Читать книгу O humor da minha vida - Paz Padilla - Страница 6

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A vida é uma caixinha de surpresas. Em julho de 2020 ligaram-me da Sociedade Espanhola de Cuidados Paliativos a pedir permissão para dar o meu número de telefone a alguém que insistia em querer falar comigo. Tratava-se de uma atriz que, há poucos dias, acabara de perder o marido e conhecia os meus vídeos no YouTube. A intermediária acrescentou a sua opinião, dizendo que a pobre devia estar muito afetada e queria pedir apoio para o seu desconsolo.

Tratava-se da Paz, que me ligou ao fim de algumas horas e, desde o começo, desmontou o falso alarme de «possível viúva desconsolada a pedir apoio para um luto complicado». Com a sua voz cantarina, cheia de energia e entusiasmo, a primeira coisa que me disse — acentuando e prolongando o «i» — foi:

— ENRÍÍÍÍC! Estava desejosa de te agradecer por me teres ajudado tanto com os teus vídeos para poder acompanhar o meu Antonio.

Surpreendi-me com a sua maturidade, a sua vitalidade e a sua coragem e alegrei-me com a troca de perspetiva de «ajudar alguém que estava a sofrer» pela de poder partilhar a experiência que se dá nestes momentos e que poucos chegam a descobrir.

Tivemos uma conversa longa em que descobri que a Paz, acompanhando o seu amor até à beira do mistério que é morrer, fizera um processo pessoal que mudara o seu olhar sobre a vida. Estava comovida com isso e interessada em falar com alguém que conseguisse entendê-lo.

Depois de anos a viver estas experiências ao lado da cama, alguns de nós comprovaram que o amor é mais forte do que a morte e que quem se aproxima, sem medo e com amor, a acompanhar o processo de alguém amado, com frequência, descobre o presente de aprender diretamente que a morte não existe e sai transformado. Sofre o que se chama uma metanoia, uma mudança de perspetiva.

Quando a pessoa que morre vai em paz, na medida em que estamos ligados a ela, podemos receber esta herança de sentir a continuidade do importante, da solidez do subtil e da inefabilidade do transcendente e esta experiência muda-nos a vida.

Pareceu-me uma maravilha que alguém com a energia, sensibilidade e potencial impacto social da Paz pudesse ter vivido este processo. E alegrei-me por ter podido ser de alguma ajuda.

Desde o princípio, a Paz soube que o que viveu e aprendeu com esta experiência não era algo que queria só para ela e que queria partilhá-lo, talvez por perceber o sofrimento que se associa à ignorância tão grande de algo tão importante como a vida não ter fim.

Depois desta primeira conversa, tivemos outras e, numa delas, pediu-me algo que voltou a tirar-me da minha zona de conforto: Convidou-me para a acompanhar num programa de televisão que nunca vejo e tentei escapulir-me, dizendo-lhe que a minha filha não me perdoaria, pois, em casa, somos do âmbito académico e os programas de telerrealidade não têm prestígio. A sua perseverança fez-me ver que havia algo em que ambos, a Paz e eu, concordávamos: A necessidade de mostrar às pessoas uma nova perspetiva do morrer que nos levará a uma compreensão maior do viver. E, ignorando as minhas reservas, acabei por aparecer em Sálvame Deluxe para apoiar esta mulher — já amiga —, cuja coragem a levou a mostrar publicamente, poucos meses depois do falecimento do marido, uma forma saudável, realista, construtiva e sem hesitações — apesar do ambiente em que vivia — de enfrentar uma perda e sair com mais sabedoria.

Noutra das nossas conversas, a Paz disse:

— Quero escrever um livro sobre a minha experiência.

E soube logo — a intuição é a forma como a verdade me chega — que seria algo que valeria a pena e decidi fazer o prólogo. E aqui estou.

