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DUAS PALAVRAS

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Passei o dia 9 de setembro de 1894, em Cezár, na casa onde nasceu frei Simão de Vasconcellos, o protagonista d’este romance. A amavel hospedagem com que alli me recebeu o sr. Alfredo Praça de Vasconcellos, bacharel em mathematica pela Universidade de Coimbra e sobrinho de frei Simão, largamente me compensou dos incommodos da jornada. Eu ia, mediante prévia auctorisação, colhêr informações directas sobre um assumpto que me indicára em Lisboa o meu illustre amigo o sr. visconde de Villa Mendo: o assumpto d’este livro, cujos pormenores estudei com desvelada exactidão.

Á roda do meu primoroso hospedeiro estavam reunidos em grupo todos os velhos de Cezár que ainda tinham conhecido frei Simão de Vasconcellos. Trez apenas. Ouvi da sua bôca a narração de interessantes minucias biographicas. Por favor do sr. Vasconcellos compulsei varios documentos de familia, posteriores ao auto-de-fé em que as justiças miguelistas pulverisaram o archivo da sua casa.

Creio que este romance deverá o «sens du réel», que porventura o vitalise, á profunda impressão que recebi, n’esse dia, em visita ao solar do Outeiro, sob os tectos que abrigaram parte da atormentada existencia de frei Simão; e em passeio pelos campos de Cezár, acompanhado pelos ultimos contemporaneos do frade guerrilheiro, que paravam reatando lembranças, mencionando logares e factos, e cujos cabellos brancos se doiravam a espaços com algum alado raio de sol que luciolava os frócos verdes do arvoredo.

Procurando, no pouco que me era possivel, retribuir a patriarchal cordealidade da hospedagem, pedi licença ao sr. Alfredo de Vasconcellos para lhe offerecer este romance,—a historia da sua familia.

Vi que as lagrimas lhe saltavam dos olhos n’esse momento. Olhando fito em mim com o olhar embaciado, o sr. Vasconcellos respondeu-me:

—Comprehendo a sua intenção, e agradeço-lh’a. Mas se v. quer dedicar o seu livro a um parente do frade do Outeiro, peço-lhe que o offereça á memoria de meu pobre irmão, o major Augusto Cezár de Vasconcellos, morto na mallograda revolta de Braga em 1862, no cumprimento do seu dever.

E as lagrimas abafavam-n’o n’uma commoção torturada.

É pois á memoria d’esse infeliz sobrinho de frei Simão de Vasconcellos que eu dedico a chronica fiel da attribulada existencia e corajosa morte do tio.

Outras jornadas emprehendi por amor da verdade historica. Duas vezes tive de ir á Villa da Feira para reconstruir o episodio da evasão de frei Simão de Vasconcellos, da cadeia d’aquella villa.

Da primeira vez não pude colhêr as informações que desejava. A memoria dos velhos sobreviventes estava confusa e hesitante, quasi apagada. Da segunda vez, caminhei ao acaso, dirigindo-me, por palpite ou intuição, ao primeiro homem encanecido que encontrei. Felizmente, elle poude indicar-me a pessoa que reputava habilitada para esclarecer-me. Assim fiz; e assim foi.

Desde essa hora, o romance estava completo. E, emquanto o escrevia, eu comprehendia a exacta affirmação, que aos indifferentes de hoje parecerá arrojada hyperbole, contida n’esta phrase de Alexandre Herculano: «A guerra da restauração de 1832 a 1833 é o acontecimento mais espantoso e mais poetico d’este seculo.»

Lisboa, 13 de junho de 1895.

Alberto Pimentel.


I
Flor do Támega

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