Читать книгу Forças Opostas - Aldivan Teixeira Torres, Daniele Giuffre' - Страница 14
O tremor
ОглавлениеSurge um novo dia. A luz aparece, a brisa da manhã acaricia os nossos cabelos, pássaros e insetos fazem a festa, a vegetação parece renascer. Isso acontece todos os dias. Esfrego os olhos, lavo o rosto, escovo os dentes e tomo um banho. Esta é a minha rotina antes do café da manhã. A mata não oferece regalias nem opções. Eu não estou acostumado. A minha mãe sempre me mimou a ponto de servir o café para mim. Tomo meu desjejum em silêncio, mas com a mente aflita. Qual será o terceiro e último desafio? O que acontecerá comigo na gruta? São tantas as perguntas sem resposta que me deixam zonzo. A manhã avança e com ela minhas palpitações, meus temores e calafrios. Quem eu era agora? Certamente não era o mesmo. Subi a montanha sagrada atrás de um destino que eu mesmo não conhecia. Encontrei a guardiã e descobri novos valores e um mundo maior do que eu jamais pensei antes. Venci dois desafios e agora só me restava o terceiro. Um terceiro frio, distante e desconhecido. As folhas ao redor da cabana levemente se moveram. Aprendi a entender a natureza e seus sinais. Alguém se aproxima.
– Oh de casa! Ou melhor, oh da cabana!
De um sobressalto, mudo a direção do meu olhar e contemplo a figura misteriosa da guardiã. Ela me parece mais feliz e rosada, apesar da idade que aparenta.
– Estou aqui, como me vê. Que novidades traz para mim?
– Como você sabe, hoje venho anunciar o seu terceiro e último desafio. Ele será realizado no seu sétimo dia sob a montanha, pois é o prazo máximo que um mortal pode ficar sob ela. Ele é simples e consiste no seguinte: mate o primeiro ser, homem ou animal, que você encontrar ao sair da cabana nesse mesmo dia. Caso contrário, você não terá direito de entrar na gruta que realiza os desejos mais profundos. O que você me diz? Não é fácil?
– Como assim? Matar? Por acaso sou um assassino?
– É a única condição para você entrar na gruta. Prepare-se, pois, só faltam dois dias e.…um tremor de 3,7 graus na escala Richter abala todo o topo da montanha. O tremor me deixa tonto e penso que vou desmaiar. Pensamentos e mais pensamentos me vêm à mente. Sinto minhas forças se esgotando e algemas que prendem com força minhas mãos e meus pés. Num rápido momento, vejo-me escravo, trabalhando em cafezais dominados por senhores. Vejo o chicote, o sangue e o clamor dos meus companheiros. Vejo a riqueza dos coronéis, seu orgulho e sua perfídia. Vejo também o grito por liberdade e por justiça dos oprimidos. Ó, como o mundo é injusto! Enquanto uns vencem, outros apodrecem esquecidos. As algemas quebram. Eu estou parcialmente livre. Ainda sou discriminado, odiado e injustiçado. Ainda vejo a maldade dos brancos me chamando de negro. Continuo me sentindo inferior. Ouço novamente gritos de clamor, mas agora a voz é clara, nítida e conhecida. O tremor desaparece e pouco a pouco retomo a consciência. Alguém me levanta. Ainda um pouco tonto, exclamo:
– O que aconteceu?
A guardiã, em prantos, parece não achar resposta.
– Meu filho, a gruta acaba de destruir um outro coração. Por favor, vença o terceiro desafio e acabe com essa maldição. O universo conspira para sua vitória.
– Eu não sei como vencer. Somente a luz do Criador pode iluminar meus pensamentos e minhas ações. Eu garanto: não desistirei facilmente dos meus sonhos.
– Eu confio em você e na educação que teve. Boa sorte, filho de Deus! Até a próxima!
Dito isso, a estranha senhora se afastou e foi envolvida numa fumaça. Eu agora estava só e precisava me preparar para o último desafio.