Читать книгу Pacto de paixão - Inocente no paraíso - Maureen Child - Страница 5
Capítulo Um
Оглавление– Acho que nos deveríamos casar.
Sean King engasgou-se com a cerveja e, deixando a garrafa sobre o balcão, começou a tossir enquanto olhava para a mulher que tinha estado a ponto de o matar com cinco palavras. Ainda que ela valesse a pena. O seu cabelo era quase tão negro como o dele, os seus olhos de um azul mais claro do que o seu. Tinha os pómulos altos, as sobrancelhas arqueadas e uma expressão de feroz determinação. Exibia um vestido de verão amarelo que deixava a descoberto duas pernas fabulosas e umas sandálias com florzinhas brancas que mostravam uns dedos com as unhas pintadas de vermelho.
– Casar-nos? Não achas que antes devíamos… sei lá, jantar juntos?
Ela olhou para o empregado, como quem comprova que não estava a escutar a conversa.
– Sei que deve parecer um pouco esquisito…
Sean soltou uma gargalhada.
– Esquisito é pouco.
– Mas tenho as minhas razões.
– Ah, folgo em sabê-lo – Sean tomou outro golo de cerveja e pousou a garrafa. – Até logo.
Ela deixou escapar um suspiro.
– Chamas-te Sean King e estás aqui para uma reunião com o Walter Stanford…
Intrigado, Sean olhou-a fixamente.
– As notícias correm depressa nesta ilha.
– Ainda mais depressa quando o Walter é teu avô.
– Avô? Isso significa que tu és…
– Melinda Stanford – interrompeu ela, olhando em redor.
Para ser a neta rica e mimada do proprietário da ilha, parecia um pouco assustadiça.
– Importas-te que prossigamos a conversa numa mesa? Não quero que ninguém nos oiça.
E Sean entendia porquê. Pedir em casamento um homem que nunca tinha visto em toda a vida não era a maneira mais normal de se apresentar. Bonita, sem dúvida, mas parecia não estar boa da cabeça.
Sem esperar resposta, Melinda dirigiu-se a uma mesa desocupada. Sean observou-a, tentando decidir se devia segui-la ou não.
Trinta anos antes, o bar do hotel devia ser o mais luxuoso da ilha, mas esses dias de glória tinham passado. Os soalhos de madeira estavam tão carcomidos que nem várias capas de verniz poderiam dissimulá-lo. As paredes precisavam de várias demãos de pintura. Ainda que restasse um ou outro laivo art deco, pensou Sean. Os espelhos redondos, as mesas retangulares com rendilhados ou apliques nas paredes estilo Tiffany. Era um lugar lindo, mas estava a precisar de obras.
Se fosse seu, Sean derrubaria a parede da entrada para substituí-la por uma de vidro, desse modo os clientes teriam uma fabulosa panorâmica do mar. Conservaria o estilo art deco. Deformação profissional, pensou.
Mas aquele bar não era seu e havia uma mulher linda, ainda que estranha, à sua espera.
Como só tinha o encontro com Walter Stanford no dia seguinte e tinha várias horas livres… Sean sorriu para si mesmo enquanto se sentava diante dela, esticando as pernas.
Segurando a garrafa de cerveja sobre o estômago, inclinou a cabeça de lado para estudá-la em silêncio durante uns segundos, esperando que se explicasse. E não teve de esperar muito.
– Sei que vieste cá para comprares o lote de North Shore.
– Não é segredo nenhum – disse ele, tomando outro gole de cerveja. – Certamente todos na ilha sabem que os King estão a negociar com o teu avô.
– Sim, é verdade – assentiu Melinda, pondo as duas mãos sobre a mesa. De alguma forma, conseguia ter um aspeto cândido e incrivelmente sexy ao mesmo tempo. – Lucas King esteve cá há dois meses, mas não chegou a acordo com o meu avô.
Irritante, mas verdade, pensou Sean. De facto, ele também tinha tido uma conversa telefónica com Walter e não tinha corrido bem. E essa era a razão pela qual tinha ido ali em pessoa.
Tesouro era uma das ilhas privadas mais pequenas das Caraíbas e Walter Stanford, que era praticamente um senhor feudal ali, tinha investimentos na maioria dos negócios e vigiava a ilha como um pastor alemão.
O seu primo, Rico, queria construir ali um exclusivo resort com a ajuda da construtora King, que pertencia a Sean e aos meios-irmãos, Rafe e Lucas. Mas antes tinham de conseguir o lote, de maneira que andavam há meses a tentar convencer Stanford de que um hotel da cadeia King seria ótimo para a ilha porque criaria postos de trabalho e atrairia turistas endinheirados.
Rico tinha estado ali pessoalmente para falar com Stanford, seguido de Rafe e Lucas, mas nenhum dos três tinha conseguido nada. De maneira que era a vez de Sean, cujo encanto e simpatia costumavam convencer qualquer um.
