Читать книгу Eurico, o presbytero - Alexandre Herculano - Страница 13

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Era, pois, n'uma destas noites como a que desceu do céu depois do desbarato dos hunos; era n'uma destas noites em que a terra, envolta no seu manto d'escuridade, se povôa de terrores incertos; em que o sussurro do pinhal é como um coro de finados, o despenho da torrente como um ameaçar d'assassino, o grito da ave nocturna como uma blasphemia do que não crê em Deus.


Nessa noite fria e humida, arrastado por agonia intima, vagava eu ás horas mortas pelos alcantis escalvados das ribas do mar e enxergava ao longe o vulto negro das aguas balouçando-se no abysmo que o Senhor lhes deu para perpetua morada.


Por cima da minha cabeça passava o norte agudo. Eu amo o sopro do vento, como o rugido do mar.


Porque o vento e o oceano são as duas unicas expressões sublimes do verbo de Deus, escriptas na face da terra quando ainda ella se chamava o cahos.


Depois é que surgiu o homem e a podridão, a arvore e o verme, a bonina e o emmurchecer.


E o vento e o mar viram nascer o genero-humano, crescer a selva, crescer a primavera;—e passaram, e sorriram-se.


E, depois, viram as gerações reclinadas nos campos do sepulchro, as arvores derribadas no fundo dos valles seccas e carcomidas, as flores pendidas e murchas pelos raios do sol do estio;—e passaram, e sorriram-se.


Que tinham elles, de feito, com essas existencias, mais passageiras e incertas que as correntezas de um e que as ondas buliçosas do outro?


Eurico, o presbytero

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