Читать книгу Mestres da Poesia - Mário de Andrade - Mário de Andrade, August Nemo, John Dos Passos - Страница 9
Primavera
ОглавлениеFora desmantelado,
quando, golfando pela fauce aberta
o atestado dos órfãos e das viúvas,
um grande obus lhe rebentara ao lado…
No modesto recanto do jardim
da aldeia miserável e deserta,
na sua herança má de mudo e eterno,
estático e sem fim,
viu, no outono, morrer o sol das chuvas,
entrajou-se de neve em pleno inverno;
e agora, à sussurrante primavera
mostra no beiço o riso do jasmim…
Converteu-se. Sorriu à natureza;
perdoou a rabugice ao vento sul;
e, no êxtase imortal – Santa Teresa
da primavera – ele olha esperançosamente,
essa visão seráfica e esplendente,
a claridade mágica do azul…
Na culatra soaberta, onde altos estampidos
gerara a bala estrepitosa e fera,
fizeram ninho as andorinhas…
Culatra! – geradora de gemidos,
geradora de implumes avezinhas!…
Cobre-lhe uma roseira o desnudo cinismo.
Tem a benção do luar, nas noites perfumosas.
Vem ungi-lo às manhãs o sol de abril.
E o canhão convertido, odorante e gentil,
na imota unção de seu catolicismo,
ouve o Te Deum das abelhas sobre as rosas…