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Eras pallida. E os cabellos,

Aereos, soltos novellos,

Sobre as espaduas as cahiam...

Os olhos meio-cerrados

De volupia e de ternura

Entre lagrimas luziam...

E os braços entrelaçados,

Como cingindo a ventura,

Ao teu seio me cingiam...


Depois, naquelle delirio,

Suave, doce martyrio

De pouquissimos instantes,

Os teus labios sequiosos,

Frios, tremulos, trocavam

Os beijos mais delirantes,

E no supremo dos gozos

Ante os anjos se casavam

Nossas almas palpitantes...


Depois... depois a verdade,

A fria realidade,

A solidão, a tristeza;

Daquelle sonho desperto,

Olhei... silencio de morte

Respirava a natureza—

Era a terra, era o deserto,

Fôra-se o doce transporte,

Restava a fria certeza.


Desfizera-se a mentira:

Tudo aos meus olhos fugira:

Tu e o teu olhar ardente,

Labios tremulos e frios,

O abraço longo e apertado,

O beijo doce e vehemente;

Restavam meus desvarios,

E o incessante cuidado,

E a phantasia doente.


E agora te vejo. E fria

Tão outra estás da que eu via

Naquelle sonho encantado!

És outra, calma, discreta,

Com o olhar indifferente,

Tão outro do olhar sonhado,

Que a minha alma de poeta

Não vê se a imagem presente

Foi a visão do passado.


Foi, sim, mas visão apenas;

Daquellas visões amenas

Que á mente dos infelizes

Descem vivas e animadas,

Cheias de luz e esperança

E de celestes matizes;

Mas, apenas dissipadas,

Fica uma leve lembrança,

Não ficam outras raizes.


Inda assim, embora sonho,

Mas, sonho doce e risonho,

Désse-me Deus que fingida

Tivesse aquella ventura

Noite por noite, hora a hora,

No que me resta de vida,

Que, já livre da amargura,

Alma, que em dores me chora.

Chorára de agradecida!

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