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CAPÍTULO 02.

DEUS

A causa primária

Allan Kardec ao elaborar “O livro dos espíritos” a primeira obra básica do espiritismo, em sua primeira pergunta aos espíritos questionou “Que é Deus?”, sendo respondido sabiamente que “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”. Mais adiante, na questão nº 13 do mesmo livro, Kardec vai perguntar “Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, não temos uma ideia completa de Seus atributos?”, e temos como resposta que “Sob o ponto de vista humano, sim, porque acredita-se tudo poder abarcar; mas há coisas além da inteligência do mais inteligente dos homens e para as quais a sua linguagem, limitada às suas ideias e às suas sensações, não tem forma de expressão. A razão lhes diz que Deus deve ter essas perfeições em grau supremo, porque se tivesse uma só de menos, ou que não fosse a um grau infinito, não seria superior a tudo e, por consequência, não seria Deus. Por estar acima de todas as coisas, Deus não deve estar sujeito a qualquer vicissitude e não pode ter qualquer imperfeição que a imaginação possa conceber.”

Muitos são os que não se dão conta que dessa compreensão clara da existência de Deus é que dependerá a forma como vamos encarar a nossa realidade, assim como, da forma como vamos orientar nossa existência.

O espiritismo nos apresentando Deus como a causa primária de tudo e inteligência maior, apresenta como valor, nesse conceito a altura do que é efetivamente Deus, na medida que consegue abarcar tudo que Deus é, retirando as características que poderiam lhe assemelhar ao homem encarnado, características essas, antropomórficas.

Quando entendemos Deus como a inteligência suprema e causa primeira, fica mais simples compreender como o criador estará sempre em todos os lugares e em todos os momentos.

Na história da humanidade, vamos observar que a concepção de Deus com características humanas, nos levou a muitos equívocos, como a imaginar um Deus que tinha sentimentos inferiores como a raiva, exclusivismos em torno de determinados povos, de um Deus guerreiro, que aniquilava sociedades em favor de outras.

De fato, o impacto do livro dos espíritos em demonstrar Deus com essa grandeza, facilita ainda mais a nossa compreensão do que seja o criador.

Raciocínio Lógico

O espiritismo vem nos apresentar as provas dessa existência a partir de um raciocínio que se aplica às ciências comuns, onde todo efeito tem uma causa anterior, dessa forma, todo efeito inteligente também provém de uma causa inteligente.

Como o exemplo do relógio, já citado por alguns estudiosos, que ele em si não é inteligente, mas o seu funcionamento denota que alguém o criou, e facilmente iremos observar que foi a inteligência de um relojoeiro. Por conseguinte, se pegar um relógio mais sofisticado, como o atômico, que atrasa um segundo a cada 16 bilhões de anos, por esse efeito e precisão, vamos observar que foi criado por uma inteligência mais sofisticada do que a que criou o relógio comum.

Se formos pensar sobre os mecanismos do tempo, do funcionamento da natureza, como se dão os dias, as noites, o funcionamento do universo, ao compararmos com a inteligência humana, que criou o relógio e os cientistas japoneses que criaram o relógio atômico, por exemplo, vamos perceber que aqueles mecanismos estão fora das possibilidades de criação do homem. Percebemos naqueles mecanismos uma perfeição que demonstra uma inteligência a altura de Deus.

Quando lembramos a estória do João de Barros, que através do instinto consegue perceber de onde vem a chuva e os ventos das estações para poder construir a abertura de suas acomodações exatamente no lado oposto. Percebemos esse mecanismo funcionando perfeitamente, e por meio desse raciocínio observamos que existe uma inteligência superior, e é natural que essa inteligência suprema seja também a causa primária.

Usemos como exemplo a seguinte analogia, o relógio é composto por determinado elemento, e de onde veio esse elemento? De outros elementos que se uniram. Dessa pergunta se derivam outras, sobre qual foi a maneira de união desses elementos, sobre os elementos anteriores a esses que se uniram. Num efeito dominó, vamos remontando todo o mecanismo e chegaremos a origem, à causa primeira.

Ao falarmos que Deus é o criador de tudo, não utilizamos a palavra do que não conhecemos, mas a palavra que supomos pelo raciocínio lógico, o que se torna em prova incontestável.

Sentir Deus através dos atributos da divindade

Saindo do raciocínio, podemos bater na porta do sentimento íntimo para dizer que Deus existe. Sentimos que existe um poder superior às nossas forças, tanto que não há povos ateus, nem os primitivos. Sempre houve o sentimento inato da existência de um ser superior.

