Читать книгу Conta-me os teus segredos - Contrato nupcial - Susan Fox P. - Страница 5

Capítulo 1

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Quando Mike Gardner subiu a pé pelo caminho daquela maneira, Grace soube que teria problemas. E quando ele parou ao fundo da sua escada e olhou para ela, ela teve de agarrar no pincel com mais força para que não caísse. Mike era muito sexy e, apesar das suas boas intenções, ela nunca conseguiria ser imune ao seu encanto.

– Bom dia, Grace!

Ela endireitou-se e fez tudo o que pôde para parecer indiferente enquanto continuava a pintar a janela.

– Olá, Mike! – conseguiu dizer, com muita dificuldade.

Devia recordar que ainda não passara muito tempo desde que fizera uma figura ridícula com ele. Há muitos anos que não havia nada entre eles. Mas ela ainda se envergonhava ao vê-lo e tentava por todos os meios garantir-lhe a ele, e até a si própria, que ele não a afectava. Mas Mike não precisava que ela o elogiasse, tal como o resto das mulheres parecia fazer. Sem pensar, Grace pôs uma madeixa do seu cabelo loiro atrás da orelha, sujando-o de tinta.

– Levantaste-te muito cedo – comentou ele, sorrindo.

– E tu sabias que o faria, se não, não terias vindo tão cedo – viu que horas eram de forma significativa no seu relógio. – São sete e quarenta e cinco.

– Ah, sim? Lamento muito, pensava que era mais tarde.

– De certeza que já estiveste a fazer coisas.

– Sim.

Grace apercebeu-se de que aquela situação, com ela a manter uma conversa no topo do escadote, era ridícula, portanto suspirou e começou a descer, escorregando num dos degraus.

Mike segurou-a.

– Ena, já te tenho!

Grace afastou-se dele, já que o facto de a segurar a fazia sentir-se demasiado bem.

– Não sou um dos teus cavalos, Mike!

– Não, menina – concordou ele, rindo-se. – É óbvio que não és.

Não era justo. Grace sentia algo por Mike desde que tinha catorze anos, mas ele tratara-a como se fosse uma irmã mais nova. Durante um breve espaço de tempo, quando ela estivera na residência universitária, tinham sido algo mais do que amigos. Mas parecia que passara uma vida depois disso. E o facto de ele estar a tentar seduzi-la naquele momento… semanas depois de ela ter feito uma figura ridícula… era demasiado.

Ela crescera e era muito mais sensata com vinte e sete anos. Já não havia lugar para amores de adolescente.

Pôs as mãos nas ancas

– Olha, é óbvio que não vieste até aqui para falar de tolices comigo. Diz-me o que queres para que possa continuar a trabalhar.

Mike teve de se virar para esconder o seu sorriso. Conseguia ver que Grace estava zangada, mas ao mesmo tempo estava muito bonita. Os seus olhos azuis reflectiam a sua irritação. Quando a vira no topo daquele escadote quase se esquecera do motivo da sua visita. E quando a segurara nos seus braços ficara completamente em branco.

Chegou-se para trás para ver a pequena casa que ela decorara e a que chamava «lar».

– Estás a pintar.

– O teu poder de dedução deixa-me impressionada. Como percebeste?

Mike ignorou aquele sarcasmo. Devia estar cansada. Quando passara pela sua casa na noite anterior, por volta da uma da madrugada, ela tinha as luzes acesas e, certamente, levantara-se muito cedo. Desejava que ela não tivesse de trabalhar tão arduamente. Mas ele era a última pessoa que podia resolver aquela situação. Pelo menos, naquele momento.

– De onde tiras tempo para fazer tudo o que fazes, Grace? Sempre que te vejo, estás ocupada com alguma coisa.

Grace pensou que conseguia fazer tudo porque se levantava às cinco da manhã.

– Estar ocupada faz com que não me meta em problemas.

– Então, devia odiar perguntar-te o que estou prestes a perguntar.

Grace percebeu que Mike falava a sério. Normalmente, ele não dizia nada ou, se o fazia, era para brincar. Mas conhecia-o há muito tempo e sabia quando estava preocupado.

– O que se passa?

– Connor levou Alex ao hospital ontem à tarde.

Os olhos de Grace toldaram-se de preocupação e sentiu um nó no estômago. Mike e Connor eram como irmãos, eram muito mais do que sócios comerciais. Quando Connor tivera de sacrificar o seu gado, Mike e ele tinham começado a ser sócios do Circle M.

– É o bebé? Estão bem?

Alex ia ter um bebé dentro de poucos meses.

Parecia que Mike não conseguia olhar para ela, mas Grace conseguia sentir como estava preocupado.

– Entrou em trabalho de parto prematuro, portanto internaram-na. O médico diz que terá de ficar em repouso na cama até dar à luz. É tudo o que sei por enquanto.

– E Maren?

Maren era a filha do casal. Uma princesa de caracóis pretos com uns lindos olhos azuis como a sua mãe.

