Читать книгу Conta-me os teus segredos - Contrato nupcial - Susan Fox P. - Страница 7

Capítulo 3

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Grace levantou-se da cama. Estava constipada e sentia-se muito mal. Tudo o que desejava era ficar na cama, o que era uma pena, tendo em conta que estava um fabuloso dia outonal.

O dia seguinte era dia de pagamento no Circle M. Alex estava a repousar na cama e era ela que tinha de passar os cheques. Sentou-se na mesa, pensando que não conseguiria ir para o rancho naquela manhã. A última coisa de que Alex, ou Maren, precisavam era que lhes pegasse a constipação.

Talvez alguém do Circle M pudesse trazer-lhe os documentos necessários. Levantou-se e telefonou para ver se conseguia fazê-lo…

Mike estacionou a sua carrinha, pegou nas pastas com os documentos e saiu. Dirigiu-se para a porta traseira, onde sabia que gostava de se sentar a ler. Ia deixar o livro de contabilidade e o livro de cheques, mas também ia certificar-se de que ela estava bem.

Pareceu-lhe que Grace demorou muito a abrir a porta e, quando o fez, Mike teve de se esforçar para não ficar boquiaberto.

Estava vestida com calças de ganga e uma t-shirt de seda azul que o fez sentir água na boca. Engoliu em seco. Era uma combinação de inocência e de sedução e, por um instante, imaginou-se a agarrá-la pelos ombros e a beijá-la apaixonadamente. Mas a toalha que tinha em redor do cabelo teria dificultado um pouco as coisas…

– Estou a interromper-te.

– Não há problema – replicou, congestionada. – Entra.

Mike seguiu-a para dentro da casa.

– Obrigada, Mike, por me trazeres os documentos da contabilidade.

– Parece que estás muito constipada.

Quando Johanna lhe dissera que Grace estava doente, a primeira coisa em que ele pensara fora em oferecer-se para lhe levar os documentos. Queria cuidar dela. Havia algo em Grace que lhe inspirava essa necessidade de a proteger.

– Tentei melhorar com chá e mel e tomei um descongestionante nasal, mas ainda não fez efeito – explicou ela, apoiando-se sobre a bancada da cozinha.

– Sim, bom, podes levar os cheques quando os acabares. Amanhã é dia de pagamento, mas os rapazes entenderão se te atrasares um pouco. Tens de ficar um dia de cama.

Grace olhou para os olhos de Mike e ele apercebeu-se de que ela estava corada e linda. Imaginá-la na cama não o ajudava a manter a sua saúde mental.

– Sabes que os entregarei a tempo.

– Não faz mal. Tens de descansar – insistiu ele.

– De repente, transformaste-te em médico?

Grace afastou-se da bancada, cruzando os braços.

– Estás doente. Acontece com todos.

– Exactamente. E o mundo não pára porque alguém tem uma constipação. Disse que terei os cheques prontos a tempo e assim será. Além disso, tenho outro trabalho para fazer que não tem nada a ver com o Circle M e não quero atrasar-me.

Mike não conseguiu conter-se.

– Trabalhar, trabalhar e trabalhar. Não fazes mais nada! – exclamou.

– Sim, trabalho muito. No caso de não teres percebido, não tenho um calendário social cheio e, como o resto do mundo, tenho contas para pagar!

Virou-se, zangada consigo própria por ter caído nas provocações de Mike. Caiu-lhe a toalha do cabelo e ela segurou-a com uma mão, afastando o cabelo da cara com a outra.

Mike olhou para ela durante um bom bocado.

– Estás com problemas financeiros, Grace? – perguntou, preocupado.

– Não… não tenho esse tipo de problemas – Grace suspirou. – Mas também não tenho dinheiro a mais.

– Deixa-me ajudar-te.

Ela olhou para ele nos olhos, hesitando levemente devido à preocupação sincera que viu reflectida neles. Mas não, não era um problema dele e há muito tempo que ela aprendera que só podia depender de si própria. Endireitou-se.

– Obrigada, mas estou bem. Eu gosto de trabalhar, Mike.

– Não posso preocupar-me contigo?

– Já não tenho doze anos, Mike – indicou Grace, tentando manter-se calma. – Já não tens de me defender.

