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Capítulo 5

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Mike aproximou-se, pondo a sua mão sobre o ombro de Grace.

– Lamento – murmurou. – Não queria fazer-te chorar.

– Não o fizeste. Não estou a chorar. As coisas começaram a acumular-se… Estou bem, a sério.

– Não estás bem.

Grace não tinha uma resposta para aquilo. Ele tinha razão.

– Preciso de um descanso. É só isso.

Mas o que realmente queria fazer era descansar sobre a força sólida dele. Sempre soubera que podia contar com ele. Mesmo quando ele se fora embora, soubera que se tivesse tido problemas e lhe tivesse dito, ele teria estado lá para ela. E não havia muita gente que fizesse o mesmo.

Suspirou e apoiou-se na sua mão. Sentia-se reconfortada só de o sentir ali. Sentir que durante alguns momentos não estava sozinha. Fechou os olhos quando ele apertou o seu ombro.

– Isto tem a ver com mais coisas do que estares simplesmente cansada, não é?

Grace engoliu em seco, tentando desfazer o nó da sua garganta. Mike abraçou-a contra o seu peito. Não disse nada, só a abraçou.

Contrariada, afastou-se do abraço dele para olhar para ele na cara.

– Obrigada – murmurou. – Precisava de um abraço. Eu também lamento. Estive a atacar-te, quando tudo o que querias fazer era ajudar-me.

– Vamos sair daqui – sugeriu ele. – Vamos esquecer-nos das discussões. Vem comigo e mostrar-te-ei como está a correr a construção da minha casa.

Grace tinha trabalho à espera dela em casa e um turno para cumprir na taberna naquela noite, mas não haveria problema se fizesse um descanso de meia hora. Teve de admitir a si própria que queria passar tempo com ele. E, além disso, tinha curiosidade por ver como estava a sua casa. Avistara-a ao longe e vira que já tinha tecto.

– Parece uma boa ideia. Eu adorarei vê-la.

A casa ficava a nordeste da de Connor, no alto de um pequeno montículo, e devia ter uma vista magnífica das montanhas.

Estava um pouco fresco e Grace, embora vestisse uma camisola grossa, abraçou-se para se aquecer. Mike vestira um casaco castanho sobre a sua t-shirt que realçava os tons acobreados do seu cabelo. Ao aproximar-se da casa, deu-lhe a mão para a ajudar a andar pelo chão desnivelado.

Gostou da casa. Mesmo no estado em que ainda estava, podia ver-se como ia ser bonita. Percorreu todas as divisões e, a certa altura, viu Mike à frente de uma grande janela, a olhar para as montanhas.

– Vais adorar – afirmou ela.

– É a minha primeira casa. Consegues acreditar? Tenho mais de trinta anos e nunca tive a minha própria casa – replicou ele, sem se virar para olhar para ela.

– Vai ser linda. Escolheste um espaço maravilhoso.

– Nunca pensei que quereria assentar. Mas de alguma forma… suponho que cresci.

Grace riu-se levemente, perguntando-se se Mike estaria a ficar sentimental.

– Acontece a todos. Suponho que algumas pessoas demoram mais a fazê-lo.

Mike afastou-se da janela e dirigiu-se para a divisão seguinte, que ela supôs que iria ser a cozinha.

– Sabes cozinhar? – brincou.

– Na verdade, não. A não ser que fritar bacon e ovos conte.

Ela sabia o que o esperava, já que ela própria vivera sozinha durante anos. Esperava-o não ter ninguém com quem discutir pelo telecomando da televisão, nem que deixasse as toalhas no chão da casa de banho, ninguém com quem falar, com quem partilhar uma refeição ou com quem ver um filme…

Era uma existência horrivelmente solitária.

– Onde tens a cabeça? – perguntou ele, afastando-a dos seus pensamentos.

Estava muito perto dela. Grace sentiu que o calor se apoderava do seu corpo.

– Estava simplesmente a pensar.

Começou a virar-se, mas ele parou-a, agarrando-a pelo braço.

– Não vás.

– Não estou a ir.

– Grace, estiveste a afastar-te durante anos.

– Não sei o que queres dizer.

