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RUBIS OU IMITAÇÃO

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Um dos botões de pérolas do punho ornado da luva de Truus soltou-se quando, com o bebé ao colo, tentou agarrar o menino. Estava tão absorta no teto abobadado e imenso de ferro fundido da estação de Amesterdão que quase caiu ao sair do comboio.

— Truus! — gritou o marido, enquanto dava a mão ao menino e o deixava na plataforma. Também ajudou a menina a sair, assim como Truus e o bebé.

Já na plataforma, Truus aceitou o abraço do marido, um gesto público pouco frequente.

— Geertruida — disse —, a frau Freier não podia…?

— Por favor, não comeces com isso agora, Joop. Está feito e tenho a certeza de que a esposa desse guarda agradável que nos permitiu atravessar a fronteira precisa mais do que nós do rubi da minha mãe. Onde está o teu espírito natalício?

— Meu Deus, não me digas que te arriscaste a subornar um nazi com uma imitação.

Deu-lhe um beijo na face.

— Dado que nem tu és capaz de distinguir a diferença, querido, não acho que algum deles consiga descobrir num futuro próximo.

Joop riu-se, apesar de tudo. Pegou no bebé ao colo, segurando-o de forma incómoda, embora conseguisse acalmá-lo. Era um homem que adorava crianças, mas que não tinha filhos, apesar de ter passado anos a tentar. Truus pôs as mãos nos bolsos, pois já não tinha o calor do bebé, e apalpou a caixa de fósforos de que se esquecera por completo. Era um tipo estranho, o médico do vagão que lha dera. «Sem dúvida, foi enviada por Deus», dissera, olhando para as crianças com carinho. Dissera que tinha sempre consigo uma pedra da sorte e que queria que ficasse com ela. «Para que a senhora e as crianças estejam a salvo», insistira, abrira a caixinha e mostrara-lhe uma pedra plana muito antiga que não teria nenhum propósito se não fosse uma pedra da sorte. «Nos funerais judeus, as pessoas não oferecem flores, mas pedras», explicara e isso fizera com que fosse impossível rejeitar a oferta. Depois, saíra em Bad Bentheim, antes de o comboio passar da Alemanha para a Holanda e, agora, Truus estava em Amesterdão com as crianças, pensando que talvez houvesse um pouco de verdade naquela história sobre a boa sorte que, supostamente, aquela pedra tão feia concedia.

— Bom, pequeninho — disse Joop ao bebé —, quando cresceres, terás de fazer algo extraordinário para que o risco da minha esposa louca valha a pena. — Se se preocupava com aquele resgate não planeado, não ia objetar, tal como quando as suas viagens para tirar crianças da Alemanha eram planeadas. Deu um beijo na face do bebé. — Tenho um táxi à espera.

— Um táxi? Deram-te um aumento no banco enquanto estava fora? — brincou Truus. Joop era banqueiro, frugal até ao extremo, embora continuasse a chamar namorada à esposa depois de duas décadas.

— Seria uma caminhada grande até casa do teu tio desde a paragem do elétrico, mesmo sem a neve — explicou —, e o doutor Groenveld não quererá que a sobrinha e os sobrinhos do amigo cheguem congelados.

O amigo do doutor Groenveld. Isso explicava tudo, pensou, enquanto saíam para a rua cheia de árvores cobertas de neve, com caminhos sujos e gelo nos canais. Era assim que costumava distribuir-se grande parte da ajuda do Comité de Interesses Judeus: Sobrinhos de cidadãos holandeses; amigos de amigos; os filhos de amigos de sócios empresariais. Com frequência, as relações acidentais determinavam o destino.

O último comboio para a liberdade

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