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Capítulo Dois

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– Um lugar muito romântico para tratar de um assunto de negócios – comentou Sean enquanto se sentava diante dela.

Melinda fez um esforço para sorrir, ainda que não lhe apetecesse. Aquilo era demasiado importante e não devia cometer um único erro. Tinha de convencer Sean King para que se casasse com ela…

– Não era minha intenção procurar um lugar romântico, só queria que estivéssemos sossegados.

– Pois conseguiste ambas as coisas – disse Sean.

O empregado foi nesse momento tomar nota do pedido e os dois olharam para a ementa antes de pedirem o jantar. Sean pediu-lhe um copo de vinho e apoiou os braços na mesa, à espera. A sua expressão permanecia inescrutável e Melinda não sabia se era bom ou mau sinal. Mas só havia uma forma de descobrir.

– Sinto muito ter-te soltado aquilo de repente.

Sean encolheu os ombros.

– Não acho que haja uma boa forma de propor casamento a um estranho.

– Sei que tudo isto te deve parecer muito estranho, mas deves entender que o meu avô é muito protetor comigo porque sou a única neta.

– Tanto que tenta casar-te à força toda?

Melinda ergueu-se na cadeira. Ela podia queixar-se tudo o que quisesse do avô, mas não deixaria que ninguém, especialmente alguém que não o conhecia, se metesse com ele.

– Só me tenta proteger, à sua maneira.

– E se tu fosses uma tímida donzela da Idade Média, entenderia – replicou Sean.

Aquilo não tinha começado bem, mas Melinda decidiu ignorar os comentários. Não entendia e era lógico.

– Os meus pais morreram num acidente de avião quando eu tinha cinco anos e o meu avô ocupou-se de mim desde então.

– Ai, lamento, não sabia.

Sean franziu a testa enquanto tomava o copo de vinho que o empregado acabava de deixar sobre a mesa, mas Melinda continuava sem saber o que pensava porque a sua expressão era inescrutável. Ela, em troca, costumava ser direta e sincera… bom, não estava a ser exatamente sincera com o avô, mas há anos que o tentava fazer mudar de opinião e era impossível.

– O meu avô pertence a uma geração que acredita em proteger as mulheres e está a fazer-se velho – Melinda suspirou. – Tu vens de uma grande família e tens uma relação muito estreita com os teus irmãos. Essa é outra razão pela qual te contei os meus planos, pois entendes a lealdade familiar.

– Sim, é verdade – admitiu ele. – Entendo os motivos do teu avô, o que não entendo é por que estás tu disposta a aceitar essa imposição.

Melinda puxou a bainha do vestido, mas não conseguia que lhe cobrisse os joelhos.

– Porque o adoro e não quero que se preocupe…

– E?

Tinha razão, havia mais uma coisa.

– E como te disse, uma vez casada terei acesso ao meu fideicomisso.

– E casando-te comigo, não te preocupará que o teu novo marido fuja com o dinheiro.

– Exatamente – assentiu ela.

– E quanto duraria o casamento?

– Já te disse, dois meses – respondeu Melinda, mais animada. Há meses que esboçava o plano e, de momento, Sean King permanecia sentado diante dela. Não tinha dito que sim, mas também não se tinha levantado e ido embora.

– É tempo suficiente para convencer o meu avô de que ao menos tentámos.

– E quando o nosso casamento «fracassar», achas que tentará deixar de te casar?

– Sim, acho que sim – Melinda mordeu os lábios. – Espero que sim. Estou cansada dos homens que tentam ganhar o favor do meu avô. Além do mais, esta é minha única possibilidade de conseguir o fideicomisso à minha maneira. Serei casada, como ele quer, mas será um marido escolhido por mim e o tipo de casamento que eu quero.

– Estou a ver.

A brisa agitava a franja de Sean, levantando-a.

– Se aceitares, divorciar-nos-emos passados dois meses – prosseguiu Melinda. – Eu conseguirei o meu fideicomisso, tu conseguirás o teu lote e depois divorciar-nos-emos. Que te parece?

Sean ainda estava convencido que aquela jovem tomava algo que não devia tomar. E no entanto…

Passando um braço pelas costas da cadeira, estudou-a atentamente.

Uma noite quente, vinho fresco e uma bela mulher sentada em frente dele. No seu mundo, tudo isso soava lindamente. Melinda Stanford era perfeita. Era linda, disso não tinha a menor dúvida. Mas talvez estivesse um pouco maluca.

Ainda que isso não significasse que não fosse tomar em consideração a sua proposta. De facto, há horas que matutava nela.

O seu avô, Walter Stanford, tinha recusado todas as ofertas da construtora. Não estava interessado, por alta que fosse a verba que lhe oferecessem. Ou não lhe interessava mesmo o dinheiro ou estava tão louco como a neta. Mas não, o velho não estava louco. Era muito astuto.

