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ADVERTÊNCIA

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Quando o conselheiro Ayres falleceu, acharam-se lhe na secretaria sete cadernos manuscriptos, rijamente encapados em papelão. Cada um dos primeiros seis tinha o seu numero de ordem, por algarismos romanos, I, II, III, IV, V, VI, escriptos a tinta encarnada. O setimo trazia este titulo: Ultimo.

A razão desta designação especial não se comprehendeu então nem depois. Sim, era o ultimo dos sete cadernos, com a particularidade de ser o mais grosso, mas não fazia parte do Memorial, diario de lembranças que o conselheiro escrevia desde muitos annos e era a materia dos seis. Não trazia a mesma ordem de datas, com indicação da hora e do minuto, como usava nelles. Era uma narrativa; e, posto figure aqui o proprio Ayres, com o seu nome e titulo de conselho, e, por allusão, algumas aventuras, nem assim deixava de ser a narrativa extranha á materia dos seis cadernos. Ultimo porquê?

A hypothese de que o desejo do finado fosse imprimir este caderno em seguida aos outros, não é natural, salvo se queria obrigar a leitura dos seis, em que tratava de si, antes que lhe conhecessem esta outra historia, escripta com um pensamento interior e unico, atravez das paginas diversas. Nesse caso, era a vaidade do homem que falava, mas a vaidade não fazia parte dos seus defeitos. Quando fizesse, valia a pena satisfazel-a? Elle não representou papel eminente neste mundo; percorreu a carreira diplomatica, e aposentou-se. Nos lazeres do officio, escreveu o Memorial, que, aparado das paginas mortas ou escuras, apenas daria (e talvez dê) para matar o tempo da barça de Petropolis.

Tal foi a razão de se publicar sómente a narrativa. Quanto ao titulo, fôram lembrados varios, em que o assumpto se pudesse resumir, Ab ovo, por exemplo, apesar do latim; venceu, porém, a ideia de lhe dar estes dous nomes que o proprio Ayres citou uma vez:

ESAÚ E JACOB

Dico, che quando l'anima mal nata...

DANTE.

Esau e Jacob

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