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UM POUCO DE CHOCOLATE AO PEQUENO-ALMOÇO

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Truus baixou o jornal e olhou para o outro extremo da mesa do pequeno-almoço.

— A Alice Salomon foi exilada da Alemanha — informou, sem conseguir evitá-lo ao ler a notícia. — Como é que os nazis podem fazer isto? Uma pioneira em saúde pública internacionalmente aclamada e que não é uma ameaça para ninguém? É idosa e está doente e, além disso, é apolítica.

Joop deixou o seu hagelslag no prato e uma apara de chocolate caiu do pão, enquanto outra ficava na comissura dos lábios.

— É judia?

Truus olhou pela janela do terceiro andar, por cima dos vasos do parapeito, para Nassaukade e para o canal, para a ponte e para Raampoort. A doutora Salomon era cristã. Para além de muito devota, provavelmente, de uma família como a de Truus: Cristãos que apreciavam os presentes de Deus e que tinham partilhado esses presentes, acolhendo crianças belgas durante a Grande Guerra. No entanto, dizer a Joop que os alemães tinham exilado uma cristã preocupá-lo-ia e não queria dar-lhe razões para se interessar pelo que planeara fazer naquele dia. Albergara a esperança de conseguir ir à Alemanha para se encontrar com Recha Freier e ver o que mais poderia fazer para ajudar as crianças judias de Berlim que, agora, já não podiam ir às escolas públicas, mas a sua mensagem não obtivera resposta. No entanto, já falara com a senhora Kramarsky para que lhe emprestasse o carro. Pelo menos, poderia atravessar a fronteira e ir à quinta dos Weber.

— Segundo parece, tem antepassados judeus — respondeu, o que tinha a vantagem de ser verdade, mas, mesmo assim, desviou o olhar para o papel pintado às flores e para as cortinas que tinham de ser limpas naquela divisão em que tinham tomado o pequeno-almoço desde que se tinham casado. Duvidava que os antepassados de Alice Salomon explicassem porque fora expulsa da sua pátria.

— Geertruida — começou a dizer Joop e Truus preparou-se. O seu nome sempre lhe parecera aborrecido e insubstancial antes de conhecer Joop — quer fosse Geertruida ou Truus —, mas parecia-lhe lindo na voz do seu marido. Mesmo assim, não costumava chamá-la pelo seu nome completo.

O que faz com que um casamento funcione é estar sempre em guarda, dissera-lhe a mãe, na manhã do seu casamento, e quem era Truus para desafiar o conselho da mãe, fazendo ver que aquele costume de Joop — usar o seu nome completo quando tencionava dissuadi-la de fazer alguma coisa — a punha em guarda?

Agarrou no guardanapo e aproximou-se para limpar a apara de chocolate da boca de Joop. E, assim, o marido voltou a ser o funcionário chefe e diretor impoluto do Banco De Javasche que fora quando tinham ficado noivos.

— Amanhã para o pequeno-almoço, vou fazer broodje kroket — informou, antes que Joop conseguisse começar a perguntar como tencionava passar o dia. Aquele croquete de carne guisada por cima de um pãozinho era a sua comida favorita. Só de a mencionar, ficava de bom humor e distraía-se.

O último comboio para a liberdade

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