Читать книгу Forças Opostas - Aldivan Teixeira Torres, Daniele Giuffre' - Страница 17

A gruta do desespero

Оглавление

Após vencer o terceiro desafio, eu já estava apto a entrar na temida gruta do desespero. A gruta que realiza os sonhos impossíveis. Eu era mais um sonhador que iria tentar a sorte. Desde que subi a montanha, eu já não era mais o mesmo. Agora estava confiante em mim mesmo e no universo maravilhoso que me abrigava. O abraço da estranha senhora também me deixou mais tranquilo. Agora ela estava ali, ao meu lado, apoiando-me em todos os sentidos. O apoio que eu não recebi dos meus entes queridos. A minha mala inseparável debaixo do meu braço. Estava na hora de eu me despedir daquela montanha e seus mistérios. Os desafios, a guardiã, o fantasma, a jovem e a própria montanha que parecia ter vida ajudaram-me a crescer. Eu estava pronto para partir e enfrentar a gruta tão temida. A guardiã está do meu lado e me acompanhará nessa viagem até a entrada da gruta. Partimos, pois o sol já se adianta no horizonte. Os nossos planos estão em total harmonia. A vegetação ao redor da trilha que percorremos e o barulho dos animais tornam o ambiente o mais rural possível. O silêncio da guardiã durante todo o percurso parece antever os perigos que a gruta encerra. Paramos um pouco. As vozes da montanha parecem querer dizer alguma coisa. Aproveito para quebrar o silêncio.

– Posso perguntar uma coisa? O que são essas vozes que tanto me atormentam?

– Você escuta vozes. Interessante. A montanha sagrada tem a propriedade mágica de reunir todos os corações sonhadores. Você é capaz de sentir essas vibrações mágicas e interpretá-las. No entanto, não dê muita atenção a elas, pois podem levá-lo ao fracasso. Tente concentrar-se com seus próprios pensamentos, e a atuação delas será menor. Tenha cuidado. A gruta é capaz de detectar suas fraquezas e usá-las contra você.

– Eu prometo me cuidar. Eu não sei o que me espera na gruta, mas tenho fé de que os espíritos luminosos me ajudarão. O meu destino está em jogo e, de certa forma o do resto do mundo também.

– Bem, já descansamos o bastante. Vamos continuar a caminhada, pois não demora o sol a se pôr. A gruta deve estar a uns quinhentos (500) metros daqui.

O rumor de passos recomeça: Quinhentos metros separam o meu sonho de sua realização. Estamos no lado oeste do topo da montanha, onde os ventos se tornam cada vez mais fortes. A montanha e seus mistérios. Penso que nunca vou conhecê-la realmente. O que me motivou a subir ela? A promessa de o impossível tornar-se possível, e o meu instinto aventureiro de escoteiro. A realidade, o possível e a rotina estavam me matando. Agora estava me sentindo vivo e pronto para vencer desafios. A gruta se aproxima. Já posso ver sua entrada. Ela parece imponente, mas não me desestimula. Uma gama de pensamentos invade todo o meu ser. Preciso controlar meus nervos. Eles podem me trair na hora fatal. A guardiã faz sinal e para. Obedeço.

– Aqui é o local mais próximo que posso chegar da gruta. Escute bem o que eu vou dizer, pois eu não vou repetir: antes de entrar nela, reze um pai-nosso para seu anjo da guarda. Ele protegerá você dos perigos. Ao entrar, ande com bastante cautela para não cair em armadilhas. Após percorrer um certo tempo a galeria principal da gruta, você se deparará com três opções: felicidade, fracasso e medo. Escolha a felicidade. Se escolher o fracasso, você não passará de um pobre louco que um dia sonhou. Se escolher o medo, você se perderá completamente. A felicidade dá acesso a mais dois cenários que são desconhecidos para mim. Lembre-se: apenas o coração puro pode sobreviver à gruta. Seja sábio e realize seu sonho.

– Entendi. Chegou o momento mais esperado desde que subi a montanha. Obrigado, guardiã, por toda sua paciência e zelo comigo. Nunca me esquecerei da senhora nem dos momentos que passamos juntos.

