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XXI

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Em troca d'estas dôres, que por serem silenciosas, não eram menos crueis, nenhuma consolação eu recebia. Os meus prazeres eram extinctos. A duvida resequira as novas flôres d'elles com seu impuro sopro.

Apenas meus sentidos se atrophiavam, vinha logo a mão adunca da mysantropia cravar-se-me no hombro. A lembrança d'aquelle que, na logica da minha paixão, eu nomeava meu vival, como spectro de suplicio infindo, vinha interpor-se entre mim e ella, com uma atroz ironia, para empeçonhar nossas caricias.

Eu via os traços d'elle nas palavras, nos gestos e modos e costumes da mulher que eu adorava. N'aquelles braços que me apertavam ao coração, estavam os seus moldes. No sangue que ondeava desordenado nas arterias de Fanny, se infiltrára elle. Via-o na fronte pallida, no rosto contemplativo, nos olhos amortecidos, todo n'ella, abraçando-me, com ella, e suspirando nos seus suspiros… Como eu invejava amigos meus abandonados, que se aturdiam juntos, nas bachanaes, ao tilintar do oiro sobre os panos verdes das mesas do jogo, ás francas gargalhadas das mulheres perdidas! E todos os amantes desdenhados, que, de braços abertos e olhar internecedor, perseguem, sonhando, uma sombra altiva! E ainda todos os amantes separados! Nenhum d'elles – dizia eu lastimosamente – soffreu jámais por seu amor infertil, tanto quanto eu soffro por meu amor partilhado. Zombaria atroz da possessão! quando nos não fatigas, deshonras-nos.

Fanny: estudo

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