Читать книгу Forças Opostas - Aldivan Teixeira Torres, Daniele Giuffre' - Страница 12
O dia D
ОглавлениеPassaram-se os três dias que me separavam do segundo desafio. Era uma manhã de sexta-feira, clara, ensolarada e resplandecente. Estava eu contemplando o horizonte dessa manhã, quando a estranha senhora se aproximou.
– Está preparado? Procure um fato inusitado na mata e aja conforme seus princípios. É o seu segundo teste.
– Está bem. Há três dias espero por esse momento. Acredito que estou preparado.
Apressadamente, dirigi-me à trilha mais próxima que dava acesso à mata. Os meus passos seguiam uma cadência quase musical. Em que consistia realmente esse segundo desafio? A ansiedade tomou conta de mim, e meus passos aceleraram em busca do objetivo desconhecido. Logo à frente, surgiu a mesma clareira em que a trilha se desfazia e bifurcava-se. Quando cheguei lá, para minha surpresa, a bifurcação não existia mais, e pude visualizar a seguinte cena: um menino, arrastado por um adulto, chorava muito. A emoção tomou conta de mim diante da injustiça e por isso bradei:
– Solte o menino! Ele é menor do que você e não pode se defender.
– Não solto! Estou o maltratando porque ele não quer trabalhar.
– Bruto! Meninos não devem trabalhar. Eles devem estudar e ser bem-educados. Solte-o!
– Quem vai me obrigar? Você?
Eu sou totalmente contra a violência, mas nesse momento o meu coração me pediu para reagir ante esse canalha. O menino devia ser solto. Com delicadeza, afastei o menino de perto do bruto e comecei a espancar o homem. O canalha reagiu e me desferiu alguns golpes. Um acertou-me mesmo em cheio. O mundo rodou, e um vento forte penetrante invadiu todo o meu ser: Nuvens brancas, azuis e pássaros ágeis invadiram a minha mente.
Num momento, parecia que todo meu corpo flutuava sob o céu. Uma voz bem fininha me chamou de longe. Noutro momento era como se eu ultrapassasse portas e portas como obstáculos. As portas eram muito bem trancadas, e eu fazia um imenso esforço para abri-las. Cada porta dava acesso a salões ou santuários, alternadamente. No primeiro salão encontrei jovens vestidas de branco, reunidas ao redor de uma mesa onde no centro havia uma Bíblia aberta. Eram as virgens escolhidas para reinar no mundo futuro. Uma força me empurrou para fora do salão e, quando abri a segunda porta, fui parar no primeiro santuário. À beira do altar, estavam sendo queimados incensos com pedidos dos pobres do Brasil. Do lado direito, um sacerdote orava em voz alta e repentinamente começou a repetir: Vidente! Vidente! Vidente! Ao lado dele, havia duas mulheres com camisetas brancas onde estava escrito: sonho possível. Tudo começou a escurecer e, quando dei por mim, fui arrastado violentamente para fora com tal velocidade que me deixou um pouco tonto.
Abri a terceira porta e desta feita encontrei uma reunião de pessoas: um pastor, um padre, um budista, um islamita, um espírita, um judeu e um representante das religiões africanas. Eles estavam dispostos em círculo e no centro havia um fogo, cujas chamas desenhavam a expressão: união dos povos e caminhos para Deus. No fim, eles se abraçaram e me chamaram para o grupo. O fogo se moveu do centro, pousou na minha mão e desenhou a palavra aprendizado. O fogo era pura luz e não provocava queimaduras. O grupo se desfez, o fogo apagou-se e novamente fui empurrado para fora do salão.
Abri a quarta porta. O segundo santuário estava totalmente vazio e aproximei-me do altar. Ajoelhei-me em reverência ao santíssimo, peguei um papel que estava no chão e escrevi meu pedido. Dobrei o papel e coloquei-o aos pés de uma imagem. A voz que estava longe gradativamente tornava- se mais clara e nítida. Saí do santuário, abri a porta e finalmente acordei. Ao meu lado estava a guardiã da montanha.
– Então você acordou? Meus parabéns! Você venceu o desafio. O segundo desafio teve como objetivo explorar sua capacidade de autodoação e ação. Os dois caminhos que representavam as “forças opostas” tornaram-se um só, e isso significa que você deve trilhar o lado direito sem se esquecer do aprendizado que terá ao conhecer o esquerdo. A sua atitude salvou o menino, apesar de que ele não precisasse disso. Toda aquela cena foi uma projeção mental minha para avaliá-lo. Você tomou a atitude certa. A maioria das pessoas, quando se deparam com cenas de injustiça, preferem não se intrometer. A omissão é um pecado grave, e a pessoa torna-se cúmplice do agressor. Você auto doou-se como fez Jesus Cristo por nós. Isso é uma lição que você levará para toda a vida.
– Obrigado por me parabenizar. Eu agiria sempre em favor dos excluídos. O que me intriga é a experiência espiritual que tive agora há pouco. O que significa? Poderia me explicar, por favor.
– Todos nós temos a capacidade de penetrar em outros mundos através do pensamento. É o que se chama viagem astral. Há alguns experts em relação a esse assunto. O que você viu deve estar relacionado ao seu futuro ou ao das pessoas. Nunca se sabe.
– Entendo. Eu subi a montanha, cumpri os dois primeiros desafios e devo estar crescendo espiritualmente. Creio que brevemente estarei pronto para enfrentar a gruta do desespero. A gruta que realiza milagres e torna os sonhos mais profundos.
– Você deve realizar o terceiro desafio, e eu lhe direi qual é amanhã. Aguarde instruções.
– Sim, general. Esperarei ansiosamente. O filho de Deus, como a senhora me denominou, está com muita fome e preparará uma sopa para mais tarde. A senhora está convidada.
– Ótimo. Eu adoro sopa. Aproveitarei para conhecê-lo melhor.
A estranha senhora afastou-se e deixou-me sozinho com meus pensamentos. Fui procurar na mata os ingredientes para a sopa.