Dentre vários atributos de Deus, podemos falar que estão entre eles, que Deus é único, imutável, e imaterial, e podemos entender isso observando o funcionamento das leis da natureza, o que nos faz deduzir todos esses atributos. É único, porque se houvesse mais de um Deus, já não teríamos como definir ser ele a causa primária de tudo que existe, como nos revelam os espíritos superiores.

Deus é diferente de tudo o que conhecemos ou compreendemos. Não é matéria, pois a matéria se transforma, se modifica constantemente, e Deus é imutável. O criador está acima da matéria e do espírito, ele é o criador da matéria e do espírito.

Outro atributo da divindade é ser eterno. Não tem começo nem fim. Como poderemos compreender que não tem um começo? A espiritualidade nos diz constantemente que num mundo de provas e expiações, nós, espíritos ainda pouco desenvolvidos e imperfeitos, não conseguiremos compreender, em virtude da pobreza de alcance do nosso intelecto moral. Onde ainda tentamos compreender o infinito, mesmo que de forma bem simplória, mas não ter começo é ainda muito difícil para analisarmos, por falta de compreensão.

O codificador da doutrina espírita, Allan Kardec, nos deixou um raciocínio, em “O céu e o inferno”, que é interessante para compreendermos esse entendimento, “Como poderia um cego descrever a luz?”. Deus é a causa incausada, como nos ensina Joana de Angelis. Não conseguimos, na prática compreender, porque isso está fora da nossa capacidade de concepção, enquanto espíritos, nesse momento. Provavelmente, vamos compreendendo melhor a maneira que formos avançando na senda da evolução espiritual, em conhecimento e moralidade.

Para criação divina, essa concepção temporal de começo e fim não funciona como entendemos aqui na terra. O fato de não compreendermos esse aspecto não significa que devamos esquecer esse conceito. Muitos outros aspectos já conseguimos compreender, esse iremos também, mais a frente, quando estivermos em condições.

Outro atributo muito questionado pelos céticos é o de Deus ser soberanamente justo e bom, quando enxergamos tantas dificuldades e tanta desigualdade no mundo, e devemos entender isso como parte de um processo educativo da criatura humana. Na história da humanidade ou nas estórias pessoais de cada pessoa, quando não entendemos uma coisa, passamos a achar que o mundo está contradizendo aquilo que defendia, quando na realidade é um ponto de vista equivocado que lançamos.

A justiça divina

Vamos observar a justiça nas aflições e sua relação com a lei reencarnacionista. Vamos compreender que no planeta terra encarnam espíritos em provas e expiações vivenciando circunstâncias criadas por eles mesmos em experiências reencarnatórias passadas, e que são colocadas na vivência atual com as consequências daquilo que fizeram para poderem retificar.

Podemos dizer que é como se tivéssemos destruído um jardim e fossemos convocados a reconstruí-lo. Todo o processo vai compreender a justiça, e é justo para o espírito fazer o processo da reconstrução para se sentir merecido a pertencer aquele meio e devolver o que havia tirado.

Certa vez, uma pessoa, irmão de um ex-presidente da federação espírita mineira foi a uma reunião com Chico Xavier, e estava triste porque haviam entrado em seu escritório de contabilidade e roubaram tudo, destruíram as coisas, jogaram móveis ao chão, destruíram completamente a sala. E ele ao chegar e ver aquilo ficou desolado, com uma sensação muito ruim. Ao chegar à reunião, Chico captou a energia baixa do trabalhador e lhe perguntou o que havia acontecido. Ele relatou o que havia acontecido e chorou. O médium o abraçou, sem afetação, sem exibição, apenas com carinho, e a pessoa contou que sentiu uma vibração imensa de amor. Chico disse a ele “É tão bom devolver...É tão bom devolver...”. Chico, onde passava deixava um rastro de mentalidade cristã. Pessoas foram profundamente impactadas a um contato com o médium mineiro.

Voltando à reconstrução do jardim, aqueles que veem a pessoa reconstruindo aquele jardim todo, sempre achará que há injustiça. Mas, essa é a misericórdia divina colocada na possibilidade de nos oferecer novas oportunidades, novas encarnações, muitas vezes em circunstâncias aparentemente difíceis, mas que na verdade são situações que nos permitem a corrigenda de nossas ações passadas, a fim de conquistar a felicidade futura.