Mike riu-se, suavizando um pouco o ambiente.

– Parece-me que houve um tempo em que eras tu que me defendias.

Grace corou, desejando que ele se esquecesse daquilo. Mesmo quando eram crianças, ela defendera-o quando os outros não o tinham feito.

– Obrigada pela tua preocupação, mas estou bem. Deves ter trabalho para fazer. Levarei os cheques quando tiver acabado de os fazer.

Não esperou que ele se fosse embora. Pegou nos documentos e dirigiu-se para a sala. Quando ouviu a porta traseira a fechar-se, respirou fundo.

Mike deu uma última palmadinha afectuosa a Thunder e saiu do estábulo. Thunder e Lightning tinham sido os primeiros cavalos que comprara.

Durante os anos, o seu caminho cruzara-se com o de Grace e, sempre que isso acontecera, ele preocupara-se com ela, mesmo que ela não percebesse.

Quando ela conhecera o seu marido, ele estivera nos circuitos e, quando regressara, ela já se fora embora… Casara-se com dezanove anos e fora viver para Edmonton. Não podia mudar o passado. Afinal de contas, ele é que se fora embora.

Mas desejava Grace de todas as maneiras possíveis. Durante um longo período de tempo, abandonara a ideia de estar com ela, já que pensava que desperdiçara a sua oportunidade. Mas naquele momento… voltara e sabia que, se fizesse as coisas bem… haveria esperança.

Então, viu o carro dela a chegar. Cumprira com a sua palavra sem importar que estivesse doente…

Grace ouviu como ele abriu a porta principal. Na verdade, estivera à espera de o ouvir. Escolhera esperar na cozinha em vez de o fazer no escritório íntimo. Não queria estar lá muito tempo, pois não queria contagiar Alex ou Maren.

Embora não levantasse o olhar, soube quando Mike se aproximou da porta. O ar mudou.

– Olá, Mike! Já tenho os cheques prontos.

– Óptimo! – exclamou ele, entrando na cozinha. – Fico contente por teres podido inclui-los na tua agenda.

Quando ela levantou o olhar, custou-lhe manter a boca fechada. Mike estava… formidável. Respirou fundo, tentando manter-se calmo. Era irónico que conseguisse provocá-la sem fazer nada.

O seu aspecto deixava claro que estava zangado com alguma coisa, mas ela não sabia o que podia ser.

– Tomei alguns remédios e dormi um pouco – esclareceu, ainda um pouco congestionada. – Não me custou nada ter os cheques prontos.

Então, voltou a concentrar a sua atenção nos envelopes com os cheques.

– Queria trazê-los, já que tenho trabalho para fazer amanhã.

– Doente?

– Estou muito melhor, obrigada. Para tua informação, os meus planos eram ir para casa, fazer uma sopa e ver um filme até adormecer, para assim me levantar completamente curada – explicou, sem se incomodar em camuflar o sarcasmo do seu tom de voz.

Mike esperou alguns segundos antes de falar.

– Não pensaste em descansar durante alguns dias? Custa-te dizer que não às pessoas?

Grace olhou para ele com os olhos esbugalhados devido ao tom de voz duro que ele empregara.

– Não me custa fazê-lo. O que se passa? Achas que quero discutir isto contigo outra vez? Não! – gritou, virando-se.

Perguntou-se porque é que tudo se transformava numa discussão com Mike nos últimos dias. Parecia que ele pensava que tinha o direito de decidir coisas sobre a sua vida.

– Não me entendeste esta manhã. Não vou discutir sobre a minha agenda ou a minha saúde contigo.

– Bom, está bem. É óptimo, Grace!

– Sabes, Mike, eu não gosto desta atitude protectora que pareces ter adoptado ultimamente. O que te dá o direito de estabelecer como devo viver a minha vida?

– O direito? – perguntou ele, aproximando-se dela. – O facto de ser óbvio que precisas que alguém o faça para não tomares decisões desastrosas! – a sua voz ecoou por toda a sala.

– Fala mais baixo! – avisou ela. – Há outras pessoas nesta casa que provavelmente estão a tentar descansar.

Mike pôs as mãos nos bolsos das suas calças, mas não se mexeu.

