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POLONIA

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E ao terceiro dia a alma deve voltar ao

corpo, e a nação resuscitará.

MICKIEWIEZ.

Como aurora de um dia desejado,

Clarão suave o horizonte innunda.

E talvez amanhã. A noite amarga

Como que chega ao termo; e o sol dos livres,

Cangado de te ouvir o inutil pranto,

Alfim resurge no dourado Oriente.


Eras livre,—tão livre como as aguas

Do teu formoso, celebrado rio;

A corôa dos tempos

Cingia-te a cabeça veneranda;

E a desvellada mãe, a irmã cuidosa,

A santa liberdade,

Como junto de um berço precioso,

Á porta dos teus lares vigiava.


Eras feliz demais, demais formosa;

A sanhuda cobiça dos tyranos

Veio enlutar teus venturosos dias...

Infeliz! a medrosa liberdade

Em face dos canhões espavorida

Aos reis abandonou teu chão sagrado;

Sobre ti, moribunda,

Viste cahir os duros oppressores:

Tal a gazella que percorre os campos,

Se o caçador a fere,

Cae convulsa de dôr em mortaes ancias,

E vê no extremo arranco

Abater-se sobre ella

Escura nuvem de famintos corvos.

Presa uma vez da ira dos tyranos,

Os membros retalhou-te

Dos senhores a explendida cobiça;

Em proveito dos reis a terra livre

Foi repartida, e os filhos teus—escravos—

Viram descer um véu de luto á patria

E apagar-se na historia a gloria tua.


A gloria, não!—É gloria o captiveiro

Quando a captiva, como tu, não perde

A alliança de Deus, a fé que alenta,

E essa união universal e muda

Que faz communs a dôr, o odio, a esperança.


Um dia, quando o calix da amargura,

Martyr, até ás fezes esgotaste,

Longo tremor correu as fibras tuas;

Em teu ventre de mãe, a liberdade

Parecia-soltar esse vagido

Que faz rever o céu no olhar materno;

Teu coração estremeceu; teus labios

Tremulos de anciedade e de esperança,

Buscaram aspirar a longos tragos

A vida nova nas celestes auras.

Então surgiu Kosciusko;

Pela mão do Senhor vinha tocado;

A fé no coração, a espada em punho,

E na ponta da espada a torva morte,

Chamou aos campos a nação caída.

De novo entre o direito e a força bruta

Empenhou-se o duello atroz e infausto

Que a triste humanidade

Inda verá por seculos futuros.

Foi longa a luta; os filhos dessa terra

Ah! não pouparam nem valor nem sangue!

A mãe via partir sem pranto os filhos,

A irmã o irmão, a esposa o esposo,

E todas abençoavam

A heroica legião que ia á conquista

Do grande livramento.


Coube ás hostes da força

Da pugna o alto premio;

A oppressão jubilosa

Cantou essa victoria de ignominia;

E de novo, ó captiva, o véu de luto

Correu sobre teu rosto!

Deus continha

Em suas mãos o sol da liberdade,

E inda não quiz que nesse dia infausto

Teu macerado corpo allumiasse.


Resignada á dôr e ao infortunio,

A mesma fé, o mesmo amor ardente

Davam-te a antiga força.

Triste viuva, o templo abriu-te as portas;

Foi a hora dos hymnos e das preces;

Cantaste a Deus; tua alma consolada

Nas azas da oração aos céus subia,

Como a refugiar-se e a refazer-se

No seio do infinito.

E quando a força do feroz cossaco

A casa do Senhor ia buscar-te,

Era ainda rezando

Que te arrastavas pelo chão da egreja.


Pobre nação!—é longo o teu martyrio;

A tua dôr pede vingança e termo;

Muito has vertido em lagrimas e sangue;

É propicia esta hora. O sol dos livres

Como que surge no dourado Oriente.

Não ama a liberdade

Quem não chora comtigo as dôres tuas;

E não pede, e não ama, e não deseja

Tua resurreição, finada heroica!

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