Walter sabia o que queria e não estava disposto a aceitar menos. Como podia um King criticar isso? Eles faziam o mesmo; jamais aceitavam uma negativa e nunca desistiam quando queriam algo.

Sean sorriu ao pensar que certamente Walter e ele se dariam às mil maravilhas.

– Porque sorris? – perguntou-lhe Melinda.

– O quê?

– Estás a sorrir.

Parecia incomodada, como se achasse que se estava a rir da sua oferta. Uma oferta que talvez tivesse feito já a outros homens, pensou então.

– Quantas vezes já tentaste isto? – perguntou-lhe.

Melinda franziu a testa.

– Tu és o primeiro.

– E porquê eu?

– Já te disse, tenho andado a ler coisas sobre ti.

– Sim, mas devias ter decidido antes que eu seria o candidato ou não te terias incomodado a fazê-lo. Ela mordeu os lábios.

– Eu sabia que o meu avô estava em negociações contigo e quando vi uma fotografia tua numa revista… enfim, pareceu-me que tinhas um rosto afável.

– Afável? – repetiu ele. – Um gatinho é afável, um velhinho é afável. Os homens, especialmente os King, não são afáveis.

– Já estou a ver – murmurou Melinda.

Tinham-lhe chamado divertido, bonito, inteligente e algumas vezes frio ou distante. Mas nunca afável. Que fotografia sua poderia ter-lhe dado essa impressão?

– Onde viste essa fotografia?

– Numa revista de mexericos – Melinda tinha corado, como quem se envergonha de reconhecer que tinha lido uma dessas publicações. – Estavas num jogo de futebol com um dos teus irmãos…

Sean assentiu com a cabeça.

– Com o Lucas. Todos os anos vamos juntos ao primeiro jogo da temporada.

Mas se a sua secretária não lhe tivesse mostrado a foto, não teria sabido. Ele nunca prestava atenção aos fotógrafos, sempre pendentes da família King.

– Na fotografia estavas a sorrir e parecias muito simpático.

– Bom, isso é melhor do que afável.

Em geral, Sean tinha uma atitude descontraída nos negócios, algo para o qual os seus oponentes nunca estavam preparados. Mas no que se referia às mulheres, a maioria não o descreveria como afável. Ou, pelo menos, era o que esperava.

– A questão é que parecias um homem com o qual poderia falar disto e quando descobri que virias à ilha pessoalmente decidi…

– Decidiste mentir ao teu avô.

– Não lhe vou mentir porque na realidade casar-nos-íamos.

Sean teve de dissimular um sorriso. Aparentemente, Melinda Stanford jogava com regras próprias e isso era algo que admirava. Inclusive podia ver que, do seu ponto de vista, ele era o marido temporário perfeito.

O jantar chegou antes que pudessem dizer mais nada e, durante uns minutos, concentraram-se nos pratos. A comida era excelente, o ambiente melhor ainda e a linda mulher que tinha diante era ouro sobre azul.

Melinda não parecia disposta a preencher o silêncio com uma conversa incessante e Sean começava a descontrair. Não era um silêncio incómodo, pelo contrário. Era como se fossem uma equipa…

Uma equipa?

– Tens vivido aqui toda a vida? – perguntou-lhe.

– Desde os cinco anos – respondeu ela, voltando a cabeça para o mar. A maré tinha descido e havia um casal a passear pela areia, ao luar. – É uma ilha linda e, como o meu avô não permite que os grandes cruzeiros atraquem aqui, os clientes costumam ser gente endinheirada que procura intimidade.

– Eu sei – Sean assentiu, sorrindo. – Os King também fazem os seus trabalhos de casa.

– Então saberás que Tesouro é o lugar perfeito para construir o resort – disse ela, deixando o garfo e a faca sobre o prato.

– Estou de acordo.

Era mais que perfeito, quase como se tivesse sido desenhado especificamente para se ajustar aos seus planos. O hotel de Rico no México era muito moderno, lindo e elegante, mas o de Tesouro seria diferente. O seu primo queria fazer algo especial, algo de que todo o mundo falasse.

E com a construtora King atrás, assim seria. O projeto básico já estava feito, a equipa preparada para partir para a ilha. O único de que precisavam era o beneplácito de Walter Stanford.

– Também seria bom para Tesouro – disse Melinda. – Temos uma pequena construtora na ilha, o meu avô criou-a há vinte anos e acho que seria uma grande ajuda para a tua.

– Sim, claro.

Sean também sabia disso. Naturalmente, os King levariam os seus próprios homens, mas contratar gente da ilha faria com que as coisas se mexessem mais depressa e criaria boas relações com os ilhéus.

Tudo seria perfeito… se não se importasse de casar com ela para o conseguir.

Os olhos de Melinda brilhavam à luz das velas e o seu sorriso era tão bonito que Sean teve de fazer um esforço para não o beijar…

– Estás a ouvir?

– O quê? Sim, pois claro, a construtora.

