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O OUTOMNO

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Eis já do livido outomno

Pesa o manto nas florestas;

Cessaram as brandas festas

Da natureza louçã.

Tudo aguarda o frio inverno;

Já não ha cantos suaves

Do montanhez, e das aves,

Saudando a luz da manhã.


Tudo é triste! os verdes montes

Vão perdendo os seus matizes,

As veigas os dons felizes,

Thesoiro dos seus casaes;

Dos crestados arvoredos

A folha sêcca e myrrhada,

Cahe ao sôpro da rajada,

Que annuncia os vendavaes.

Tudo é triste! e o seio triste

Comprime-se a este aspecto;

Não sei que pezar secreto

Nos enluta o coração.

É que nos lembra o passado

Cheio de viço e frescura,

E o presente sem verdura

Como a folhagem do chão.


Lembra-nos cada esperança

Pelo tempo emmurchecida,

Mil aureos sonhos da vida

Desfeitos, murchos tambem;

Lembram-nos crenças fagueiras

Da innocencia d'outra idade,

Mortas á luz da verdade,

Creadas por nossa mãe.


Lembram-nos doces thesoiros

Que tivemos, e não temos;

Os amigos que perdemos,

A alegria que passou;

Lembram-nos dias da infancia,

Lembram-nos ternos amores,

Lembram-nos todas as flôres

Que o tempo á vida arrancou.

E depois assoma o inverno,

Que lembra o gêlo da morte,

Das amarguras da sorte

Ultima gota fatal...

É por isso que estes dias

Da natureza cadente,

Brilham n'alma tristemente

Como um cyrio funeral.


Mas animo! após a quadra

De nuvens e de tristeza,

Despe o luto a natureza,

Revive cheia de luz:

Após o inverno sombrio,

Vem a florea primavera,

Que novos encantos gera,

Nova alegria produz.


Os arvoredos despidos

Se revestem de folhagem;

Ao sôpro da branda aragem

Rebenta no campo a flôr;

Tudo ao vêl-a se engrinalda,

Tudo se cobre de relva,

E as avesinhas na selva

Lhe cantam hymnos d'amor.

Animo pois! como á terra,

Tambem á nua existencia,

Vem, após a decadencia,

Ás vezes tempo feliz;

E a vida gelada, esteril,

Que o sôpro da morte abala,

Desperta cheia de gala,

Cheia de novo matiz.


Animo pois! e se acaso

Nosso destino inclemente,

Em vez de jardim florente,

Nos aponta o mausoléo;

Se a primavera do mundo

Já morreu, já não se alcança,

Tenhamos inda esperança

Na primavera do céo!

Poesias

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