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QUINZE ANNOS

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Oh! la fleur de l'Eden, pourquoi l'as-tu fanée,

Insouciant enfant, belle Eve bus blonds cheveux?

ALFRED DE MUSSET

Era uma pobre criança...

—Pobre criança, se o eras!—

Entre as quinze primaveras

De sua vida cançada

Nem uma flôr de esperança

Abria a medo. Eram rosas

Que a douda da esperdiçada

Tão festivas, tão formosas,

Desfolhava pelo chão.

—Pobre criança, se o eras!—

Os carinhos mal gozados

Eram por todos comprados,

Que os affectos de sua alma

Havia-os levado á feira,

Onde vendera sem pena

Até a illusão primeira

Do seu doudo coração!


Pouco antes, a candura,

Co'as brancas azas abertas,

Em um berço de ventura

A criança acalentava

Na santa paz do Senhor;

Para accordal-a era cedo,

E a pobre ainda dormia

Naquelle mudo segredo

Que só abre o seio um dia

Para dar entrada a amor.


Mas, por teu mal, acordaste!

Junto do berço passou-te

A festiva melodia

Da seducção... e acordou-te!

Colhendo as limpidas azas,

O anjo que te velava

Nas mãos tremulas e frias

Fechou o rosto... chorava!


Tu, na sede dos amores,

Colheste todas as flôres

Que nas orlas do caminho

Foste encontrando ao passar;

Por ellas, um só espinho

Não te feriu... vás andando...

Corre, criança, até quando

Fores forçada a parar!


Então, desflorada a alma

De tanta illusão, perdida

Aquella primeira calma

Do teu somno de pureza;

Esfolhadas, uma a uma,

Essas rosas de belleza

Que se esvaem como a escuma

Que a vaga cospe na praia

E que por si se desfaz;


Então, quando nos teus olhos

Uma lagrima buscares,

E seccos, seccos de febre,

Uma só não encontrares

Das que em meio das angustias

São um consolo e uma paz;


Então, quando o frio spectro

Do abandono e da penuria

Vier aos teus soffrimentos

Juntar a ultima injuria:

E que não vires ao lado

Um rosto, um olhar amigo

Daquelles que são agora

Os desvellados comtigo;


Criança, verás o engano

E o erro dos sonhos teus;

E dirás,—então já tarde,—

Que por taes gozos não vale

Deixar os braços de Deus.

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