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A montanha sagrada

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Um tempo atrás, ouvi falar de uma montanha extremamente inóspita na região de Pesqueira. Ela faz parte da Serra do Ororubá (nome indígena) onde habita o povo indígena Xukuru. Dizem que ela se tornou sagrada após a morte de um pajé misterioso de uma das tribos Xukuru. Ela é capaz de tornar qualquer desejo realidade, desde que a intenção seja pura e sincera. Este é o ponto de partida da minha viagem, cujo objetivo é tornar possível o impossível. Acreditam, leitores? Então permaneçam comigo prestando atenção na narrativa.

Seguindo a Rodovia BR-232, chegando ao município de Pesqueira e aproximadamente 24 km da sede desse município, localiza-se Mimoso, um dos seus distritos. Uma ponte moderna, recentemente edificada, dá acesso ao lugar que fica entre as serras do Mimoso e do Ororubá, banhado pelo rio Mimoso, que corre ao fundo de um vale. A montanha sagrada fica exatamente nesse ponto, e é para lá que vou me dirigir.

A montanha sagrada fica próxima ao distrito e em pouco tempo estarei no sopé dela. A minha mente vagueia por espaços e tempos distantes, imaginando situações e fenômenos desconhecidos. O que me espera ao galgar totalmente a montanha? Certamente serão experiências revigorantes e instigantes. A montanha é de baixa estatura (700 m) e, a cada passo que eu dou, sinto-me mais confiante e expectante também. Vêm à memória lembranças de experiências vividas intensamente nesses meus vinte e seis anos. Nesse breve período, ocorreram situações fantásticas que me fizeram crer que eu era especial. Gradativamente, poderei repartir essas reminiscências com vocês, leitores, sem culpa. Porém, este não é o momento. Continuarei subindo as veredas da montanha em busca de realizar todos os meus desejos. É o que eu espero e pela primeira vez sinto-me cansado. Devo ter percorrido a metade do percurso. Não sinto o cansaço físico, mas principalmente o mental por suportar estranhas vozes me pedindo para eu voltar atrás. Elas insistem muito. Porém, eu não me dou por vencido facilmente. Quero chegar ao topo da montanha por mais que isso me custe. A montanha respira, para mim, ares de transformação que emanam para aqueles que acreditam em seu aspecto sacramental. Quando chegar lá, acho que eu saberei exatamente o que fazer para chegar ao caminho que me conduzirá à viagem tão esperada. Eu permanecerei em minha fé e meus objetivos, pois tenho um Deus que é o Deus do impossível. Continuemos a caminhada.

Já percorri três quartos do percurso total e continuo sendo perseguido pelas vozes. Quem sou eu? Para onde eu irei? Por que sinto que minha vida mudará radicalmente depois da experiência na montanha? Afora as vozes, parece que eu estou sozinho nesse caminho. Será que outros escritores sentiram a mesma coisa ao percorrer caminhos sagrados? Acredito que meu misticismo será diferente de qualquer outro. Tenho que prosseguir, tenho que vencer e suportar todos os obstáculos. Os espinhos que ferem o meu corpo são extremamente perigosos ao ser humano. Se eu sobreviver a essa subida, já me considerarei um vencedor.

Passo a passo, vou me aproximando do topo. Já estou a poucos metros dele. O suor que escorre sob o meu corpo parece impregnado por sagrados aromas da montanha. Paro um pouco. Será que meus entes queridos estão preocupados? Bem, isso não importa agora. Tenho que pensar em mim mesmo, neste momento, para chegar ao topo máximo da montanha. Disso depende o meu futuro. Alguns passos a mais e chego ao topo. Um vento frio sopra, vozes atormentadas me confundem o raciocínio e não me sinto bem. As vozes gritam:

– Ele conseguiu, vai ser agraciado! Será que ele é mesmo digno? Como ele conseguiu escalar toda a montanha?

Sinto-me confuso e tonto, acho que não estou bem.

Os pássaros gritam e os raios de sol acariciam todo o meu rosto. Onde estou? Sinto-me como se tivesse tomado um porre um dia atrás. Tento levantar-me, mas um braço me impede. Vejo que está ao meu lado uma senhora de meia-idade, cabelos ruivos e pele bronzeada

– Quem é você? O que aconteceu comigo? Meu corpo inteiro dói. Sinto minha mente confusa e vaga. Este topo é a causa de tudo isso? Acho que eu deveria ter ficado em minha casa. Meus sonhos me impeliram até aqui. Escalei vagarosamente a montanha, cheio de esperanças num futuro melhor e apontando para um auto crescimento. No entanto, praticamente não posso mover-me. Explique-me tudo isso, eu lhe imploro.

