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CAPÍTULO 1

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– Faz as malas, Andi. Vamos alguns dias para a Escócia!

Andi levantou a cabeça, franziu o sobrolho e olhou para Linus, à porta que separava os seus escritórios no último andar de Tarrington Park. Já sabia que estava ali, no seu apartamento privado no fim do corredor, pois tinha visto o seu carro estacionado à entrada ao chegar para trabalhar naquela manhã. Foi o que disse que fez com que reagisse daquela maneira.

– Para a Escócia?

Linus entrou no escritório e apoiou-se na secretária dela. Usava o cabelo ligeiramente mais curto do que há um ano. O verde-claro dos seus olhos continuava a brilhar com a mesma astúcia sobre os seus traços duros e cinzelados enquanto a olhava.

– Agora que Tarrington Park já abriu as suas portas, estou à procura de outro grande projecto no qual trabalhar. Há um castelo na Escócia que estou a pensar em comprar.

– E queres que vá contigo?

Nunca tinha sugerido levá-la nas suas viagens. Embora também não o tivesse sugerido desta vez. Linus tinha-lhe dito que iam.

– És a minha secretária – recordou-lhe ele.

Andi era muito consciente disso. Tal como tinha consciência de que, nos últimos meses, tinha começado a ver Linus como mais do que o chefe exigente que passava alguns dias por ali para ver os progressos em Tarrington Park e depois regressava à sua vida e ao seu apartamento em Londres.

Esperar que Andi o acompanhasse até à Escócia numa viagem de negócios era bastante razoável. De facto, quando ela trabalhava para Gerald Wickham, acompanhava-o nas viagens de negócios. Mas Linus não era Gerald...

Consciente da reputação desumana de Linus no que se referia às mulheres, Andi prometera a si mesma manter-se afastada dele ao começar a trabalharem juntos, um ano antes. Não era difícil obtê-lo, quando se sentia emocionalmente paralisada depois da morte de David e do seu pai.

Mas, gradualmente, tinha começado a esperar com vontade pelas visitas de Linus. Tinha começado a apreciar o encanto dos seus olhos e a malícia sexy no seu sorriso. Inclusive, reparava na largura dos seus ombros e na força do seu corpo musculado quando caminhava por Tarrington Park a dar ordens.

E, do mesmo modo, tinha consciência da proximidade dele naquele momento, apoiado na sua secretária.

– De que aeroporto partiremos? – perguntou ela, quando Linus se afastou finalmente.

– Estava a pensar em levar o Range Rover.

– Queres ir de carro? – Andi olhou pela janela e viu o céu invernal sombrio. – Não neva na Escócia em Fevereiro?

– Deixa de ser tão susceptível, Andi – respondeu Linus. – Qualquer um diria que não queres ir à Escócia comigo.

E era verdade.

A ideia de estar sozinha na Escócia com Linus durante vários dias fez com que lhe acelerasse o pulso.

– Qual é o teu problema, Andi? Tens outros planos para este fim-de-semana? Um encontro romântico, tal-vez? – acrescentou, com tom brincalhão.

– É claro que não – respondeu ela.

– É claro que não – repetiu ele, com um sorriso. – Passou mais de um ano desde que o santo David Simmington-Browne morreu. Não está na hora de recomeçares a viver? – sobretudo, porque o noivo de Andi não tinha sido absolutamente santo. Durante o último ano, tinha descoberto muitos segredos do outro homem. Segredos dos quais Andi não estava ao corrente...

A sua decisão de contratar Andrea Buttonfield e de lhe dar liberdade na decoração de Tarrington Park tinha sido a melhor jogada empresarial que fizera. Mas o hotel e centro de conferências já tinha aberto há um mês, gerido, com sucesso, por Michael Hall, e já estava na hora de passar para outra coisa. Para os dois.

Andi tinha-se zangado ao ouvir o nome de David.

– A minha vida privada não te diz respeito – disse, com voz gélida.

– Tu não tens vida privada – respondeu ele.

– Então, ainda bem que tu tens de sobra para os dois, não é? – Andi dirigiu-lhe um olhar feroz, sabendo, graças às fotografias que, às vezes, apareciam nos jornais, que a vida de Linus em Londres envolvia noites com uma mulher. Mulheres que raramente despertavam o seu interesse durante mais de dois meses.

