Читать книгу Mestres da Poesia - Mário de Andrade - Mário de Andrade, August Nemo, John Dos Passos - Страница 7
Epitalâmio
ОглавлениеÉ sempre assim. De manhãzinha, braço dado,
nos jardins claros do hospital,
ele mancando, a ela apoiado,
silenciosos, lado a lado,
dão o passeio matinal.
E, vagarosamente, se entranhando
no perfume vermelho da manhã,
ela vem triste, como que sonhando,
– ela, que é sã –
e ele, – o ferido – traz sorrisos francos,
vem assobiando entre seus lábios brancos
uma valsa alemã…
E no fundo do parque redolente,
onde tudo é perfume e som,
sentam-se e dizem, já maquinalmente:
“Êtes-vous las?” – “Oh! non!”
Então ele, com sua voz quebrada,
vendo o sol que no longe aponta,
entrando sorrateiro sob a touca,
brincar entre os cabelos brunos dela,
pela décima vez conta e reconta
como o prenderam e feriram pela
tardinha, ao proteger a retirada
dos seus soldados.
Ela, dedos febris entrelaçados,
bebe o reconto que lhe sai da boca.
E ele lembrando, sem vanglória, o heroísmo
que praticou, a vê chorar…
Então se arrasta para junto dela,
pergunta-lhe a razão do seu mutismo,
pede-lhe as mãos para beijar…
– “Porquoi pleures tu?” – “Moi!” – “Mais oui!…”
E no seu colo se debruça,
cola-lhe a boca às mãos; e enquanto ele soluça,
agora, ela sorri.
É sempre assim…
Mas ao voltar, vem resplendendo
nela o beijo nas mãos, nele a esperança…
Voltam pelos meandros do jardim,
e ela vem rubra, que ele vem dizendo
quanto acha lindas as manhãs de França…