– Sou a guardiã da montanha. Sou o espírito da Terra que sopra de lá para cá. Fui enviada aqui, pois você venceu o desafio. Quer realizar seus sonhos? Eu o ajudarei a conseguir, filho de Deus! Você ainda tem muitos desafios a enfrentar. Eu o prepararei para tal. Não temas. O seu Deus está contigo. Descanse um pouco. Eu voltarei com água e alimentos para suprir suas necessidades. Enquanto isso, descanse e medite como você sempre faz.

Dito isso, a senhora desapareceu da minha visão. Essa imagem perturbadora deixou-me mais aflito e cheio de dúvidas. Quais desafios eu teria de vencer? Em quais etapas esses desafios consistiam? O topo da montanha era realmente um lugar esplendoroso e tranquilo. Do alto, podia avistar-se toda a pequena aglomeração de casas do Mimoso. Ele representa um planalto cheio de íngremes caminhos e repletos de vegetação por todos os lados. Esse local sagrado, intocado da natureza, me ajudaria realmente a realizar meus planos? Tornar-me-ia escritor ao sair dele? Só o tempo poderia responder essas indagações.

Diante da demora da senhora, pus-me a meditar no topo da montanha. Utilizei-me da seguinte técnica: primeiramente, deixo a mente limpa (livre de quaisquer pensamentos). Começo a entrar em sintonia com a natureza ao redor, contemplando todo o local mentalmente. A partir daí começo a entender que faço parte da própria natureza e estamos totalmente interligados, num grande ritual de comunhão. O meu silêncio também é o silêncio da mãe natureza. O meu grito também é o grito dela. Gradativamente, começo a sentir seus desejos e aspirações, reciprocamente. Sinto seu pedido de socorro pela vida e suas menções à destruição humana: desmatamento, mineração, caça e pesca excessivas, emissão de gases poluentes na atmosfera e outras atrocidades humanas. Em contrapartida, ela me escuta e me apoia em todos os meus planos. Estamos completamente interligados durante a meditação. Toda essa harmonia e cumplicidade deixaram-me totalmente tranquilo e concentrado em meus desejos. Até que algo mudou: senti o mesmo toque que outrora me despertara. Abri os olhos, vagarosamente, e percebi que estava diante da mesma senhora que se denominou a guardiã da montanha sagrada.

– Vejo que entendeu o segredo da meditação. A montanha o ajudou a descobrir um pouco do seu potencial. Você crescerá muito em todos os sentidos. Eu o ajudarei nesse processo. Primeiramente, peço que vá retirar da natureza caibros, ripas, esteios e linhas, para erguer sua cabana, e lenha, para fazer uma fogueira. A noite já está chegando, e você precisa se proteger dos animais ferozes. A partir de amanhã, eu o ensinarei a sabedoria da mata para que você possa vencer o seu verdadeiro desafio: a gruta do desespero. Somente o coração puro sobrevive ao fogo de sua análise. Quer realizar seus sonhos? Então pague o preço por eles. O universo não dá nada de graça a ninguém. Somos nós que nos tornamos dignos de alcançar o sucesso. Esta é uma lição que você deve aprender, meu jovem.

– Entendo. Aprenderei tudo o que for necessário para vencer o desafio da gruta. Não tenho ideia do que seja, mas estou confiante. Se eu venci a montanha, também vencerei a gruta de seu topo. Quando eu sair de lá, penso que estarei preparado para vencer e ter sucesso.

– Espere, não tenha tanta confiança. Você não conhece a gruta da qual eu estou falando. Saiba que muitos guerreiros já foram provados por seu fogo e foram destruídos. A gruta não tem pena de ninguém, nem mesmo dos sonhadores. Tenha paciência e aprenda tudo o que vou ensinar. Assim você se tornará um verdadeiro vencedor. Lembre-se: a autoconfiança ajuda desde que na medida certa.

– Compreendo. Obrigado por todos os seus conselhos. Prometo segui-los até o fim. Quando o desespero da dúvida me açoitar, eu me lembrarei deles e do Deus que me guarda sempre. Quando eu não tiver mais saída na noite escura da alma, eu não temerei. Vencerei a gruta do desespero! A gruta da qual ninguém jamais escapou.

A senhora despediu-se amigavelmente, prometendo voltar no outro dia.

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