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5.1 Exemplo de uma análise a partir de uma peça televisiva

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Uma vez que os professores de Português como Língua Estrangeira de um modo geral ou são falantes nativos ou da variedade europeia ou da variedade brasileira, a inclusão de peças televisivas devidamente comentadas e analisadas tem a vantagem do ponto de vista didático de trazer para o contexto da sala de aula material linguístico autêntico em contextos comunicativos reais, podendo ser abordadas a própria variedade, bem como a outra. Além disso, este tipo de material assegura a autenticidade linguística dos modelos discutidos. Aqui o docente pode trabalhar com trechos e, em níveis de aprendizagem mais avançados, incluir peças curtas integrais correspondentes a tradições discursivas da língua falada.

A título de exemplo, observemos o excerto seguinte do Jornal Nacional de 12 de Janeiro de 2009, onde o comissário da polícia Jorge Moreira prestou declarações, optando por um nível linguístico bastante formal e elaborado.

Exemplo 1

Jorge Moreira, Comissário da polícia – O Gerson teve o prazo para se apresentar, em razão de um arrependimento ou qualquer coisa assim, mas ele não Ø fez. Ele passou a ser considerado foragido. [ ] Estamos tentando localizá-lo para cumprir o mandato de prisão. (JN, 12/1/2009 apud Arden 2015, 148)

A partir do exemplo poder-se-ia por um lado abordar a proximidade da norma-padrão do PE da norma culta falada, nomeadamente, tomando em consideração a seleção lexical (foragido) e de expressões como em razão de um arrependimento. A referência anafórica por seu turno é interessante, pois revela a co-ocorrência de objetos nulos (Ø) e pronomes clíticos da terceira pessoa (-lo) num comunicado oficial das autoridades, ou seja, dentro de uma mesma tradição discursiva, num mesmo discurso com o mesmo sujeito de enunciação, o que é caraterístico de contextos de oralidade elaborada com elevado grau de formalidade no PB (cf. Arden 2015, 145-152). A norma do PE exige nestes contextos a utilização de pronomes clíticos. Seria ainda de destacar a diferença das construções progressivas no BP com auxiliar estar no presente do indicativo + verbo principal no gerúndio (estamos tentando), e no PE, formado com estar no presente do indicativo + preposição a + infinitivo do verbo principal (estamos a tentar).

Também a utilização da relativa cortadora podia ser abordado partindo de um exemplo real extraído do Jornal Nacional:

Exemplo 2:

C Carvalhar, nutricionista – A pessoa se serve muito, lá na frente acha uma coisa Ø que gostaria mais, coloca e acaba saindo do restaurante empanturrada (JN, 15/10/2008 apud Arden 2015, 254).

Além da elisão da preposição (de) para introduzir a oração relativa, bastante produtiva no PB falado, o exemplo serve para ilustrar a tendência para a utilização da próclise no PB (se serve vs. PE serve-se), a utilização desviante de preposições regendo Complementos Circunstanciais de Lugar (“Onde”) (na frente vs. EP à frente), a maior produtividade do condicional na variedade brasileira (gostaria), em contextos onde no PE hoje em dia, sobretudo na linguagem oral, domina o pretérito do imperfeito como equivalente funcional e diferenças na construção de perífrases verbais. À perífrase verbal acabar saindo no PB, corresponde acabar por sair no PE.

Para esta finalidade didática podem-se igualmente incluir trechos de novelas1 ou séries, uma vez que muitas vezes são representados grupos sociais e, por conseguinte, variedades distintas, ainda que importe ter em conta o problema da autenticidade caraterístico da oralidade fingida (cf. Goetsch 1985).

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