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Capítulo Quatro
Оглавление– Vais fazer o quê?
– Vou-me casar – repetiu Melinda, esperando sentir uma onda de pânico. Mas não foi assim e era muito estranho porque se alguém tivesse direito a sentir pânico, era ela.
Após a reunião entre Sean e o seu avô, tinha passado cinco minutos com o homem que em breve seria seu marido, mas Sean mal tinha falado; só lhe disse que ligaria no dia seguinte. E de momento ainda não tinha ligado. Embora ainda houvesse muito tempo, naturalmente.
Então, porque tinha o estômago encolhido e lhe custava tanto respirar?
Tinha passado a noite sentada no terraço da suite, olhando o mar. O vento ondulava suavemente as folhas das árvores, levando-lhe um delicioso aroma a jasmim, mas isso não conseguira sossegá-la.
E ela sabia porquê.
Sean King era demasiado atraente. Afetava-a como nunca a tinha afetado nenhum homem desde Steven e admitir isso deveria ser suficiente para recuar. Mas não o podia fazer se queria a sua independência.
De maneira que ali estava, em casa da amiga, tentando convencer-se a si própria de que tudo ia correr bem. O problema era que após pôr tudo em andamento, começava a sentir-se encurralada. O seu avô estava contente; Sean… bom, não sabia o que Sean sentia. E ela estava angustiada, mas decidida.
– Não posso crer – disse Kathy Clark, a sua melhor amiga e a única pessoa com quem podia falar daquilo. – Tu própria me disseste muitas vezes que o que o teu avô tentava fazer era medieval.
– Eu sei, mas…
– E juraste que se voltasse a tentar casar-te outra vez sairias da ilha.
– Sim, pois…
– E disseste que não te podias casar com ninguém porque continuas apaixonada pelo Steven.
Melinda franziu a testa. Kathy nunca tinha gostado de Steven e não sabia porquê, embora tanto fizesse.
– Quem é esse homem misterioso e porque aceitaste uma coisa quando tinhas jurado nunca a aceitar?
– Isto é diferente. O meu avô não mexeu os cordelinhos, fui eu.
A amiga pestanejou, atónita.
– Isso é que eu não entendo.
Rindo, Melinda pegou na filha de Kathy ao colo.
– Faz todo o sentido, Kath. Vou casar-me com o Sean e assim conseguirei o meu fideicomisso. E depois divorciamo-nos. Simplesmente assim – Melinda deu um beijo a Danielle e sorriu quando a menina começou a dar palmadinhas.
– Casar-se, ainda que seja temporariamente, é algo muito importante. E às vezes os divórcios não são tão lineares. Tens a certeza do que vais fazer?
– Pois claro que tenho. Não haverá nenhum problema com o divórcio porque os dois obtemos o que queremos: Sean, o lote para construir o hotel; e eu, o meu fideicomisso. É o melhor que posso fazer.
– Que mundo tão estranho se casar com um estranho é o melhor que podes fazer.
– Não é um estranho. Andei a ler coisas sobre ele.
– Ah, bom, então nesse caso… – Kathy levantou os olhos para o céu. – Em vez de o teu avô te vender a quem der mais, pões-te tu no mercado.
– E consigo um preço muito melhor – troçou Melinda. – A sério, vai correr tudo bem. Casar-me-ei, conseguirei o meu fideicomisso e depois voltarei a ser livre.
– Pois.
– O Sean está de acordo, inclusive quando lhe disse que não haveria sexo.
– Ah, a coisa está a melhorar.
– Isso foi o que ele disse – Melinda ajeitou o lacinho que Danielle usava no cabelo.
– Sean que mais? Quem é o felizardo?
– Sean King.
Kathy olhou-a, boquiaberta.
– Sean King? O que aparece nas revistas? O multimilionário? O que tem o cabelo preto, os olhos azuis e um traseiro estupendo?
Rindo, Melinda tapou as orelhinhas de Danielle com as mãos.