– Com certeza que sabes. O que não entendo é porquê. Porque te esforças tanto para manter as pessoas afastadas de ti quando é óbvio que te preocupas com elas? Todos os que te conhecem gostam de ti. Fazes muitas coisas pelos outros, mas acho que nenhum deles sabe o que te faz vibrar.

Grace pensou que ele também não sabia nada do segredo que ela guardava. Se soubesse, seria uma desilusão para ele. Mesmo que desejasse que ele a amasse novamente, sabia que voltaria a abandoná-la e não podia voltar a sofrer daquela maneira.

Mas o seu segredo era um fardo que ela carregava consigo dia após dia e, quanto mais discutiam, quanto mais protector se mostrava com ela, mais desejava contar-lhe e sentir-se livre.

– Já estás novamente a pensar nas tuas coisas.

Grace abanou a cabeça e olhou para ele nos olhos, onde viu reflectida preocupação e algo mais. Algo parecido com desejo. Mas não podia ser. Devia ser a sua imaginação. Recordou-se que ele não a via dessa maneira.

– Mike…

Ele estava muito perto dela e levantou-lhe o queixo com um dedo, fazendo com que ela olhasse para ele nos olhos. Automaticamente, o olhar de Grace dirigiu-se para os seus lábios.

– Chiu… – disse ele, beijando-a.

Finalmente. Parecia que cada poro do seu corpo repetia aquela palavra. Mike soltou o seu queixo e agarrou-a pelos braços, aproximando-a dele. Incitou-a com os seus lábios e ela percebeu que estava a ser muito delicado. Aquilo chegou-lhe ao coração. Mas não precisava que ele tivesse cuidado. Simplesmente, precisava dele.

Abriu os lábios um pouco mais, convidando-o. Cuidadosamente, ele beijou-a mais profundamente, como que testando a resposta dela, que finalmente fez o que quisera fazer desde a noite em que tinham dançado juntos. Levantou os braços e passou os seus dedos pelo cabelo dele, beijando-o apaixonadamente. Queria-o, queria saber que conseguia fazer com que ele perdesse o controlo e com que a desejasse da mesma maneira com que ela o desejava a ele.

Depois de mostrar o que queria, tudo mudou.

Mike parou de a beijar e tomou o controlo. Olhou para ela nos olhos com tal intensidade que fez com que a excitação a percorresse por todo o corpo como uma corrente eléctrica. De repente, ele tornou-se exigente, abriu as pernas e pressionou o sexo dela, devorando-a com um beijo.

Gemeu, fazendo com que ela recordasse que há quase uma década que não o beijava, mas o seu sabor era tão familiar como se o tivesse beijado no dia anterior pela última vez. Ele pressionava-a contra a parede de madeira e ela agradeceu, já que se não fosse assim, ter-se-ia derretido de prazer…

– Grace – murmurou Mike, acariciando-lhe a cara para depois descer a mão para o seu peito.

Ela observou, sustendo a respiração, como ele olhava para a parte do corpo que estava a acariciar. Sabia que ele tocaria em todos os lugares e que ela desejava que o fizesse… E também soube que não seria justo para nenhum dos dois.

– Pára! – ordenou, duramente.

– Não falas a sério.

Ela desejava que ele continuasse, mas estava desesperada para parar antes de as coisas chegarem demasiado longe e de já não poderem voltar atrás.

– Por favor, Mike, tens de parar.

– Mas não quero fazê-lo.

– Não podemos fazer isto. Não queremos as mesmas coisas na vida.

Ao sentir como ela se afastava, Mike cerrou os dentes. Não queriam as mesmas coisas? Ele sabia que se desejavam um ao outro. Isso estava claro. Mas não queria forçar as coisas e deitar tudo a perder.

– Lamento muito.

– Não lamentes. Simplesmente, não podes ir mais à frente, é só isso.

Grace estava a evitar olhar para ele na cara e ele perguntou-se se se teria enganado. Ela seduzira-o naquela noite na festa dos Riley, mas bebera demasiado e as suas amigas tinham-na incitado. Isso não significava que ela estivesse louca por ele. Na verdade, depois disso, tinham estado a discutir a maior parte do tempo. Por um instante, sentiu-se dispensável. Sabia o que acontecia quando se rendia ao amor. Era sempre magoado. Quando tinham estado a sair juntos, ele é que se fora embora… para que não fosse ela a fazê-lo primeiro.

