Читать книгу Conta-me os teus segredos - Contrato nupcial - Susan Fox P. - Страница 6

Capítulo 2

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Grace fechou o livro de cheques e suspirou. Alex fazia um bom trabalho com a contabilidade, mas estava com alguns meses de atraso. Era normal, visto que estava grávida e tinha uma menina pequena para cuidar. E o Verão era a época de mais actividade da quinta.

Não sabia se ter de estar tão perto de Mike com tanta frequência ia ser uma bênção ou uma maldição.

Mas estava muito contente, já que adorava a contabilidade. E, além disso, precisava de dinheiro. Era uma vila pequena e não conseguia dinheiro suficiente com os pequenos trabalhos de contabilidade que realizava. Também oferecia os seus serviços como mulher da limpeza. Dava-lhe a possibilidade de ganhar mais dinheiro e, assim, não estava tão sozinha.

No dia anterior, por exemplo, estivera todo o dia a limpar para a senhora Darrin. Depois de ter acabado de limpar, planeara regressar à sua casa para acabar de pintar. Mas a senhora Darrin sentira-se doente e pedira-lhe para tratar do jardim. Portanto, ficara. Cortara a relva e arrancara as ervas daninhas.

E, depois, ficou para beber chá. Apreciava ter relações sociais quase tanto como o dinheiro que lhe pagavam. Mas como trabalhara durante muito tempo em casa da senhora Darrin, tivera de se levantar às cinco da manhã para acabar de pintar e poder passar o dia a trabalhar em Windover.

– Como está tudo?

Ao ouvir a voz de Mike, Grace virou-se na cadeira muito bruscamente.

– Meu Deus, Mike, como demónios consegues assustar as pessoas desta maneira?

– Fiz barulho suficiente para acordar um morto. Estavas nas nuvens.

Grace ficou a olhar para uma gota de suor que percorria a garganta de Mike. Havia algo muito atraente no trabalho manual que ele fazia.

– Não… não tens o chapéu posto – gaguejou ela, sentindo-se estúpida devido àquele comentário.

– Tem de estar em algum sítio por aqui.

Aquilo era uma loucura. Cada vez que ele não estava à frente dela, ela jurava a si própria que não ia deixar que ele a afectasse daquela maneira, mas de cada vez que o via, transformava-se numa idiota. Virou-se e pegou na sua caneta vermelha.

– Ainda tenho trabalho para fazer, portanto, a não ser de que haja algo de que precises…

Então, ele aproximou-se e pôs uma mão no braço da cadeira, virando-a levemente.

– Vim para te pedir outro favor. Pediria a Johanna, mas…

– Mas uma mulher da sua idade… atrás de uma pequena de quase dois anos… é demasiado para ela. Eu sei. O que queres?

Mike olhou para ela com os seus olhos azuis e ela fez o mesmo. Quando os seus olhares se encontraram, foi como se aqueles dez anos não tivessem passado. Não foi capaz de desviar o olhar.

– Alex regressa a casa esta noite e eu perguntava-me… Como sei que ela tem de repousar e tudo isso…

– Queres fazer algo agradável?

– Sim – concordou ele, sorrindo timidamente.

Aquilo era uma das coisas que mais gostava nele. Parecia muito masculino e forte, mas depois mostrava-se muito amável.

– E queres que eu te ajude.

– Eu não sei muito sobre esse tipo de coisas. E Connor está com Alex e não pode ajudar.

– Posso fazer um jantar especial – ofereceu ela. – Posso arranjar Maren, preparar uma recepção simples com a família.

– Obrigado, Grace. É perfeito!

Grace recordou que tinha a sua própria casa muito suja. Mas não importava. Ninguém ia ver a casa dela. Suspirou e pensou que passar a tarde com os Madsen seria muito bom.

Mike ouviu o suspiro e interpretou-o mal.

– Lamento muito. Não devia ter perguntado. Tens muito para fazer e estás ocupada. Posso pedir que tragam algo de um restaurante.

– Não. Não é isso. Eu gostaria…

Mike mudou de humor tão depressa que a impressionou. Fez uma careta dura. Parecia zangado com ela e Grace não sabia porque seria.