– Foi por isso que vieste? Precisam que alguém cuide dela durante algum tempo?

– Não, não. A avó de Connor está a cuidar dela. Mas… não é justo pedir-to, mas estava a perguntar-me, quero dizer que estávamos a perguntar-nos, se te importarias de regressar e gerir a contabilidade da quinta durante algum tempo.

– Claro que o farei. Não me importo – declarou, dadas as circunstâncias.

– Sei que estás muito ocupada e que…

– Mike, não há problema. Alex e Connor também são meus amigos. Fico contente por poder ajudar.

– Obrigado, Grace – agradeceu ele, claramente aliviado.

– De nada. Tentarei ir amanhã e começar a rever as contas.

Aquilo era exactamente o que ela precisava para se atormentar, ver Mike todos os dias no Circle M. Como uma lembrança contínua do que não podia ter. Mas a verdade era que precisava de fazer alguns arranjos na sua pequena casa daquela vila chamada Alberta e precisava do dinheiro.

– Acho que devia ir-me embora – replicou ele, num tom de voz baixo. – Tenho de fazer vários recados e, depois, bom, precisamos de mão-de-obra no rancho. E os pedreiros vêm por volta das nove.

– Os pedreiros?

Mike sorriu abertamente e o efeito foi devastador, fazendo com que o coração de Grace acelerasse.

Os olhos azuis dele animaram-se.

– Sim. Estamos a preparar os alicerces para construir a minha nova casa.

Grace perguntou-se como não sabia daquilo. Mike Gardner, com o seu próprio negócio e, naquele momento, uma casa.

– De qualquer forma, se precisares de alguma coisa, simplesmente, passa por Windover – replicou Mike, que se referia à casa pelo seu nome legítimo, embora todos a conhecessem como Circle M. – Vou ficar lá até a casa estar construída.

Grace já parara de pintar, mas ainda tinha o cabelo manchado de tinta. Afastou-o da cara e virou-se, pegando na saia de algodão que deixara sobre a cama.

A razão pela qual se mantinha ocupada… a verdadeira razão pela qual estava a aceitar trabalhos estranhos não era realmente pelo dinheiro, embora fosse sempre bem-vindo.

Simplesmente, precisava de se manter ocupada. A sua vida estava muito vazia. Não tinha ninguém a não ser ela própria e isso não ia mudar. Portanto, em vez de ficar em casa a desperdiçar tempo, trabalhava. Ter as mãos ocupadas ajudava-a a esquecer-se dos desastres que tinham acontecido no passado. E gerir as contas do rancho deixá-la-ia ocupada durante mais tempo.

E não decidira vestir uma saia porque ia para o Circle M. Escolhera-a porque aquela saia era a mais fresca que tinha.

Enquanto abria as janelas do seu carro, admitiu que um pouco de dinheiro extra não era algo que devia desprezar. O seu carro era antigo e nem sequer tinha ar condicionado. Arrancou e dirigiu-se para o oeste, para o rancho…

A paisagem que rodeava a estrada que levava ao Circle M era linda e naquela época do ano. No final de Agosto, estava tudo florido.

Quando finalmente avistou a casa principal do Circle M, Windover, pensou que não mudara nada. Mas tudo o resto no rancho estava diferente.

A perspectiva de ver Mike frequentemente fizera com que Grace sonhasse com ele mais de uma vez…

Quando estacionou em frente da casa, levou uma mão à barriga. Fora mais fácil quando ele não estava tanto tempo na vila. Ela fora capaz de se esquecer momentaneamente do breve romance que tinham tido… se é que alguma vez pudera chamar-se romance.

Ela tinha dezassete anos e ele tinha vinte e um. Durante algumas semanas, tinham sido mais do que amigos. Durante algumas semanas, ela fora enormemente feliz.

Mas quando a temporada de rodeos começara novamente, ele fora-se embora sem sequer lhe dar uma explicação. Ela estivera bem durante algum tempo ou, pelo menos, fora o que pensara. Tinham voltado a ser amigos nas poucas vezes que os seus caminhos se cruzaram. E, naquele momento, quando ele voltara para ficar, o facto de o ver frequentemente fizera com que ela sentisse saudades de coisas que pensara que estavam mortas e enterradas.

Quando Steve e ela tinham assinado os papéis do divórcio, apercebera-se de que os finais felizes não existiam.

Quando bateu à porta, a casa estava em silêncio, portanto aproximou-se de um dos lados, no caso de estar alguém na rua.

Teve sorte. Johanna, a avó de Connor, estava ajoelhada sobre umas flores com a pequena Maren, que tagarelava ao seu lado, feliz.

– Bom dia, senhora Madsen!

– Grace, querida, fico contente por te ver! – exclamou a mulher, levantando-se e dando a mão à pequena. – Maren, lembras-te de Grace, não é?

De repente, a menina ficou em silêncio e pôs o dedo polegar na boca.

– É possível que não se lembre de mim. Não estive muito por aqui ultimamente.