– Kath!
– Não posso crer…
Kathy colocou o seu filho mais novo, Cameron, na cadeirinha e levantou-se para servir mais café.
– Acho que te vais enfiar num belo sarilho, querida.
– Não vai acontecer nada – insistiu Melinda, ainda que ver a preocupação da amiga lhe aumentasse a ansiedade. Era natural que Kathy reagisse assim. Tom e ela adoravam-se, de modo que um casamento de conveniência devia-lhe parecer uma loucura.
– Sean King é um homem famoso que anda com montes de mulheres.
– Sim, mas…
– É rico, giríssimo e provavelmente arrogante. A maioria dos homens como ele é…
– E dizes isso porque tu conheces muitos homens como Sean King?
– Não tenho de os conhecer pessoalmente para saber que são assim.
Melinda pestanejou.
– Sim, bom, tens razão.
Kathy tomou um gole de café, pensativa.
– Só digo que poderias estar a ponto de te meter em algo para o qual não estás preparada.
Danielle começou a remexer-se e Melinda pô-la no chão para que fosse brincar com os seus brinquedos. Kathy e ela eram amigas desde que a sua família se mudou para a ilha quinze anos atrás. Kathy tinha-se casado com um homem natural de Tesouro e Melinda era a madrinha dos seus dois filhos. A casa era um caos, totalmente diferente da elegante suite na qual ela vivia, mas aquela casinha sempre lhe parecera muito acolhedora e repleta de amor. Uma vez, ela tinha sonhado com ter um lugar assim, uma vida assim, com um marido e uns filhos. Mas esse sonho morreu com Steven um ano antes e Melinda tinha-o enterrado juntamente com o noivo.
Naquele momento, o único que queria era a sua independência e a oportunidade de viver a vida que sempre tinha desejado sem ter de dar explicações ao avô. Walter Stanford adorava-a, mas tinha por costume imiscuir-se na sua vida.
– Eu sei o que estou a fazer, Kathy.
– É o que espero – a amiga suspirou. – Bom, quando é o casamento?
– No próximo sábado. E tu serás a dama de honor.
– No próximo sábado? – repetiu Kathy, com cara de susto. – Não posso perder cinco quilos numa semana!
Sorrindo, Melinda ouviu a sua amiga falar de manicuras, vestidos e amas para esse dia.
Preocupada ou não, Kathy estaria ao seu lado, mas as advertências da amiga fizeram com que se perguntasse se estava tão certa do que ia fazer como aparentava.
Os dias seguintes passaram a toda a velocidade.
Ou pelo menos fora isso que parecera a Sean. Não viu muito Melinda, mas porque haveria de o fazer? Aquilo era só um acordo entre os dois e dedicou-se a explorar a ilha para esquecer que estava a ponto de se casar.
A construtora Stanford era pequena, mas pareciam sérios e responsáveis. Além do mais, contratar gente da ilha faria com que a invasão dos King fosse melhor vista pelos locais.
Conduziu pelas estradas da ilha, comprovando que algumas zonas de Tesouro eram ermas enquanto a maioria estava coberta de mato, flores e cascatas. Não havia aeroporto, mas Sean sabia que os seus irmãos quereriam construir uma pista de aterragem para as suas avionetas e havia uma clareira perto do hotel que serviria… se pudesse convencer Walter.
De outro modo, a única forma de chegar à ilha era ir de avioneta até St. Thomas e depois apanhar uma lancha. Se pudessem construir uma pista de aterragem, tudo seria mais fácil para os ricos clientes que pensavam atrair ao hotel.
Mas de momento, contentou-se com explorar o povoado. Tesouro era uma das ilhas privadas maiores das Caraíbas, uns três mil acres de lindas praias, flores e matas.
E o povoado era tão pitoresco que mais parecia que andava a passear por um postal. Cada loja estava pintada de uma cor diferente: azul, rosa, verde…
Havia uma imensos vasos com flores flanqueando os passeios e a vista de cima devia ser como um arco íris.