– És sempre assim, Grace. Queres sempre ajudar. Cada vez que alguém te pede um favor, lá estás tu. Estás a matar-te a trabalhar e para quê? É óbvio que estás cansada. Seria melhor encomendar comida… assim tu descansas um pouco. Devia ter pensado nisso antes.

Novamente, estava a dizer-lhe que parecia cansada. Grace enfureceu-se. Ele não sabia nada da sua vida e não era ninguém para lhe dizer o que devia fazer.

– Sabes uma coisa, Mike? Sou uma rapariga crescida e acho que conheço os meus limites.

– Acho que não os conheces – contradisse ele, com dureza. – Trabalharias sem parar se te deixasse. Não te preocupes com o jantar. Esquece que o mencionei.

– Sabes? Estás a começar a zangar-me – respondeu Grace.

Para alguém que não fosse Mike, aquilo teria parecido uma ameaça.

– Se tu me deixasses? Não me lembro de te ter pedido permissão, Mike Gardner. Se não tivesse tempo para o fazer, dir-te-ia. Quando foi um problema para mim passar tempo com Connor e Alex? Não tenho nada para fazer à tarde.

Óptimo! Devido ao seu aborrecimento, ia parecer que ela não tinha vida social.

– Podias dormir – continuou Mike. – Vejo como trabalhas arduamente, Grace. Limpas metade da vila e geres a contabilidade da outra metade. Um dia destes, vais ficar doente!

Grace levantou-se da cadeira, prestes a chorar devido à raiva que sentia.

– Quem achas que és para me criticar? És o meu anjo da guarda?

Grace sentiu-se contente por ver que ele desistia.

– Bom, se tu não vais cuidar de ti própria, alguém tem de o fazer!

– No caso de não teres percebido, sou uma mulher adulta!

– Oh, claro que percebi! – exclamou ele.

Então, criou-se um silêncio tenso.

– Ainda bem, fico contente por termos esclarecido este assunto. Agora afasta-te do meu caminho. Se vou fazer o jantar, tenho de acabar isto – Grace dirigiu-lhe um olhar fulminante. – Sem a tua interferência.

Mike virou-se. Afastar-se do caminho de Grace não era nenhum problema, sobretudo quando ela o atacava daquela maneira. Podia ir esquecendo que ele voltasse a preocupar-se com o seu bem-estar.

Saiu de casa e dirigiu-se para o lugar onde a sua própria casa ia ser construída.

Ela não entendia nada. Sempre a vira como uma irmã mais nova, mas quando crescera, ele apercebera-se disso. Ela fora a imagem da beleza inocente. Durante algum tempo, permitira-se preocupar-se com ela e deixara que ela fizesse o mesmo com ele. Durante um curto período de tempo, deixara que fosse o seu coração a mandar e não a sua cabeça. Abraçara-a e beijara-a. Mas apaixonara-se demasiado depressa e soubera que, quando ela visse como era ele na verdade, fugiria. Por isso, assim que começara a temporada de rodeos, ele pegara no carro e fora-se embora sem olhar para trás.

Quando ela regressara à vila depois de se ter divorciado, ele estivera por lá durante algumas semanas e ficara impressionado ao vê-la. Transformara-se numa mulher linda. Era mais do que bonita, era exactamente o que uma mulher devia ser.

Ao aproximar-se dos alicerces da sua futura casa, brincou com os operários, o que o ajudou, mas ela permanecia na sua mente.

Naquele mesmo Verão, na festa de aniversário dos Riley, Grace bebera demasiado e tinham dançado juntos. Velhos amigos…

– Mike, és tão bonito! – exclamara ela, sorrindo abertamente.

Ele brincara com isso, mas ela permanecera imperturbável.

– Aposto que também és bom na cama. Estivemos a especular sobre isso.

Aquilo impressionara Mike, para o dizer suavemente, e envergonhara-o. Não soubera como responder. Pensara que ela deixara a sua aventura amorosa no passado, sobretudo depois de se ter mudado para Edmonton e de se ter casado. Ele só regressara para ficar a viver na vila na Primavera.

Enquanto tinham estado a dançar, sentira as curvas sexys dela.

– Pensas sobre isso? – perguntara-lhe claramente.

