vulnerável, com o cabelo colado à cabeça e à cara, e os olhos muito abertos enquanto olhava para ele. Um homem poderia perder-se naqueles olhos, poderia perder a sua vontade, a sua alma e ser-lhe indiferente, desde que Andi continuasse a olhar para ele com aquele calor.

Nunca tinha reparado no comprimento das suas pestanas espessas e escuras. Um grande contraste com o cabelo loiro. Os seus lábios eram de um cor-de-rosa escuro, carnudos e proeminentes, como se esperassem ser beijados.

– Beba isto, rapaz. E a sua rapariga, também.

Linus desviou o olhar de Andi e fixou-o no estalajadeiro, que estava de pé, junto da poltrona, a segurar dois copos com um líquido cor de âmbar. «Provavelmente, uísque», pensou Linus, enquanto aceitava um dos copos e o levava aos lábios de Andi.

– Bebe – disse-lhe.

Andi engoliu compulsivamente enquanto Linus olhava para ela. Havia qualquer coisa no olhar dele, uma certeza que só serviu para aumentar o seu nervosismo por ter de passar quatro dias a sós com ele na Escócia.

Esteve prestes a engasgar-se, pois não estava habituada a álcool, e o uísque queimou-lhe a garganta. Andi desentorpeceu o suficiente para se dar conta de que estava sentada nas coxas de Linus, entre os seus braços.

Endireitou-se, tirou-lhe o copo de uísque da mão e levantou-se para se afastar. Evitou olhar para ele e ficou a observar o lume enquanto sentia o olhar dele a seguir os seus movimentos.

O que acontecera?

Olhara para Linus e vira... O quê? Consciência. Desejo, talvez. Quase como se Linus estivesse a olhar para ela pela primeira vez. E talvez fosse assim. Andi parecia-se pouco naquele dia com a secretária formal que ia para o escritório. Usava o cabelo solto, as suas calças de ganga e a sua camisola eram muito mais informais do que o que usava no escritório. Sentia-se estranhamente vulnerável sem o escudo dos seus fatos. Sobretudo, se essa mudança também tivesse afectado o modo como Linus a via.

De repente, foi consciente da conversa entre Linus e o estalajadeiro.

– A minha mulher preparará o quarto – murmurou o estalajadeiro, antes de desaparecer por uma porta onde dizia: «Privado».

– Queres as boas ou as más notícias?

Andi virou-se para Linus, com o sobrolho franzido.

– Primeiro, as más – respondeu.

– A má notícia é que isto é um pub, não um hotel, portanto, o proprietário não aluga quartos habitualmente.

– E as boas notícias? – perguntou ela.

– Tem um quarto que pode ceder-nos para passarmos a noite. É o quarto da sua filha, mas ela está na universidade.

– Um quarto, no singular?

– Efectivamente – confirmou Linus.

– Estás a sugerir que partilhemos o quarto? – Andi olhou para ele, furiosa, do outro lado da sala. Os seus olhos castanhos brilhavam com indignação.

Linus respondeu com o sobrolho franzido ao ver a sua reacção. O que pensava? Que ia atirar-se a ela assim que estivessem a sós no quarto?

Não era que se tratasse de uma ideia inaceitável, vendo como estava bonita. Mas Linus não gostava da insinuação de que não conseguia manter as mãos quietas.

– Preferes que voltemos para a tempestade e tentemos arranjar um lugar onde tenham dois quartos disponíveis?

– Não, é claro que não! – respondeu ela. – Mas podias dormir aqui em baixo.

Para além da poltrona onde Linus estava sentado, havia mais uma poltrona e bancos e cadeiras na sala de jantar, postos à volta das mesas vazias.

– Prefiro a comodidade de uma cama – respondeu ele. – Mas não tenho objecção em que tu durmas aqui em baixo, se for o que quiseres. O dono achará estranho, pois parece ter assumido que somos um casal.

– Então, faz com que não o assuma! Não vou partilhar o quarto contigo, Linus.

– Qual é o teu problema, Andi?

– Eu... Tu... Nós... – Andi abanou a cabeça, horrorizada com a ideia de partilhar o quarto com ele, consciente da sua presença. – Tu és o meu chefe. Trabalho para ti!

– E isso impede que partilhemos o quarto?

– Segundo tu, sim! Não dormes com as tuas empregadas, lembras-te?

– Partilharmos o quarto não implica irmos para a cama.

– Não necessariamente.

– Ficarei com as mãos quietas, se quiseres.

– Isso é tão pouco cavalheiresco!

– Não recordo ter dito que era um cavalheiro.

– Tanto faz! És...

– Falaremos disto mais tarde, Andi – respondeu Linus e virou-se para o proprietário quando este regressou.

– A minha mulher já está a aquecer um pouco de sopa – disse o homem. – Pôs pão a cozer para a acompanhar, enquanto prepara a cama no andar de cima.

Era agradável ouvir o sotaque escocês do proprietário, o que fez com que Linus se desse conta de como sentia saudades da sua terra natal e do calor da sua gente.

Linus tinha abandonado a Escócia anos antes. Nunca se tinha arrependido da sua decisão, mas ouvir o sotaque escocês recordava-lhe que aquele continuava a ser o seu lar.

– Quanto tempo acha que durará a tempestade de neve? – perguntou Andi ao proprietário.