– Não quero pressionar-te. Mas não lamento o que aconteceu – não conseguiu evitar dizer.

O olhar que Grace lhe dirigiu era tão complicado que ele nem sequer se incomodou em interpretá-lo e a sua cara reflectia excitação, medo, esperança e resignação.

Nada fazia sentido.

– Não queremos as mesmas coisas – repetiu ela.

– O que queres dizer com isso? – perguntou ele, olhando para ela nos olhos.

– Tenho de regressar – afirmou, evitando a sua pergunta. – Obrigada por me mostrares a tua casa.

– Espera – pediu ele, segurando-a pelo braço.

Grace olhou para ele, suplicando-lhe silenciosamente que a soltasse.

– Deixei-te sem te dizer nada. E, Grace, lamento imenso.

– Esquece-o!

– Grace, não posso esquecê-lo depois do que se passou. Porque se estivermos a pensar em começar algo entre nós novamente, precisamos de esclarecer as coisas. Deves saber que estava assustado e que fui injusto contigo. Não voltaria a fazer-te algo do género.

Mike pensou que as suas palavras tranquilizariam Grace, mas em vez disso, ela esboçou uma careta quase dolorosa.

– Obrigada por te desculpares – respondeu ela. – Mas agora já não importa, porque não estamos a começar nada. Tenho de regressar.

Aquilo fez com que ele, inexplicavelmente, se zangasse, mas deixou que ela se fosse embora. Disse para si que resolveria as coisas para que começassem algo entre ambos…

Mike pôs as chaves da camioneta no bolso e passou uma mão pelo cabelo. Conseguia ouvir a música proveniente da taberna do hotel.

Ela estava ali.

A trabalhar.

Trabalhava para pagar a reparação do carro e aborrecia-o que ela preferisse trabalhar como empregada de mesa em vez de aceitar a sua ajuda.

Tapou ainda mais a cara com o chapéu e entrou na taberna, onde havia uma luz ténue. Percebeu que ela não o vira entrar. Grace estava no balcão, servindo uma bebida e rindo-se por algo que um cliente dissera.

Quando acabou de servir o cliente, virou-se e viu-o. Fez cara de poucos amigos, mas aproximou-se para anotar o pedido.

– Cerveja, Mike? – perguntou.

Mike reparou na frieza do tom de voz dela. Recordava demasiado bem como se sentira ao tê-la nos seus braços e o sabor da sua boca. E o aspecto tão sexy que ela tinha naquela noite não ajudava…

– Sim, em garrafa.

Grace olhou para ele, arqueando uma sobrancelha. Nem sequer pedira por favor. Como ele não dizia nada, ela aproximou-se de um frigorífico para ir buscar a cerveja. Ao fazê-lo, teve de se baixar e ele conseguiu ver parte das suas costas, já que a t-shirt subiu levemente.

Mike humedeceu os lábios, mas então ela virou-se para lhe levar a cerveja.

– Vais abrir uma conta?

– Pago quando me for embora – respondeu ele. Mas pensou melhor e levantou-se para tirar a carteira do bolso. Tirou uma nota de cinco dólares e deu-lhe. – Fica com o troco.

Grace pôs o dinheiro no avental.

– Tens fome? – perguntou. – Jack está a tratar da cozinha esta noite, portanto as coisas estão comestíveis.

– Agora não.

Ela virou-se para se ir embora.

– De qualquer forma, o que estás a fazer aqui?

Ela sorriu, mas ele percebeu que não era um sorriso sincero.

– Estou a trabalhar, será que parece que estou a fazer outra coisa?

– Mas porquê aqui?

Grace aproximou-se para não ter de gritar para se fazer ouvir devido à música alta e para que assim os outros não os ouvissem.

– Porque as gorjetas são boas e o horário é compatível com os meus outros empregos.

– De certeza que podias ter encontrado algo melhor do que isto.

Pela maneira como ela franziu levemente o sobrolho, Mike apercebeu-se de que a ofendera novamente.

– É algo temporário. Uma das empregadas está de férias durante algumas semanas. Dava-me jeito e era demasiado bom para o deixar passar.

– Mas não terias de o fazer se me deixasses ajudar-te.

