Читать книгу Fanny: estudo - Feydeau Ernest - Страница 10

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Eu era feliz! Desprezava quantos não eram eu, porque ella os não amava! De longe e de cima olhava o mundo. De tudo segregado, tudo via d'alto, mas com indifferença, tumido de orgulho. Parecia-me que sobre mim convergiam os perfumes todos da terra e sorrisos do céo. Nos olhares que se encontravam com os meus, chammejavam os fulgores da inveja; e o murmurar confuso das turbas agitadas, rumorejava aos meus ouvidos como acclamações longinquas.

A imagem de Fanny absorvia-me a memoria, e desprendia-se de meus pensamentos todos. Era, a um tempo, mais irritante que um sonho, e mais consoladora que a esperança. Nunca eu antevera seduções tamanhas em humana creatura, tantas delicadezas n'um coração, tanta graça na reserva, tanto pudôr na renuncia de si!

Mescla de enthusiasmo e arrobamento, de illusões e desalentos, de melancolia e criancice, fôra o bastante a conquistar-lhe o amor. Parecia-me, todavia, pouco esmerada em attenções e cuidados. Tão amada, por certo, tinha sido ella! Bella ainda, mais bella do que talvez se cria, augmentava cada uma das suas graças com o esforço timido que punha em evitar a apathia, que presentia de longe, com a vinda dos novos annos.

Dias tinha ella em que era possivel traduzil-a nos olhos, quando cerrava os labios n'uma expressão de meditar mais affectuoso, quando seus cabellos, fluctuando-lhe sobre as fontes emaciadas, em flacidas spiras, as envolviam com uma especie de suave piedade. Contemplava-lhe eu então as mãos candidissimas, e figuravam-se-me duplicadas, para que suas ultimas caricias fossem mais copiosas e maternas. Escutava ancioso os suspiros que lhe sahiam do peito opprimido: tinha-os como protesto surdo do coração que reagia ainda á indifferença, desejando-a acaso como repouso, e expedia a sua mais bella flamma, antes de retrahir-se em si para morrer.

Fanny: estudo

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