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XVII
A ROMEIRA

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Aqui vai outra romeira, e não sei se de Sanctiago tambem; mas creio que não, porque o diria algures o texto do romance: não é orago que deixasse de se nomear.

É lindo, singelo, perfeito exemplar no seu genero. Não me consta que ande por mais terras nossas do que pelas do Minho e Tras-os-montes. So pelas duas versões d’estas provincias o tive de appurar; e sem muito custo, porque é simples de si, e pouco o alteraram na tradição. Tem todo o sabor e ingenuidade antiga, conserva perfeitamente os costumes crus da edade barbara a que se refere. Tambem não occorre nos romanceiros dos nossos vizinhos, e estou seguro que é ésta a primeira vez que se vê escripto e impresso.

As variantes que valem alguma coisa vão notadas á margem, e não são muitas.

A ROMEIRA

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Por aquelles montes verdes

Uma romeira descia;

Tam honesta e formosinha

Não vai outra á romaria.

Sua saia leva baixa

Que nas hervas lhe prendia;

Seu chapelinho cahido

Que lindos olhos cubria!

Cavalleiro vai traz d’ella,

De má tenção que a seguia[1]!

Não a alcança, por mais que ande,

Alcançá-la não podia

Senão juncto a essa oliveira[2]

Que está no adro da ermida.

Á sombra da árvore benta

A romeira se accolhia:

—‘Eu te rogo, cavalleiro,

Por Deus e a Virgem Maria,

Que me deixes ir honrada

Para a sancta romaria.’

Cavalleiro, de malvado,

Nem Deus nem razão ouvia;

Cego no desejo bruto,

De amores a accommettia.

Pegaram de braço a braço:

Lucta de grande porfia![3]

A romeira, por mais fraca,

Emfim rendida cahia...[4]

No cahir, lhe viu á cinta

Um punhal que elle trazia;

Com toda a fôrça lh’o arranca,

No coração lh’o mettia.

O sangue negro saltava,

O negro sangue corria...

—‘Por Deus te peço, romeira[5],

Por Deus e a Virgem Maria,

Que o não digas em tua terra,

Nem te vás gabar á minha

Da vingança que tomaste,

Da affronta que te eu fazia.’

—‘Heide dizê-lo em tu’terra,

Heide me ir gabar á minha,

Que mattei um vil covarde

Co’as armas que elle trazia.’

Tocou a campa da ermida,

A campa que retinia:

—‘Ermitão, por Deus vos peço[6],

Bom ermitão d’esta ermida,

Tenhais dó d’essa má alma

Que inda agora se partia:

Dae terra benta ao seu corpo,

Que Deus lhe perdoaria.’

Romanceiro III

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