– Estava a dizer que isto poderia ser bom para todos. Tu consegues o lote para o hotel, a população de Tesouro conseguiria postos de trabalho e…

– E tu consegues o fideicomisso.

– Isso mesmo – Melinda tomou um gole de vinho.

– Que me dizes? Casas comigo?

Duas palavras que o faziam sentir um arrepio. Sean tinha jurado não voltar a cometer o erro de se casar, mas aquilo era diferente.

A primeira vez que disse: «Sim, quero» tinha sido um desastre. Desta vez conseguiria algo para além de um divórcio rápido. Desta vez, ele deteria o controlo. Seria ele a dizer quanto tinha terminado, ele a dar meia volta.

E desta vez, o seu coração não estaria envolvido.

De maneira que assentiu com a cabeça.

– Muito bem, temos um acordo.

O sorriso de Melinda deixou-o sem ar.

Ela deu-lhe a mão e, como tinha ocorrido na primeira vez, assim que roçou a sua pele sentiu uma descarga que lhe subiu pelo braço até lhe chegar ao torso, fazendo com que lhe batesse o coração.

Se Melinda tinha sentido o mesmo não se notava, de maneira que tentou dissimular, lutando contra uma atração que era mais poderosa do que teria esperado.

– Só há mais uma coisa – disse ela então.

– O quê?

– Nada de sexo.

Sean observou-a em silêncio durante um longo minuto até que, por fim, Melinda teve de afastar o olhar.

Aquela era uma experiência nova para ele. A maioria das mulheres mostrava-se interessada em conhecê-lo… inclusive tinha recusado uma jovem muito bonita no bar do hotel umas horas antes. Mas o seu cabelo loiro e os seus olhos castanhos não o tinham atraído nada porque não deixava de pensar em Melinda Stanford.

A mulher que se queria casar com ele, mas não ir para a cama com ele.

Que se estava a passar? Não podia ter imaginado a atração que havia entre eles. E por sinal, não estava a imaginar a dimensão do seu próprio desejo por aquela mulher. Se se tivessem conhecido noutro lugar, noutras circunstâncias, teria tentado seduzi-la para que passassem juntos o fim de semana. E não tinha a menor dúvida de que tê-lo-ia conseguido.

Então qual era o problema?

– Nada de sexo – repetiu Sean.

– Para quê complicar as coisas? Este é um acordo benéfico para os dois, mas não um casamento a sério, de modo que não vejo motivo para…

– …irmos para a cama.

– Isso mesmo – assentiu Melinda.

– Ah, ena, isto está a melhorar – murmurou Sean.

– São só dois meses – recordou-lhe ela. – Não acho que isso te vá matar.

– Acho que conseguirei controlar-me – disse ele, trocista. Ainda que devesse admitir que não seria uma festa. Desejava-a e ser casado com ela… a atração aumentaria com o contacto?

Talvez devesse ligar a Rico para lhe perguntar se estava disposto a construir o resort noutro lugar. Mas ele sabia que era Tesouro ou nada. Aquele lugar era perfeito para o que queriam.

Qualquer um que quisesse fazer negócios ali tinha que lidar com Walter Stanford e Stanford era um homem que conhecia o valor da privacidade, o qual era perfeito para o resort que tinham em mente. Os multimilionários iriam ali para desfrutar longe dos grupos massificados de turistas e, sobretudo, dos paparazzi.

Tudo era perfeito.

Salvo pelo assunto do casamento.

– Além do mais… – começou ela a dizer.

– Há mais? Tens uma masmorra na qual me pensas encerrar? Ou talvez queiras que viva a pão e água durante os próximos dois meses.

– Não digas parvoíces.

Sean abanou a cabeça.

– Queres que nos casemos e vivamos juntos, mas vais-me privar do mais divertido do casamento.

Melinda pigarreou, nervosa, e Sean soube que sentia o mesmo que ele. Quanto tempo aguentaria a regra do celibato?, perguntou-se, sem poder dissimular um sorriso. Aquilo começava a ficar interessante.

– Não vamos fazer isto por diversão…

– Claramente.

– E há outra coisa… esta é uma ilha muito pequena, de modo que não te poderias deitar com mais ninguém. O meu avô descobri-lo-ia em seguida.

Sean ficou tenso.

– Quando dou a minha palavra, cumpro-a.

Melinda assentiu com a cabeça.

– Só queria que ficasse claro.

– Está claro, não te preocupes.

– Então vamos em frente?

Sean olhou-lhe para os olhos azuis e disse a si mesmo que era um erro, mas não encontrava outra maneira de conseguir o que queria.

– Sim, vamos em frente.

Não podia acreditar que fosse fazê-lo. Não podia crer que ia casar outra vez. E o casamento não seria mais real do que o anterior.

Mas ao menos tinha a certeza de que o casamento não significaria nada.

Pacto de paixão - Inocente no paraíso

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