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XVIII
CONDE NILLO

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So se incontrou este bello romancinho do ‘Conde Nillo’ na provincia de Tras-os-montes e nas ilhas dos Açores. Nas collecções castelhanas é ommisso. Não sei porquê, mas sinto que tem o ar francez ou proençal. Ou talvez normando? Da nossa Hespanha é que elle me não parece oriundo. Tudo isto porêm é sentir; julgar não, que não tenho por onde.

Nillo não é nome portuguez, nem sei que fôsse castelhano, leonez ou de Aragão. De donde será? Ou é corrupção, como tantas, de outro nome? Mas de que nome? Series e series de dúvidas e perguntas ás quaes confesso a minha completa inhabilidade de responder.

Seja como for, o romance é bonito, elegante e gracioso, tem todo o cunho antigo verdadeiro, e não parece dos que mais padeceram na sua transmissão até nós.

CONDE NILLO

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Conde Nillo, conde Nillo

Seu cavallo vai banhar;

Em quanto o cavallo bebe,

Armou um lindo cantar.

Com o escuro que fazia

Elrei não o póde avistar.

Mal sabe a pobre da infanta

Se hade rir, se hade chorar.

—‘Calla, minha filha, escuta,

Ouvirás um bel cantar:

Ou são os anjos no ceo[7],

Ou a sereia no mar.’

—‘Não são os anjos no ceo,

Nem a sereia no mar:

É o conde Nillo, meu pae,

Que commigo quer casar.’

—‘Quem falla no conde Nillo,

Quem se atreve a nomear

Esse vassallo rebelde

Que eu mandei desterrar?’

—‘Senhor, a culpa é só minha[8],

A mim deveis castigar:

Não posso viver sem elle...

Fui eu que o mandei chamar.’

—‘Calla-te, filha traidora,

Não te queiras deshonrar.

Antes que o dia amanheça[9]

Ve-lo-has ir a degollar.’

—‘Algoz que o mattar a elle,

A mim me tem de mattar;

Adonde a cova lhe abrirem,

A mim me têem de interrar.’

Por quem dobra aquella campa,

Por quem está a dobrar?

—‘Morto é o conde Nillo,

A infanta ja a expirar[10].

Abertas estão as covas,

Agora os vão interrar:

Elle no adro da egreja[11],

A infanta ao pé do altar.’

De um nascêra um cypreste,

E do outro um laranjal;

Um crescia, outro crescia,

Co’as pontas se iam beijar.

Elrei, apenas tal soube,

Logo os mandára cortar.

Um deitava sangue vivo[12],

O outro sangue real;

De um nascêra uma pomba,

De outro um pombo torquaz.

Senta-se elrei a comer[13],

Na mesa lhe iam poisar:

—‘Mal haja tanto querer,

E mal haja tanto amar!

Nem na vida nem na morte

Nunca os pude separar.’

Romanceiro III

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