– Esta é a minha vida, Mike – sussurrou, com dureza. – As minhas decisões. Os meus erros. Ninguém, incluindo tu, vai dizer-me o que posso ou não fazer. Francamente, ir trabalhar quando estou constipada não pode qualificar-se como uma «decisão desastrosa».

– Odeio que te preocupes com todos menos contigo própria. Algum dia, Grace, vais abusar e então? O que farás?

Naquele momento, acariciou a face de Grace, surpreendendo-a.

– Só quero certificar-me de que estás bem.

– Eu sei cuidar de mim própria – declarou ela, que estava a relaxar devido àquela carícia.

– Talvez – concedeu Mike, começando a acariciar-lhe a outra face ao mesmo tempo.

Grace sentiu falta de ar. Viu como ele estava a olhar para ela. Estava a atravessá-la com o olhar.

– Porque te importas?

– Importo-me – replicou ele, olhando para ela nos lábios. – Importo-me contigo.

Grace engoliu em seco. Mike importava-se com ela? Ele estava a olhar para ela de uma maneira diferente… e os amigos não olhavam para os lábios uns dos outros como ele estava a fazer naquele momento.

– Não posso deixar que sofras, Grace… – sussurrou ele, aproximando-se da sua boca.

Ela segurou nos pulsos dele e afastou-lhe as mãos. Afastou-se dele.

– Não podes deixar que eu sofra? – perguntou, olhando para ele.

Ele estava a franzir o sobrolho, confuso.

– Não entendes, Mike. Dizes que não podes deixar que eu sofra. E eu não posso deixar que tu tomes decisões por mim – declarou, contendo-se para não dizer «outra vez não».

– Nem quando te enganas?

– Então, serão os meus erros, não os teus. Obrigada pela tua preocupação, mas é infundada.

– Quase me beijaste há um instante.

Grace sentiu um nó no estômago. Sim, quase o beijara. E o seu corpo ainda ansiava saber se beijá-lo continuaria a ser o mesmo. Ou se seria diferente. Ou melhor…

– Acho que tu é que quase me beijaste – indicou, tentando brincar.

– Não faças isso. Não mudes de assunto. Aqui há muito mais coisas envolvidas.

– Exactamente, há muitas coisas envolvidas – afirmou ela. – Estás a ser muito desajeitado comigo, não te parece?

– Agora não sei o que pensar.

– Já somos dois.

– Bolas, Grace! Simplesmente, estou a tentar proteger-te.

– E eu estou a dizer-te que não quero nem preciso da tua protecção.

– Está bem. Então, já não há mais nada para dizer.

Mike saiu a toda a pressa da cozinha e, segundos depois, ouviu-se a porta principal a bater. Então, ouviu-se como Maren começou a chorar. Acordara devido ao barulho. Em pouco tempo, Johanna apareceria na cozinha e a última coisa que Grace queria era mais perguntas.

A toda pressa, pôs o último cheque num envelope e rabiscou um bilhete, deixando todos os documentos no meio da mesa. Quando saiu para o seu carro, viu que Mike se fora embora.

Então, foi-se embora dali. Só estava há um instante na estrada quando começou a sentir algo anormal e reparou que o carro fazia um movimento estranho que fez com que ela batesse com a testa contra o volante… para depois parar.

– Não, não, não! – gritou, desesperada por sair da estrada. – Não me abandones agora, pequeno.

Infelizmente, o veículo não estava a ouvi-la, porque não se mexeu do meio daquela estrada suja. Então, Grace desligou o motor e saiu do carro.

Algo cheirava a queimado. Baixou-se para espreitar por baixo do veículo e viu que caía um fluido avermelhado dele.

Levantou-se, respirando fundo. Ela estava bem. Aquilo não era como da outra vez. O carro parara, mas ela não estava ferida. Então, abriu a porta do condutor e, segurando no volante, conseguiu levar o carro até à berma.

Ofegando devido ao esforço, sentou-se e respirou fundo. Estava muito sentimental e sentiu vontade de chorar.

Então, levantou-se e abriu o capô, como se conseguisse saber o que acontecera ao carro só de olhar para o motor.

O facto de Mike estar a prestar-lhe toda aquela atenção estava a enlouquecê-la. Mas fora o que ela quisera, quisera que Mike a visse com outros olhos.