– Estás com ciúmes?

Andi levantou-se abruptamente e perguntou:

– Porque haveria de estar com ciúmes? Se essas mulheres são suficientemente estúpidas para aceitarem o pouco que queres dar-lhes, o problema é delas. Garanto-te que não tenho nenhum interesse em aquecer a tua cama!

Andi arrependeu-se das suas palavras ao pronunciá-las, ao dar-se conta de que talvez tivesse revelado demasiado.

Linus olhou-a com os olhos semicerrados, surpreendido com a sua veemência. Só vinha a Tarrington Park de dois em dois meses, mas nunca tinha visto a fria e distante Andi a alterar-se tanto. Aqueles lindos olhos castanhos brilhavam com indignação e tinha as faces vermelhas, as quais eram habitualmente pálidas.

– Talvez devesses esperar que te convidasse antes de dizeres que não – respondeu ele. – Estava a referir-me à tua ausência de vida amorosa, Andi.

Ela pestanejou e regressou à sua aparência profissional e educada enquanto voltava a sentar-se.

– Eu sei – disse.

Linus continuou a olhá-la durante vários segundos, contemplando a sua reacção defensiva.

As coisas tinham sido um pouco tensas entre eles ao começarem a trabalhar juntos, provavelmente devido a algum ressentimento compreensível da parte de Andi ao ver-se praticamente obrigada a trabalhar para ele. Mas, quando Andi tinha aceitado que Linus desejava o seu envolvimento completo no projecto e que as ausências prolongadas dele lhe davam rédea solta no que se referia à decoração interior, o desconforto entre eles começara a desaparecer. Agora, um ano mais tarde, Linus agradecia por Andi ser eficiente e discreta nas questões de negócios, tudo o que poderia desejar numa secretária.

A sua reacção naquele momento também lhe recordou que era uma mulher extremamente bonita. Os fatos que usava não conseguiam disfarçar o facto de ter curvas nos lugares apropriados, com umas pernas compridas e sexys que subiam até ao seu...

– Linus?

– Desculpa – abanou a cabeça e deixou de pensar nos atributos da sua secretária. – Partiremos para a Escócia amanhã. Para além de ver o castelo perto de Edimburgo, tenho de visitar uma pessoa.

– Edimburgo? – repetiu Andi. – Espera – olhou para ele, com perspicácia. – A equipa de râguebi escocesa não joga contra Gales este fim-de-semana?

– Acho que sim – confirmou Linus, com expressão deliberadamente inocente.

– Achas que sim... – repetiu ela.

Sabia que Linus não só jogava a sério, como também que o seu sucesso profissional se devia ao facto de trabalhar arduamente. Mas, independentemente de como fosse rico ou de como estivesse ocupado, Linus tinha mantido o seu amor pelo râguebi e, sempre que lhe era possível, assistia aos jogos da equipa escocesa.

Era impossível que não soubesse que o Torneio das Seis Nações começava naquele fim-de-semana, nem que a Escócia jogaria em casa em Murrayfield, uma zona de Edimburgo, no domingo.

– Sabes que é assim, Linus – disse Andi. – De facto, aposto que tens um bilhete para o jogo.

– Na verdade, tenho dois bilhetes.

– Também esperas que vá contigo a um jogo de râguebi?

– Porque não?

Para começar, o râguebi não lhe interessava absolutamente. Além disso, assistir a um jogo com Linus não constava do seu contrato.

– Se vais visitar amigos e pensas ir a um jogo de râguebi, não entendo para que precisas que vá contigo à Escócia.

– É a primeira vez que te peço que venhas comigo numa viagem de negócios e recusas-te?

– Eu não disse isso.

– Pareceu-me isso.

– Então, deves ter ouvido mal – contra-atacou Andi.

Linus questionou-se se, com efeito, teria ouvido mal. Andi e ele tinham trabalhado bem juntos nas vezes em que tinha vindo a Tarrington Park, mas, no aspecto pessoal, não tinham ido mais além da permissão para lhe chamar «Andi» em vez de «Andrea», como ela tinha insistido ao princípio. Uma situação que Linus considerava conveniente para ambos, até à res-posta de Andi há instantes...

– Irás à Escócia comigo ou não?

– É claro que te acompanharei, se for o que quise-res!