– Isso está prestes a mudar, não é assim?

Grace assentiu.

– Pensei em vir hoje e começar com o trabalho.

– Connor e Mike estão fora, mas tu conheces o sistema. Sei que ambos estão contentes por estares aqui.

– Como está Alex?

– Está internada – explicou Johanna, pegando na menina ao colo e subindo para o alpendre. – Por enquanto está tudo bem, mas às trinta e duas semanas…

Grace seguiu Johanna para dentro da casa.

– Querem que ela e o bebé tenham mais tempo.

– Exactamente. O médico diz que mais algumas semanas podem fazer uma grande diferença nos pulmões do bebé. Connor está muito preocupado – explicou a senhora Madsen.

Então, pôs Maren na cadeirinha.

– Connor passa quase o tempo todo no hospital e Mike não tem muito jeito para a contabilidade, portanto fico contente por estares aqui para ajudar – continuou a dizer Johanna.

– Faria qualquer coisa por… para ajudar – afirmou Grace, corando por quase ter posto a pata na poça.

Mesmo que ela soubesse que faria qualquer coisa por Mike… o resto das pessoas não tinha de descobrir!

Mas então a porta abriu-se e ela deu um salto. Quando Mike entrou na cozinha, chegou-se para trás e não conseguiu evitar olhar para ele.

Estava muito bonito. As suas calças e a sua t-shirt marcavam o seu corpo musculado. Ao vê-la, tirou o chapéu com que trabalhava sempre e ela conseguiu ver os seus caracóis escuros e uma gota de suor que lhe percorria a face.

– Grace…

– Mike…

– Eu, hum, só vim buscar alguma coisa para beber.

– Acho que Johanna está a fazer chá gelado.

Entreolharam-se e ela recordou como se sentira quando ele a agarrara no dia anterior de manhã. Mike engoliu em seco e apercebeu-se de que estavam a entreolhar-se como idiotas.

– Gostaria muito de beber um chá gelado, mas não está aqui para cuidar de mim, senhora Madsen.

Johanna serviu três copos com chá.

– Eu gostaria de saber de onde vem essa tolice de me chamarem senhora Madsen. Conheço-vos há tanto tempo… até vos assoava o nariz, portanto chamem-me Johanna ou Gram, como toda a gente.

Mike teve de reprimir um sorriso. Os Madsen eram o mais próximo que ele tinha de uma família, sem contar com a sua prima Maggie.

Johanna olhou para Maren e pegou nela ao colo.

– Vou mudá-la – anunciou. – Grace, tenho a certeza de que te lembras de onde é o escritório.

– Certamente. Arrumarei as coisas, não se preocupe.

– De certeza que Mike te ajudará, não é, Mike?

– Claro que o farei… Gram.

Então, Johanna foi-se embora com a pequena e Mike ficou a sós com Grace. Pensou que estava muito bonita naquele dia. Como de costume. Mas pareceu-lhe ver que tinha olheiras, coisa normal nela já que estava sempre a trabalhar. Sentiu-se um pouco culpado por lhe ter pedido aquele favor. Devia ter escolhido outra maneira de resolver os seus problemas.

Mas outra maneira teria significado que não teria uma desculpa para a ver e, depois de a ter visto na festa de aniversário dos Riley, quisera vê-la mais vezes. Ficara muito impressionado e o facto de saber que Grace ainda sentia algo por ele servia para justificar a sua própria atracção por ela. Já deixara que se fosse embora uma vez e lamentava-o imenso. Mas saber que ela ainda sentia algo por ele mudava tudo…

Não ia reconhecê-lo, mas usara a desculpa de que precisava de beber alguma coisa porque a vira chegar.

Para ele, Grace era a imagem viva da feminilidade e da pureza.

– Pareces cansada. Espero que este trabalho extra não te submeta a mais pressão desnecessária.

– Os teus elogios fazem com que uma rapariga se sinta muito bem.

– Não queria dizer que tinhas mau aspecto.

– Está a melhorar. Sabes, não sei o que as mulheres daqui vêem em ti – Grace não conseguiu evitar dizê-lo.

Mas corou. Ambos sabiam que estava a mentir. Ele sabia que ela era uma dessas mulheres.

– Mas posso garantir-te que posso suportar um pouco de, como tu dizes, pressão desnecessária. Não sou feita de cartão, Michael – disse o seu nome completo, já que sabia que ele não gostava.

Mike voltara a pôr o seu chapéu.

– Há algo que possa fazer para te ajudar?

Grace olhou para ele e conseguiu ver o carinho reflectido nos olhos dele, mas para ela estava claro que Mike não sentia nada por ela. Os homens que se interessavam por uma mulher faziam-lhe elogios, não lhe diziam que tinha mau aspecto.

– Sim, Mike, há algo que podes fazer por mim. Podes afastar-te do meu caminho e deixar-me fazer o meu trabalho.

Conta-me os teus segredos - Contrato nupcial

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