Читать книгу Conta-me os teus segredos - Contrato nupcial - Susan Fox P. - Страница 8

Capítulo 4

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Mike guiou Lightning para os estábulos. Ao chegar, desmontou e Grace sentiu imediatamente a perda da sensação do seu corpo contra o dela.

Então, ele ajudou-a a desmontar.

Naquele momento, se ele se inclinasse levemente para a frente, ela ter-se-ia esquecido de todas as razões pelas quais ele a enfurecia e tê-lo-ia beijado. Teria posto os seus lábios sobre os dele para ver como se sentia, para ver se ele continuava a ter o mesmo sabor que ela recordava. Era a segunda vez naquela tarde que sentia a necessidade de o fazer…

Depois de a deixar no chão, Mike foi levar Lightning para o seu compartimento.

Grace respirou fundo para recuperar. Tinha de ir a casa para telefonar para a oficina. Ficou doente ao pensar na possibilidade de o carro não poder ser arranjado. Perguntou-se o que faria nesse caso. Não podia comprar um novo.

Dirigiu-se para a casa e telefonou para a oficina de Bob, onde Phil atendeu o telefone. Ele era o filho de Bob. Prometeu-lhe que alguém iria buscar o seu carro na próxima hora. Quando estava a desligar o telefone, Mike entrou.

– Conseguiste um reboque?

– Sim. Phil vai mandar alguém.

– Óptimo!

Grace passou ao seu lado, saindo para o alpendre.

– Sim, bom, vai ser um incómodo estar sem o carro. Deus sabe quanto tempo vão demorar a arranjá-lo.

– Se for um problema de transmissão, e parece que é, talvez demorem algum tempo.

Mike aproximou-se dela e tocou-lhe com cuidado na ferida que tinha na testa.

– Devias usar o cinto de segurança. A sério, Grace. Tens a certeza de que estás bem?

Ela afastou-se dele… e das suas críticas.

– Tu, o senhor traumatismo craniano, vais dar-me lições sobre cintos de segurança? Para tua informação, uso sempre o cinto. Simplesmente, não funcionou correctamente. Não tens de me repreender por isso.

– Alguém tem de o fazer. Podias ter ficado seriamente ferida se o carro tivesse saído da estrada.

Grace virou-se para se ir embora, mas ele agarrou-a pelo braço.

– E se tiveres um traumatismo craniano? Dói-te a cabeça? Estás enjoada?

Mike não lhe soltava o braço e ela teve de lutar contra a excitação que começou a percorrer-lhe o corpo.

Riu-se tensamente antes de contra-atacar.

– Tu estás habituado aos sintomas dos traumatismos – acusou, erguendo o queixo. – Mas a única coisa que está a dar-me dores de cabeça hoje és tu.

A última coisa que ela devia ter esperado era que ele sorrisse, mas fê-lo, derretendo-a.

– Grace, não recordo que antes fosse tão divertido discutir contigo.

Ela afastou-se, pondo as mãos nas suas ancas, já que sabia que, se não o fizesse, ia apagar-lhe aquele sorriso da cara com um beijo.

Tinha de parar de pensar em beijá-lo!

– Talvez seja porque não ficaste comigo o tempo suficiente para o verificares.

O sorriso que ele estava a esboçar desapareceu.

– Mas não te preocupes comigo. Agora tenho preocupações maiores, obrigada.

– Não te preocupes com o teu carro, eu ocupar-me-ei dele.

Ele ia fazer o quê? Grace perguntou-se quando é que ele ia perceber que ela não queria que cuidassem dela.

– Posso fazê-lo sozinha. Mas obrigada de qualquer forma – replicou.

– Ouve, estavas aqui a trabalhar para o Circle M. O mínimo que posso fazer é arranjar o teu carro. Pensa nisso. Se estiveres sem meio de transporte, podes levar uma das camionetas da quinta.

– Aqui temos uma informação de última hora – gozou Grace, que estava a começar a sentir dores de cabeça. – Não quero, nem preciso, da tua ajuda!

Por um instante, oscilou e começou a tremer. Percebeu que podia ter-se magoado novamente. Agarrou-se ao portão e respirou fundo para tentar ganhar controlo.

Então, ouviu como um automóvel se aproximava e perguntou-se se seria Phil. Mas era Connor.

– Olha para ti, estás a tremer – indicou Mike, pondo-lhe uma mão nas costas. – Porque estás tão empenhada em não deixar que as pessoas te ajudem? Porque tens de fazer tudo sozinha?