Parecera que ela percebia, de repente, o que dissera, já que se endireitara e corara.

– Cala-te! – ordenara ela. – Esquece o que disse.

A mudança de tom de voz dela tranquilizara Mike. Mas o problema era que ele não conseguira esquecê-lo. Não fizera outra coisa senão pensar nisso, perguntando-se como ficariam juntos. Queria beijá-la, abraçá-la…

Mas Grace merecia uma pessoa que fosse melhor do que um ex-cavaleiro com um passado turvo. E de alguma forma ia demonstrar-lhe que ele era muito mais do que isso. Simplesmente, precisava de tempo.

Mike parou à porta, respirando fundo. Fora demasiado duro com ela. Fizera-o porque odiava vê-la a trabalhar tanto, mas não expressara bem a sua preocupação e ela zangara-se com ele. Esperava que já não estivesse zangada.

Não bateu à porta, simplesmente entrou. Ao passar pela cozinha, parou à porta ao ver Grace a levar os pratos para a mesa.

– Falta algo à mesa.

Ela levantou a cabeça, surpreendida.

– Quando entraste?

– Há um segundo. O jantar cheira muito bem.

– É só frango e salada. Vesti Maren e Johanna levou-a com ela para o hospital. Regressarão todos juntos.

– Pensei que podia usar alguns enfeites – indicou ele, entrando na cozinha e mostrando-lhe o que tinha nas mãos.

– Flores. Cortaste flores do jardim?

– Pensei que talvez fizessem com que as coisas parecessem um pouco mais especiais – esclareceu, entregando-lhas.

Não oferecia flores a uma mulher desde que estivera na escola e quisera impressionar uma das mães adoptivas que tivera.

– Também pensei que te suavizariam um pouco e que me desculparias.

– Desculpar-te?

– Lamento que tenhamos discutido – desculpou-se, sem ser capaz de dizer que lamentava tudo o que se passara. Lamentava tê-la aborrecido.

– Eu também lamento.

Então, os seus olhares encontraram-se. Ela estava linda e ele perguntou-se o que ela faria se se aproximasse e a beijasse, como estivera a pensar fazer há semanas…

– Simplesmente, estava preocupado, é só isso. Conheço-te há muito tempo, Grace. Simplesmente, quero que cuides de ti própria.

Grace pôs as flores numa jarra no meio da mesa.

– Obrigada por te preocupares, Mike, mas não tens de o fazer. Já há muito tempo que cuido de mim própria.

Mike pensou que fora obrigada a fazê-lo. Vivia na vila há cinco ou seis anos. Vivia sozinha. Mas isso não evitava que ele sentisse um instinto de protecção em relação a ela.

Então, ouviram-se vozes na casa.

– Acho que já chegaram – observou Grace. – Mesmo a tempo. O frango está pronto.

Quando Alex e Connor entraram com a sua pequena, Mike forçou um sorriso.

– Bem-vindos a casa!

– Oh, não tinham de se incomodar! – exclamou Alex, com os olhos cheios de lágrimas. Então, olhou para Grace. – Tu fizeste isto?

– Foi ideia de Mike. Agradece que eu tenha cozinhado e não ele.

Todos se riram, incluindo Mike.

– Eu farei o café. Confio tudo o resto a Grace.

– Que inteligente! – exclamou Grace.

Alex sorriu e abraçou Mike.

– És um querido – sussurrou-lhe ao ouvido.

– Não digas nada. Isso é um segredo – sussurrou ele. Então, endireitou-se. – Não trabalhes. Nós vamos cuidar de tudo para que tu possas simplesmente cuidar desse presente que tens aí – indicou, apontando para a barriga de Alex.

– Isso foi o que eu lhe disse – declarou Connor, pondo Maren na sua cadeirinha e dando-lhe um biscoito. – Nada é mais importante do que cuidar do nosso bebé.

Mike olhou para Grace, que tinha uma expressão estranha reflectida na cara enquanto olhava para Alex… parecia magoada. Entendia que se sentisse daquela maneira devido à preocupação com a sua amiga, mas havia algo mais. Uma tristeza profunda. Não entendia porque é que ver Alex a deixava triste.