Para um homem acostumado a viver no sul da Califórnia, um lugar cheio de ruído e de gente, era como estar em Brigadoon.
Sean sorriu para si mesmo. Não conheceria esse filme se não fosse pela mulher de Lucas, que o estava a ver uma tarde, quando foi jantar a sua casa. Em troca do jantar, Rose tinha-o obrigado a ver o filme com ela.
De modo que aquele povoado mágico na Escócia, onde todos eram felizes, parecia-lhe uma comparação apropriada.
Sean deteve-se para contemplar aquela povoação tão tranquila e sentiu um arrepio ao imaginar hordas de turistas com câmaras ao ombro…
Não, era melhor assim, pensou, desfrutando do silêncio e da brisa. O vento quase constante de Tesouro evitava o calor e os insetos. E isso faria com que os seus clientes se sentissem muito felizes ali.
Sean passeou pelas ruas, vendo montras e tirando fotografias com o smartphone para enviar aos irmãos. Rafe e Lucas já tinham estado ali, mas as reuniões com Walter tinham terminado tão rápido que não tiveram tempo de visitar Tesouro. Fora Rico quem tinha estado na ilha anos antes e desde então sempre quisera voltar.
E ele não tinha entendido a fascinação do primo até então. Havia algo em Tesouro que relaxava a tensão; uma tensão da qual Sean não se apercebera até àquele dia.
Sean abanou a cabeça, dizendo-se que esses pensamentos tão estranhos se deveriam aos nervos do casamento. Ele tinha mais razões para estar nervoso do que a maioria dos noivos. Afinal, não se ia casar pelas razões habituais.
Dois meninos chocaram com ele e Sean sorriu de novo. Inclusive os postais vivos tinham alguns problemas e isso fazia com que o lugar lhe parecesse mais real.
Deteve-se em frente a uma ourivesaria para olhar para a montra. Havia diamantes, rubis e outras pedras preciosas. Mas também essas pedras de um azul-esverdeado que Melinda tinha usado na noite em que jantaram juntos e selaram o acordo.
– Não há casamento sem anel – murmurou.
Falso casamento ou não, tinham de fazer com que parecesse real, de maneira que empurrou a porta do local. Sem prestar atenção às pulseiras de ouro e aos colares de pérolas, foi diretamente ao balcão onde guardavam as pedras azuis-esverdeadas.
Um homem idoso de cabelo grisalho e olhos permanentemente semicerrados, talvez por anos a fio de uso da lupa, chegou-se a ele com um sorriso nos lábios.
– Você deve ser Sean King.
– Vejo que as notícias correm como a pólvora em Tesouro.
– É uma ilha pequena e o casamento de Melinda Stanford é uma grande notícia.
– Sim, imagino.
Ali não havia paparazzi, mas os mexericos passavam de boca em boca. E era normal. Todos em Tesouro conheciam Melinda e era lógico que estivessem interessados no seu surpreendente casamento.
– É um prazer conhecê-lo – disse Sean, oferecendo-lhe a mão.
– Igualmente, senhor King. Sou James Noble e esta é a minha ourivesaria.
– Tem algumas coisas muito bonitas. E como sabe que me vou casar com a Melinda, saberá também que preciso de um anel.
– Naturalmente. Está à procura de algo especial?
– Pois… – Sean assinalou uma bandeja sob o vidro do balcão. – Aquelas pedras são muito originais.
E já sabia que ficariam lindamente a Melinda. Claro que tudo lhe ficava lindamente. Melinda Stanford era linda e elegante. Quando caminhava, Sean ficava hipnotizado pelo movimento das suas ancas. Quando sorria, só podia pensar em beijá-la. De facto, ocupava grande parte dos seus pensamentos.
– Claro que sim – estava a dizer James. – O topázio de Tesouro só se encontra nesta ilha e nós somos os únicos que o vendemos.
– O topázio de Tesouro? – repetiu Sean.