Mike não compreenderia. Ele sempre fizera o que quisera quando quisera e acabara por a abandonar. Ela odiara tanto ter ficado na vila depois de ele se ter ido embora que decidira ir para o liceu em Red Deer.

Fora um grande erro, um erro que tentava esquecer para não esbanjar a sua energia a arrepender-se. A razão pela qual sentira um aperto no coração quando o carro parara fora porque revivera o seu anterior acidente, o medo de ter estado no hospital, a devastação de ter acordado da anestesia para descobrir as notícias terríveis.

Ela sabia porque era tão independente. Acreditara em Mike e, quando ele já não estava lá, concentrara-se num substituto para resolver as coisas… e correra tudo mal.

– Pára de ser tão antiquado e vê lá se percebes que estamos no século XXI. As mulheres são perfeitamente capazes de cuidar de si próprias. Não preciso de ti, Mike.

– Como tencionas chegar a casa? A voar? – perguntou ele.

Ela não pensara nisso. Parecia que, afinal de contas, precisava dele.

Então, Connor abriu a porta da sua carrinha e ela aproximou-se rapidamente dele.

– Connor? Tive problemas com o carro. Importavas-te de me levar a casa? – pediu, sorrindo docemente.

Viu como Connor olhou para Mike e não precisava de se virar para saber que Mike estava a olhar para eles friamente.

– Mike podia…

– Oh, não quero incomodar mais Mike. Já me trouxe até aqui e certificou-se de que eu estava bem. Simplesmente, preciso que me leves a casa.

– Bom, está bem – Connor voltou a olhar para Mike. – Por favor, diz a Alex que voltarei dentro de meia hora.

Mike não respondeu. Simplesmente, virou-se e entrou em casa, batendo com a porta…

Grace não sabia o que fazer enquanto estava à porta da oficina de Bob. Da janela conseguia ver o seu carro. Estava aterrorizada à espera de saber o que Phil pensava. Mas, pelo menos, deixá-la-ia levar o carro e pagar a reparação em pagamentos semanais.

Então, entrou na oficina.

– Bom dia, Grace! – cumprimentou Phil, ao vê-la.

– Olá, Phil! – cumprimentou ela, olhando para o carro. – Não são boas notícias, pois não?

– Perdeste a transmissão.

Grace sentiu um aperto no coração. Sabia que as transmissões eram um problema muito sério.

– Vale a pena arranjá-lo?

– Bom, podias comprar um modelo menos antigo, mas não haveria nenhuma garantia de que não aconteceria o mesmo. O melhor que posso fazer é arranjá-la. Posso procurar para ver se encontro uma que seja barata, mas ainda não estaria resolvido.

– É um desastre total?

– Seria bastante dinheiro. Posso fazer tudo por pouco menos de dois mil e quinhentos dólares.

– E quanto tempo demorarias?

– Que tal se vieres buscá-lo na próxima quarta-feira? Preciso de alguns dias para encontrar uma nova transmissão.

– Está bem. Obrigada, Phil – agradeceu, dirigindo-se para a porta.

– Ouve, Grace…

– Sim? – perguntou ela, olhando por cima do seu ombro.

– Mike esteve por aqui ontem. Arranjámos o teu cinto de segurança e está resolvido. E se for o dinheiro que te deixa muito nervosa, não te preocupes. Ele disse-me que o Circle M vai pagar todos os gastos já que aconteceu enquanto estavas a trabalhar lá.

Aquele atrevimento de Mike enfureceu Grace.

– Phil, da última vez que verifiquei, esse carro estava em meu nome. O que significa que eu pago as reparações de que precise. Não fales com Mike Gardner sobre isso sob nenhuma circunstância, compreendes-me? O Circle M não vai pagar a nova transmissão do meu carro.

– Sim, menina – concordou Phil, pigarreando. – Mas se o dinheiro é um problema, podemos estabelecer alguma facilidade de pagamento. Podes pagar um pouco cada mês. Sei que és cumpridora.

Lágrimas brotaram dos olhos de Grace, que as afastou, pestanejando.

– Obrigada, Phil – agradeceu, saindo da oficina. Sentia-se humilhada.

Perguntou-se o que raios é que Mike estava a tentar fazer.

Por muito que não quisesse, ia ter de encontrar outro trabalho e rezar para que o dia tivesse mais horas… para assim conseguir dormir um pouco.

Grace levou uma mão à boca para disfarçar um bocejo. Pelo menos a contabilidade correra bem e todos os cheques estavam prontos. Connor e Mike estavam nas pradarias, Johanna saíra para fazer compras e Maren estava a dormir.