– O que quero de ti, Andi, é a tua contribuição no castelo que há perto de Edimburgo. Fizeste um bom trabalho em Tarrington Park. Dava-me jeito a tua ajuda. Marjorie poderá ficar sozinha durante quatro dias?

– Não está sozinha desde que contrataste a senhora Ferguson como nossa governanta – recordou-lhe Andi.

– Não me digas que continuas incomodada com isso...

Andi tinha-se zangado um pouco quando, numa das suas visitas relâmpago, seis meses antes, Linus lhe tinha informado que tinha contratado uma governanta para a casa do jardim. Não era que houvesse alguma coisa de mal em ter alguém que se ocupasse da casa, mas Andi não queria sentir-se ainda mais em dívida com ele.

A saúde da sua mãe tinha melhorado no último ano. O escândalo da bancarrota que se descobrira depois da morte do seu pai tinha acabado por desaparecer, o que permitira a Marjorie afastar-se do abismo do qual estava a aproximar-se, embora ainda estivesse mais frágil do que Andi gostaria.

Mas a sua mãe e a senhora Ferguson tinham quase a mesma idade e davam-se bem, o que significava que não era preciso que Andi se preocupasse com o facto de deixar Marjorie sozinha alguns dias.

– Não fiquei incomodada – garantiu a Linus. – Só preferia que me tivesses consultado antes de o teres feito, só isso.

– Se o tivesse feito, terias dito que não. Preferi não ter essa discussão. Tu estás muito ocupada aqui e a casa do jardim é demasiado grande para que a tua mãe se encarregue dela sozinha.

– Não te incomodes em tentar explicar-te, Linus – disse Andi. – Ambos sabemos que, aos olhos da minha mãe, tu não podes fazer nada de mal.

– O que posso dizer? Parece que agrado às mulheres de uma certa idade.

Surpreendia-a que Linus visitasse a sua mãe sempre que vinha a Tarrington Park. A atitude dele era sempre quente e atenciosa. O facto de ele ter visto a sua própria mãe a lutar para o sustentar sozinha poderia ser uma das causas do aparente afecto por Marjorie. Fossem quais fossem as razões, a sua mãe parecia gostar dele.

– Segundo os jornais, gostas de todas as mulheres em geral.

– Oh, pára, Andi... – disse ele, com o sobrolho franzido. – Não podes negar que contratar a senhora Ferguson facilitou as coisas a Marjorie.

– Eu não nego nada. A vida é sempre tão fácil para ti? Se alguma coisa não estiver bem, simplesmente, pagas para a resolver?

Criada em Tarrington Park, rodeada dos seus pais, Andi não podia sequer imaginar como teria sido a vida de Linus em criança ou em adolescente. Tinha tido muito amor, primeiro, da mãe e depois, da tia Mae, depois da morte da mãe, quando tinha quinze anos. Mas, certamente, não tivera dinheiro para «resolver» nada. Um dos benefícios da riqueza actual dele era que podia comprar tudo o que quisesse, podia fazer o que quisesse e quando quisesse. E, normalmente, fazia-o...

Andi nunca se queixara das horas extraordinárias que tinha de trabalhar para levar a cabo as alterações em Tarrington Park, mas Linus tinha sido consciente durante as suas visitas de que estava preocupada com o facto de deixar a mãe sozinha durante muito tempo. Tinha sido fácil para ele resolver esse problema, contratando uma governanta. A julgar pela forma como Andi tinha reagido, qualquer um teria pensado que ele pretendia mudar-se para a casa do jardim.

– Nem sempre se trata de dinheiro, Andrea – explicou. – Mas nada do que diga ou faça fará com que deixes de discutir tudo de forma teimosa.

– Sou independente, Linus, não sou teimosa. Há uma diferença.

– Podes permitir-te ter uma governanta? – perguntou ele.

– Sabes que não.

– Então, deixa de te queixar, porque eu posso. Pareceu-me o melhor, sobretudo, com o projecto da Escócia.

– Linus, não esperas que me mude para Edimburgo para fiscalizar as alterações, se comprares o castelo, pois não?

– Claro que não espero que te mudes para a Escócia – respondeu Linus. – Viveres lá durante algumas semanas de vez em quando, talvez, mas não te mudarás para lá.

Andi ficou a olhar para ele, de boca aberta.