A angústia tomou conta do meu coração ao despedir-me dela. Agora éramos eu e a gruta. Um duelo que mudará a história do mundo e a minha também. Olho bem para ela e pego na mala uma lanterna para iluminar o caminho. Estou pronto para entrar. A minha perna parece congelada ante essa gigante. Preciso reunir forças para prosseguir no caminho. Sou brasileiro e não desisto nunca. Consigo dar os primeiros passos e tenho a leve impressão de que alguém me acompanha. Creio que sou realmente especial para Deus. Ele me trata como filho. Os meus passos aceleram-se e finalmente consigo entrar na gruta. O deslumbramento inicial é grande, mas preciso ser cauteloso por conta das armadilhas. A umidade do ar é alta, e o frio, intenso. Estalactites e estalagmites preenchem praticamente todo o ambiente. Já percorri uns cinquenta metros dentro dela, e os calafrios começam a arrepiar todo o meu corpo. Vem à minha mente tudo que passei antes de subir a montanha: as humilhações, as injustiças e a inveja dos outros. Parece que cada um dos meus inimigos está dentro daquela gruta, esperando o melhor momento para me atacar. Com um salto espetacular, consigo ultrapassar a primeira armadilha. O fogo da gruta quase me devorou. Nadja não teve a mesma sorte. Agarrado a uma estalactite do teto que milagrosamente suportou meu peso, consegui sobreviver. Preciso descer e continuar minha caminhada rumo ao desconhecido. Os meus passos aceleram-se, mas com precaução. A maioria das pessoas tem pressa. Pressa de vencer, de conquistar objetivos. Uma agilidade fantástica acaba de me salvar de uma segunda armadilha. Foram inúmeras lanças alçadas em direção ao meu corpo. Uma consegue ferir de raspão o meu rosto. A gruta quer me destruir. Eu tenho de ter mais cuidado a partir de agora. Faz aproximadamente uma hora que entrei na gruta e ainda não cheguei ao ponto que a guardiã falou. Devo estar perto. Os meus passos continuam acelerados, e meu coração dá sinal de alerta. Às vezes, não prestamos atenção nos sinais que o próprio corpo dá. É nesse momento que acontecem o fracasso e a decepção. Felizmente não é o meu caso. Ouço um barulho muito forte vindo em minha direção. Começo a correr. Em poucos instantes, percebo que estou sendo perseguido por uma pedra gigantesca em grande velocidade. Corro durante um tempo e com um movimento brusco consigo me desviar da pedra, abrigando-me na lateral da gruta. Quando a pedra passa, a parte anterior da gruta se fecha e logo à frente aparecem três portas. Elas representam a felicidade, o fracasso e o medo. Se eu escolher o fracasso, não passarei de um pobre louco que um dia sonhou em ser escritor. As pessoas vão ter pena de mim. Se eu escolher o medo, nunca crescerei nem serei conhecido pelo mundo. Poderei entrar num abismo sem fundo e me perder para sempre. Se eu escolher a felicidade, poderei prosseguir no meu sonho e passarei para o segundo cenário.

Existem três opções: a porta da direita, a da esquerda e a do meio. Cada uma representa uma das opções: felicidade, fracasso ou medo. Tenho que fazer a escolha certa. Aprendi com o tempo a vencer meus medos: medo do escuro, medo de ficar sozinho e medo do desconhecido. Também não tenho medo do sucesso nem do futuro. O medo deve representar a porta da direita. O fracasso é consequência de um mau planejamento. Algumas vezes fracassei, mas isso não me fez desistir dos meus objetivos. O fracasso deve servir de lição para uma posterior vitória. O fracasso deve representar a porta da esquerda. Por último, a porta do meio deve representar a felicidade, pois o justo não se desvia nem para a direita nem para a esquerda. O justo é sempre feliz. Reúno as minhas forças e escolho a porta do meio. Ao abri-la, eu tenho amplo acesso a um salão e no teto está escrito o nome Felicidade. No centro há uma chave que dá acesso a outra porta. Realmente eu estava certo. Cumpri a primeira etapa. Restam-me duas. Pego a chave e experimento-a na porta. Serve perfeitamente. Abro a porta. Ela dá acesso a uma nova galeria. Começo a percorrê-la. Uma multidão de pensamentos percorre a minha mente: quais serão as novas armadilhas que devo enfrentar? A qual cenário dá acesso essa galeria? São muitas as perguntas sem respostas.

Continuo a caminhar e minha respiração torna-se rarefeita, pois o ar está cada vez mais escasso. Já percorri uns duzentos (200) metros e devo permanecer atento. Ouço um barulho e caio ao chão para me proteger. São pequenos morcegos que passam em disparada por mim. Será que eles vão chupar meu sangue? Serão carnívoros? Para minha sorte, elas desaparecem na imensidão da galeria. Vejo um vulto, e meu corpo estremece. Será que é um fantasma? Não. É de carne e de osso e vem preparado para lutar comigo. É um dos sacerdotes ninjas da gruta. Começa a luta. Ele é bem rápido e tenta me atingir num ponto vital. Tento escapar das suas investidas. Revido com alguns golpes que aprendi no cinema. A estratégia dá certo. Ele se assusta e se afasta um pouco. Ele contra-ataca com suas artes marciais, mas estou preparado para ele. Eu o atinjo em cheio com uma pedra que peguei da gruta. Ele cai desacordado. Eu sou totalmente avesso à violência, mas nesse caso foi estritamente necessário. Quero avançar ao segundo cenário e descobrir os segredos da gruta. Volto a caminhar e permaneço atento e vacinado contra novas armadilhas. A umidade do ar baixa, um vento sopra e permaneço mais reconfortado. Sinto as correntes de pensamento positivas enviadas pela guardiã. A gruta escurece ainda mais e se transforma. Um labirinto virtual se mostra à frente. Mais uma armadilha da gruta. A entrada do labirinto é perfeitamente visível. Mas onde estará a saída? Como entrar nele e não se perder? Eu só tenho uma opção: atravessar o labirinto e arriscar. Crio coragem e começo a dar os primeiros passos em direção à entrada do labirinto. Reze, leitor, para que eu encontre a saída. Não tenho nenhuma estratégia em mente. Penso que devo usar minha sabedoria para me safar dessa enrascada. Com coragem e fé, adentro o labirinto. Ele parece mais confuso visto por dentro do que por fora. As paredes são largas e revezam-se em ziguezague. Começo a lembrar dos momentos na vida em que me achei perdido como em um labirinto. O falecimento do meu pai, tão jovem, foi um golpe duro em minha vida. O tempo que passei desempregado e sem estudar também me deixou perdido como em um labirinto. Eu agora me encontrava na mesma situação.