– É uma pedra que se forma aqui, em Tesouro, devido à atividade vulcânica. Quanto a só se encontrar aqui, acho que tem a ver com a terra da ilha.
– Parece que tem dado várias vezes esse discurso antes.
– Com frequência – assentiu o homem. – Mas à maioria das pessoas só importa o topázio, não como se formou.
– A pedra é bonita, mas o rendilhado deste anel é espantoso – disse Sean, pegando num de ouro com um trabalho tão intrincado que quase parecia de renda.
– Ah, sim, é de uma artista local. Faz uns trabalhos espantosos que se vendem muito bem.
– E entendo porquê – murmurou Sean, olhando o anel de perto. Era pequeno, mas os dedos de Melinda era longos e finos. Certamente ficar-lhe-ia bem e se não, podia sempre levá-lo à ourivesaria para que lho arranjassem. – Levo este.
– Acho que vai gostar.
– Espero que sim.
– Vou dar-lhe um polimento final antes de o meter na caixa – James estava a sorrir, talvez pela alegria de fazer uma venda.
– Ótimo – Sean tirou um cartão de crédito do bolso. – Ainda que deva dizer que me surpreende o preço.
– Parece-lhe caro?
– Não, ao contrário. Acho que poderia pedir mais por um desenho como esse.
O ourives encolheu os ombros.
– Nesta ilha há um limite de clientes, de modo que não podemos exceder-nos com os preços.
– Que lhe pareceria que viessem mais turistas?
– Sei que pensam construir um hotel, se é isso que quer saber – o homem sorriu. – Em breve verá que nesta ilha é impossível guardar um segredo.
– E o que lhe parece?
– Sou cautamente otimista a esse respeito. Sempre me pareceu bem que o Walter não deixasse atracar os grandes cruzeiros. Não gostaria que isto se enchesse de turistas, mas um resort de luxo é diferente.
– Sim, claro, menos incómodos e um impacto menor no meio ambiente da ilha.
– Será uma mudança – disse James, limpando a joia com um pano antes de metê-la numa caixinha de veludo – mas nem todas as mudanças são más. E espero que a Melinda goste do anel.
– Obrigado – Sean guardou a caixa no bolso. – Imagino que nos veremos por aqui – despediu-se.
– Naturalmente. Irei ao casamento.
– Juntamente com o resto dos vizinhos, calculo.
– Naturalmente.
Sean saiu da ourivesaria com um sorriso nos lábios. Tesouro era uma ilha tão pequena que certamente todos os vizinhos se viam como parentes.
Nada a ver com Sunset Beach. Sempre tinha gostado do ruído e do movimento da Califórnia, ou ao menos sentia-se à vontade lá, mas nem sequer conhecia os seus vizinhos. Os seus irmãos eram os seus melhores amigos e as mulheres com as quais andava iam e vinham sem que se lembrasse delas.
Uma vez tinha querido algo mais; o tipo de elo com outro ser humano que a maioria da gente procurava, mas tinha aprendido a lição e após o fiasco do seu casamento tinha-se isolado, usando o talento e o encanto para manter outras emoções mais profundas controladas.
Mas estava a ponto de casar-se.
O anel que levava no bolso pesava como se fosse uma âncora e, no entanto, não podia deixar de pensar em Melinda, como se o rosto da futura esposa estivesse gravado no seu cérebro. Recordava os seus olhos, o seu sorriso, a sua determinação…
Se havia alguém que um King pudesse admirar, especialmente ele, era uma pessoa decidida, mas isso não significava que os seguintes dois meses fossem ser fáceis. Desejava-a e ser casado com ela mas não poder tocá-la ia ser uma tortura.
Sean respirou profundamente, dizendo a si mesmo que o superaria. Os King superavam tudo.
Volvidos dois meses seria um homem livre de novo e Melinda Stanford, por mais bela, inteligente e sensual que fosse, não seria mais do que uma vaga lembrança.