– Foi essa a verdadeira razão pela qual contrataste a senhora Ferguson?

– Do que está a falar?

– Contrataste a senhora Ferguson porque sabias que, quando Tarrington Park estivesse aberta, a minha presença constante aqui já não seria necessária.

– A sério? – a voz de Linus era perigosamente suave.

– É claro!

– Andi, não sei o que fiz para te dar a impressão de que todos os meus actos são maquiavélicos.

– Porque não começamos pelo facto de me teres obrigado a trabalhar para ti?

– Isso pode mudar quando quiseres demitir-te.

Andi franziu o sobrolho e olharam-se fixamente.

Foi Andi quem desviou primeiro o olhar.

– Queres que reserve o hotel em Edimburgo para as três noites? – perguntou.

– Não nos hospedaremos num hotel em nenhuma das noites – respondeu Linus. – Já tratei dos preparativos.

– Tenho de saber onde nos hospedaremos para dizer à minha mãe onde estarei.

– Ficaremos em casa da minha tia Mae, perto de Ayr, amanhã à noite. Depois, iremos...

– Em casa da tua tia Mae? – repetiu Andi.

– Tens algum problema com isso?

Não era um problema. Mas uma reserva. Era-lhe fácil manter as distâncias a nível emocional com Linus nas suas visitas a Tarrington Park quando lidava com ele a nível profissional. Mas ficar com ele em casa de um dos seus familiares era demasiado íntimo.

– Não creio que a tua tia queira que uma das tuas empregadas esteja presente durante a tua visita.

– Pelo contrário – disse Linus. – Está desejosa de te conhecer.

– A sério?

– Claro! Quer conhecer a mulher que conseguiu suportar-me durante o último ano.

– Como tua empregada, queres dizer?

– Claro que como empregada! A secretária que mais tempo aguentou trabalhou dez meses para mim.

– Não sabia que... – a sua voz apagou-se. Era verdade que o ritmo de trabalho de Linus era tão exigente como ele, mas Andi não podia negar que o último ano tinha sido absorvente e que tinha culminado num profundo sentimento de satisfação quando Tarrington Park ficara acabada e se tornara um sucesso.

Linus encolheu os ombros.

– Não pensei que fosse importante!

– O que fizeste exactamente às minhas predecessoras? – perguntou ela.

– Absolutamente nada.

– Ah... – Andi assentiu lentamente e sentiu como os músculos do seu estômago ficavam tensos. – Deduzo que esse tenha sido o problema?

– Aparentemente – concordou ele. – Não vou para a cama com as mulheres que trabalham para mim, Andi – acrescentou, abruptamente.

– Então, estamos com sorte, porque eu não tenho nenhum interesse em ter uma relação contigo fora do escritório – respondeu ela, com frieza.

Linus não lhe teria chamado «sorte» exactamente. Andi era uma mulher extraordinariamente bela, mas, ao contratá-la, tinha posto fim à ideia de que pudesse haver alguma coisa entre eles.

Embora não pudesse negar que o seu interesse despertara minutos antes, quando Andi tinha reagido de uma maneira tão defensiva à sugestão de que pudesse haver intimidade entre eles, antes de o ter insultado no que se referia à contratação da senhora Ferguson.

– Estamos com sorte – repetiu ele.

– Certamente, Linus – acrescentou Andi, antes que ele saísse do escritório. – Talvez devesse mencionar que o meu avô materno é galês.

– Isso significa que apoiarás Gales no jogo de domingo?

– Certamente – respondeu ela, com um sorriso. – Pelo que sei, são bons.

– Sabes mais de râguebi do que pensava – murmurou ele.

– Na verdade, não. Mas lembro-me das chamadas do meu avô quando ganhavam um jogo.

– Hum... – disse Linus, franzindo o sobrolho. – Depois de dez anos, está na hora de a Escócia voltar a ganhar.

– Ou a Inglaterra. Jogam contra a Itália no sábado, pelo que sei – acrescentou ela, inocentemente.

– Vejo que nos divertiremos este fim-de-semana.

Andi não pensava o mesmo da ideia de passar quatro dias na Escócia com Linus. Consciente da sua presença física e advertida por ele mesmo de que nunca ia para a cama com as suas empregadas, esses quatro dias prometiam ser muito difíceis...

Tempestade de paixões - Uma segunda vez

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