Читать книгу Romanceiro III - João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett Visconde de Almeida Garrett - Страница 7
ОглавлениеXIX
ALBANINHA
Ésta pequena xácara, curta, simples e que mais parece alludir a uma anecdota sabida, do que recontá-la, não a incontrei senão na provincia de Tras-os-montes. Tres differentes, mas pouco differentes, versões d’alli me vieram; e, approveitando de todas, se restituiu o texto como aqui vai. Tem não sei que resaibo á sarcastica ‘sirvente’ do trovador. É mordaz, epigrammatica; e até se permitte fazer o seu calimburgo, quando a donzella requestada responde ao seductor:
‘Pouco tempo são tres horas,
Mas vem depois o contar.’
Onde a graça do equívoco está em que o verbo ‘contar’ tanto significa fazer ‘contas’ como ‘referir o que se passou.’
Não ha variantes que mereçam a pena de se conservar, nem licção castelhana que se ache nos romanceiros.
ALBANINHA
—‘Albaninha, Albaninha,
A filha do conde Alvar!
Oh! quem te vira Albaninha
Tres horas a meu mandar!’
—‘Pouco tempo são tres horas,
Mas vem depois o contar.’
—‘Usança de maus villões
Nunca a eu soubera usar.
Com ésta espada me cortem,
Com outra de mais cortar,
Donzella que em mim se fie
Se eu d’isso me for gabar.’
Inda bem manhan não era
Ja na praça a passeiar;
Aos tres irmãos de Albaninha
Se foi de braço travar:
—‘Ésta noite, cavalleiros,
Sabereis que fui caçar;
Em minha vida não tive
Noite de tanto folgar.
Era uma lebre tam fina
Que nunca vi tal saltar:
Com tres horas de corrida
Não a cheguei a cançar!’
Disseram uns para os outros:
—‘Bom modo de se gabar!
Será de nossas mulheres?
Das irmans nos quer fallar?’
Responde agora o mais môço
Discreto no seu pensar:
—‘Não vêdes que é de Albaninha,
Que o traidor quer diffamar?’
Foram-se os tres para um canto,
Poseram-se a aconselhar;
Diziam os dois mais velhos:
—‘Vamo’-lo nós a mattar?’
E o mais moço respondia:
—‘Vamo’-la nós a casar?’
—‘Sim! e o dote que ella tem,
Nós o temos de pagar.’
Vão ao quarto de Albaninha,
De voda a foram achar;
Duas aias a vestiam,
Duas a estão a toucar.
—‘Albaninha, Albaninha,
A filha do conde Alvar!
As barbas de teu pae conde
Que bem lh’as soubeste honrar!’
—‘As barbas de meu pae conde
Trattae vós de as honrar,
Pagando-me ja meu dote,
Que agora me vou casar.’