Vamos ao livro. Em primeiro lugar, obrigado, Paz, pela tua generosidade e pela tua coragem para mostrar ao mundo as tuas lembranças, reflexões e experiências, frequentemente íntimas e sempre próximas, autênticas e, com frequência, comovedoras. Li-o quase de uma assentada e comovi-me, senti ternura — teria adorado conhecer a tua mãe! — e, às vezes, senti um nó na garganta, mas, sobretudo, ri-me muitíssimo.

Dito isto, que é o mais importante, passando de leitor a prefaciador, devo dizer algo menos pessoal ou mais profissional sobre o livro e acrescentarei algumas coisas neste sentido.

Mari Paz: O relato é uma das formas de libertação da tensão e a descrição elaborada de uma experiência como esta, para além de dar sentido ao vivido, também mostra um caminho — o que transitaste através da dor, do amor e do humor — que pode servir de guia para que os outros aproveitem a tua vivência e que os alcançará fácil e profundamente.

No morrer, como noutras situações graves da vida, há duas coisas que são úteis: A sensatez e o sentido de humor. O humor ajuda a aliviar a atmosfera, a situar o processo de morrer na sua verdadeira perspetiva e a desmontar a seriedade intensa da situação.

Acho que o humor, quando é sábio e surge do amor, nos transporta para um nível de consciência que relativiza a realidade e supõe uma forma de inteligência amorosa que nos liga rapidamente com o mais íntimo de nós e nos abre para, suavemente, integrar a dor, aceitar a perda e manter a perspetiva de que somos mais do que o nosso sofrimento. Através do humor, nos momentos difíceis, este ajuda-nos a perceber que a vida que nos sustenta não se fecha com o que, agora, parece que nos arrasta ou nos atinge, há outra forma de ver e este olhar abre-se com a porta da gargalhada, da alegria, que não é incompatível, como bem diz a Paz, com a tristeza própria do luto.

Entre gargalhadas, piadas e brincadeiras, a Paz vai dando pistas de como manter a coragem e a confiança no meio do caos aparente. Mostra como o sentido comum e o sentido de humor são importantes, mas não os únicos, e explica-nos a sua atração e interesse pela meditação ou deixa-nos pérolas de sabedoria como: «A tristeza não é um antónimo de felicidade. Não são incompatíveis, não é por estarmos tristes que não podemos ser felizes. A tristeza é parte natural do processo de luto e, como parte natural, devemos aceitá-la, parar de resistir.»

Há capítulos que me pareceram sublimes. Não percam o discurso maravilhoso da Paz no funeral do Antonio. Não é de estranhar que, do outro lado, lhe mande o seu perfume! — Entenderão quando lerem!

E partilha coisas que, de uma perspetiva padrão, quer dizer, da de alguém que não sofreu ou que não soube integrar e transcender o sofrimento, podem parecer afirmações insólitas, como quando diz: «E este ano, aprendi a celebrar a morte. A não ter o menor medo dela. A aceitar o curso inevitável da vida. A acompanhar os entes queridos na sua viagem com amor. Um amor puro, branco e inesgotável. A amar-me e cuidar de mim. A desfrutar de qualquer detalhe de beleza e de bondade do presente imediato. E o que a experiência me ensinou foi que, para aprender tanto, a única coisa que não podemos esquecer é de rir.»

Têm isto garantido se começarem o livro, espero, como a Paz deseja, que também vos sirva para «refletir sobre a importância de viver, sobre a nossa passagem efémera por este mundo»; aceitar «que devemos preparar-nos para as nossas mortes vindouras.»

Com frequência, pedem-me algum livro para alguém que sofreu uma perda recente sobre como lidar com o luto e o que conheço e costumava recomendar era do estilo de autoajuda que, apesar de servirem, não cumprem realmente as minhas expectativas. Agora, sei que livro vou recomendar: ESTE!!

OBRIGADO, PAZ, em nome de todos os que vão desfrutar e aprender com esta experiência que nos ofereces!

DR. ENRIC BENITO

O humor da minha vida

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