Grace apercebeu-se de que estava a olhar para ela e sorriu, apagando aquela expressão triste da sua cara como se nunca tivesse existido.

– Podes servir o frango, por favor, Mike? Eu vou tirar o resto da comida do frigorífico.

Todos se sentaram para jantar, mas Mike não conseguiu esquecer a expressão triste de Grace.

Connor e Alex estavam a deitar Maren e Johanna estava a limpar a cozinha. Grace tentara ajudar, mas Johanna impedira-a. Então, como sabia que não devia simplesmente ir-se embora para casa, saiu para o jardim. Estava a anoitecer. Suspirou, sabia que se se fosse embora para casa naquele momento acabaria por sentir pena dela própria. Apesar das preocupações que tinham, os Madsens eram uma família feliz. Ela pensara que algum dia teria uma igual, mas naquele momento sabia que nunca aconteceria. A maioria do tempo era fácil, mas num momento como aquele… custava muito e fazia-a lamentar o que nunca teria.

Nunca teria a sua própria família…

– Está uma noite muito bonita, não está? – perguntou Mike, interrompendo os pensamentos dela.

– Sim.

– Vais contar-me porque estás tão triste?

Mike estava atrás dela. Se olhasse para ele, não sabia se seria capaz de se conter e podia criar uma situação muito incómoda.

– Estou bem, simplesmente, estou a desfrutar da noite.

– Grace Lundquist, mentes muito mal!

Ela suspirou, desejando que ele ficasse atrás dela.

Fechou os olhos.

– Esquece, Mike.

Durante um momento, ele ficou em silêncio e ela perguntou-se se se teria ido embora. Mas então ele voltou a falar.

– Não posso.

Grace perguntou-se porque é que ele teria de se preocupar tanto com ela de repente. Ele só a via como uma amiga e, mesmo que pensasse nela doutra forma, não significaria muito, já que ele não ficava com nada nem com ninguém durante muito tempo. E não gostava desse tipo de relações.

Preocupava-se com Mike, isso era verdade, mas não podia aproximar-se demasiado dele. Não sabia se ele não acabaria por a abandonar novamente e não queria cometer o mesmo erro duas vezes.

Dar-se-iam muito melhor se fossem só amigos.

Mike pôs uma mão sobre o seu ombro e ela apoiou-se nela.

– Estou bem. Juro.

– Durante o jantar não parecias bem. Parecia que todo o teu mundo estava a desmoronar-se ao teu redor.

Grace obrigou-se a sorrir e virou-se para olhar para ele nos olhos, que reflectiam preocupação. Ele segurou nos dedos dela.

Ela afastou a mão.

– Quando te tornaste tão dramático, Mike? Mundos a desmoronarem-se. Como se isso acontecesse…

– Se não estavas triste, o que é que fazes aqui fora na escuridão?

– Não queria ser impertinente. Devia ir-me embora para casa.

– Não devias preocupar-te com isso. Eu vivo aqui. Não podes intrometer-te mais do que eu.

– É só temporário.

– Sim, é. Tenho muita vontade de ter a minha própria casa.

Grace olhou para ele, contente por terem mudado de conversa.

– Parece engraçado que tu vás ter a tua própria casa e estejas a começar um negócio. Nunca foste desse tipo de pessoas.

– E não era. Não fui durante muito tempo. Mas as coisas mudam.

– Que coisas? – Grace inclinou a cabeça, curiosa.

– Não fazia sentido andar de um lado para o outro sem nenhum propósito, procurando algo sem saber o que era. Chegou um momento em que queria estabelecer-me e encontrar um lugar para mim. Construir um negócio. Criar um lar, até mesmo ter uma família.

Grace sentiu-se como se os seus ossos se derretessem. Tinha de fugir. Mike, uma casa e uma família. Palavras que nunca esperara ouvir dos seus lábios.

Sentiu uma vontade desesperada de chorar e mordeu o lábio para se conter.

– Tenho de me ir embora – afirmou, correndo para o seu carro, entrando e arrancando.

O que Mike estava à procura naquele momento era o que ela nunca seria capaz de lhe dar.

Conta-me os teus segredos - Contrato nupcial

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