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I

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Tu nasceste de um beijo e de um olhar. O beijo

N'uma hora de amor, de ternura e desejo,

Uniu a terra e o céu. O olhar foi do Senhor,

Olhar de vida, olhar de graça, olhar de amor;

Depois, depois vestindo a fórma peregrina,

Aos meus olhos mortaes, surgiste-me, Corinna!


De um jubilo divino os cantos entoava

A natureza mãe, e tudo palpitava,

A flôr aberta e fresca, a pedra bronca e rude,

De uma vida melhor e nova juventude.


Minh'alma adivinhou a origem do teu ser;

Quiz cantar e sentir; quiz amar e viver;

A luz que de ti vinha, ardente, viva, pura,

Palpitou, reviveu a pobre creatura;

Do amor grande, elevado, abriram-se lhe as fontes;

Fulgiram novos sóes, rasgaram-se horizontes;

Surgiu, abrindo em flôr, uma nova região;

Era o dia marcado á minha redempção.

Era assim quo eu sonhava a mulher. Era assim:

Corpo de fascinar, alma de cherubim;


Era assim: fronte altiva e gesto soberano,

Um porte de rainha a um tempo meigo e ufano,

Em olhos senhoris uma luz tão serena,

E grave como Juno, e bella como Helena!

Era assim, a mulher que extasia e domina,

A mulher que reune a terra e o céu; Corinna!


N'este fundo sentir, nesta fascinação,

Que pede do poeta o amante coração?

Viver como nasceste, ó belleza, ó primor,

De uma fusão do ser, de uma effusão do amor.


Viver,—fundir a existencia

Em um osculo de amor,

Fazer de ambas—uma essencia,

Apagar outras lembranças,

Perder outras illusões,

E ter por sonho melhor

O sonho das esperanças

De que a unica ventura

Não reside em outra vida,

Não vem do outra creatura;

Confundir olhos mos olhos,

Unir um seio a outro seio,

Derramar as mesmas lagrimas

E tremer do mesmo enleio,

Ter o mesmo coração,

Viver um do outro viver...

Tal era a minha ambição.


Donde viria a ventura

Desta vida? Em que jardim

Colheria esta flôr pura?

Em que solitaria fonte

Esta agua iria beber?

Em que encendido horizonte

Podiam meus olhos ver

Tão meiga, tão viva estrella,

Abrir-se e resplandecer?

Só em ti:—em ti que és bella,

Em ti quo a paixão respiras,

Em ti cujo olhar se embebe

Na illusão de que deliras,

Em ti, que um osculo de Hebe

Teve a singular virtude

De encher, de animar teus dias,

De vida e de juventude...


Amemos! diz a flôr á brisa peregrina,

Amemos! diz a brisa, arfando em torno á flôr

Cantemos esta lei e vivamos, Corinna,

De uma fusão do ser, de uma effusão do amor.

Poesias Completas

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