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VI.
ОглавлениеA noite escura desce: o sol de todo
Nos mares se atufou. A luz dos mortos,
Dos brandões o clarão, fulgura ao longe
No cruzeiro sómente e em volta da ara:
E pelas naves começou ruído
De compassado andar. Fiéis acodem
Á morada de Deus, a ouvir queixumes
Do vate de Sião. Em breve os monges,
Suspirosas canções aos céus erguendo,
Sua voz unirão á voz desse orgam,
E os sons e os ecchos reboarão no templo.
Mudo o côro depois, neste recincto
Dentro em bem pouco reinará silencio,
O silencio dos tumulos, e as trévas
Cubrirão por esta área a luz escaça
Despedida das lampadas, que pendem
Ante os altares, bruxuleando frouxas.
Imagem da existencia!—Em quanto passam
Os dias infantis, as paixões tuas,
Homem, qual então és, são debeis todas.
Cresceste:—ei-las torrente, em cujo dorso
Sobrenadam a dôr e o pranto e o longo
Gemido do remorso, a qual lançar-se
Vai com rouco estridor no antro da morte,
Lá, onde é tudo horror, silencio, noite.
Da vida tua instantes florescentes
Foram dous, e não mais: as cans e rugas,
Logo, rebate de teu fim te deram.
Tu foste apenas som, que, o ar ferindo,
Murmurou, esqueceu, passou no espaço.
E a casa do Senhor ergueu-se.—O ferro
Cortou a penedia; e o canto enorme
Pulído alveja alli no espesso panno
Do muro colossal, que éra após éra,
Como onda e onda ao desdobrar na areia,
Viu vir chegando e adormecer-lhe ao lado.
O ulmo e o choupo no cahir rangeram
Sob o machado: a trave affeiçoou-se;
Lá no cimo pousou: restruge ao longe
De martellos fragor, e eis ergue o templo,
Por entre as nuvens, bronzeadas grimpas.
Homem, do que és capaz! Tu, cujo alento
Se esvái, como da cerva a leve pista
No pó se apaga ao respirar da tarde,
Do seio dessa terra, em que és estranho,
Sair fazes as moles seculares,
Que por ti, morto, falem; dás na idéa
Eterna duração ás obras tuas.
Tua alma é immortal, e a prova a déste!