– Oh, isto não é uma tempestade de neve! – respondeu o homem. – Não passa de uma pequena queda de neve.

Andi ficou boquiaberta. O que seria deles se se tivessem deparado com uma tempestade de neve?

Sassenach – disse Linus ao dono em voz baixa.

Andi não sabia o que significava aquela palavra, mas tinha a certeza de que era algo desagradável. Dirigiu a Linus um olhar censor, antes de se virar para o proprietário.

– E quanto tempo acha que durará a queda de neve?

– Apenas alguns dias – respondeu ele.

– Alguns dias?

– Uma tempestade de neve costuma durar uma semana – explicou o homem.

– Que tranquilizador... – murmurou Andi, enquanto se sentava na poltrona situada à frente da de Linus, o qual parecia divertir-se com a situação.

No entanto, ela não conseguia achá-la divertida. Como poderia parecer-lhe divertida, quando a simples ideia de partilhar o quarto com ele fazia com que lhe tremessem os joelhos?

– Vou ver como está a vossa comida – disse o proprietário, nervosamente, depois de contemplar os olhares severos que dirigiam um ao outro numa batalha silenciosa.

Andi inclinou-se para a frente na poltrona quando ficaram a sós.

– Linus, não te dás conta da seriedade de ficarmos aqui e partilharmos o quarto?

Linus tirou o casaco, antes de responder:

– Estou aberto a qualquer sugestão que possas ter. Sugestão viável, é claro. O facto de eu ser um homem e tu seres uma mulher não quer dizer que vá atirar-me a ti assim que ficarmos sozinhos.

– Eu sei – respondeu ela, com as faces coradas.

– Talvez sejas tu quem está tentada a atirar-se a mim.

– Linus – disse ela, com tom ameaçador.

– Andi? – perguntou ele, desafiante.

Ao olhar para Linus nos olhos e ver o brilho no seu olhar, Andi soube que seria pouco inteligente continuar a falar daquilo naquele momento.

A ideia de partilhar o quarto com ele durante a noite era pouco inteligente...

– A culpa é toda tua – disse, finalmente.

– Eu não sou responsável pelo tempo, Andi.

– És responsável por eu estar na Escócia. É razão suficiente para te culpar desta desgraça!

– Que desgraça? Tal como o proprietário disse, não passa de uma pequena queda de neve. Mais alguns dias e poderemos continuar o nosso caminho.

– Mesmo a tempo do teu estúpido jogo de râguebi, suponho. Vinte e dois homens a tentarem partir a cabeça.

– Trinta homens. É râguebi, Andi, não é futebol. E não tentam partir a cabeça. O objectivo do jogo é marcar pontos, correndo com a bola e chegando ao outro lado da linha.

– Sempre que vejo um pouco de algum jogo na televisão, enquanto mudo de canal, é claro...

– É claro!

– Parece-me sempre que é uma confusão de braços, pernas e corpos entrelaçados no chão.

– Isso é porque o outro objectivo do jogo é que uma equipa impeça que os seus adversários marquem pontos.

Andi soprou, com desdém.

– Não me convences, Linus.

– Não estou a tentar convencer-te! – levantou-se, com impaciência. – Obviamente, és inculta no que se refere ao magnífico desporto do râguebi.

– Magnífico! – repetiu ela. – E suponho que tu saibas tudo a esse respeito.

– Sim. Fui quem mais pontos marcou durante o meu último ano na escola.

– Isso explica tudo.

– Importas-te de explicar?

– Sim, importo-me – Andi levantou-se com um movimento fluido e sentiu-se aliviada ao verificar que as suas pernas já tinham aquecido. – «Sassenach»?

Linus encolheu os ombros.

– Alguém de Inglaterra.

Andi continuou a olhar para ele com desconfiança, certa de que aquela palavra significava mais.

– Vou perguntar ao proprietário se tem uma casa de banho onde possa limpar-me um pouco – disse ela, abruptamente. – Se falares a sério sobre passarmos a noite aqui...

– Claro que falo a sério, Andi.

– Pois, as nossas malas continuam lá fora, no carro – disse-lhe ela e sentiu-se satisfeita ao ver a expressão de dor no seu rosto. Linus olhou pela janela e apercebeu-se de que teria de voltar a sair para ir buscar as malas. – Diverte-te! – acrescentou Andi, antes de desaparecer por trás da porta que dizia «Privado».

O seu sorriso desapareceu ao chegar ao corredor e apoiar-se na parede.

Não podia partilhar o quarto com Linus naquela noite. Nem na noite seguinte, se a tempestade não amainasse. De facto, tremia só de pensar nisso.

E a pouca importância que Linus parecia dar ao assunto também não ajudava.

Andi tinha ficado traumatizada durante meses depois da morte de David e do seu pai. Não tinha olhado para outro homem e muito menos se sentira atraída por algum. Mas, a pouco e pouco, tinha-se tornado consciente da presença de Linus. Como podia uma mulher trabalhar com ele regularmente e não reparar na vitalidade daquele corpo e no encanto daqueles traços?

Andi, certamente, não conseguia.

O que não ajudaria a normalizar a situação quando se encontrasse a dormir com ele no mesmo quarto, naquela noite.

Tempestade de paixões - Uma segunda vez

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