Ouviu o barulho de uma televisão, devia ser Alex. Estar na cama a repousar devia estar a deixá-la louca.

Grace viu as horas, decidiu fazer uma chávena de chá para ambas e fazer-lhe uma visita. Ao desligar o computador, ouviu também uns risinhos. Maren acordara.

Fez chá e dirigiu-se para o andar de cima.

Mãe e filha estavam na cama. Distraidamente, Alex estava a brincar com os caracóis escuros da sua pequena.

Aquela era uma cena que Grace sabia que nunca teria e teve de engolir em seco para desfazer o nó amargo que sentia na garganta.

– Grace! Entra! – exclamou Alex, ao vê-la à porta.

– Trouxe chá.

– Põe aqui, querida. A mãe vai beber algo quente.

– Quente – repetiu Maren.

– Está a começar a falar… – concluiu Grace, enquanto dava uma chávena de chá a Alex.

– A quem o dizes! Passa o dia todo a balbuciar.

Grace sentou-se na beira da cama.

– Como estás?

– Estou farta de estar na cama, farta de estar grávida e farta de não poder fazer nada. Supostamente, nem sequer posso pegar na minha própria filha ao colo.

– Lamento – replicou Grace. – Simplesmente, precisas de sair deste quarto.

A frustração de Alex era óbvia… e compreensível. Precisava de se sentir como uma mulher novamente.

– Precisas de um dia de raparigas.

– Sim, claro. Não posso sair daqui.

– E então? Eu posso trazer tudo.

Grace foi à casa de banho e pegou numa escova de cabelo, num estojo de maquilhagem, em verniz para as unhas e em alguns acessórios para o cabelo.

Enquanto Maren observava, com os olhos esbugalhados, Grace ajudou Alex a mudar de roupa e a vestir umas calças de ganga de maternidade e uma bonita camisola vermelha. Depois de estar vestida, penteou o seu cabelo preto comprido. Alex e ela tinham-se tornado amigas quando Alex se mudara para Windover, mas aquilo parecia estar a fazer com que a amizade fosse ainda maior.

– O que está a acontecer entre ti e Mike?

Grace sentiu que corava.

– Nada.

Alex riu-se, apontando para a cara da sua amiga.

– As raparigas não costumam corar dessa maneira por nada. Andam a discutir como o cão e o gato.

Grace começou a fazer uma trança francesa à sua amiga.

– Ele tem andado a comportar-se de uma maneira muito protectora comigo ultimamente – explicou.

– Há algo. Consigo senti-lo, mesmo estando aqui em cima afastada de todos.

Alex devia saber que Mike e ela tinham tido um breve romance, mas não queria puxar o assunto.

– Foi horrível para ti, não foi? – perguntou Grace, aproveitando para mudar de assunto.

– Não paro de pensar em como será o resultado. Isso é o que verdadeiramente importa – respondeu a sua amiga, preocupada.

Depois de ter acabado de pentear Alex, pegou no verniz e começou a pintar-lhe as unhas dos pés.

– Obrigada, Grace. Hoje precisava disto – confessou Alex, sorrindo.

– Tolices! Connor deixa-te aqui o dia todo enquanto ele vai fazer todas as suas coisas. Homens! – murmurou.

– Portanto, ele está a incomodar-te.

– Ora! Mike Gardner pensa que pode dizer a toda a gente o que tem de fazer. Porque é que os homens pensam que nós vamos fazer exactamente o que eles querem?

– Às vezes, dão uma ajuda – indicou Alex, acariciando a barriga.

– Sim. Dão uma mão. Olha para o dia tão bonito que está e tu estás aqui na cama. Tens uma varanda ali mesmo, pelo amor de Deus!

Subitamente, Grace levantou-se.

– Sabes uma coisa? Tenho uma ideia. Hoje vais desfrutar do exterior e não precisamos de um homem para nos ajudar.

Então, desceu para o andar de baixo, prendendo o cabelo numa trança. Saiu para o alpendre traseiro e tirou as almofadas de uma cadeira, levando-as consigo.

– O que estás a fazer? – gritou Alex, quando ouviu que Grace voltava a subir.

– Já vais ver! – gritou Grace.

Mas levar a cadeira de baloiço para cima seria diferente. Era suficientemente grande para Alex se deitar nela, com Maren ou com Connor, e para desfrutar do ar fresco.

Custou-lhe muito mexer a cadeira de baloiço e foi quase impossível levá-la pelas escadas e, quando estava quase a chegar ao andar de cima, deslizou. Quando tentou agarrá-la novamente, magoou-se na mão. Teve de morder o lábio para evitar dizer um palavrão.

