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XIX

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De madrugada emergia do meu pesadelo, mais quebrantado que o ferido d'um tétano.

E se me arrastava á janella, para aspirar um pouco de ar puro, a mesma pergunta me desabrochava nos labios calcinantes como flôr venenosa:

Por que o amou ella n'outro tempo? Que ella o amou, já m'o disse; foi por elle tirada á familia que a não queria ligar a um homem sem posição e sem riqueza. Enriqueceu depois, por que é energico e paciente. Sabe querer. Mas por que o amou ella? E, depois, por que me ama ella hoje a mim? Somos tão differentes um do outro!

Um dia, finalmente, á força de moer n'esta ideia, e joeirar-lhe no espirito os venenos todos, julguei que ia penetrar o proceder de Fanny. Lembrando-me quanto ella era sensivel ás caricias; figurando-me as scenas mais deleitosas do nosso amor, e comparando-me ao marido, invergonhei-me e alguma coisa mais acre que o desgosto, mais amarga que o despreso, mais peçonhenta que o odio, me subiu do coração aos labios.

– Ora ahi está por que ella me ama hoje – me disse eu sacudindo a cabeça. Veio depois auxiliar-me a analyse mais uma vez, mas para ferir-me covardemente com uma nova punhalada. – Ama-me para variar – disse eu amargurado – para satisfazer, um contrario exagerado, um desejo mais sentimental, mais delicado. A não ser para completar o seu ideal… accrescentei eu sem reflectir na crueldade da supposição.

Mas em tal caso – grito eu com terror indisivel – eu não sou para ella mais que metade d'um homem! Encho apenas metade d'um coração! Fui medido. Acharam-me incompleto. Sou escassamente uma addição! Não passo d'um complemento.

Fanny: estudo

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