– Eu não sou o Lucas – disse-lhe. – E farei um acordo com o teu avô, garanto-to.
– Não contes com isso, é muito casmurro – replicou Melinda.
– Não conheces os King. Nós inventámos o termo «casmurro».
Suspirando, Melinda inclinou-se um pouco para diante e o decote do seu vestido abriu-se, permitindo-lhe ver um sutiã de renda.
– Se queres mesmo o lote, há uma maneira de consegui-lo.
Rindo, Sean abanou a cabeça. Sim, era lindíssima, mas ele não estava à procura de esposa. Conseguiria o lote à sua maneira e não precisaria da ajuda de ninguém.
– A única maneira de consegui-lo é casando-me contigo?
– Exatamente.
– Não falas a sério, pois não?
– Completamente a sério.
– Estás a tomar medicação? – troçou Sean.
– Não, ainda não – respondeu ela. – Olha, o problema é que o meu avô está a fazer campanha para me ver casada e com filhos.
Sean fez uma careta. Os seus irmãos e muitos dos seus primos e amigos tinham-se casado ultimamente, mas ele não tinha intenção de o fazer. Já tinha passado por isso e tinha sobrevivido para o contar. Ainda que ninguém da sua família soubesse nada sobre o seu breve e desastroso casamento.
E não se pensava casar outra vez.
– Pois então boa sorte – disse-lhe.
Mas quando se ia levantar da cadeira, ela deu-lhe o braço e o arrepio que lhe provocou o toque da sua mão apanhou-o desprevenido…
E ela também parecia ter sentido algo porque desviou a mão de imediato.
Não importava, pensou Sean. Podia sentir-se atraído por uma mulher sem fazer nada a esse respeito. De facto, não se deixava levar pelo seu membro viril desde que tinha dezanove anos.
– Ao menos podias ouvir-me – insistiu Melinda.
Franzindo a testa, Sean voltou a sentar-se. Não estava interessado no que pudesse dizer, mas para quê arriscar-se a ofender um membro da família Stanford?
– Muito bem, sou todo ouvidos.
– Quero que te cases comigo.
– Sim, isso já eu sei, mas porquê?
– Porque é o mais lógico.
– Em que universo?
– Tu queres o lote para que o teu primo construa um hotel e eu quero um marido temporário.
– Temporário?
Ela riu suavemente, um som rico e musical, o cabelo negro flutuando em redor da cara como uma auréola.
– Pois claro – respondeu. – Pensavas que te estava a propor um casamento para a vida? Com um homem que não conheço?
– Foste tu quem me propôs casamento inclusive antes de me dizeres o teu nome.
– Sim, bom… – Melinda ficou séria. – A questão é que quando vires o meu avô, ele vai sugerir a venda do lote em troca deste casamento.
– Como sabes?
– Porque já tentou quatro vezes.
– Não tentou com o Lucas ou o Rafe.
– Porque eles já são casados.
– Ah, é verdade. Porque estaria a tentar dar sentido àquela loucura?
– O meu avô oferecer-te-á a venda do lote; em troca casas comigo e eu peço-te que aceites. Será um casamento temporário.
– Durante quanto tempo? – Sean não podia crer que estivesse a fazer essa pergunta. Ele não queria uma esposa, temporária ou não. O único que queria era comprar o lote.
Melinda franziu a testa, pensativa.
– Eu acho que dois meses seriam suficientes. O meu avô acha que inclusive um casamento arranjado poderia converter-se em algo real caso se lhe dê tempo, mas eu não.
– Também acho – assentiu Sean.
– Mas se fôssemos casados, ainda que só durante dois meses, o meu avô pensaria que tentámos e, simplesmente, não correu bem.
– E elegeste-me a mim como marido temporário… porquê?
Ela recostou-se na cadeira, tamborilando sobre a mesa com os dedos. Tentava parecer composta e calma, mas não podia dissimular o nervosismo.
– Tenho andado a pesquisar-te um pouco.
– O quê?
– Ouve, não vou casar com qualquer um.
– Ah, pois claro – disse ele, irónico.
– És formado em Ciências Informáticas e, ao terminares a carreira, meteste-te no negócio com os teus meios-irmãos. És um técnico, mas também és aquele a quem todos acodem quando há problemas – Melinda fez uma pausa e Sean olhou-a, perplexo. – Vives numa antiga torre de água remodelada em Sunset Beach, Califórnia, e adoras as bolachas que a tua cunhada faz.
Franzindo a testa, Sean tomou outro gole de cerveja. Não gostava nada que o tivesse pesquisado.
– Não te interessam os compromissos – prosseguiu ela. – És um monógamo compulsivo…
– Quê?
