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I
Impressões d'uma Exposição
ОглавлениеHa muito tempo já, deveria ter vindo dizer da bella impressão que me causou a 1.ª Exposição organisada pelo
José Malhoa
Instituto de Estudos e Conferencias, mas os meus affazeres obrigaram-me, para gaudio dos meus leitores (pois critica incompetente como a minha quanto mais tarde melhor), a só hoje cumprir este dever.
Fui vêr a exposição sete vezes, e de cada vez que lá ia, novos encantos encontrava nos trabalhos expostos, pois a tentativa do Instituto teve o resultado mais brilhante que podia desejar-se.
Concorreram a este certamen desde os nossos melhores artistas até aos mais modestos amadores, e na generalidade todos se apresentaram dignamente, não obstante um critico d'arte ter dito, em um semanario d'esta cidade, que aquelles trabalhos eram meras chromolythographias. Uma duvida me assalta o espirito relativamente aos conhecimentos artisticos e criterio de tal critico. Saberá elle o que são chromolythographias? Mas, deixemos a cada um o seu modo particular de vêr... e de apreciar, e vamos ao que importa... Demais, a lua está tão alta?...
Vi, como disse, varias vezes os cento e dezesete quadros expostos, os dous bustos e o medalhão em marmore.
José de Brito
Dos trabalhos de esculptura direi apenas que os dous primeiros são obra de Fernandes de Sá, pensionista do Estado, que em Paris completa a educação artistica do seu muito talento. A cabecita de creança, em marmore, é um encanto, aquella boquita admiravel de bébé pedia milhares de beijos...
O medalhão de Joaquim Gonçalves é uma bella copia de um primoroso trabalho do grande mestre Soares dos Reis.
Agora, emquanto a quadros, ponho em primeiro logar, dôa a quem doer, os dous trabalhos de Malhoa, esse admiravel artista da Luz e da Côr. Eram um assombro os seus quadros.
Que grande calamidade—josé malhoa
O Gozando os rendimentos, estudado com cuidado e traçado largamente, empolgou-me por completo e fez-me gosar, conjunctamente com o personagem estudado, toda aquella commodidade natural de bom burguez que procura um amplo jardim publico para fazer socegadamente o seu chylo. Esta impressão forte que tive, confesso-o, foi devida talvez ao meu burguesismo.
No Que grande calamidade, as figuras trabalhadas com um rigor de verdadeiro mestre, são flagrantes na sua dor, ao verem o seu querido porco, morto na pocilga. Talvez que, se entre as cabeças das figuras e o rebordo do caixilho houvesse um pouco mais de tela, mais imponentes ellas ficariam.
E depois d'isto, de ter dito o meu modo de pensar sobre tão primorosos trabalhos, vou, salteando o catalogo, dar a nota dos quadros que mais me prenderam a attenção.
Chrysantemos—antonio costa
Marques de Oliveira, como sempre, distinctamente. É inegavelmente um grande desenhista. As suas Impressões de Espinho, são bellas e tanto, que uma foi adquirida pelo Instituto por indicação do jury competente. A Azenha, um encanto, Cabeça de estudo, um primor.
Greno, a fulgurantissima artista, bem, admiravelmente. Então os Pensamentos? Esse, era uma delicia.
Antonio Costa, para mim o unico pintor portuguez de flores, não desmereceu a sua grande fama e, os Chrysantemos e Na vindima, deram-me a prova evidente da sua muita aptidão para este genero de pintura.
Candido da Cunha
Candido da Cunha, um novo de muito talento, com o seu Ultimos raios de sol, que já conheciamos e que foi adquirido tambem pelo Instituto, com os seus—Mar calmo, Martyr e Barcos de pesca, merecem hoje, como sempre, os nossos elogios.
Julio Ramos, outro novo, paisagista apaixonado e distincto, dando ás suas paisagens um tom de verdade admiravel. O Macieiras em flor, em especial e as outras dezeseis telas, lindas a valer.
José de Brito, um mestre, talvez abusando um pouco das cores finas; todos os seus quadros são bons, mas para mim superior a todos é o Mulher do novello, estudo admiravelmente feito de uma velha repelenta, flagrantissima de verdade na expressão do rosto. Na Infancia de Diana,
João Augusto Ribeiro
bello estudo do nú, alguma coisa me desagradou á vista, especialmente um cão que se via nos ultimos planos...
João Augusto Ribeiro, bem nos seus pequeninos quadros Retalhos, Lar.
D. Lucilia Aranha, uma verdadeira artista, cheia de talento e de força de vontade, mais uma vez affirmou, com os treze quadros expostos, as suas aptidões artisticas.
Retrato de minha mãe torquato pinheiro
Torquato Pinheiro veio marcar n'esta exposição o seu logar definido e assente ao lado dos bons artistas. Um caminho encharcado, Manhã d'Abril, Margens do Leça, e todos os demais são feitos com alma de verdadeiro artista. Mas, a destacar, como primor de execução, o Retrato de minha Mãe, que é um trabalho notavel.
D'entre os amadores, extremarei D. Leopoldina Pinto, com as suas flores, especialmente o Pelargonios, que senti não tivesse preço para ser adquirido.
Mais artistas e amadores concorreram a este delicado certamen, mas, não me demorarei na enumeração dos seus trabalhos, porque isso iria ainda muito longe e os meus leitores, decerto, se até aqui chegaram, já bastante se tem aborrecido da semsaboria d'esta minha despretenciosa prosa, que do modo algum aspira ao nome de critica.