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Natal

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Natal… Hora de sinos badalando,

de neve branquecendo pinheirais;

hora de pés de criancinhas arrastando

pela brancura lisa do caminho;

hora do cândido velhinho…


– Em Reims, os sinos não badalam mais!


A neve, sempre a mesma,

cai, continua de cair; e o vento

– bruscas rajadas brancas – se desfralda,

como túnica de avantesma,

rasgando-se à desmantelada espalda

do grande, velho monumento…


– Em Reims, os sinos não badalam mais!


Pelas ruas escurecidas

andam caladamente os grupos uniformes…

Não tem mais galas o natal! apenas

no trabalhar dos hospitais,

tratam da cura de feridas

de hediondas chagas e lesões enormes,

alvas mulheres silenciosas e serenas…


Natal… Mas não há luzes nas capelas!…

Nem pratas de lavrados castiçais

onde luziluzam as velas!…

Natal… Mas não há longas espirais

de incenso, a se enroscar pelos altares!…

No colo virgem de Maria,

junto dos anjos tutelares,

rindo, estendendo seus bracinhos nus,

nem se lembraram – quem se lembraria! –

nem se lembraram de repor Jesus!…


– Em Reims, os sinos não badalam mais!


Num silêncio de múmia, brancacenta,

a noite corre… Batem doze badaladas.

Onde estão as canções desabaladas

dos sinos gárrulos?… – Friorenta,

a grande catedral emudeceu:

e para ela a alegria dos natais,

toda a alegria dos natais morreu!…


– Em Reims, os sinos não badalam mais!…

Mestres da Poesia - Mário de Andrade

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