– Ouve, Grace! Estou a morrer de sede!

Era alguém da vila e Mike franziu o sobrolho ao ver como ela se ria de boa vontade.

– Aguenta um pouco, Joe. Já vou.

Enquanto bebia a sua cerveja, Mike pensou que ela merecia algo melhor do que aquilo. Não conseguia parar de olhar para ela e percebeu que ela sorria sempre para as pessoas. Sorria para todos, menos para ele. Pouco depois, pediu outra cerveja, sentindo-se ameaçado, já que lhe dissera que ou pedia mais alguma coisa ou devia dar o seu lugar a outro cliente que consumisse.

O barulho da taberna tornou-se intenso. Conseguiu ouvir pedaços da conversa das pessoas que estavam sentadas na mesa atrás dele e não gostou nada. Indirectas misturadas com testosterona e álcool. Decidiu que enquanto aqueles homens não se fossem embora, ele não deixaria Grace sozinha.

– Ouve, Grace, pensei nisso e talvez coma uma sandes de carne.

Tomou nota sem dizer nada. Mas quando se aproximou da mesa de trás e, depois, foi para a cozinha, Mike ouviu um dos homens a fazer um comentário.

– Colega, é muito boa. O que eu podia fazer com uma égua como ela!

Mike enfureceu-se ao ver o que ela tinha de suportar. Grace regressou exactamente naquele momento para lhe servir a sua sandes.

– Pedi a Jack para pôr molho picante – informou, sorrindo levemente.

Ele sorriu sinceramente, surpreendido por ela se lembrar daquele pequeno detalhe depois de tantos anos.

– Obrigado por te lembrares.

– Conheço-te há muito tempo, Mike. Já te esqueceste?

Claro que ele não se esquecera. Ela sempre fora muito amável com ele, desde jovens. E ele preocupara-se mais com ela do que com qualquer outra pessoa na sua vida. Fora por essa razão que fugira do seu lado. Ficara aterrorizado.

Agarrou-a pela mão antes de ela se ir embora.

– Sabes que não me esqueci. Posso sempre contar contigo, Grace.

O sorriso dela apagou-se levemente e ele perguntou-se o que dissera para a entristecer.

– Já volto – prometeu ela, afastando a sua mão.

Então, Grace foi servir os homens que preocupavam Mike.

– Aqui tens, querida, fica com o troco – ofereceu um deles, entre os risinhos de outros. – E o que te parece se me deixares convidar-te para tomar o pequeno-almoço amanhã?

Mike virou-se e olhou para o homem escandaloso que falara, que não devia ter mais de vinte e três anos.

Quando Grace não disse nada e simplesmente pôs o dinheiro no bolso, pararam de se rir. Mike virou-se ao ver que Grace se dirigia para o balcão.

– Ouve, falei a sério quando te convidei para o pequeno-almoço, querida – insistiu o rapaz. – Tenho uma nota de vinte para ti se aceitares.

Aquilo estava a ir demasiado longe. Mike levantou-se e dirigiu-se para a mesa dos homens, agarrando no que ofendera Grace pela gola da camisa e levantando-o.

– Não sabes quando deves calar-te – avisou, calmamente.

Todos ficaram em silêncio na taberna. Sabiam que não deviam meter-se com Mike, já que era muito firme quando se zangava. Estavam à espera para ver o que acontecia.

– Lamento muito, companheiro – desculpou-se o rapaz. – Não tencionava importunar.

Mike esperou um momento para depois deixar o rapaz no chão. Reparou como Grace olhava para ele, mas não se importou.

Quando se virou, viu que ela continuava a olhar para ele. Estava pálida e os seus olhos reflectiam uma mistura de medo e de gratidão.

Ele perguntou-se quando se apaixonara por ela de uma maneira tão intensa. Naquele momento, faria o que quer que fosse para a proteger. Soube que, acima de todas as coisas, queria que ela fosse dele. Estivera a pensar várias vezes no que ela lhe dissera, que não queriam as mesmas coisas. Mas perceberam que queriam o mesmo. Ele queria assentar e constituir uma família. O que nunca tivera, pois passara de uma casa de acolhimento para outra.

Conta-me os teus segredos - Contrato nupcial

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