– Que andas com uma mulher atrás de outra. As tuas ex-namoradas falam bem de ti e isso diz-me que és boa pessoa, ainda que não sejas capaz de manter uma relação.
– Desculpa? – Sean não saía do seu assombro.
– A tua relação mais longa foi na universidade e durou nove meses, mas não consegui descobrir o que se passou…
E não o faria, pensou ele, que já tinha tido mais do que suficiente. Bonita ou não, estava a começar a exasperá-lo.
– Bom, acabou-se – disse-lhe. – Conseguirei o lote e fá-lo-ei à minha maneira. Não estou interessado nos teus enredos, de modo que tenta com outro, bonita.
– Espera aí… – Melinda olhava-o com uns olhões azuis e Sean vacilou. – Sei que tudo isto soa muito esquisito e desculpa se te ofendi.
– Não me ofendeste – assegurou ele. – Mas não estou interessado.
Melinda sentiu uma onda de pânico. Tinha metido a pata na poça, mas não podia arriscar a que Sean King a recusasse.
– Deixa que comece de novo, por favor.
Sean olhou-a, receoso, mas não se levantou da cadeira e isso pareceu-lhe um bom sinal. Mas por onde começar? Desde que soube da visita de Sean King tinha andado a planear emboscá-lo, daí que tivesse pesquisado a sua vida. Mas não tinha pensado como ia explicar tudo aquilo sem parecer uma demente.
– Bom, deixa-me começar outra vez – Melinda respirou profundamente. – A questão é que quando me case terei acesso a uma verba com a qual poderei viver toda a vida. Adoro o meu avô, mas ele é um homem muito antiquado que acha que as mulheres têm de se casar e ter filhos. Não para de me procurar marido e pensei que se pudesse escolher eu…
– Muito bem, isso eu entendo – interrompeu Sean. – Mas porquê eu?
– Porque isto nos beneficiaria aos dois – respondeu ela. – Tu consegues o lote e eu consigo a verba.
Ele fez uma careta, nada convencido.
– Poderia pagar pelo teu tempo – sugeriu Melinda.
– Não penso aceitar que me pagues para me casar contigo – replicou Sean, indignado. – Não preciso do teu dinheiro.
Essa reação disse-lhe que tinha escolhido bem. Milhares de homens teriam aceitado tal proposta, mas o seu fideicomisso, por importante que fosse para ela, certamente não era mais que uns trocos para Sean King. E ao sentir-se ofendido com a proposta deixava claro que era um homem com personalidade.
– Muito bem. Mas o teu primo e tu querem construir um hotel em Tesouro, não querem?
– Sim.
– E para isso, precisam de um terreno.
– Claro.
– E para conseguir o lote precisam de mim. Sei que não acreditas, mas deverias – disse Melinda ao ver que não parecia convencido. – Combinaste com o meu avô de manhã, não foi?
– Vejo que sabes tudo.
– Por que não jantamos juntos esta noite? Talvez assim te possa convencer.
Sean esboçou um meio sorriso que a fez engolir em seco. Era um homem muito bonito que transpirava encanto e…
E aquilo poderia ser perigoso, pensou com os seus botões.
– Jantar, eh? – repetiu ele, deixando a cerveja sobre a mesa. – Muito bem, eu nunca recuso a oportunidade de jantar com uma mulher bonita. Mas advirto-to: não estou interessado em casar.
– Eu sei. Por isso é que és perfeito.
Sean abanou a cabeça, rindo.
– Ainda não percebi se estás louca ou não.
– Não, não estou louca. Simplesmente, sou decidida.
– Bonita e decidida – murmurou ele. – Uma combinação perigosa.
– Há um restaurante muito bom na ilha: Diego’s. Vemo-nos lá às oito.
– Às oito no Diego’s – recordou-lhe ele, levantando-se.
Melinda observou-o enquanto se afastava. Era alto e fibroso e movia-se com a graça dos homens seguros de si mesmos. Na realidade, Sean King era mais do que tinha imaginado.
Só esperava que não fosse mais do que ela pudesse lidar.
– Que sabes da Melinda Stanford, Lucas? – Sean estava no cais, a contemplar os barcos de pesca dirigindo-se ao porto, com o smartphone colado à orelha.
– É a neta do Walter – respondeu o meio-irmão.
– Sim, isso já eu sei.
– E o que mais te interessa dela?
– Conheceste-a na ilha?
– Só a vi durante um instante – respondeu Lucas. – A minha estadia foi muito breve.
– Pois – assentiu Sean, pensativo.
– Temos problemas? O famoso encanto de Sean King não está a funcionar?
– Nem sonhes. Disse-te que conseguiria o lote e fá-lo-ei.
– Então boa sorte com o velho. Acho que está imunizado contra o encanto pessoal.
– Isso é o que vamos ver – disse Sean.