Continuo caminhando e o labirinto me parece sem saída. Já se sentiu desesperado? Era assim que me sentia: totalmente desesperado. Por isso o nome: a gruta do desespero. Reúno as minhas últimas forças e me levanto. Preciso encontrar a saída a qualquer custo. Uma última ideia me bate. Olho para o teto e vejo inúmeros morcegos. Vou seguir um. Vou chamá-lo de bruxo. Um bruxo é capaz de se salvar em um labirinto. É disso que eu preciso. O morcego voa com bastante velocidade, e tenho que acompanhá-lo. Ainda bem que me considero quase um atleta. Vejo a luz no fim do túnel, ou melhor, no fim do labirinto. Estou salvo.

O fim do labirinto levou-me a um estranho cenário na galeria da gruta. Um cenário feito de espelhos. Caminho cuidadosamente em volta, pois tenho medo de quebrar alguma coisa. Vejo o meu reflexo no espelho. Quem sou eu agora? Um pobre jovem sonhador prestes a descobrir o seu destino. Eu pareço preocupado. O que significa tudo isso? As paredes, o teto, o piso, tudo é composto por vidro. Toco a superfície de um espelho. O material é tão frágil, mas reflete fielmente o aspecto da pessoa. Surge, num impulso, de três espelhos distintos, uma criança, um jovem segurando um caixão e um idoso. Todos eles sou eu. Será que é uma visão? Realmente tenho aspectos infantis, como a pureza, a inocência e a fé nas pessoas. Acho que não quero jogar essas qualidades fora. O jovem de quinze anos representa uma fase dolorosa na minha vida: a perda do meu pai. Apesar de sua rigidez e distanciamento, era meu pai. Ainda me lembro dele com saudades. O idoso representa o meu futuro. Como será? Estarei realizado? Casado, solteiro ou até viúvo? Não quero ser um velho revoltado ou magoado. Chega de ver essas imagens. Meu presente é agora. Sou um jovem de vinte e seis anos, licenciando em Matemática, escritor. Não sou mais uma criança nem o jovem de quinze anos que perdeu o pai. Também não sou um idoso. Tenho um futuro pela frente e quero ser feliz. Não sou nenhuma dessas três imagens. Eu sou eu mesmo. Com um impacto, os três espelhos dos quais os indivíduos surgiram se quebram e uma porta surge. Ela é meu ingresso ao terceiro e último cenário.

Abro a porta que dá acesso a uma nova galeria. O que me espera no terceiro cenário? Continuemos juntos, leitor. Começo a caminhar e meu coração acelera-se como se eu estivesse ainda no primeiro cenário. Eu já venci muitos desafios e muitas armadilhas e já me considero um vencedor. Em minha memória, vou buscar as recordações de outrora, quando eu brincava em pequenas grutas. A situação agora é totalmente diferente. A gruta é enorme e cheia de armadilhas. A minha lanterna está quase apagada. Continuo a caminhar e logo à frente surge uma nova armadilha: duas portas. As “forças opostas” gritam dentro de mim. É preciso fazer uma nova escolha. Vem à memória um dos desafios e como tive a coragem de superá-lo. Eu escolhi o caminho da direita. A situação é outra, pois estou dentro de uma gruta escura e úmida. Eu já fiz a minha escolha, mas também começo a lembrar das palavras da guardiã, que falou sobre o aprendizado. Eu preciso conhecer as duas forças para ter total controle sobre elas. Escolho a porta da esquerda. Abro-a vagarosamente com medo do que ela possa estar guardando. Abro-a e contemplo a visão: estou num santuário, cheio de imagens de santos e com um cálice no altar. Será que é o santo gral, o cálice perdido de Cristo e que dá a quem beber a juventude eterna? As minhas pernas tremem. Impulsivamente, corro em direção ao cálice e começo a tomá-lo. O vinho é de um gosto dos deuses. Sinto-me tonto, o mundo gira, os anjos cantam, e a terra da gruta treme. Tenho a minha primeira visão: vejo um judeu de nome Jesus, junto com seus apóstolos, curando, libertando e abrindo novas perspectivas para seu povo. Vejo toda a sua trajetória de milagres e de amor. Vejo também a traição de Judas, e o diabo agindo por trás dele. Por último, vejo sua ressurreição e glória. Escuto uma voz me dizer: “Faça o seu pedido”. Retumbante de alegria, eu exclamo: “Quero ser o vidente! ”

Forças Opostas

Подняться наверх