Pôr a cadeira de baloiço no quarto significou ter de a levantar sobre a cama e, depois, levá-la para a varanda.

Depois de a deixar lá, pôs as almofadas.

– Não saias – avisou. – Ainda há mais.

Desceu novamente e pegou numa pequena mesa que Alex podia usar para pôr uma bebida ou um livro.

Também lhe levou uma planta e uma manta, no caso de ela ter frio.

– Aí tens, agora já podes sair – declarou, sorrindo, triunfante.

Alex mexeu-se com muito cuidado, como fazia sempre naqueles dias, e sentou-se na cadeira de baloiço.

– Connor devia ter feito isto há muito tempo.

– Não culpes Connor. Esteve tão preocupado! – Alex sorriu com nostalgia.

– Eu sei. Mas sinceramente, os homens não percebem estas pequenas coisas.

– Mas tu fizeste-o. Muito obrigada, Grace. Oh, querida, estás a sangrar! – exclamou, apontando para a mão da sua amiga.

– É só um arranhão.

– Há um estojo de primeiros-socorros na casa de banho de baixo. Oh, Grace…

– Não te preocupes. Vou ligar a mão e ficará bem. Desfruta do que resta da manhã.

Grace estava na casa de banho, a lavar a mão, quando ouviu a porta principal a abrir-se. Ouviu alguém a subir para o andar de cima e, depois, a descer.

Esperou que fosse Connor.

– Em que estavas a pensar? – quis saber Mike.

Grace pegou numa ligadura e virou-se.

– Bom dia, Mike.

– Levaste tudo para cima sozinha?

– Fi-lo. Não sou uma inútil, como pareces pensar.

– Inútil? Tu? Nunca. Tens o temperamento de uma cobra.

Ela riu-se, apercebendo-se de que ele mudara de roupa.

– Vais a algum lado?

Mike franziu o sobrolho.

– O quê?

– Como vestiste calças de ganga limpas e uma t-shirt. Sei que não fizeste isso só por mim, Mike.

Durante um instante, Mike não disse nada e pareceu-lhe que o envergonhara.

– Caí.

– Estou a ver – replicou ela, sem conseguir evitar soprar.

– Um potro estúpido. Assusta-se com a sua própria sombra.

– Isso esclarece um pouco porque deixaste o circuito – indicou ela, rindo-se.

– Fico contente por te parecer engraçado.

– Sim, parece, tendo em conta que não te aconteceu nada – declarou, pondo a ligadura.

– Vais dizer-me porque estás a sangrar?

– Alex estava fechada naquele quarto dia após dia. Queria apanhar ar e sol. O que estava a fazer agora?

– Estava aninhada com Maren sob a manta, a ler histórias.

– Oh, isso é fantástico! – exclamou Grace, sorrindo.

Mike aproximou-se dela e segurou no seu pulso.

– Cortaste-te. Se tivesses esperado, eu ter-te-ia ajudado a levar a cadeira de baloiço.

– Não sabia quando voltavas e podia fazê-lo sozinha.

Mike pegou na ligadura e reforçou o penso que ela fizera. Ela começou a sentir um nó no estômago.

– Não tens de fazer tudo sozinha – respondeu ele. – Hoje falei com Phil. Disse-me que te recusaste a deixar que eu pagasse a conta do carro.

– Claro que recusei.

– Porquê?

Grace afastou a mão.

– Porque eu pago os meus gastos – afirmou. – Vivo a minha própria vida. Tomo as minhas próprias decisões. Eu… eu não confio noutras pessoas.

Não o fazia. Mike deixara-a. Steve falhara-lhe. Era muito melhor cuidar de si própria.

– Isso é-me familiar – respondeu ele.

– Sim, é. E porque tomas as tuas próprias decisões?

– Porque confiar noutras pessoas significa que terás uma desilusão.

– Sim – Grace respirou fundo. – As pessoas falham-nos. Tu não deixas que ninguém te diga o que fazer. Porque tentas fazê-lo comigo?

– Porque… Porque… Oh, bolas! – Mike franziu o sobrolho. – Porque parece que precisas!

Grace chegou-se para atrás. Percebeu que ele ainda pensava que ela era uma rapariga vulnerável que não podia cuidar de si própria. Sentiu vontade de chorar, mas conseguiu conter-se.

– Há muito tempo que renunciaste ao teu direito de fazer isso – murmurou. – E estou cansada de lutar. Já não consigo continuar a fazê-lo, Mike. Deixa-me em paz.

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