Fechou o capô e suspirou, recordando a carícia dele sobre as suas faces e a proximidade dos seus lábios. Ele tinha razão. Havia algo entre ambos.

Mike estava a mudar. Estava a assentar. Estava a olhar para o futuro e, provavelmente, queria constituir uma família. Tudo o que ela quisera naquela época.

E era por isso que não devia acontecer nada entre ambos. Não se ela quisesse ser justa.

Então, começou a dirigir-se para o rancho. Tinha de regressar para telefonar e para fazer com que alguém rebocasse o carro.

Enquanto caminhava, viu a figura de alguém a cavalo numa pradaria à sua esquerda. Continuou a andar. Podia ser qualquer um dos rapazes do rancho.

O cavaleiro aproximou-se e ela conseguiu reconhecer o chapéu e, depois, o cavalo. Era Mike. Estava a montar Lightning.

Continuou a andar, ignorando-o.

– Tens problemas, Grace?

– Estou a dar o passeio da tarde – respondeu ela, secamente.

– Estou a ver. O teu carro parou?

– Vou regressar para telefonar para a oficina e fazer com que o reboquem.

– Falta muito até chegares ao rancho. E vais ficar com bolhas nesses pés lindos.

Grace parou, dirigindo-lhe um olhar fulminante. Então, tirou as sandálias e começou a andar novamente… descalça.

Mike riu-se abertamente.

– Sei que odeias que os homens te ajudem e que te digam o que tens de fazer…

– Supondo que alguém precisa de ajuda – indicou ela, olhando para a estrada. Se olhasse para ele nos olhos, ele saberia que lhe chegara ao coração.

– Mas se não deixares que te ajude…

Grace esboçou uma careta devido ao tom tão formal que Mike usou.

– Lightning e eu gostaríamos de te levar de volta ao rancho.

Então, ela virou-se e olhou para ele abertamente pela primeira vez desde que aparecera ao seu lado na estrada.

Sempre teria uma fraqueza por Mike Gardner. Só de olhar para ele, poeirento, montado no seu cavalo favorito… a sorrir… não conseguia resistir.

– Está bem – concordou finalmente, calçando novamente as sandálias e dirigindo-se para a cerca.

– O que se passou?

De repente, o tom de voz de Mike mudou e ela olhou para cima, confusa.

– Estás bem?

– Certamente. Porque não havia de estar?

Mike tirou um lenço do seu bolso, passando-o pela testa dela. Ela fez um ar de dor, surpreendida.

– Não tinhas percebido?

– Devo ter batido com a cabeça.

– Estás a sangrar, sobretudo na cabeça. O que se passou?

– O carro ficou morto. Senti uma grande pancada e o carro já não se mexeu.

Grace tentou não pensar em como as mãos de Mike eram delicadas enquanto tentava tratar da ferida dela.

– Uma pancada? O carro deve ter ficado sem transmissão.

– Talvez. Mas não arranca – replicou ela, afastando as mãos de Mike da sua cabeça. – Estava a cair um líquido vermelho por baixo. Não sei se isso te esclarece…

– Parece um problema do fluido de transmissão. Consegues montar? Ajudar-te-ei.

– Não estou realmente ferida! – protestou ela, pondo o pé no estribo.

Mike agarrou-a com força pela cintura para a ajudar a sentar-se na sela, que era grande, mas não era feita para duas pessoas. Ele estava atrás dela, agarrando nas rédeas com a mão direita e na cintura dela com a esquerda.

Há vários anos que não estava tão próxima dele e o facto de o sentir a pressionar o seu corpo trouxe-lhe lembranças do passado. Estava tão perto que conseguia sentir o batimento do seu coração no seu ombro.

Por muito que estivesse zangada com ele, o facto de estar protegida pelo seu corpo provocou uma excitação sexual nela. Tinha dezassete anos quando saíra com ele e, depois disso, cada vez que ele lhe tocara, sentira um nó no estômago. E daquela vez não era diferente. O seu coração acelerou.

Então, dirigiram-se para o rancho e ela pensou que já há muito tempo que não se sentia tão desprotegida. Aquela sensação de perigo não tinha nada a ver com cavalos ou carros, mas tinha tudo a ver com um cowboy chamado Mike Gardner.

Conta-me os teus segredos - Contrato nupcial

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