A reencarnação nos esclarece o sentido da misericórdia divina, e é fundamental compreender isso, uma vez que, muitas pessoas sofrem por esse desconhecimento. Acreditam que foram abandonadas por Deus, que são injustiçadas. E olhando pelo prisma da reencarnação, a gente entende que é o contrário a esse pensamento de injustiça.

A espiritualidade amiga nos ensina que o desafio é o elogio de Deus, sendo essa uma maneira de ele nos convocar e nos dizer que estamos em condições de passar por determinada prova ou expiação.

Pensando Deus

Vemos pessoas que acreditam que pensar sobre Deus é desnecessário, já que sabemos que ainda não conseguimos compreender o que é Deus em sua plenitude, mas ao invés de acreditar que esse raciocínio faça sentido, vamos tentar olhar através de um outro que já estávamos descrevendo, que Deus nos deu a competência intelectual para que tivéssemos a oportunidade de pensar sobre ele, e até mesmo de o questionar.

Temos muitas informações sobre Deus, certeza de que ele é justo e bom, de que sempre está conosco, e pensar sobre Deus é fundamental. É verdade que não compreendemos de forma plena a essência íntima do criador, mas existem tantas outras que já podemos compreender, e que podem nos tornar muito mais saudáveis em nossa vida prática.

Pensar é um atributo do ser humano, e se Deus nos ofereceu essa possibilidade, é fundamental que a utilizemos para avançar sempre em nossa caminhada rumo a perfeição moral e espiritual.

Léon Denis, grande divulgador da doutrina espírita, em suas obras, expressa a necessidade da ideia de Deus para o homem, a necessidade de refletir sobre o criador, pois tudo provém dele, dessa forma é fundamental que possamos pensar sobre Deus.

Podemos dizer que a vida seria bem mais difícil se não acreditássemos em Deus, se não conhecêssemos a necessidade da vida futura, e deveríamos aproveitar esses conhecimentos que já possuímos sobre Deus para refletir sobre a consequência prática de conhecermos esses conceitos.

A inteligência prática de sabermos que Deus é a inteligência suprema e a causa primária de todas as coisas, é pensar que se Deus é isso, o que poderá mudar e quais as consequências disso em nossas vidas?

Se Deus é a inteligência suprema, devemos supor que ele não erra, e se não erra, não haveria de errar justamente conosco. Estamos colocados nas circunstâncias ideal de aprendizado.

Muitos não compreendem ainda, mas nascemos na família adequada, nas condições e momentos sociais condizentes a nossa necessidade, onde não há erro, como dizia nosso querido Chico Xavier, cada um de nós está no endereço correto.

O valor da vida

Uma outra concepção muito presente na atualidade é quando pensamos no valor da vida. Se Deus criou a vida, só ele tem o direito de tirar. Só Deus conhece o momento de dar e retirar a vida. Nesse sentido encontramos as gestações indesejadas.

Onde há uma vida em desenvolvimento, não há como justificar o aborto, pois a vida não é criada pelo pai ou pela mãe no que se refere ao feto em formação, a vida sempre provém de um ente maior. Dessa forma, o ato de abortar é um equívoco, pois nos colocamos na posição daquele que dita a vida, e não temos essa condição de optar em ser autor de vidas, da mesma forma se dá em relação à eutanásia.

Deus é o autor da vida e efetivamente o único capaz de compreender em que momento o espírito encarnado num corpo em circunstâncias difíceis, deve retornar à pátria espiritual. Qualquer julgamento nosso seria equivocado, parcial. Da mesma forma acontece com os crimes cometidos com nossa própria vida.

Entendendo que nãos somos autores nem da nossa própria da vida, deveríamos servir a Deus, nos colocando à disposição da vida, e isso é um exercício muito difícil, pois fere o nosso orgulho. Porém, os espíritos mais elevados na senda da evolução nos ensinam que não há exercício maior do que nos colocarmos à submissão a Deus, pois ele jamais nos abandonará, e assim podemos desenvolver a fé e a confiança que tanto precisamos ante as dificuldades que surgem em nossas vidas.

O espírito Joanna de Angelis nos apresenta duas propostas nesse sentido, “A Gratidão à vida” e o “Entrega-te a Deus”, e não é entregar-se a Deus de forma dogmática, e sim reconhecer o criador como a inteligência que não se equivoca. E assim, saberemos que podemos nos entregar, servir, orar, e termos a possibilidade através dessa oração de estarmos em contato com esse que é o criador de todos nós, essa é a nossa fortaleza para prosseguir.

As faces de Deus

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